sábado, 2 de maio de 2015

Iphan reconhece teatro de bonecos do Nordeste como Patrimônio Cultural do Brasil

MAMULENGO
JOÃO REDONDO, BABAU...
TEATRO DE BONECOS É RECONHECIDO COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL
 

Mamulengo




Boneco do Mamulengo Só-Riso, Festança no Reino da Mata Verde
Museu do Mamulengo Olinda











"O mamulengo é verdadeiramente o "guignol" o "pupazzi" italiano. As figurinhas são animadas pela mão do encenador, fazendo o dedo indicador movimentar a cabeça, o médio e o polegar aos braços," registra Câmara Cascudo no Dionário do folclore brasileiro.
"O mamulengo é, nada mais, nada menos, do que a escultura animada, partindo de um sentimento religioso que se foi tornando profano através dos séculos (...) Omamulengo é um teatro do riso, como são as outras formas dramáticas populares: o bumba meu boi e o pastoril." Espetáculos populares do Nordeste, Hermilo Borba Filho.
O diretor Fernando Augusto Gonçalves, do grupo Mamulengo Só Riso (Pernambuco), em entrevista ao jornalista Valmir Santos (Folha de São Paulo, 13/02/1999), menciona que os bonecos ganharam vida no presépio do Convento Franciscano de Olinda em meados do século XVIII, mecanizados e acionados por uma roldana: "Não demorou muito e o mamulengo passou a ser representado como teatro. Primeiro dentro da própria igreja e depois fora dela, caindo na praça pública como uma figura desprendida da sua natureza religiosa."
Segundo Karina Soares, Sandra Ishigami e Alba Moreira, "o mamulengo é um dos mais significativos espetáculos populares, não apenas de Pernambuco, mas de todo o Nordeste brasileiro. Na verdade, se hoje é legitimamente brasileiro, isso ocorreu por adoção e não por nascimento, já que a presença dos fantoches foi detectada na Índia e no Egito, desde a mais remota antiguidade. Passando pela Europa, na Idade Média, e pelo México, os fantoches chegaram ao Brasil através do Nordeste, de onde em 1824, migrou para o Sul do país." Espetáculos populares de Pernambuco.
Elba Ramalho menciona: "Sou mamulengo de São Bento do Uma / vindo num baque solto de um maracatu, / eu sou um auto de Ariano Suassuna / no meio da feira de Caruaru." Leão do Norte, Lenine / Paulo César Pinheiro. [com variações, chama-se de joão-redondo (Paraíba, Rio Grande do Norte) e babau (Bahia)]
[Mestre Saúba (Antônio Elias da Silva), artista popular pernambucano, é reconhecido como mamulengueiro de primeira categoria]
[origem provável: expressão "mãos molengas", necessárias para mover os cordões ou fios ligados aos marionetes]
Fonte: Dicionário do Nordeste, Fred Navarro, 2a. edição, Companhia Editora de Pernambuco - Cepe, Recife, 2013.
Espécie de divertimento popular em Pernambuco, que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, em um pequeno palco alguma coisa elevado. Por detrás de uma empanada, escondem-se uma ou duas pessoas adestradas, e fazem que os bonecos se exibam com movimento e fala. A esses dramas servem ao mesmo tempo de assunto cenas bíblicas e de atualidade. Tem lugar por ocasião das festividades de igreja, principalmente nos arrabaldes. O povo aplaude e se deleita com essa distração, recompensando seus autores com pequenas dádivas pecuniárias.
Os mamulengos entre nós são mais ou menos o que os franceses chamam marionete ou polichinelle. (Beaurepaire Rohan, Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1889). Puppet-shows como o chamou Henry Koster, João Redondo (Rio Grande do Norte), João Minhoca no Rio de Janeiro (João do Rio, Vida Vertiginosa), nome de herói popular, como era Don Cristóbal em Espanha, Hans Wurts na Alemanha, Punch na Inglaterra, Jean Klassen  na Áustria, Hana Pikelharing na Holanda, Karagauz na Turquia, Pupazzi, Guignol, foram aplaudidos em toda a Europa desde a Idade Média.
Tiveram e têm teatrinhos em Paris e Londres, exclusivos. Egípcios tiveram seusmamulengos. Os gregos denominavam-nos neuro-spatasimulacra,imagungulae em Roma, barattini, italianos. Difícil apurar o povo que não o possui ou o possui. 
Luís Edmundo (No tempo dos vice-reis, 447, Revista do Instituto Histórico e Geográfico, volume 163, tomo (109) documenta a popularidade dos títeres na capital brasileira (Rio de Janeiro) no século XVIII.
mamulengo é verdadeiramente o Guignol, o pupazzi italiano. As figurinhas são animadas pela mão do encenador, fazendo o dedo indicador movimentar a cabeça, o médio e o polegar aos braços. Fantoche. Ricardo em Portuga. Ver Babau.
Fonte: Dicionário do Folclore Brasileiro, Câmara Cascudo, Ediouro, s/d.
1. Acredita-se que o mamulengo seja mestiço da tradição europeia com as prováveis formas de teatro feito pelos escravos africanos. Também se crê num possível desembarque dos bonecos em nossas terras, através de José de Anchieta, jesuíta que introduziu o teatro no Brasil logo no início da colonização, com o objetivo de catequizar os índios. Mas não se discorda da hipótese de o mamulengo ter surgido, como também surgiu o Pastoril. O que não se pode negar é que o teatro de boneco chegou ao Brasil através do Nordeste e daí se espalhou pelo País. Uma vez desembarcado, nossos brincantes souberam recriá-lo da forma mais autêntica possível aos desejos da população. Inicialmente, o mamulengo estava atrelado ao ciclo natalino, por conta de sua inspiração religiosa e por isso trazia personagens como Diabo, Morte ou as Almas. Depois, o mamulengo passou a ser representado em quaisquer épocas do ano. Os bonecos são feitos de mulungu, madeira macia que é muito usada na confecção dos bonecos. É arte do improviso, da criação espontânea, da provocação junto ao público, características estas notadas nas inventividades populares. Entre as pessoas que trabalham num espetáculo demamulengo estão o Mestre que, de dentro da tenda, fica responsável por toda a estrutura e criação dos espetáculos, acumulando as funções de empresário, principal manipulador; o Contramestre que trabalha dentro da tenda e é o responsável pela manipulação dos bonecos que contracenam com os bonecos manipulados pelo Mestre. Há o Folgazão, também chamado de ajudante. Normalmente são dois e dificilmente manipulam bonecos com falas. Quando há cenas que exigem muitos personagens como danças, brigas, batalhas etc., eles manipulam. Quando há música no espetáculo, eles fazem o coro junto com os instrumentistas. O curioso é que no final do espetáculo os espetáculos normalmente morrem. Quanto à classificação, omamulengo pode ser dividido em dois grupos: Mamulengos de luva e mamulengos de vareta. Os primeiros, na munheca do manipulador são predominantes. Existem, também, os bonecos de luva e fio e de vareta e fio que facilitam as articulações dos olhos, boca e língua ou até mesmo pernas e braços. A magia do teatro de bonecos encanta crianças e adultos, porém, no mamulengo, há fortes sátiras à dura realidade em que vivem seus criadores - os mamulengueiros - por isso eles descem o pau na classe política, nas autoridades religiosas, nos patrões, enfim, qualquer forma de opressão é duramente atacada pelos bonecos. Esse tipo de brinquedo tem uma identificação direta com o povo, que, através dos bonecos, realiza suas vontades diante da difícil realidade social. Sua estrutura dramática é sustentada pela musicalidade, por isso se torna imprescindível a participação dos músicos, que são chamados de maneira muito original: para começar não são chamados de músicos, mas sim instrumenteiros, batuqueiros ou tocadores. O tocador de fole de 8 baixos (sanfona) é chamado de tocador; já o tocador de triângulo é triangueiro; o ganzeiro é o tocador de ganzá e o bombeiro é o tocador de bombo (zabumba). Principais personagens: Quitéria, Professor Tiridá, Simão, Mateus - que no mamulengo é intermediário das ações entre personagem e público, dialogando com os bonecos, improvisando loas e muitas vezes complementando o último verso cantado pelos bonecos - Padre, Capitão dentre outros.
2. Pessoa sem personalidade, por ser facilmente manipulado pelas outras pessoas.
Fonte: Dicionário Escolar da Diversidade Cultural Pernambucana, Adriano Marcena, Ideia Empreendimentos Culturais, Recife, 2012.
É uma representação teatral popular em Pernambuco na qual tomam parte bonecos num palco, atrás do qual duas ou mais pessoas se encarregam de movimentá-los, falando, cantando, brigando, vivendo pequenas peças criadas pela imaginação popular. Os mamulengos são os marionetes dos franceses, só que não tem movimentos através de cordões. Os bonecos artistas são ocos e os mamulengos comandam  suas cabeças com o dedo indicador, enquanto o polegar e o médio se encarregam de movimentar os braços. Debaixo do queixo sai um cordão, que é para fazer com que eles abram e fechem a boca quando estão falando. Dizem que a origem da palavra mamulengo vem de mão molenga, isto é, mão mole.
Fonte: Dicionário do Folclore para Estudantes, Mário Souto Maior e Rúbia Lóssio, Editora Massangana, Recife, 2004.
Mamulengo por Mauro Mota
Drama de interesse é o mamulengo, o nome dos teatrinhos de fantoches desde quando foram introduzidos em Pernambuco, ainda no século XVI. De inspiração no catolicismo alegórico da Idade Média, o mamulengo tem origem na coleção de figuras - além dos santos e dos reis magos, a vaca, o jumento e as ovelhas - dos presépios armados durante o Natal.
Dos pátios das igrejas, transfere-se a outros pátios, já insubmisso ao assunto, ao plantel e ao calendário religioso. Aparece em várias festas populares do ano ou faz a festa quando aparece com peças ligeiras e locais - por isso mesmo ao gosto do público rural e de subúrbio - mas vivas e irônicas, dirigidas contra as ratas, isto é, os fiascos de poderosos e intrometidos.
Os bonecos de pano e madeira (gente e bichos) participam de narrativas (falas e danças) de interesse artístico e social. Quase sempre completam os elencos, indivíduos das fábulas.
Quais? Diversos componentes do, embora hoje reduzido quanto às aparições, ainda povoado mundo mítico visível regional. Pelo menos, dois mitos dessa espécie de sete fôlegos, em resistência às mudanças culturais. Desafiando-as dia a dia, mais noite a noite. Caso do lobisomem, de habitat definido: entre rural, inimigo de rua, de lua, de lampião.
Divertimento popular, que consiste em representações teatrais por meio de bonecos, por ocasião de festas religiosas nos arrabaldes. É o que os franceses chamam marionetes. Conforme registra Rodolfo Garcia no seu Dicionário de Brasileirismos(1915).
Fonte: A cultura pernambucana de A a Z, Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco, dezembro de 1998.
1. Fantoche.
2. Pessoa sem personalidade.
Fonte: Minidicionário de Pernambuquês, Bertrando Bernardino, 4a. edição, Edições Bagaço, Recife, 2012.
Fantoche. Boneco que tem a cabeça de massa de papel, ou de meia gessada etc., mãos geralmente de feltro, e em cujo corpo, formado pela roupa, o operador esconde a mão que o movimenta.
Fonte: Dicionário de Cearês - Termos e expressões populares do Ceará, Marcus Gadelha, Clio Editora (7ª. Edição), 2010.
Iphan reconhece teatro de bonecos do Nordeste como Patrimônio Cultural do Brasil
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico  Nacional (Iphan) reconheceu no dia 05/03/2015 o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, mais conhecido como Mamulengo, como Patrimônio Cultural do Brasil. Com o reconhecimento, o Teatro de Bonecos passa a ter proteção institucional, o que garante salvaguarda desse bem cultural.
"Para os mestres que trabalham com essa prática, é como se da terra seca começasse a surgir a água que alimenta a alma e o trabalho. Além disso, dá uma visão ampla à sociedade que mexe com as políticas culturais", disse a presidenta da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, Ângela Escudeiro, responsável pelo pedido de reconhecimento.
A brincadeira começa com a montagem de uma espécie de barraca. Em seguida, os participantes ficam atrás da barraca e começa o espetáculo, com os bonecos em cena e a introdução de um texto poético. Além da narrativa, a peça contém elementos surpresa, muitas vezes sugeridos pelo mestre bonequeiro. Normalmente, as sugestões ocorrem a partir de conhecimento prévio sobre o público.
Conforme o Iphan, a prática carrega elementos fundamentais para a sustentabilidade da identidade e memória das regiões onde a brincadeira é mais forte, tornando-se referência cultural atualizada ao longo do tempo, mas mantendo relações de tradição, pertencimento e coletividade.
"O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste não é um brinquedo ou um traço do folclore. Envolve, sobretudo, a produção de conhecimento criativo, artístico e com uma forte carga de representação teatral", informou o Iphan.
A prática é mais forte no Maranhão e Ceará, onde é chamada de Cassimiro Coco. No Rio Grande do Norte, é conhecido como João Redondo e Calunga. Na Paraíba, é denominada Babau, enquanto em Pernambuco é chamada Mamulengo.
Para a professora e pesquisadora Isabela Brochado, também do grupo que requereu o reconhecimento dos bonecos, a decisão do Iphan é importante para manter viva a tradição. "A perda de acervo imaterial - elementos orais, técnicas de escultura ou pintura e dança - pode levar a um esvaziamento da identidade das comunidades", observou.
Fonte: Agência Brasil, 05/03/2015

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