terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Gabriela Mistral e Pedro Ruiz: o encanto das cores e da poesia colombiana

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Gabriela Mistral e Pedro Ruiz: o encanto das cores e da poesia colombiana

A CHUVA LENTA
(Trad. de Ruth Sylvia de Miranda Salles)
 Esta água medrosa e triste,
como criança que padece,
antes de tocar a terra
desfalece.
 Quietos a árvore e o vento,
e no silêncio estupendo,
este fino pranto amargo,
vertendo!
 Todo o céu é um coração
aberto em agro tormento.
Não chove: é um sangrar longo
e lento.
 Dentro das casas, os homens
não sentem esta amargura,
este envio de água triste
da altura;
 este longo e fatigante
descer de água vencida,
por sobre a terra que jaz
transida.
 Em baixando a água inerte,
calada como eu suponho
que sejam os vultos leves
de um sonho.
 Chove... e como chacal lento
a noite espreita na serra.
Que irá surgir na sombra
da Terra?
 Dormireis, quando lá foram
sofrendo, esta água inerte
eletal, irmã da Morte
se verte?

 
CUME
(Trad. de Ruth Sylvia de Miranda Salles)

É a hora da tarde, essa que põe
seu sangue nas montanhas.
E nesta hora alguém está sofrendo;
uma perde, angustiada,
bem neste entardecer o único peito
contra o qual se estreitava.
 Há algum coração em que o poente
Mergulha aquele cume ensangüentado.
 O vale já sombreia
e se enche de calma.
Mas, lá do fundo, vê que se incendeia
de rubor a montanha.
 A esta hora ponho-me a cantar
minha eterna canção atribulada.
 Sou eu que estou batendo
o cume de escarlate?
 Ponho em meu coração a mão e o sinto
a verter quando bate. 

                  
   DÁ-ME TUA MÃO
 Dá-me tua mão, e dançaremos;
dá-me tua mão e me amarás
Como uma só flor nós seremos,
como uma flora, e nada mais.
 O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo bailarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga, e nada mais.
Chamas-te Rosa e eu Esperança
Porém teu nome esquecerás
Porque seremos uma
sobre a colina, e nada mais. 
 
DORMECE JUNTO A MIM
(Tradução de Osvaldo Orico)

Meu bonequinho de carne
que, nas entranhas, teci,
bonequinho temeroso,
adormece junto a mim.
 Dorme a perdiz no trigal
e ouve-lhe a voz de cetim.
Não te inquietem meus alentos,
adormece junto a mim.
 Ervazinha tremedeira,
por que te assustas assim?
Não resvales de meus braços,
adormece junto a mim.
 Eu, que tudo já perdi,
para dormir tremo assim.
Não resvales de meu peito,
adormece junto a mim.

Extraídos de GABRIELA MISTRAL & CECÍLIA MEIRELES; GABRIELA MISTRAL Y CECÍLIA MEIRELES. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; Santiago de Chile: Academia Chilena de La Lengua, 2003
GABRIELA MISTRAL (1889-1957)Professora primária em zona rural, foi a primeira figura literária feminina a ganhar o Prêmio Nobel no continente americano. É autora, entre outros livros, de Desolacióm, Ternura, Tala y Lagar.
PEDRO RUIZ é um artista plástico colombiano com expressão mundial.

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