quinta-feira, 5 de março de 2015

LIBERDADE É UM ESTADO DA MENTE


POR  - OBVIOUS

Liberdade e suas interpretações. Parafraseando Caio Fernando Abreu "Liberdade total, mas não a liberdade porra-louca que conduz, no máximo, ao vazio, mas a liberdade que diz coisas que podem-ser, podem-não-ser, que dá ao homem a noção do seu estar-solto no mundo". Não somos livres, mas podemos ser - no sentido do nosso ser, do 'eu'. Você é?



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Acontece que essa tal de liberdade, tão pungente no discurso que nos deparamos por aí, não serve para qualquer pessoa não. Liberdade, uma palavra aberta a tantos significados, dos quais muitos não são compreendidos justamente por quem clama com tanto afinco por ela. A etimologia é do grego eleutheria, que significa liberdade de movimento, da simples possibilidade do corpo movimentar-se sem amarras. Do alemão Freiheit, significa pescoço livre, referindo-se aos adornos que mantinham os escravos presos , impedindo eles de ser dono do seu próprio caminho. Já do latim, a palavra Libertas significa independência, não se restringindo apenas ao corpo. E a sua liberdade, se refere ao que?
Ser livre. Há anos e anos debatemos sobre isso. Dos pensadores como Sartre, Descartes, Kant, Marques; dos escritores como Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Fernando Pessoa; dos músicos como Cazuza, Renato Russo, Raul, Gal, Caetano; dos anônimos sentados na mesa do bar da esquina: queremos ser livres, mas nem sempre estamos preparados para isso. Ser livre é realmente para quem tem coragem, isso porque a liberdade oferece caminhos, possibilidades e claro, consequências.

Grande parte das vezes vivemos na ilusão de que somos livres, é uma espécie de prisão consentida. Enchemos a boca para gritar sobre toda a nossa liberdade de ir e vir – mas estamos presos a todas as burocracias que nos impedem de fazer isso. Vangloriamos-nos sobre a liberdade de escolher e amar quem a gente quer, e de repente, estamos prisioneiros daquilo que chamávamos de amor, ou pior ainda: escolhemos qualquer amor por medo de ficar preso pela solidão. Solidão só prende quem não tem coragem de aprender com seus ensinamentos. Sorrimos porque podemos escolher a nossa formação, o nosso emprego, a nossa carreira, mas estamos presos a bater o ponto, fazer o que nos mandam, vestir o que é conveniente para a ocasião. Preso na hora do relógio que não passa para que possamos ‘se libertar’ do escritório que escolhemos. Corremos porta afora, apressados, para então nos prendermos na fila dos ônibus, no trânsito que não anda. Enfim, estamos livres na nossa casa – com a porta trancada, grades na janela e sem manter muito contato visual com ninguém no elevador, porque nunca se sabe.

Mas, talvez um dia a gente desperte, e vá quebrando uma a uma as amarras da nossa liberdade placebo. E então, percebemos que os caminhos são infinitos, o mundo é tão prolixo e com mistérios infindáveis, que existe uma energia que nos move, que nos empurra pra frente, que faz as coisas acontecerem, que essa energia recebe diversos nomes – até mesmo nome nenhum – mas que de fato está ali, pronta para ser sentida. Vamos nos libertando do ter para encarar o ser, o que é um desafio bem grande. A liberdade nos faz questionar, perguntar por que por tanto tempo a gente apenas existiu, quando havia um mundo inteiro para se viver. Os caminhos vão nos mostrando que os sentimentos precisam também ser livres e que nada nessa vida pertence a lugar nenhum, tudo é do mundo, nós somos o mundo.

Pensar em liberdade pode ser enlouquecedor. Pode levar a muitas perguntas sem respostas. Pode fazer com que sejamos vistos pela sociedade como sonhadores, perdidos, estranhos, errados - sendo o nosso erro nos libertar justamente dessas amarras criadas por nós. Exatamente por isso, liberdade é aberta para várias interpretações, é para quem tem muita, muita coragem. É muito mais fácil se refugiar em preceitos que nos ensinam a ser livre sem ser. Acordar, trabalhar, pagar, comprar, casar, procriar, viver em confinamentos. Mas não é só isso que nos restringe – liberdade é um estado da mente, quem é responsável por suas amarras somos nós. É mais fácil engolir tudo isso com a falsa sensação de que somos livres do que acatar com as consequências de realmente querer ser. Como disse Clarice: “Antes de aprender a ser livre, eu aguentava – só para não ser livre. Eu não aguento mais aguentar. Eu quero aprender, e sei que este é um processo de eterna aprendizagem. É preciso estar disposto e correr os riscos – sim, correr, porque liberdade, não se esqueça, vem de movimento.


 Movimente-se.



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