COMO DISSE A REJANE EM SEU ARTIGO "não há nada mais delicioso do que quando as músicas boas em vozes tristes nos encontram assim: ao acaso." (MF)
por Rejane Borges - OBVIOUS
Um verdadeiro bad boy ao melhor estilo da época – protestante rebelde. Previsível, andava com Elvis. Um conquistador ao melhor estilo galã do country music a flertar com o rock'n roll – evidente, andava com Jerry Lee Lewis. Sua atitude era irreverente, polêmica e tempestuosa, como qualquer rockabilly zelasse por seu nome. Mas, sobretudo, era um homem triste. E foi exatamente sua tristeza que o levou a protagonizar uma das mais emocionantes histórias de amor: com sua música, intensa.
Um amigo garantiu-me, curvando-se em minha direção e sacudindo com uma das mãos um CD de Johnny Cash, enquanto eu repousava o copo de vinho na mesa: “Música boa. Eu prefiro ouvir tomando cerveja, há pessoas que ouvem tomando uísque – o que acho muito justo –, mas eu não gosto de uísque, então ouço bebendo cerveja mesmo. Você pode ouvir bebendo o que quiser, como este vinho barato aí. Mas ouça! Depois você vem falar comigo.” Sem questioná-lo acerca da necessidade de estar em estado etílico para ouvir Johnny Cash aceitei a recomendação. Ouvi. E ouvi sóbria. E ouvi de novo, e mais uma vez. E, depois, contei a ele que jamais devolveria aquele CD.
Não desejo traçar um perfil de Cash, ou discorrer sobre seus discos, suas letras ou sua história. Prefiro conversar acerca de como a música de Cash me aborda, e como eu a percebo. E senti nesta música muito mais do que uma vontade de colocar esporas nas botas e fazer as vezes de quem mastiga mato de beira de estrada. Não falo do ritmo do seu country legítimo dos primeiros anos. Nem de sua fase rockabilly, ou da nova roupagem que seu estilo ganhou nos anos 90, com a American Recordings. Mas falo do espírito de sua música - que sempre foi o mesmo, independente das fases de sua carreira.
Johnny Cash teve contato com a música desde muito cedo. Cresceu entoando hinos protestantes na igreja, ou enquanto ajudava a família na colheita. Porém, foi somente adulto, já casado e com filhos, que se entregou, de fato, à música, podendo expressar toda a carga emocional que carregou desde sua infância, quando viu seu irmão morrer em um terrível acidente de trabalho – circunstância que refletiria em tudo o que decidiu fazer na vida.
A música de Johnny Cash é uma música de sobrevivência, cantada com pesar. Uma música tão carregada de emoções a ponto de sentirmos vontade de deitar à cama e abusar de nossa cota de autocomiseração. É lamuriosa, com aquele timbre grave que só ouvimos em nosso subconsciente quando em crises existenciais. Existe na voz de Johnny Cash algum sentimento profundo o suficiente para nos fazer sentir. Eu tenho a impressão que posso mais tocá-la do que simplesmente ouvi-la, tamanha sua densidade.
Nos palcos, acompanhado por sua banda de apoio, os Tennessee Two, Cash se apresentava com um sucinto Hello, I'm Johnny Cash, e sempre vestia preto. Seu estilo fúnebre o levou a ser chamado de “Homem de Preto” pelos seus fãs e pela mídia.
Sua voz sepulcral, somada a uma personalidade imponente, o levou ao posto de um dos mais respeitados artistas de todos os tempos. Com uma carreira de cinco décadas, e com todas as suas variações, Johnny Cash assinou seu nome no estandarte da boa música, como um homem de feição melancólica, de canto solitário sobre contos provincianos.
Morreu em 2003 e em 2006 foi lançado um box com quatro CDs, contendo materiais inéditos, como um emotivo álbum gospel e versões de algumas músicas. O último lançamento póstumo aconteceu em 2010, com o CD American VI: Ain't No Grave, contendo as últimas gravações do artista.
Um filme sobre a vida de Cash foi produzido em 2005: Walk the Line (no Brasil, Johnny e June). O roteiro foca o início de sua carreira e o seu envolvimento com June Carter – amiga e companheira de palco, que viria a ser sua segunda esposa e grande amor de sua vida.
Quanto a mim, caminhando desprevenida, a vagar de um lado a outro do meu pensamento, de repente ouço um som distante, saio de meu estado de introspecção e reconheço – com um sorriso infantil no rosto – a voz e o violão de Cash. E o som vem de algum lugar distante de onde estou. Um som enfermo, com alguns ruídos, daqueles de rádio a pilha em cima de um balcão qualquer. Mas que vai ecoando, sofrido, até atingir meus passos pela rua. Isso aconteceu apenas uma vez. Eu espero a segunda. Pois não há nada mais delicioso do que quando as músicas boas em vozes tristes nos encontram assim: ao acaso.
por Débora Marx - obvious
A MAIS BELA CARTA DE AMOR DE TODOS OS TEMPOS
June Carter e Johnny Cash viveram uma história de amor memorável, regada de música, parceria e paixão. A carta de Johnny ganhou o título da mais bela de todos os tempos, mas a simplicidade e a verdade que ela nos transmite transcende à qualquer nomeação.
Muitos sabem que o relacionamento dos dois antes do casamento era atribulado, mas que após a união matrimonial eles viveram uma historia bonita e doce de amor, feliz e frutífera- culturalmente e artisticamente- por mais de 3 décadas, sendo separados pela morte – de June- em 2003.
(Inclusive, a relação e o amor vivido nas músicas e na vida dos dois virou filme em 2005 : “Johnny and June)
Dessa forma, não é de se estranhar que após uma pesquisa de uma companhia britânica para descobrir a carta de amor mais bonita de todos os tempos, a mensagem de Johnny à June, em comemoração ao seu aniversário de 65 anos, ganhasse!
Ficamos velhos e nos acostumamos um com o outro. Pensamos parecido. Lemos a mente um do outro. Sabemos o que o outro quer sem perguntar. Às vezes, nós irritamos um ao outro um bocado. Talvez, algumas vezes, tratamos um ao outro como garantido. Mas de vez em quando, como hoje, refleti sobre isso e percebi o quão sortudo sou por compartilhar minha vida com a mulher mais incrível que já conheci. Você continua me fascinando e inspirando. Você me faz ser melhor. Você é o meu objeto de desejo, a razão #1 para a minha existência. Eu te amo em demasia. Feliz aniversário, Princesa.
Johnny”
Particularmente, não sei se é a mais bonita, mas nunca vi tanta sutileza e amor numa mensagem. A simplicidade e a experiência de uma relação amadurecida nos traz uma perspectiva de amor real e possível. A rotina diária expressa nas linhas nos mostra as sutis felicidades de uma relação duradoura e, talvez ai, esteja a verdadeira beleza.
E vocês? Também concordam com a escolha?
Concordo com a maturidade (mf)
Nenhum comentário:
Postar um comentário