"Não há uma América liberal e uma América conservadora, há os Estados Unidos da América. Não há uma América negra e uma América branca e uma América latina e uma América asiática. Há os Estados Unidos da América
• Idade: 47 anos
• Local de Nascimento: Honolulu, Havaí
• Profissão: Senador
• O nome Barack Obama tem origens curiosas. "Barack" é uma palavra hebraica para raio. "Obama" quer dizer abençoado em suaíli, um dos idiomas do Quênia
• Obama escreveu dois livros de sucesso que deram contorno à sua identidade política: "A Origem dos Meus Sonhos", que trata do esforço para ligar-se às suas raízes na África, e "A Audácia da Esperança", que apresenta sua filosofia política, e os valores defendidos pela mãe e os avós
• Obama ganhou a preferência do presidente Lula, que se comparou ao democrata e falou da expectativa de ver o primeiro negro à frente da Casa Branca
Barack Hussein Obama Jr.
Barack Obama foi eleito o 44º presidente dos Estados Unidos. Aos 47 anos, ele torna-se o primeiro negro a governar o país, ao derrotar o rival republicano John McCain.
Depois de oito anos do governo republicano de George W. Bush, os norte-americanos aceitaram a proposta repetida pelo novo eleito. Bradando lemas como "Precisamos de mudança", Obama substituirá um líder que chegou a ser aclamado pelo pulso firme na guerra antiterrorismo, mas que deixou o posto desgastado por duas guerras, além da recente crise financeira (veja mais sobre o governo Bush aqui).
Ainda com a apuração dos votos em andamento, o senador John McCain, 72, com base nos dados das projeções, admitiu a derrota em um discurso em Phoenix (Arizona), por volta das 2h15 (horário de Brasília), em que agradeceu seus eleitores e informou ter telefonado para parabenizar Obama. Ao mesmo tempo em que ele discursava, uma multidão se aglomerava à espera do discurso da vitória de Obama no Grant Park, em Chicago.
Obama bateu McCain em Estados-chave, como Ohio, Pennsylvania, New Hampshire, Iowa e Novo México. Ele irá para a Casa Branca com o Partido Democrata no controle da Câmara e do Senado.
Apesar de a economia em colapso ser a prioridade do novo governo, Obama promete, entre outras medidas, estabelecer novos padrões na política internacional. O fim da guerra do Iraque é uma das principais metas, além de ações diplomáticas no Oriente Médio, que incluem o diálogo com Irã e Síria.
As tropas norte-americanas devem se limitar ao Afeganistão, no combate à Al Qaeda. No plano econômico, Obama terá a dura missão de cumprir os prometidos cortes de impostos à classe média.
Nos últimos meses, as pesquisas de intenção de voto já acusavam uma consistente vantagem democrata. Alguns temores ainda dissipavam a certeza da vitória - entre eles, o racismo.
"Não há uma América liberal e uma América conservadora, há os Estados Unidos da América. Não há uma América negra e uma América branca e uma América latina e uma América asiática. Há os Estados Unidos da América."
O democrata deixou claro que não se serviria da questão racial durante sua campanha, mas a candidatura dele empolgou os negros, que formam cerca de 12% da população norte-americana. A questão racial apareceu algumas vezes, entre elas durante as prévias do Partido Democrata, nas quais Obama derrotou a ex-primeira-dama Hillary Clinton. Tratando da polêmica, Obama pediu o fim dos conflitos raciais em discurso.
Longe de ser o "azarão" da disputa, Obama teve o endosso de uma campanha milionária - a mais rica da história das eleições do país. Com uma estratégia certeira, se aproximou dos jovens e os fez um eleitorado ativo na campanha. Para seus simpatizantes, Obama é um político único e estimulante como o presidente John F. Kennedy. Seus adversários o acusam de ser um mero orador eloqüente, de idéias ingênuas e políticas econômicas que tendem ao socialismo.
Senador de primeiro mandato, contra sua inexperiência, Obama terá o reforço de seu vice-presidente, Joe Biden, senador por Delaware. Um dos políticos há mais tempo em atividade no país, tem seis mandatos no Senado. Desde 2001, ele preside o Comitê de Relações Internacionais e sua trajetória é fortemente ligada às questões de política externa. Biden também é membro do Comitê Judiciário do Senado, e é um dos líderes nas questões de combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas.
Nascido em 4 de agosto de 1961, em Honolulu, Havaí, Barack Obama é casado com Michelle, com quem tem duas filhas, Malia e Natasha. Filho de um queniano e uma norte-americana do Kansas, Obama tem parte da família ainda na África.
Na infância, viveu durante anos em Jacarta (Indonésia) após o divórcio dos pais e o novo casamento da mãe. Aluno de Harvard, Obama foi o primeiro negro a presidir a prestigiosa revista universitária "Harvard Law Review" e, em 2004, tornou-se o primeiro negro a ser eleito no Senado.
Barack Obama é o primeiro negro eleito presidente dos Estados Unidos
Quarta, 5 de novembro de 2008, 02h57 Atualizada às 04h09
Obama é eleito o primeiro presidente negro dos EUA
O senador pelo Illinois, Barack Obama, fez na madrugada desta quarta-feira o discurso como vencedor na corrida pela presidência dos EUA. Aos 47 anos, Obama, filho de um queniano e uma americana, é o primeiro negro a ocupar o mais alto posto do governo dos EUA.
Obama começou o discurso dizendo que se "alguém ainda duvida que alguma coisa é possível para os EUA, hoje veio sua resposta. É a resposta que veio das escolas e igrejas, de pessoas que ficaram de três a quatro horas em filas, muitos pela primeira vez", em referência aos eleitores que votaram nesta terça.
Ele falou sobre as vozes que fizeram a diferença, "brancos, negros, hispânicos, gays, héteros. A América manda uma mensagem para o mundo que não é uma coleção de indivíduos, mas sim os Estado Unidos da América".
"Essa é a resposta para aquelas que tinham dúvidas, e eram cínicas acerca do que poderíamos alcançar na esperança de dias melhores (...). Hoje, pelo que fizemos nesta eleição, a mudança virá para a América", disse Obama.
O novo presidente americano disse que recebeu um telefonema "extraordinariamente gentil" do candidato derrotado à Casa Branca, o republicano John McCain. "Ele (McCain) lutou pelo país que ama. Fez sacrifícios pela América, foi bravo e bondoso", disse Obama, ao afirmar que vai pedir o apoio do senador pelo Arizona e sua candidata a vice, a governadora do Alasca, Sarah Palin "para trabalhar pelo o que há de vir".
Ele agradeceu ao seu vice, senador Joe Biden. "Quero agradecer ao homem que fez campanha com o coração"
Obama também mencionou sua mulher Michelle. "Eu não estaria aqui sem o apoio da minha melhor amiga nos últimos 16 anos, o amor de minha vida e a próxima primeira-dama dos EUA".
O democrata agradeceu a equipe de campanha, em especial aos coordenador, David Plouffe, "o herói desconhecido da campanha". "Vocês fizeram isso acontecer e agradeço pelo que sacrificaram", disse à equipe.
"Sei que não fizeram isso por mim, mas sim porque entendem o que vem à frente. Celebramos hoje, mas sabemos dos desafios e da pior crise financeira do século. Sabemos dos americanos nas montanhas do Afeganistão, no deserto do Iraque e das preocupações dos seus pais aqui", disse.
Obama afirmou que sabe que terá que gerar "novos empregos, novas escolhas e que a estrada será longa, a subia será íngreme, mas vamos chegar lá". "Sim podemos", dizia o público ao repetir um dos bordões da campanha.
O primeiro presidente negro dos EUA disse que "o que começou há 21 meses não pode acabar nesta noite". "Sabemos que governo não pode resolver todos os problemas. Estaremos aos seu lado, especialmente quando discordarmos de algo", afirmou.
"Essa é a nossa chance de fazer a mudança, não podemos deixar as coisas do jeito que estavam(...) Temos que somar o espírito de patriotismo, lembrar do que essa crise nos ensinou e, acabar com a imaturidade que envenenou nossa política por tanto tempo", disse.
Ao fim do discurso ele falou sobre uma senhora de 106 que "nasceu uma geração depois da escravatura. Que viu que gente como ela não podia votar, porque ela é mulher e pela cor de sua pele". "Chegamos tão longe, vimos tanto e ainda há muito por ser feito", finalizou.
Um milhão
Cerca de um milhão de pessoas acompanharam dentro e fora do Grant Park, em Chicago, a festa da vitória de Obama. Um marco para a comunidade negra dos EUA, o evento teve a presença de personalidades afro-descendentes como o reverendo Al Sharpton e a apresentadora Oprah Winfrey.
Um dos momentos marcantes aconteceu antes do discurso, quando o reverendo Jesse Jackson foi às lágrimas com a notícia da vitória de Obama. Em entrevista à rede americana CNN, a filha de Martin Luther king, a reverenda Bernice King disse esse é um novo "amanhecer na América".
Trajetória
Nascido em 4 de agosto de 1961 no Estado do Havaí, o senador pelo Illinois Barack Obama é filho de pai queniano e mãe afro-americana, nascida no interior do Estado do Kansas.
Seus avôs paternos eram empregados domésticos de colonizadores britânicos que viviam no Quênia. Seu pai, também batizado como Barack Obama, estudou e conseguiu conquistar uma bolsa para estudar nos EUA, na Universidade do Hawaii.
Já os pais de sua mãe, Ana Dunham, conseguiram estudar e comprar uma casa graças à ajuda de programas governamentais oferecidos pelo Estado. Seu pai trabalhou em prospecção de petróleo até a crise de 29, depois se alistou no exército norte-americano e lutou durante a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe trabalhou em uma indústria bélica, que fornecia material para o exército.
Por conta disso, os pais de Ana Dunham puderam proporcionar estudo à filha na Universidade do Havaí. Lá, Barack Obama e Ana Dunham se conheceram.
Fruto do relacionamento dos estudantes nasceu, no Havaí, o menino Barack Obama.
O senador pelo Illinois foi criado apenas pela sua mãe e seus avôs maternos, pois seu pai retornou ao Quênia. Obama viveu durante um período na Indonésia, na Oceania.
Em 1983, já em New York, Barack Obama iniciou seus estudos em Direito pela Universidade de Columbia. Em 1985, se mudou para Chicago, onde começou a trabalhar em prol dos cidadãos marginalizados. Voltou aos estudos e, em 1991, concluiu mais uma etapa acadêmica também em Direito pela Universidade de Harvard. Ele foi o primeiro presidente da Harvard Law Review, uma revista de Direito editada pela universidade.
De volta a Chicago, o advogado Barack Obama atuou em favor dos direitos humanos, além de ministrar aulas de direito constitucional. Isto o levou a concorrer à vaga no Senado pelo Estado do Illinois, em 1996. Ele exerceu o cargo de parlamentar por oito anos, ficando até 2004.
Obama é o terceiro senador negro da História dos Estados Unidos pós-29 e o primeiro candidato negro à Casa Branca.
Redação Terra
Quarta, 5 de novembro de 2008, 03h38
Obama: "A mudança chegou à América"
"A mudança chegou à América", declarou na madrugada desta quarta-feira o senador Barack Obama, em seu primeiro discurso como presidente dos Estados Unidos, realizado em um parque de Chicago.
» Projeção dá vitória a Barack Obama
"Se passou muito tempo, mas esta noite, graças ao que fizemos hoje, nesta eleição, neste momento histórico e de definição, a mudança chegou à América", disse Obama para mais de 65 pessoas reunidas no Grant Park de Chicago.
Em suas primeiras palavras como presidente eleito dos Estados Unidos, Obama agradeceu a sua equipe de campanha, sua mulher, suas filhas e sua avó, que faleceu na segunda-feira, vítima de câncer. "Junto a minha família, que me tornou o que sou hoje, afirmo que minha dívida com eles é imensurável".
"Nunca fui o mais provável candidato para este cargo. Não começamos nem com muito dinheiro ou com grandes apoios", lembrou o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Obama assumirá o cargo na Casa Branca no dia 20 de janeiro, no lugar do republicano George W. Bush.
AFP
Quarta, 5 de novembro de 2008, 02h28 Atualizada às 03h02
Chicago comemora com anúncio da vitória de Obama
O Grant Park de Chicago, local escolhido pelo democrata Barack Obama para comemorar sua vitória no pleito presidencial dos Estados Unidos, explodiu nesta quarta-feira em alegria quando a rede de televisão CNN anunciou a eleição do primeiro chefe de Estado negro do país. Um dos momentos marcantes aconteceu antes do discurso, quando o reverendo Jesse Jackson foi às lágrimas com a notícia da vitória de Obama.
A expectativa é que, a qualquer momento, Obama apareça no Grant Park para fazer um discurso à nação.
Segundo projeções da CNN, Obama derrotou seu adversário, o republicano Jonh McCain, ao conquistar 297 votos no colégio eleitoral, 27 a mais do que o mínimo necessário.
Logo após a emissora anunciar a vitória de Obama, as linhas telefônicas em Chicago entraram em colapso, dada a grande quantidade de pessoas que usaram seus celulares para espalhar a notícia.
No Grant Park de Chicago, onde os organizadores da campanha de Obama montaram uma grande festa para milhares de pessoas, os eleitores vibram de alegria. Muitos se abraçam, gritam, choram, erguem os braços e agitam bandeiras dos Estados Unidos.
A impressão que se tem é que Chicago se tornou o centro de um momento histórico para o país.
As autoridades esperam que até um milhão de pessoas se reúnam no Grant Park para celebrar a vitória de Obama.
EFE
Quarta, 5 de novembro de 2008, 02h03 Atualizada às 02h05
Projeção dá vitória a Barack Obama
De acordo com projeções da rede CNN, as 02h (horário de Brasília) o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, foi considerado o novo presidente americano ao alcançar os votos de pelo menos 297 delegados do Colégio Eleitoral. Se a estimativa da rede americana estiver certa, Obama será o primeiro presidente negro da história dos EUA.
Segundo a projeção, o republicano John McCain teve 139 dos delegados do Colégio Eleitoral.
Para vencer as eleições americanas, o candidato à presidência precisa de 270 votos no Colégio Eleitoral de um total possível de 538 delegados.
Os Estados do Maine e de Nebraska são os únicos nos quais o candidato que ganha não fica com todos os votos - há distribuição proporcional dos sufrágios entre os dois aspirantes à Casa Branca.
Em função dos colégios eleitorais, é possível que o presidente seja eleito sem ter sido o candidato mais votado pela população. Foi isso o que ocorreu em 2000 - quando George W. Bush foi eleito e Al Gore não - e também outras três vezes na história americana.
Redação Terra
Ana Paula Maravalho *
Adital -
A revista Veja desta semana traz matéria sobre o recém lançado livro do jornalista Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, Não somos racistas, no qual, segundo o periódico, o autor desbanca em "análise demolidora", "as falácias da política de cotas raciais" ("Contra o mito da ‘nação bicolor’", pág. 126). Nos gráficos que ilustram a reportagem, a revista afirma que "os movimentos que reivindicam cotas no mercado de trabalho para negros dividem a população brasileira em duas raças" (brancos:52% e negros: 48%), e em seguida que "o jornalista Ali Kamel observa que esta conta ignora os pardos - os numerosos filhos da miscigenação brasileira. Os números corretos seriam outros: brancos - 52%; negros - 6% e pardos- 42%". A revista repete aqui, pela enésima vez, um expediente falacioso ao qual recorre a cada vez que se posiciona contra as cotas: o de confundir o leitor, ao utilizar, errônea e propositalmente, o termo "negros" para significar "pretos". Como veículo jornalístico que é, elaborado por profissionais competentes no manejo das informações, e mais ainda, já alertada por leitores atentos às numerosas reincidências no malogro determinado que comete, a revista e seus editores sabem muito bem que "os movimentos que reivindicam cotas" utilizam o termo "negro" para indicar a população formada pela soma de "pretos" e "pardos", que vêm a ser os termos utilizados pelo IBGE para classificar a população afro-descendente no Brasil. Considerando que os efeitos do racismo no Brasil atingem indistintamente estes dois grupos (ao contrário do que supõe a teoria da democracia racial), os movimentos negros (atenção ao plural!), assim como vários pesquisadores de órgãos oficiais no país e membros da academia utilizam o termo "negro" significando a soma dos percentuais relativos aos auto-declarados "pretos" (6% da população brasileira) e "pardos" (42% da população), totalizando 48% de "negros".
O debate em relação às cotas é legítimo e saudável num país em que pouco se discutem os efeitos de um racismo permanente, contundente e cruel para com suas vítimas. Ser contra as cotas é um ponto de vista, que deve ser respeitado quando vem ao debate com limpeza de propósitos. No entanto, a utilização de argumentos falaciosos como o acima descrito, empregado pela citada revista, mais uma vez, com o único objetivo de desinformar e manipular o leitor, revela a pobreza de argumentos de quem procura, desesperadamente, tapar o sol com uma peneira.
O livro de Ali Kamel tem, no entanto, um mérito indiscutível: o de escrever com todas as letras a teoria abraçada pelo diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, que não deve estar longe das diretrizes da própria emissora. E, a julgar pelo entusiasmo do jornalista que escreveu sobre o livro, também é a opinião da revista em questão. A base da teoria é a mesma que embala a nação brasileira desde suas origens: a de que não somos racistas porque somos um país de mestiços. Daí a necessidade de explicar, ou melhor, denunciar que "não há negros no Brasil".
É verdade que a composição racial brasileira não é fácil de explicar. Sem duvida, a categoria de "negros" não é homogênea. Tampouco a de "brancos"; o que leva à constatação de que, ao lado do aparentemente insolúvel problema de "quem é o negro no Brasil", há que se discutir a não menos complicada definição de "quem é o branco no Brasil". Sobretudo quando os argumentos contrários às cotas se concentram na negação da bipolaridade racial.
A definição da branquitude sofreu modificações ao longo de nossa História. Inicialmente reservada aos originários dos países da antiga Europa, os limites do conceito foram se alargando para absorver povos que, a princípio, encontravam-se do lado de lá do perímetro racial. É assim que pessoas que em outros países possuem identidade racial própria (e que sofrem discriminação por esta razão) podem legitimamente - e só no Brasil - reconhecer-se e afirmar-se "brancos". É verdade que, para os descendentes destes povos - judeus, árabes, orientais - a democracia racial funciona perfeitamente. Ainda que preservem valores culturais específicos, a teoria da mestiçagem os absorveu por completo, equiparando-os aos "brancos" em tudo.
Oposto ao contingente "branco" - real ou virtual - encontra-se sua antítese, o "negro". E aqui, também encontramos a influência da teoria da mestiçagem. No Brasil, é negro quem não pode ser considerado branco. A definição é bastante larga para permitir que negros suficientemente claros para cruzar a "linha da cor" possam se autodefinir como brancos. Num país onde ser negro sempre significou estar associado a tudo que é negativo, cruzar a "linha da cor" tornando-se branco é a única alternativa permitida pela idéia da mestiçagem. E é justamente aí que a política de cotas causa uma revolução, ao possibilitar que esta "linha" possa ser cruzada no sentido inverso: tornar-se negro passa a constituir, sim, uma opção de futuro.
Os brancos que se posicionam contrários às cotas o fazem por vários motivos. Entre eles está o de crer, com sinceridade, no mito da democracia racial, na relação harmônica e perfeita entre as diferentes raças em nosso país. É possível, e mesmo provável, que uma pessoa branca creia nisto, sinceramente. Motivos não lhe faltarão: afinal, a questão racial nunca foi uma prioridade em sua vida - nunca foi discriminada por sua cor, e se já discriminou alguém, nem percebeu (contar piadas sobre negros ou repetir alguns "provérbios" oriundos da infinita e sempre correta sabedoria popular não vale, não é? É só brincadeirinha, sem intenção de magoar ninguém!). Uma pessoa branca poderá viver sua vida inteira sem ser obrigado a definir ou declarar sua branquitude, a não ser no censo. Dificilmente terá passado pela experiência de ter seus erros justificados pela sua cor, ou de ver seus méritos - mesmo que excelentes - serem menosprezados também em função de sua cor. Uma pessoa branca, mesmo pobre, sempre pôde se identificar pela sua cor com os heróis e heroínas de sua infância, fossem eles personagens de um filme, da novela, do livro de História ou mesmo de um livro de historinhas para crianças.
Uma pessoa branca pode, sinceramente, achar que nunca fez distinções entre brancos e negros. Esta nunca foi uma questão importante para ela, até surgirem as discussões sobre cotas para negros na Universidade e no mercado de trabalho. A revolta é então, legitimada pelo sentimento de se sentir usurpado em seu sagrado direito à igualdade por um grupelho que, de uma hora para outra, resolveu importar de outras paragens conflitos até então inexistentes no Brasil. Uma pessoa que pense desta maneira pode mesmo estar sendo sincera em sua revolta contra os que advogam que a política de cotas é a única solução para o problema racial brasileiro. Pois, segundo tudo o que acreditam, a verdadeira solução para o sucesso está no esforço pessoal, no mérito. Estão aí para provar todos os negros que alcançaram posição de destaque em suas carreiras: a Glória Maria, a Zezé Mota, o Lázaro Ramos, isso pra não falar nos inúmeros cantores e jogadores de futebol negros, que ganham milhões!
O único problema é que, se estamos falando de democracia racial mesmo, não deveríamos poder "identificar" a Gloria Maria, a Zezé Mota, o Antônio Pitanga, o Lázaro Ramos, a Deise Nunes (para aqueles que não se lembram, ou não sabem, a nossa única Miss Brasil negra, "eleita" em 1986). E se dermos ainda mais tratos à bola, veremos que entre os exemplos de negros bem sucedidos há muito poucos no nosso círculo íntimo de amizades. À medida em que subimos os degraus sociais, "muito poucos" vira eufemismo para "nenhum". Pois é muito possível, e mesmo provável, que uma pessoa branca das classes média e alta, no Brasil, atravesse toda a sua vida sem jamais cruzar com pessoas negras no seu círculo social. E aqui não falo do "álibi negro", aquele que os brasileiros costumam tirar da cartola cada vez que precisam explicar porque não são racistas - aquela empregada que é tratada como se fosse da família, aquele porteiro com quem conversa todos os dias, aquele menino negro a quem sempre dão um trocado no sinal.Falo de pessoas com quem podem se relacionar de igual pra igual, com quem tenham estudado no mesmo colégio, com quem dividam, no mesmo nível, um posto no trabalho, com o mesmo salário, o mesmo carro. Tudo bem, vai. Um vizinho no mesmo prédio, na mesma rua, já vale. Ou a médica com quem costumam se consultar. O pediatra dos seus filhos. O dentista. Quantas destas pessoas são negras?
Se os exemplos nacionais e pessoais são tão poucos, já não seria um motivo de alerta de que esta democracia racial não é tão democrática assim? Sim, pois numa democracia racial digna deste nome, os negros que teriam "conseguido" seriam tantos que não deveríamos ser capazes de nomear, isolar, apontar "a" exceção que confirma a regra. Que regra? A de que pra "conseguir", para "chegar lá", ser branco é um dos requisitos. E ser negro atrapalha.
A não ser que haja outra explicação. A de que, se os negros não conseguem, é porque tem alguma coisa errada com eles, não com a sociedade. Deve ser porque eles são incapazes, preguiçosos, burros mesmo. Feitos para ser dominados. Geneticamente dotados para a pobreza e o crime. Bingo! Taí a explicação!
O problema com esta explicação é que ela não é, digamos, original. Não é uma decorrência lógica dos fatos, não é uma conclusão a ser tirada da realidade dos negros no Brasil. Na verdade, ela é a própria espinha dorsal do racismo, organizado como doutrina "científica" no século XIX e sistematizado como pedra de toque da concepção de nação brasileira: uma nação mestiça a contragosto, mas que poderia almejar seu lugar ao sol, entre os países civilizados, desde que promovesse o embranquecimento paulatino de sua população. E é a partir desta idéia sistematizada - a da mestiçagem como uma etapa necessária para promover o embranquecimento, de forma a que não haja mais negros no país - que se estabeleceram e se mantêm até hoje as relações raciais por aqui.
O embranquecimento não se resumiu aos discursos dos intelectuais da época, como Sílvio Romero, Oliveira Viana, Nina Rodrigues. Foi mesmo política oficial de governo, como quando o Estado brasileiro promoveu a entrada em massa no país de colonos europeus para ocupar os postos de trabalho liberados a partir da abolição da escravização, pagando a viagem e em muitos casos cedendo terras, insumos e máquinas, ao mesmo tempo em que fechava os portos aos africanos (decreto 528, de 28 de junho de 1890); ou quando o Itamaraty, em 1921, emitiu ordens explícitas para que as embaixadas brasileiras nos Estados Unidos negassem o visto aos afro-americanos que pretendiam comprar terras em Mato Grosso.
O embranquecimento é também a política dominante nos meios de comunicação brasileiros, que conseguiram, através da invisibilização da população negra (pretos e pardos, indistintamente) promover a imagem do país como formado quase 100% por brancos - basta ver as páginas das revistas de moda, de "boa forma" e muitas das novelas e minisséries televisivas.
Diante deste quadro, para não falar nas pesquisas que, desde 1990, vêm mostrando as diferenças abismais entre os índices de desenvolvimento humano de negros e brancos no Brasil, caem todos os argumentos que se posicionam contra as cotas por entenderem que em nosso país não há racismo. Esta discussão já foi superada, inclusive pelo próprio Estado, que em 1995, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, reconheceu que somos sim, um país racista. O Estado Brasileiro também se comprometeu a empregar os esforços necessários para reduzir o abismo social causado pela discriminação racial histórica no país, em cumprimento aos Tratados e Convenções Internacionais dos quais o Brasil é signatário, e que incluem as ações afirmativas como instrumento de ação legítima contra o racismo. O livro de Ali Kamel já nasce, portanto, anacrônico e deficiente em seus argumentos. Pode-se ser contra as cotas por vários motivos. Negar a existência do racismo no Brasil, no entanto, beira o revisionismo.
COMENTÁRIO RECEBIDO
REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro
Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
quilombonnq@bol.com.br
12 de Abril de 2009 04:54
É TUDO NOSSO!
Os negros merecem ser recompensados pelo esquecimento do qual foram vítimas desde a abolição da escravatura. De lá para cá, nada foi feito para que haja igualdade de oportunidades entre negros e o restante da população brasileira. É com base nesse argumento que o presidente da Comissão do Negro da OAB-SP, Marco Antonio Zito Alvarenga, defende políticas públicas específicas para negros, como cotas em universidades sem que sejam vinculadas a aspectos econômicos.
“Não queremos privilégios eternos, mas políticas de compensação”, declarou em entrevista à revista Consultor Jurídico. O advogado ressalta que os pobres e os outros grupos excluídos como os negros também devem ser beneficiados com políticas públicas.
Questionado sobre a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que declarou que qualquer política pública baseada em fator racial é racismo, o advogado diz que ela não pode se aplicar à realidade do Brasil. Segundo ele, hoje, os negros norte-americanos chegaram a um patamar em que podem concorrer em condições de igualdade com os brancos. Ou seja, a decisão pode até ter certa coerência lá, mas não aqui. Para o advogado, adotar esse critério aqui no Brasil serve para que algumas pessoas tenham a mesma oportunidade que todos os outros têm.
Vindo de família de classe média baixa, Zito Alvarenga é negro e conseguiu ultrapassar a barreira da exclusão, como ele mesmo gosta de dizer. Conta que a mãe era cozinheira do dono de uma boa escola, onde teve a oportunidade de estudar. Saiu de lá e logo foi aprovado no curso de Direito da PUC-SP. Especializou-se em Direito Previdenciário e hoje atua também na área de Direito Esportivo. Há dois anos, é auditor do Tribunal de Justiça Desportivo da Federação Paulista de Futebol.
Na Comissão do Negro e Assuntos Anti-discriminatórios da OAB-SP, que presidente pelo segundo mandato consecutivo, Zito Alvarenga costuma promover debates sobre a diversidade. Levar as questões raciais para as universidades e aos policiais, por exemplo. “As pessoas imaginam que ao trabalhar isso você está mostrando uma ferida. Na verdade, você está fazendo um tratamento para melhorar.” Também participaram da entrevista os jornalistas Gláucia Milício, Maurício Cardoso e Rodrigo Haidar.
Leia a entrevista
ConJur — Qual a diferença entre preconceito e discriminação?
Marco Antonio Zito Alvarenga — O preconceito é um sentimento íntimo de rejeição a uma determinada situação, pessoa ou fato. A discriminação é o ato de exteriorizar esse preconceito. Passa do campo de um mero convencimento para um ato de violação de direitos de terceiros.
ConJur — Por que eu posso escolher a cor da minha mulher e não posso escolher a cor do meu funcionário?
Zito Alvarenga — A escolha da cor ou da raça da sua mulher envolve amor. Isso é questão de foro íntimo. É diferente quando se trata de uma contratação. A competência e qualificação da pessoa é o que deve influenciar na escolha. Há algum tempo, empresas adotavam nas seleções o chamado Código 4, que era usado para identificar a cor da pele da pessoa. As anotações traziam informações sobre os requisitos da pessoa para o cargo e também sobre a cor. Essas situações fazem parte do cotidiano, de forma velada.
ConJur — Hoje, o Código 4 ainda é usado pelas empresas?
Zito Alvarenga — Não tenho dados para dizer isso. Mas a minha impressão é que continua existindo a discriminação, não na forma do Código 4. O número de profissionais negros de sucesso em grandes empresas é pequeno, mesmo dentro do poder público. O fato é tão arraigado na nossa cultura, que grandes bancos criaram núcleos de afro-descendentes. É um trabalho de inclusão, válido. Não podemos trabalhar com o conceito de falsa democracia racial. Existe a diversidade, existem as diferenças e elas devem ser vistas e respeitadas.
ConJur — Em entrevista à ConJur, a procuradora Roberta Fragoso Kaufmann explica esse fato como uma conseqüência de os negros serem mais pobres no país e, por isso, não têm acesso a bons colégios para chegar à universidade e alcançar altos cargos.
Zito Alvarenga — Esse é o reconhecimento expresso de que o pobre não tem oportunidade. Além do que, os negros que se destacam não têm a visibilidade necessária para servir de paradigma para a juventude. Eles precisam de um exemplo para mirar e falar: “Mesmo com as minhas dificuldades, eu posso chegar até lá”.
ConJur — Mas não é a mesma coisa ser um pobre branco ou negro? As políticas afirmativas não deveriam ser direcionadas para os pobres, independentemente da cor da pele?
Zito Alvarenga — Concordo que deve haver cotas vinculadas à questão da pobreza e para estudantes da escola pública. Reforço que é preciso haver definição clara do percentual necessário para incluir. O Estado tem que estar preparado para proteger todos no seu arcabouço jurídico e administrativo. Há a tese de que o fato de o negro entrar por cota na faculdade vai fazer a qualidade cair. Isso não é verdade.
ConJur — Qual é o critério de cotas ideal para as universidades?
Zito Alvarenga — A questão racial é indiscutível. Em segundo lugar, é preciso ter cotas para estudantes vindos de escola pública. É preciso estabelecer percentuais, inclusive para os brancos pobres.
ConJur — No critério racial, deve se tomar por base a auto-declaração ou formar uma comissão para avaliar?
Zito Alvarenga — A auto-declaração. Sempre teremos os oportunistas, aqueles que dizem: “minha bisavó era negra”. É cultural. Muitos acham que nós, negros, queremos tirar proveito da situação em nosso favor. Durante muitos anos, o negro esteve quieto. No momento que busca seu espaço, vem a reação da sociedade. Não pode ser diferente. Nos shoppings, por exemplo, só há vagas para os negros exóticos. É um fato. Se eu entro no shopping de terno escuro, acham que sou segurança.
ConJur — Isso é preconceito?
Zito Alvarenga — Não. É a imagem que a sociedade tem do negro. É a ausência de paradigmas que mostrem que o negro pode ser mais que segurança. Pode ser médico, advogado. Não estamos em busca de privilégios, mas de reconhecimento do nosso valor histórico na construção do país. Essa parte da história ainda não foi contada nas escolas. A sociedade brasileira tem que ter a visão clara e transparente do que acontece nesse país. O Estado tem de adotar e implantar políticas públicas nesse sentido. Se é impossível acabar com o preconceito, temos de impedir violação do direito de terceiros.
ConJur — A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que qualquer política pública baseada em fator racial é racismo. O senhor concorda com isso?
Zito Alvarenga — Não para o Brasil. Nos Estados Unidos, as políticas afirmativas e de cotas existem há mais de 50 anos. Hoje, o negro nos Estados Unidos chegou a um patamar em que pode concorrer em condição de igualdade com os brancos. Por isso, essa decisão foi tomada agora. A Suprema Corte levou em consideração todo o momento histórico dos Estados Unidos. No Brasil, esse entendimento não pode ser aplicado. Aqui, adotar critério racial para políticas públicas serve para que algumas pessoas tenham a mesma oportunidade que outros já têm. É uma política de caráter temporário. Na medida em que os negros forem atingindo patamares de igualdade, não serão mais necessárias. Não queremos privilégios eternos, mas sim políticas de compensação.
ConJur — Há quem defenda que o movimento negro rejeita o critério de cotas baseado na renda porque isso beneficiaria apenas os negros pobres. Em geral, líderes do movimento são de classe média e eles não seriam atingidos pelo benefício. O que o senhor acha disso?
Zito Alvarenga — O Brasil nunca implementou de forma correta as políticas universais, para igualar as oportunidades. O negro foi libertado há quatro séculos. Não houve políticas que conseguissem integrá-lo à sociedade. Não há respostas contundentes às pretensões dos negros como há, por exemplo, em relação aos presos políticos. Eles recebem, inclusive, indenizações.
ConJur — O senhor acha que os negros deveriam receber indenização?
Zito Alvarenga — Não sou a favor de indenização pecuniária, mas de políticas públicas. Como conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo e presidente da Comissão Negro e Assuntos Anti-discriminatórios é possível ver algumas dificuldades que os advogados negros passam. Há de se ter muito equilíbrio para não fazer patrulhamento. Não se pode usar o preconceito para obter vantagem.
ConJur — O trabalho da comissão visa o advogado negro. Existem problemas específicos do advogado negro?
Zito Alvarenga — A problemática do advogado é a mesma do cidadão negro. Temos um bom número de profissionais. Mas temos mais bacharéis. Até um determinado momento, os negros escolhiam o funcionalismo público para romper a barreira da exclusão social. Galgando cargos até ficar mais próximo de um patamar de reconhecimento. Hoje, o Direito é outra forma de ultrapassar a barreira.
ConJur — O Brasil tem um alto grau de miscigenação. O senhor não concorda que as maiores vítimas do racismo talvez não sejam os negros, mas os pardos, que formam a maioria da população brasileira?
Zito Alvarenga — Discordo. Mesmo se fossem as maiores vítimas do racismo, estariam incluídos nas cotas. A sociedade, ou um grupo dela, se incomoda com as políticas sociais voltadas para os negros. Ninguém gritou quando foram implementadas políticas afirmativas para os imigrantes, que na região Sul, ganharam terras. Hoje, critica-se a doação de terras para a comunidade quilombola. A Folha de S. Paulo publicou uma notícia dizendo que a área destinada a essa comunidade equivale ao estado de São Paulo. Sobre a área doada aos índios ninguém fala. Por que a questão do negro é tão dura e tão difícil? Parece que há resistência entranhada na história do povo brasileiro.
ConJur — Houve uma política deliberada de escravidão por quatrocentos anos. Mas, paralelamente, havia convivência entre todas as raças desde a colonização. As mulheres que procriaram neste país desde o começo foram as negras e as índias, porque não havia brancas. Essa é a teoria do Darcy Ribeiro sobre o povo brasileiro, que inclui brancos, negros e índios.
Zito Alvarenga — Só que todos tiveram oportunidades. Os negros não. Houve a convivência, mas sempre nos esqueceram. Esse é o chamado falso mito da democracia racial.
ConJur — Mas é o fenômeno real da miscigenação biológica. Não se pode desprezar que as raças confluíram também.
Zito Alvarenga — Não nego isso. O fato é: se os negros tivessem as mesmas oportunidades, eu não estaria discutindo esse assunto. Se tivéssemos no mesmo patamar de igualdade, de reconhecimento, de espaço, isso não seria pauta.
ConJur — O Estatuto da Igualdade Racial é necessário?
Zito Alvarenga — Uma das grandes dificuldades do Estatuto da Igualdade Racial foi o dispositivo que previa a criação de um fundo específico destinado para políticas públicas. Mas ele já foi retirado da proposta. O Estatuto trata da questão racial, mas com viés social. Estabelece políticas no sentido a atingir aqueles negros que estão na base da pirâmide, os pobres.
ConJur — Mas tomando a raça como critério.
Zito Alvarenga — As raças existem. Criadas pela própria sociedade. Ninguém pode dizer que eu não sou negro.
ConJur — E o Ministério da Igualdade Racial?
Zito Alvarenga — O atual governo deu a competência a esse ministério para implementar políticas públicas de inclusão social. A dificuldade é que todas as políticas são entrelaçadas. Então, tem que discutir com o Ministério da Saúde, da Educação, da Cultura. Não existe no país a cultura de fazer políticas de Estado conjuntas. O ministério é necessário, na medida em que surge como um paradigma no sentido de reconhecer o racismo, que não é institucional, mas que existe.
ConJur — Qual é a diferença técnica entre injúria e racismo? Numa partida de futebol, um jogador argentino chamou o jogador do São Paulo, Grafite, de macaco. Qual o limite entre ofensa e racismo?
Zito Alvarenga — O dono de um restaurante não deixar uma pessoa entrar em seu estabelecimento porque é negra, é racismo. A injúria, agravada pelo componente racial, se caracteriza quando a pessoa atinge a moral do indivíduo em si, o coloca numa posição subumana. A linha entre um e outro é tênue. No caso do Grafite, foi racismo, crime inafiançável e imprescritível. O caso desse jogador acabou atingindo toda a comunidade, na medida em que foi divulgado de forma expressiva pela imprensa. Quando se atinge a comunidade como um todo, trata-se de preconceito. Quando se atinge a moral, a sua questão última, personalíssima, aí se trata de crime de injúria.
ConJur — Não há dúvida de que alguém que comete crime de racismo tem que sofrer alguma sanção. Mas não há exagero? Por exemplo, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. No homicídio, que é um crime contra a vida, o réu pode responder em liberdade e há prescrição.
Zito Alvarenga — A imprescritibilidade do delito é um instrumento para que a pessoa de menor potencial financeiro e menor conhecimento técnico possa reclamar depois. Mas essa é a chamada letra morta da lei. A legislação brasileira é uma das mais rigorosas. Há uma grande distância entre ser rigorosa e ser aplicada. Muitas vezes, quem sofre injúria não tem condição de contratar um advogado. Nos crimes de racismo funciona, porque o dono da ação penal é o Ministério Público. Ele tem os meios de fazer isso.
ConJur — De que forma o negro sofre preconceito hoje?
Zito Alvarenga — Minha mulher também é negra. Dependendo do ambiente em que você está, do lugar onde você mora, as pessoas ficam surpresas. No dia-a-dia, as pessoas mostram isso, como se fossemos seres diferentes. Houve um caso de um anúncio de jornal para a contratação de uma empregada doméstica que não fosse negra. Uma negra ligou e a pessoa que atendeu pediu para que ela descrevesse os seus traços. “Eu sou negra”, disse. Daí, a pessoa disse que ela não estava habilitada para exercer a função.
ConJur — O caso foi parar no Judiciário?
Zito Alvarenga — A autoridade policial entendeu que não havia crime e o Ministério Público não ofereceu denúncia. Mas foi levado à Corte Internacional da Organização dos Estados e dos Países e houve uma reprimenda administrativa ao Brasil. A Corte sugeriu que políticas públicas fossem aplicadas nesse sentido.
ConJur — A procuradora Roberta Kauffmann defende que nunca houve uma política de Estado de discriminação racial ou de segregação. Por isso, as políticas compensatórias baseadas na raça não se justificariam.
Zito Alvarenga — Houve sim. Em uma palestra, o professor Aziz Ab’Saber disse que para saber quem é negro, é só chamar a polícia. Outro dia fui buscar minha filha na faculdade. Parei para tomar um guaraná e comer um lanche. Um policial me parou. Essas coisas acontecem. Mas algumas políticas têm sido implantadas. Fui convidado para fazer uma palestra para 1.700 policiais militares. Depois fui abordado por dois que assistiram para dizer que gostaram. As pessoas imaginam que ao trabalhar isso você está mostrando uma ferida. Na verdade, você está fazendo um tratamento para melhorar.
ConJur — Quais as políticas públicas que defende para tentar resolver essa situação?
Zito Alvarenga — Ações afirmativas, de forma geral. Oportunidade de empregos, escolas melhores, políticas de saúde voltadas para negros. É cientificamente provado que algumas doenças atingem mais os negros, como a anemia falciforme, pressão alta. É preciso dirigir um segmento científico para desenvolver um trabalho para atender essa parte da população.
ConJur — No lugar de estabelecer percentuais de cotas, não seria mais justo oferecer incentivos fiscais que atinja toda essa população, independente de um número pré-estabelecido?
Zito Alvarenga — Por exemplo, em um concurso para um cargo de limpeza dar um ponto para os negros que estiverem concorrendo. É pontuação, não está tirando de ninguém. Mesmo porque quem concorre a esse tipo de cargo, são todos os pobres.
ConJur — O pobre, não o negro.
Zito Alvarenga — A maioria é de negros. A média são três anos de dedicação efetiva aos estudos para se passar em um concurso público hoje. Se não houver um critério objetivo, qual a oportunidade que essas pessoas terão de concorrer nesses grupos? Estabelecendo critérios, os melhores negros serão escolhidos. Nas cotas para as universidades, também.
ConJur — Falando de discriminação de forma geral, temos o recente caso do jogador Richarlyson. O juiz que cuidou do processo foi acusado de homofobia, ao dizer que futebol é coisa para macho e gay não tem que jogar bola. O fato de o jogador ter entrado com uma queixa-crime contra o diretor do Palmeiras por ter insinuado que ele é gay, também não é uma espécie de homofobia?
Zito Alvarenga — O problema é subjugar alguém a uma situação inferior. O diretor do time, ao comparar a conduta de Richarlyson com a de um gay, com certeza quis ofendê-lo, subjugá-lo. É uma questão subjetiva. Diferente de quando se fala em crimes de roubo, homicídio. Está lá o corpo, o objeto furtado. Estamos falando de comportamento de pessoas. No caso, a decisão do juiz foi preconceituosa, quando ele fala: “daqui a pouco vai virar bagunça, cota para negros, para gays”. O juiz tem que ficar restrito aos termos do processo. Não ir além, nem aquém.
Revista Consultor Jurídico, 2 de setembro de 2007
NOTÍCIAS DE PRETOS
A incursão, gerada pelos lançamentos locais, está possibilitando percepções positivas acerca da organização de diferentes setores do movimento negro e a força da rede contra o racismo no Brasil.
Mulheres Negras do Brasil (Senac Editoras) ajuda a construir um novo olhar sobre o passado e a superar a invisibilidade das mulheres negras, levando ao reconhecimento de suas contribuições na formação da identidade brasileira. É resultado de três anos de pesquisa em todas as regiões do país, especialmente nos estados do Maranhão, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O título conta também com cerca de 950 imagens que ilustram o dia-a-dia dessas mulheres. A publicação integra o projeto "Mulher, 500 anos atrás dos panos", quem vem sendo desenvolvido pela Redeh. A obra tem patrocínio da Petrobras e do Banco do Brasil e apoio da Seppir, Unifem e Global Fund for Woman.
Entre os pontos constantes no documento, destacam-se: o reconhecimento como patrimônio cultural do Brasil através de encaminhamentos para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Fundação Cultural Palmares; formação de gestores nas áreas de preparação de projetos e intervenção no orçamento inclusive no PPA (Plano Plurianual); desenvolvimento de ações afirmativas nos clubes e sociedades negras, como inclusão digital, esporte, cursos preparatórios e de qualificação para a comunidade negra; formação dos gestores dos clubes em museologia comunitária; criação de edital específico para mapeamento do patrimônio material e imaterial dos clubes e sociedades negras em âmbito nacional e para participação do Programa Cultura Viva – Pontos de Cultura; revitalização dos espaços físicos; elaboração de cadastro nacional dos clubes negros por meio do Iphan e criação de secretarias, coordenadorias e/ou diretorias para públicas públicas para a comunidade negra em municípios e estados.
OrigemOs clubes negros surgiram, em meados do século XIX, como alternativa de sociabilidade negra, resistência e fraternidade. Muitos deles no período escravista estimularam uma rede de solidariedade para custeio de funerais e apoio a famílias com dificuldades econômicas.
DIA NACIONAL DE MOBILIZAÇÃO CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL - 10042007 -
Reuniu especialistas sobre o tema violência e juventude e representantes do movimento social em audiência pública no Senado federal, em Brasília.
Participam do evento, como expositores, Karyna Sposato, diretora-executiva do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud); Mário Volpi, oficial de projetos do Unicef; Carmem Oliveira, secretária da Criança e do Adolescente do governo federal; Tiana Santo-Sé, secretária nacional do Fórum DCA e Fernando Silva, também do Fórum DCA. A convite da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), está garantida a representação da juventude negra por Fernanda Matheus, da Soweto Organização Negra, e Paulo Petri, da Cufa (Central Única das Favelas)/RS.
A audiência pública no Senado Federal é uma iniciativa da Frente Parlamentar, em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente em parceria com o Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA) e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que pretende aprofundar as discussões e reflexões sobre a violência no Brasil, a situação dos adolescentes em conflito com a lei e a necessidade urgente da aplicação dos preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na busca pela garantia de melhores condições de vida para a população infanto-juvenil.
O dia 10 de abril foi escolhido para ser o Dia Nacional de Mobilização Contra a Redução da Maioridade Penal, às vésperas da votação dos projetos que tratam do assunto na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal. A data foi definida em articulação envolvendo diversas entidades da sociedade civil, atendendo a convocação feita pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
O objetivo da mobilização é chamar a atenção da sociedade brasileira e da mídia para a necessidade de implementação efetiva do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) - plano que define as novas diretrizes da política nacional de atendimento aos adolescentes em conflito com a lei.
Audiência Pública contra a Redução da Maioridade Penal
Data: 10 de abril de 2007
Horário: 14h
Local: Senado Federal (Plenário 02, da Ala Nilo Coelho) – Brasília/DF
Programa AfroAtitude: programa integrado de Ações Afirmativas para Negros do Ministério da Saúde com universidades que possuem programas de Ações Afirmativas para negros e que adotam o regime de cotas para acesso dessa população.
http://www.aids.gov.br/final/dh/afroatitude.htm
EDUCAÇÃO
Programa Pró-Uni: reserva bolsas aos cidadãos portadores de deficiência e aos autodeclarados negros, pardos ou índios.
www.mec.gov.br/prouni
Programa Uniafro: programa de Ações Afirmativas para a População Negra nas instituições públicas de educação superior o qual contribui para a implementação de políticas de ação afirmativa voltadas para a população negra.
www.mec.gov.br/uniafro
Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia: programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco (Ministério das Relações Exteriores/ Itamaraty) onde oferta bolsas para candidatos afrodescendentes se prepararem para os exames de seleção à carreira diplomática.
www2.mre.gov.br/irbr/irbr.htm
Em entrevista ao programa Cidadania, da TV Senado, o presidente da Fundação Cultural Palmares/MinC, Zulu Araújo, teve a oportunidade de esclarecer alguns dos projetos e das futuras ações que pretende implementar à frente da instituição. Quem assistir ao programa - a entrevista com Zulu Araújo deve ser veiculada já no próximo final de semana ( dias 24 e 25), segundo informa a emissora - poderá entender um pouco mais da importância das ações da Fundação Palmares e da luta que tem em incentivar e difundir a cultura afro-brasileira, ao mesmo tempo em que se combate a discriminação racial dentro da nossa sociedade.
Juventude:
Na entrevista, Zulu reafirmou seu compromisso com a sociedade brasileira apresentando propostas para tentar modificar a cultura do jovem negro brasileiro, em sua maioria pobre. “É preciso tirar da juventude os vícios do racismo”, disse. Para isso, promete construir um permanente diálogo entre a Fundação, os órgãos federais, incluídos nestes os poderes Legislativo e Judiciário; e a sociedade.
Tendo como meta o jovem, impôs como obrigação produzir ações em conjunto com o Ministério da Educação para que possa através do ensino antidiscriminatório, atingir dentro das escolas os jovens brasileiros. Já que, segundo Zulu, a juventude negra sofre as conseqüências do problema de políticas excludentes, elitistas e concentradoras de renda. E sendo a manifestação cultural a identidade do negro como parte da sociedade, são indispensáveis programas que incentivem essa afirmação da negritude. Até mesmo deu exemplos de políticas de juventude a serem seguidas, como o Nós do Morro, o AfroReggae, o movimento Hip-Hop, o Ileyaê e outros projetos que estão no caminho certo.
Intolerância religiosa:
Outro ponto discutido no programa foi uma das formas de agressão à comunidade negra: a intolerância contra as religiões de matrizes africanas.
Zulu colocou como a mídia influencia a sociedade difamando, caluniando e deformando as tradições e cultos religiosos ao invés de esclarecerem e informarem corretamente sobre seus rituais. Ele também mostrou iniciativas para a área, “vamos encontrar mecanismos para dar incentivo e liberdade ao culto das religiões de matrizes africanas, além de pedir sempre a punição dos agressores”.
Comunicação:
O presidente da Fundação também anunciou uma das grandes novidades para esse ano que é a implementação de um programa de tv para tratar especificamente da cultura negra, dando dignidade e identidade aos negros com a difusão da produção afro-brasileira. Inicialmente, a Palmares está viabilizando com a TV Senado para que seja ela a difusora e apoiadora desse projeto.
Luta coletiva:
Pra finalizar, o presidente lembrou que a luta por uma sociedade mais justa e igualitária não é só de movimentos ou de segmentos da comunidade negra. Para ele, a discriminação faz com que “milhares de pessoas sejam impedidas de se desenvolver, se expressar e criarem um identidade, por isso, todos temos uma obrigação de resolver esse problema de 400 anos de escravidão”.
DATA MUNDIAL DE COMBATE AO RACISMO - 21032007
O fato ocorreu em 1960, na África do Sul, quando milhares de cidadãos negros que protestavam pacificamente contra a lei do passe foram violentamente atacados pela polícia do ‘regime de apartheid’.
Em Brasília, o presidente da República, Luiz Lula da Silva, participa de uma solenidade para assinalar as comemorações no Brasil e, ainda, os quatros anos de criação da Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Na ocasião, haverá a entrega do Título de Domínio da Terra para a comunidade remanescente de quilombo Mel da Pedreira, no Amapá.
No dia 21 de março também se comemora a independência de dois países africanos: a Etiópia, em 1975, e a Namíbia, em 1990. Leia mais sobre a importância da data no site da Fundação Cultural Palmares: http://www.palmares.gov.br/.
PRIMEIRO FORUM CULTURAL NEGRO EM CENA - 19032007
O Rio de Janeiro sediou o Primeiro Fórum Cultural Negro em Cena. O evento aconteceu nos dias 24 e 25 de março de 2007, na Marina da Glória, com o objetivo de apresentar o protagonismo do negro por meio da música e da gastronomia, dos Voduns, Orixás e Inquices, dança, moda, literatura, poesia e produções acadêmicas. Na ocasião, houve a entrega do troféu Negro em Cena, criado pela atriz e artista plástica Iléa Ferraz, que homenageou grandes nomes da cultura afro-descendente: Abdias do Nascimento, Joel Zito Araújo, dona Ivone Lara e Gilberto Gil.
CERTIDÃO DE AUTO RECONHECIMENTO - 14032007
Atualmente, já chega a 1.113 o número de comunidades remanescentes de quilombos que receberam da Fundação Cultural Palmares (FCP) a certificação que significa o primeiro passo para a regularização fundiária das comunidades. Esta iniciativa abre caminho para a participação nas ações de políticas públicas do Governo Federal, como o Bolsa Família, os programas de habitação, saúde da família e cestas básicas.
A certificação de comunidades teve início com a aprovação do Decreto nº 4.887, de 20 de novembro 2003, que visa garantir às comunidades quilombolas a posse da terra e o acesso a serviços de saúde, educação e saneamento. Para que isso aconteça, o grupo deve se auto-reconhecer como comunidade remanescente de quilombo. Assim, após receber a declaração de auto-reconhecimento por escrito, a Palmares inscreve a comunidade no Cadastro Geral, expedindo a certidão de auto-reconhecimento.
IGUALDADE RACIAL FOI TEMA DE AUDIÊNCIAS DA MINISTRA MATILDE RIBEIRO EM RECIFE (PE)- 08032007
Igualdade racial e as parcerias do governo federal com estados e municípios foi pauta de uma série de reuniões da secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Matilde Ribeiro, em Recife (PE). A visitação oficial, realizada dia 09 de março de 2007,iniciou com o presidente da Assembléia Legislativa, Guilherme Uchoa, em seu gabinete (rua União, 439, bairro Boa Vista), às 10h. Em seguida com o de Humberto Costa, secretário das Cidades, às 11h, em seu gabinete (rua Montevidéu, 145, bairro Boa Vista).
À tarde foi programada reunião com militantes de entidades negras e sociais, das 15h às 16h, para tratar do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a perspectiva racial e com o governador Eduardo Campos, das 17h às 18h, no Palácio do Campo das Princesas (praça da República, s/n, bairro Santo Antônio). Foi abordada a relação entre governo federal e Pernambuco com foco na promoção da igualdade racial.
POSSE DO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO PALMARES - 06032007
Arquiteto de formação, o produtor cultural e reconhecido militante do Movimento Negro Brasileiro, Edvaldo Mendes Araújo, é o novo presidente da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura. Mais conhecido como Zulu Araújo, ele já respondia pelo cargo, interinamente, desde a saída do historiador Ubiratan Castro de Araújo em janeiro último. Foi conduzido ao cargo por meio de nomeação efetivada pela ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, publicada na edição desta terça-feira (6 de fevereiro) no Diário Oficial da União.A trajetória de iniciativas de Zulu Araújo se integra também a uma caminhada de trabalho em defesa da valorização da cultura afro-brasileira. Diretor de Promoção, Estudos, Pesquisa e Divulgação da Cultura Afro-Brasileira na gestão 2003-2007 da FCP/MinC, Zulu foi o responsável pela produção de inúmeros eventos culturais no Brasil e no Exterior que contaram com o apoio da instituição pública federal. Entre eles valem destacar a realização da CIAD CULTURAL, que trouxe shows nacionais e internacionais à Bahia em julho de 2006, as comemorações anuais dos aniversários da FCP e também as celebrações pelo Mês da Consciência Negra. Zulu Araújo também respondeu pela execução de seminários em favor da inclusão do negro no mercado de trabalho e também do negro na Universidade, ocorridos ao longo dos últimos três anos.
INCLUSÃO E COTAS RACIAIS E SOCIAIS - 20082006
DISCURSO DA MINISTRA MATILDE RIBEIRO - Os caminhos trilhados pelo Brasil em direção à eqüidade ganharam reforço inédito do governo federal nos últimos três anos com a adoção de políticas de inclusão, cujos efeitos são determinantes para diminuir as desigualdades sociais no país. Com essa perspectiva, o desenvolvimento de cotas sociais e raciais já contribui decisivamente para que o crescimento econômico sustentável resulte em ampliação do acesso aos serviços sociais e ao mercado de trabalho de segmentos populacionais empobrecidos e historicamente discriminados em nosso país.
A criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), em 21 março de 2003, incrementou essas iniciativas e possibilitou sua ramificação em várias áreas, com efeitos práticos visíveis na sociedade brasileira.
Na educação, o Prouni (Programa Universidades para Todos) oferece 203 mil bolsas de estudo para que alunos oriundos de escolas públicas possam estudar em instituições privadas -entre eles, 63 mil negros e indígenas. Somadas a ele, 30 universidades públicas já adotam o sistema de reserva de vagas para negros e indígenas. E a implantação da lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino de história afro-brasileira nas escolas, ajuda a valorizar a contribuição dos imigrantes africanos e seus descentes à cultura e à economia brasileiras.
Um orçamento da ordem de R$ 2 milhões anuais está designado no Plano Plurianual (PPA 2004-2007) para a implantação da Política Nacional de Saúde da População Negra. Em dezembro de 2004, foi lançado o "Projeto Afroatitude", que, em 2005 e 2006, concedeu bolsas de iniciação científica para pesquisas sobre Aids e saúde da população negra a 1.050 estudantes cotistas negros em 11 universidades públicas.
O Plano Setorial de Qualificação de Trabalhadores Domésticos, do Ministério do Trabalho e Emprego, é uma ação que atende demandas específicas desses profissionais, como elevação de escolaridade no ensino fundamental, ampliação da proteção social e fortalecimento da representação e melhoria das condições de trabalho. É um exemplo de ação afirmativa, pois a categoria agrega cerca de 6 milhões de brasileiros, dos quais 96% são mulheres -57% delas são negras.
Entre as iniciativas que consolidam o Brasil como nação comprometida com a superação das desigualdades raciais está o projeto de lei nº 73/99, que estabelece reserva de vagas nas universidades públicas para alunos de escolas públicas, considerando a porcentagem de negros e indígenas nas unidades da Federação. E também o Estatuto da Igualdade Racial.
Fruto de um processo de debates entre políticos, pesquisadores e, sobretudo, representantes do poder público e do movimento negro, o estatuto é um projeto amplo, de orientação no sentido de que todas as políticas de desenvolvimento econômico e social devem conter a dimensão de superação das desigualdades raciais.
O texto apresentado em 1988 foi revisto no relatório de 2002, analisado e acompanhado durante dois anos por um grupo de trabalho interministerial, composto por vários órgãos do governo e coordenado pela Seppir e pela Casa Civil. Posteriormente, em novembro de 2005, o resultado desse trabalho foi aprovado no Senado.
Em seus capítulos, são dispostos temas como pesquisa, formas de prevenção e combate de doenças prevalecentes na população negra, direito à liberdade religiosa e de culto, especialmente no que diz respeito às religiões afro-brasileiras, reconhecimento e titulação das terras remanescentes de quilombos e inclusão no mercado de trabalho por meio de contratação preferencial de profissionais negros na administração pública, entre outros itens.
Não se resume, portanto, ao sistema de cotas em universidades. O projeto de lei nº 73/99 e o Estatuto da Igualdade Racial possuem o mérito de combinar critérios raciais e sociais e não divergem das ações afirmativas em curso no Brasil. Ao contrário, elevam essas ações ao patamar de políticas de estado, o que garante sua perenidade, e constituem uma orientação necessária para que as políticas universalistas contemplem também os grupos discriminados.
DICIONÁRIO DE PRETO
AÀÀJÀ - Sineta de metal composta de uma, duas ou mais campainhas utilizadas por pais-de-santo (vd.) para incentivar o transe. Também chamado Adjarin.
ABIÃ - Posição inferior da escala hierárquica dos candomblés ocupada pelo candidato antes do seu noviciado; em yorùbá significa "aquele que vai nascer".
ABORÔ - Denominação genérica dos òrìsà (vd.) masculinos, por oposição as iabás, que são as divindades femininas.
ADAHUN - Tipo de ritmo acelerado e contínuo executado nos atabaques (vd.) e agogós (vd.). É empregado sobretudo nos ritos de possessão como que para invocar os òrìsà (vd.).
ADE ? Termo com que se designam (nos candomblés) em especial os efeminados e, genericamente, os homossexuais masculinos.
ADÓSÙU - Diz-se daquele que teve o osùu (vd.) assentado sobre a cabeça. 0 mesmo que iaô.
ADUFE - Pequeno tambor. Instrumento de percussão de uso mais frequente nos xangôs (vd.) no Nordeste.
AFIN - 0 mesmo que ifin. Designa a noz-de-cola branca, na língua yorùbá; por extensão a cor branca (vd. efun).
ÀGBO - Infusão proveniente do maceramento das folhas sagradas as quais se vem juntar o sangue dos animais utilizados no sacrifício e substancias minerais como o sal. Esse Iíquido, acondicionado em grandes vasilhames de barro (porrões), é empregado ao longo do processo de iniciação e para fins medicinais sob a forma de banhos e beberagens.
AGÈ - Instrumento musical constituído por uma cabaça envolta numa malha de fios de contas, de sementes ou búzios (vd.).
AGERE - Ritmo dedicado a Òsóòsi executado aos atabaques (vd.).
AGOGO - Instrumento musical composto de uma ou mais campânulas, geralmente de ferro, percutido por uma haste de metal.
AGONJÚ - Um dos doze nomes de Sòngó (vd.) conhecidos no Brasil.
AIYÉ - Palavra de origem yorùbá que designa o mundo, a terra, o tempo de vida e, mais amplamente, a dimensão cosmológica da existência individualizada por oposição a òrun (vd.), dimensão da existência genérica e mundo habitado pelos òrisà (vd.), povoado, ainda, pelos espíritos dos fiéis e seus ancestrais ilustres.
ÅJÀLÁ - vd. ÒòsàáláA
JALAMO - vd. Òòsàálá
AJOGÚN - Palavra de origem yorùbá que designa os infortúnios, como a morte, a doença, a dor intolerável e a sujeição.
ÀKÀSA - Bolinhos de massa fina de milho ou farinha de arroz cozidos em ponto de gelatina e envoltos, ainda quentes, em pedacinhos de folha de bananeira. (Acaçá)
AKIDAVIS - Nome dado nos candomblés Kétu e Jeje (vd. Nação) as baquetas feitas de pedaços de galhos de goiabeiras ou araçazeiros, que servem para percutir os atabaques (vd.).
ÁLÁ - Pano branco usado ritualmente como pálio para dignificar os òrìsà (vd.) primordiais. Geralmente feito de morim.
ALABÊ - Título que designa o chefe da orquestra dos atabaques (vd.) encarregado de entoar os cânticos das distintas divindades.
ALAMORERE - vd. Òòsàálá.
ALÉKESSI - Planta dedicada a Òsóòsi (vd.). Também conhecida como São Gonçalinho ? Casaina silvestre, SW. F LACOURTIACEAE.
ALIÀSE - vd. runko.
AMACIS (ou AMASSIS) - Abluções rituais ou banhos purificatórios feitos com o líquido resultante da maceração de folhas frescas. Entram geralmente em sua composição as folhas votivas do òrìsà do chefe-de-terreiro do iniciando, e as assim chamadas `"folhas de nação" (vd.).
ANIL - vd. Wàjì.
ANGOLA - vd. Nação
ANGOMBAS - vd. Atabaques.
ARREBATE - Abertura rítmica das cerimonias publicas dos candomblés. 0 modo vibrante de tocar os atabaques (vd.); eqüivale a uma convocação.ÀSE - Termo de múltiplas acepções no universo dos cultos: designa principalmente o poder e a força vital. Além disso, refere-se ao local sagrado da fundação do terreiro, tanto quanto a determinadas porções dos animais sacrificiais, bem como ao lugar de recolhimento dos neófitos (vd. Runko). É usado ainda para designar na sua totalidade a casa-de-santo e a sua linhagem.
ASSENTAMENTO - Objetos ou elementos da natureza (pedra, árvore, etc.) cuja substância e configuração abrigam a força dinâmica de uma divindade. Consagrados, são depositados em recintos apropriados de uma casa-de-santo. A centralidade do conjunto é dada por um òta, pedra-fetiche do òriìsà (vd.).
ATABAQUES - Trio de instrumentos de percussão semelhantes a tambores que orquestram os ritos de candomblé. Apresentam-se em registro grave, médio e agudo, sendo chamados respectivamente Rum, Rumpi e Lé (ou Runlé). Nos candomblés angola são chamados de Angombas. Sua utilização no âmbito das cerimonias, cabe a especialistas rituais (vd. Alabê e Ogã).
AXOGUN - Importante especialista ritual encarregado de sacrificar, segundo regras precisas, animais destinados ao consumo votivo.
AXÉ - Energia, poder, força da natureza.Poder de realização através de força sobrenatural. A palavra Axé também pode ser usada para se referir ao terreiro, Ilê Axé (Casa de Axé)..
BBABAÇUÉS - vd. Candomblés.
BÀBÁLÁWO - Sacerdote encarregado dos procedimentos divinatórios mediante o òpèlè de Ifá, ou rosário-de-Ifá.
BABALORIXÁ - Sacerdote chefe de uma casa-de-santo. Grau hierárquico mais elevado do corpo sacerdotal, a quem cabe a distribuição de todas as funções especializadas do culto. É o mediador por excelência entre os homens e os òrìsà. 0 equivalente feminino é denominado ialorixá. Na linguagem popular, são consagrados os termos pai e mãe-de-santo. Nos candomblés jeje ? doté e vodunô; e nos angola ? tata de inkice.
BABALOSSAIN - vd. Olossain.
BANHA-DE-ORI - Espécie de gordura vegetal obtida pelo processamento das amêndoas do fruto de uma árvore africana que é vendida nos mercados brasileiros para uso ritual nas casas-de-santo. Diz-se também "banha-de-Oxalá" e "limo-da-costa". A mesma denominação é dada a gordura de origem animal extraída do carneiro.
BANHOS - vd. Àgbo. vd. Amacis.
BARCO - Termo que designa o grupo dos que se iniciam em conjunto. Suas dimensões são variáveis. Há barcos de mais de vinte neófitos e "barcos-de-um-só". Através do barco se consegue a primeira hierarquização dos seus membros na carreira iniciática. Como unidade de iniciação gera obrigações e precedências imperativas entre os irmãos-de-barco ou irmãos-de-esteira.
BARRACÃO - vd. Casa-de-santo.
BATUCAJÉ - Com este termo costumava designar-se a percussão que acompanha as danças nos terreiros; por extensão designa também as danças.
BATUQUES - vd. Batucajé. vd. Candomblés.
BOMBOJIRA - vd. Èsù.
BORÍ - Ritual que, juntamente com a lavagem-de-contas, abre o ciclo iniciático. Fora deste ciclo, rito terapêutico. Em ambos os casos, consiste em "dar de comer e beber a cabeça".
BÚZIOS - Tipos de conchas de uso recorrente na vida cerimonial dos candomblés. Especialmente servem às práticas do dilogun ? sistema divinatório onde são empregados geralmente dezesseis búzios.
CCABAÇA - Fruto do cabaceiro (Cucurbita lagenaria L., ou Lagenaria vulgaris ?cucurbitácea, e outras espécies). Sua carcaça é freqüentemente utilizada nos cultos afro-brasileiros como utensílio, instrumento musical" insígnia de òriìsà ou mesmo para representar a união de Obàtálá e Odùduwà (o Céu e a Terra).
CABOCLOS - Espíritos ancestrais cultuados nos candomblés-de-angola, de caboclos e na umbanda. São representados, geralmente, como índios do Brasil ou de terreiros da África mítica.
CAMARINHA - vd. Runko.
CANDOMBLÉS - Designação genérica dos cultos afro-brasileiros. Costumam, no entanto, distinguir-se pelas suas designações regionais: candomblés (leste-setentrional, especialmente Bahia), xangôs (nordeste-oriental, especialmente Pernambuco), tambores (nordeste ocidental, especialmente São Luís do Maranhão), candomblés-de-caboclo (faixa litorânea, da Bahia ao Maranhão), catimbós (Nordeste), batuques ou parás (região meridional, Rio Grande do Sul,,Santa Catarina e Paraná), batuques e babaçuês (região setentrional, Amazonas, Pará e Maranhão), macumba (Rio de Janeiro e São Paulo).
CANDOMBLÉS-DE-CABOCLO - vd. Caboclo. vd. Candomblés.
CASA-DE-SANTO ? Designação do espaço circunscrito que constitui a sede de um grupo de culto. Costuma chamar-se também de ilé (kétu), roga e terreiro (angola) e, em alguns casos, barracão. Este ultimo termo serve também para designar o recinto onde ocorrem as festas públicas.
CATIMBO - vd. Candomblés.
CAURIS - vd. Búzios.
CAXIXI - Chocalho de cabaça e de vime trançado, contendo sementes ou seixos. Em alguns casos, vasilhames rituais em miniatura.
CESTO-DA-CRlAÇÃO - 0 saco-de-existência (àpò aiyé), que, na cosmologia do povo-de-santo, Olódùmarè deu a Obàtálá para que criasse o mundo a flor das águas primordiais. Foi, no entanto, Odùduwà quem verteu o seu conteúdo sobre a superfície das águas.
CONGO - vd. Nação.
CONTRA-EGUN - Trança de palha-da-costa que os neófitos trazem amarrada nos dois braços, logo abaixo do ombro, com a finalidade de afastar os espíritos dos mortos.
DDAN - Serpente sagrada (Daomé ? Benin) representando a eternidade e a mobilidade sob a figura de uma cobra que engole a própria cauda. Genericamente designa os filhos-de-santo da nação jeje; encontrando-se sincretizada com Òsùmàrè e Besen.
DANDALUNDA - vd. Yemoja.
DEFUMADOR - Composto de essências aromáticas, folhas e cascas, usado ritualmente em fumigações propiciatórias e terapêuticas.
DENDÊ - Palmeira africana aclimatada no Brasil (Elaeis guineensis; Jacq.) de ampla utilização na liturgia dos candomblés. 0 óleo obtido dos seus frutos (azeite-de-dendê) é considerado indispensável para a elaboração de grande parte das comidas-de-santo. Suas folhas servem para guarnecer entradas e saídas das casas-de-santo (vd. màrìwò).
DESPACHO - Tipo de oferenda dedicada a Èsù, quer no início das crimônias (vd.Pàdé), quer nas encruzilhadas, nos matos, rios e cemitérios.
DIA-DO-NOME - vd. Orúko.
DIJINA - Nome iniciático dos filhos-de-santo dos candomblés de nação angola.
DILOGUN (Érìn dínlógun) - Nome dado à adivinhação com búzios que podem ser de 4 a 36 (mais comumente 16). Nesse jogo de Ifá as respostas ao oráculo são dadas por Èsù.
DIVERSIDADE - Diferença, dessemelhança, dissimilitude, variação, contradição, oposição. DÓBÁLÈ - Cumprimento prescrito aos iniciados de òrìsà femininos diante dos lugares consagrados ao culto, pai ou mãe-de-santo, òrìsà e graus hierárquicos elevados. 0 termo iká designa o seu correspondente para o caso de filhos-de-santo de brisa masculinos.
EEBO - Termo que designa, genericamente, oferendas e sacrifícios, Usa-se também trabalho, despacho e, as vezes, feitiço.
EBÔMIN - Pessoa veterana no culto; título adquirido após a obrigação de sete anos. Opõe-se a iaô, sendo equivalente a vodunci.
ÈÈWÒ - vd. Quizila.
EFUN - Nome dado a argila branca com que são pintados os neófitos. Essa pintura corresponde ao que se chama de "mão-de-efun" (vd. 18-Efun). Como sinônimo de efun ocorre, também, afin.
EGÚN - Nome genérico dos espíritos dos mortos.
EGÚNGÚN - Espíritos dos ancestrais, cultuados especialmente em terreiros situados na Ilha de Itaparica, na Bahia.
ELÉEBO - Aquele em nome do qual se faz o sacrifício ou oferenda.
ENI - Nome dado a esteira de palha utilizada pelos neófitos, sobretudo durante o período de reclusão. É empregada como "mesa", "cama" e "tapete" em distintos ritos. No candomblé é usual a expressão "irmãos-de-esteira" para designar o conjunto de neófitos reclusos ao mesmo tempo, e que eventualmente tenham partiIhado esse artefato simbólico na liturgia da iniciação.
EQUÉDE - Cargo honorífico circunscrito às mulheres que servem os òrìsà sem, entretanto, serem por eles possuídos. É o equivalente feminino de ogã:
ERÉ - Termo que caracteriza um estágio de transe atribuído a um espírito-criança.
ESSA - Espíritos de ancestrais ilustres do candomblé.ÈSÙ - Primogênito da criação. Também conhecido como Elégbára (jeje) é popularmente referido como compadre ou homem-da-rua. Suscetível, irritadiço, violento, malicioso, vaidoso e grosseiro. Dizem que provoca as calamidades publicas e privadas, os desentendimentos e as brigas. Mensageiro dos` òrìsà e portador das oferendas. Guardião dos mercados, templos, casas e cidades. Ensinou aos homens a arte divinatória. Costuma-se sincretizá-lo com o diabo. Ocorre tanto em representações masculinas como femininas. Nas casas angola é Bombogira; nas casas angola-congo é (Exúlonã). Na umbanda tem múltiplas personagens, entre elas, Pomba-gira. Suas cores são o vermelho e o preto. Saudação ? "Laró yè!".
ESTEIRA - vd. Eni.
FFAMÍLIA-DE-SANTO - Termo de referencia que designa os laços de parentesco místico nos quais incorre o filho-de-santo em virtude da iniciação.
FEITO - 0 mesmo que adósùu e iaô.FEITURA - Processo de iniciação que implica em reclusão, catulagem, raspagem, pintura, instrução esotérica, imposição do osùu (vd.) e apresentação publica (vd.) orúko.
FILHO-PEQUENO - Termo de parentesco místico que se refere a um laço interposto pela iniciação entre um noviço e seu padrinho, gerando obrigações e deveres semelhantes aos do compadrio (vd. Mãe-pequena).
FILHO-DE-SANTO - Diz-se de todo aquele que é afiliado ao candomblé. (vd.Povo-de-santo).
FIRMA - Fecho de colar de forma cilíndrica. Suas cores indicam a vinculação de seu portador a um determinado òrìsà.
FÓN - vd. Jeje. vd. Nação.
FUNK - Estilo bem característico da música negra norte-americana, desenvolvido por artistas como James Brown e por seus músicos, especialmente Maceo e Melvin Parker.
GGANZÁ - Instrumento musical de percussão, semelhante a um chocalho, geralmente de folha-de-flandres e forma cilíndrica, contendo em seu interior pedaçosde chumbo ou seixos.
IIABÁ - vd. Aborô.
IÁBASSÉ - Especialista ritual encarregada do preparo das comidas votivas dos òrìsà.
IÁ-EFUN - Especialista ritual encarregada das pinturas corporais durante o período de iniciação. Embora esse título honorífico signifique literalmente "mãe-do-efun", o ofício litúrgico não se limita às pinturas com o pigmento branco (efun). São também empregados: wájí e osùn, respectivamente as cores azul e vermelho.
IYÁ EGBÉ - Titulo honorífico importante na hierarquia dos terreiros que distingue sua portadora como "mãe-da-comunidade".
IÁLAXÉ - Titulo honorifico geralmente ostentado pela própria mãe-de-santo, significando "mãe-do-axé" ou "zeladora-do-axé".I
ALORIXÁ - vd. 8abalorixá.
IAÔ - Termo que designa o noviço após a fase ritual da reclusão iniciatória. Em yorùbá significa "esposa mais jovem".
IFÁ - Deus dos oráculos e da adivinhação. Senhor do destino. Há quem afirme ser sua representação a cabaça envolvida por uma trama de fios de búzios. Sua cor é o branco. Seu dia é a quinta-feira. Conhecido também como Òrúnmìlà, "somente-o-céu-sabe-quem-será-salvo". Saudação ? "Eèpààbàbá/"
IGBÁ ODÙ - Expressão yorubá que designa a cabaça ou o artefato litúrgico que contém no seu interior os elementos simbólicos e as substancias que tornam possfvel a existência individualizada.
IGBÁ-ORÍ - Expressão yorùbá que designa, no rito do borí, o recipiente em que vão sendo depositadas as substancias constitutivas e reveladoras da identidade do sacrificante. Literalmente significa "cabaça-da-cabeça". Na liturgia dos candomblés é freqüentemente utilizada a forma ibá, com o mesmo sentido.
ÌGBÍN - Cadência rítmica lenta executada pela orquestra cerimonial em louvor a Òòsàálá. 0 termo designa também o molusco gasterópode terrestre, com concha univalva, corpo prolongado e tentáculos na cabeça. E o caracol também conhecido como "o boi de Òòsàálá" e sua oferenda predileta. Na linguagem corrente dos candomblés é usual a forma ibí.
ÌJÈSÃ - vd. Nação.
IKÁ - vd. Dòbálé.
ÌKÓÒDÍDE - Pena vermelha do papagaio-da-costa (Psittacus eritacus, sp.). Simboliza o nascimento do novo filho-de-santo e, de um modo geral, a fecundidade.ILÉ - vd. Casa-de-santo.ILÉ-
ÒRÌSÀ - Expressão yorùbá que designa a dependência de uma casa-de-santo onde se encontram depositadas as diferentes insígnias e objetos que compõem a representação emblemática de cada um dos òrìsà. É também conhecida a forma "quarto-de-santo" ou "casa-do-santo".
INKICE - vd. Òrìsà.
IRMÃO-DE-AXÉ - Termo de referência que designa a relação de parentesco místico entre os membros de uma mesma casa-de-santo. Diz-se, também, irmão-de-santo.
IRMÃO-DE-BARCO - vd. Barco.
IRMÃO-DE-ESTEIRA - vd. Eni.
ÌYÁSAN - Divindade das tempestades e do Rio Niger, mulher de Ògún, e, depois, de Sòngó. Relacionada com os vendavais, os raios e os trovões. Sincretizada com Santa Bárbara. Seu dia da semana é a quarta-feira. Suas insígnias são a espada e o espanta-moscas de crinas de cavalo. Suas cores são o vermelho escuro e o marrom. Considerada a mãe dos egún, que é a única a dominar. Saudação ? "Eparrei !"
JJEJE - vd. Nação. vd. Fón.
JELÚ - Um dos nomes pelos quais é conhecido Èsù Àjelú ou Ijelú.
LLAVAGENS - Termo genérico pelo qual são designados os ritos Iustrais dos candomblés. Esses ritos purificatórios podem ser exercitados sobre os colares cerimoniais, as pedras (òtá) consagradas aos òrìsà, e nos templos. A mais tradicional manifestação publica dessa cerimônia é realizada na Igreja de N. S. do Bonfim, na Bahia.
LAVAGEM-DE-CONTAS - Rito de agregação que consiste em lustrar os colares sagrados. Esse ritual marca o aparecimento do postulante como abiã, vinculando-o a estrutura hierárquica de uma casa-de-santo.
LÒGÚN EDE - Divindade yorùbá considerada no Brasil filho de Ibualama ou Inle (Òsóòsì) e Òsun Yéyéponda. Homem durante seis meses, jovem e caçador. Nos outros seis, mulher, bela ninfa que só come peixes. Suas insígnias são o ofà (vd.) e o leque dourado (abebe) de Òsun. Suas cores são o azul e o amarelo-ouro translúcido. Seu dia da semana é quinta-feira. Saudação ? "Lóògún!"
MMACUMBA - Denominação genérica de cultos afro-brasileiros com influências católicas e espíritas, que se desenrolam em meio a danças e cânticos rituais, ao som de instrumentos de percussão.
MÃE-CRIADEIRA - Termo de referência que designa a ebômin encarregada de atender o noviço durante o seu período de reclusão. É a responsável pelo preparo e administração dos alimentos; higiene pessoal; guarda-roupa e instrução do neófito nos mistérios do culto. Por isso, diz-se que "cria" aquele que está sendo iniciado
MÃE-DE-SANTO - vd. Babalorixá.
MÃE-PEQUENA - Título honorífico feminino que corresponde à segunda pessoa na ordem hierárquica de uma casa-de-santo. Também ocorre a forma ia-kekerê. Seu equivalente masculino é pai-pequeno. Diz-se, também, mãe ou pai-pequeno daquele que, ao lado da mãe ou pai-de-santo, encarrega-se da formação do iaô (vd. Filho-pequeno).
MÀRÌWÒ - As folhas desfiadas do dendezeiro (Elaeis guyneensis, A. Cheval, PALMAE) que guarnecem as entradas de uma casa-de-santo contra os egún, os espíritos dos mortos.
MATAMBA - vd. Ìyásan.
MAWU - vd. Òòsàálá
MOJÚBÀ - Louvação endereçada aos ancestrais ilustres, forças da natureza e aos próprios òrìsà, durante os ofícios litúrgicos.
MUZENZA - Diz-se dos filhos-de-santo nos candomblés de "nação" angola. 0 mesmo que iaô. Por extensão, designa a primeira saída pública do neófito no rito angola. Significa, literalmente, "estranho ser animado", na etimologia da língua kikongo.
NNAÇÃO - Designa, no Brasil, os grupos que cultuam divindades provenientes da mesma etnia africana, ou do mesmo subgrupo étnico. Mo exemplos do primeiro caso as "nações" congo, angola, jeje, ao passo que o segundo caso é ilustrado por kétu, ijesà e òyó,correspondentes aos subgrupos da etnia nagô. Trata-se, na verdade, de categorias abrangentes as quais se reduziram as múltiplas etnias que o tráfico negreiro fez representadas no Pais. 0 termo tem servido para circunscrever os traços diacríticos através dos quais se revela um mundo caracterizado por um notável conjunto de elementos comuns. Tem servido, além disso, paia hierarquizar esse universo em termos da maior ou menor "pureza" atribuída a cada "nação" em virtude de uma suposta fidelidade e autenticidade litúrgicas.
NÀNÁ - Divindade das águas primordiais, dos pântanos e brejos. Daí associada quer ao limo fertilizante e a vida, quer a putrefação e a morte. Considerada mãe de Omolú é sincretizada com Sant'Ana. Suas cores são o vermelho, o branco e o azul que exibe em seus colares. Sua insígnia é o Ibiri ? artefato confeccionado com a nervura central das folhas do dendezeiro, de ápice recurvo como um báculo. Seu dia é sábado. Saudação ? "Sálùba"NOZ-DE-COLA - vd. Obì.
OOBÁ - Terceira mulher de Sòngó, Obá é a deusa nigeriana do rio do mesmo nome. Muitas vezes se confunde com Ìyásan, pois, além de casada com Sòngó, usa também espada de cobre. Na outra mão leva, seja um escudo, seja um leque com o qual esconde uma de suas orelhas em lembrança do episódio mítico que deu margem à sua rivalidade com Òsun. No Brasil é sincretizada com Santa Catarina e Santa Joana d'Arc. Seu dia é quarta-feira. Seus colares são de contas alternadamente amarelas e vermelhas de tonalidades leitosas. E saudada como "Obáxireê!"OBALÚWÀIYÉ - É a "forma" jovem de Sòpònnón, do qual Omolu é a "forma" velha. Divindade da varfvola e das moléstias infecto-contagiosas e epidêmicas, consta como filho de Nàná, criado por Yemoja, e, portanto, irmão de Òsùmàrè Veste-se todo de palha, com o que cobre as suas ulcerações. Sua saudação ? "Atotó!" ? significa "Calma!", exigida a um deus tão poderoso e temível. Sua insígnia é o sàsàra ? feixe de nervuras das folhas do dendezeiro, amarrado com tiras de couro, em vermelho e preto (ou branco e preto), incrustradas de búzios. É sincretizado, no Brasil, com São Roque, as vezes, com São Lázaro e ainda com São Sebastião, em Recife.
OBÀTÁLÁ - vd.Òòsàálá.
ÒBE - Termo que designa a faca usada nos sacrifícios, por extensão qualquer faca no jargão do candomblé.0BÌ - Fruto de uma palmeira africana (Cola acuminata, Schott. & Endl. ? STER-CULIACEAE) aclimatada no Brasil. Indispensável no candomblé, onde serve de oferenda para os òrìsà e é usado nas práticas divinatórias simples, cortado em pedaços.
OBRIGAÇÃO - vd. Ebo.OBRIGAÇÃO DE SETE ANOS - E uma das obrigações mais importantes da carreira iniciática. Equivale a um autentico rito de investidura, a partir do qual, tornando-se ebômin, o filho-de-santo pode proceder a iniciação de outros.ODÙ - Pronunciamento oracular resultante da prática divinatória com o òpèlè (vd.), com os cocos de dendê (vd.) ou com os búzios (vd.). Há 16 odù primários ou maiores. Suas combinações com os 16 secundários resultam em 256, cujos desdobramentos chegam a 4.096. Cada odù é nominado e pertence a uma divindade.
ODÙDUWÀ - Divindade yorubá, ora apresentada, nos mitos, como masculino e irmão de Obàtálá (vd.) (vd. também Cesto-da-criação), ora como feminino e, no caso, esposa deste ultimo. Odùduwà significa "a cabaça de onde jorrou a vida". É evocada, no Brasil, em alguns terreiros (vd.) e, também, no candomblé-dos-eguns de Itaparica (vd. Egúngún).
ODUNDUN - A folha-da-costa ou saião africano (Kalanchoe brasiliensis, Comb.? CRASSULACEAE). Uma das folhas rituais mais importantes dos candomblés.
OFÀ - Designa o instrumento simbólico de Òsóòsi, consistindo num arco e flecha unidos em metal branco ou bronze.
OGÃ - Título honorífico conferido, seja pelo chefe do terreiro, seja por um òrìsà incorporado, aos beneméritos da casa-de-santo, que contribuam com sua riqueza, prestígio e poder, para a proteção e o brilho do àse (vd.). Esse tipo de titulatura admite uma série de especificações que abrangem, desde cargos administrativos, até funções .rituais. A iniciação dos ogãs é mais breve e se distingue daquela dos iaôs (vd.), por excluir a catulagem, a raspagem e alguns outros rituais. Tal como as equédes (vd.) os ogãs não são passíveis de transe.
ÒGÚN - Divindade da forja e dos usuários do ferro; por extensão, da guerra e da agricultura e, também, da caça ou de todas as demais atividades que envolvem a manipulação de instrumentos de ferro. É rei de Iré e por isso chamado, no Brasil, Oníré. Costuma ser representado por um semicírculo soldado a base por uma haste, no qual se encontram, pendurados no arco do semicírculo, todo o tipo de instrumentos, que, como o conjunto inteiro, são de ferro. E filho de Yemoja e irmão de Èsú e Òsóòsì. Por isso, tem a ver com os caminhos, a caça e a pesca. Pertence-Ihe a faca sacrificial ? o òbe (vd.). Os colares são de contas verdes ou azul-escuro (em angola). Seu dia é a terça-feira. Saudação ? "Ògún yé!".
OLÓDÙMARÈ - vd. Olóòrun.OLÓÒJÀ - Expressão yorubá que na língua ordinária significa seja o vendedor, seja o dono do mercado. Na cosmologia do povo-de-santo, a locução dono-do-mercado equivale a um dos títulos de Èsú.
OLÓRÍ - Termo que designa o "dono da cabeça", isto é, o òrìsà pessoal de cada iniciado (vd. Orí).
OLÓÒRUN - Divindade suprema yorubá, criador do céu e da terra. Deus do firmamento. É o Eléeda, "senhor-das-criaturas-vivas"; o eléèémí "dono-da-vida"; que criou o homem e a mulher a partir do barro, encarregando seu filho, Obàtálá, de moldá-los e animá-los com o sopro vivificante. De caráter inamovível, é o numinoso que permanece fora do alcance dos homens que não Ihe podem render culto. Não tem insígnias. Sua cor é o branco absoluto. É também chamado de Olódù-marè.
OLOSSAIN - Sacerdote encarregado da coleta e da preparação ritual das ervas sagradas na liturgia dos candomblés. 0 mesmo que babalossain.
ÒÒSÀÁLÁ - Este é o nome pelo qual se conhece, no Brasil, Obàtálá (o Senhor do Pano Branco) e significa "o grande òrisà". Filho de Olóòrun (vd.) foi encarregado por este de criar o mundo e os homens. Nesta ultima condição é portador dos títulos de Àjàlá, Àjàlámò e Alá-morerê. Apresenta-se ora como um jovem guerreiro, simbolizado pelo arrebol ? Òsògìnyón, ora como um velho, curvado ao peso dos anos, simbolizado pelo sol poente ? Òsòlúfón. Suas insígnias, em prata lavrada, são, em conseqüência, ora a espada e o pilão, ora o òpásorò ? um bastão com aros superpostos, adornados de pingentes, encimados por um passado (em geral uma pomba) ? símbolo do poder. Costuma-se sincretizá-lo com Nosso Senhor do Bonfim. Sua cor heráldica é o branco e seu dia a sexta-feira. A ele se dedica a grande festa popular da "lavagem do Bonfim" (vd. Lavagem). Saudação ? "Eèpàà bàbá! Eèpàà èé!"
ÒPÈLÈ ? Colar aberto no qual se encadeiam oito metades de coquinhos de dende, mediante um fio trançado de palha-da-costa. É o instrumento divinatório privativo dos autênticos sacerdotes de Ifá (vd. ? Os bàbáláwo (vd.).
ORÍ - Termo que designa a cabeça na vida litúrgica dos candomblés. É, além disso, uma divindade doméstica yorubá guardiã do destino e cultuada por adeptos de ambos os sexos. Também se diz que é a alma orgânica.perecível, cuja sede é a cabeça ? inteligência, sensibilidade, etc.
ORÍKÌ - Conjunto de narrativas da saga mística dos òrìsà que proclamam seus feitos. Ocorre também sob a forma de pequenos enigmas endereçados a uma pessoa como voto de bons augúrios.
ÒRÌSÀNLÁ - É um título de Obàtálá, a partir do qual se formou, no Brasil, o nome Oxalá.
ÒRÌSÀ - Qualquer divindade yorubá com exceção de Olóòrun (vd.). Seus equivalentes fón (vd.) são voduns. A designação das divindades do culto angola-congo que Ihe correspondem é inkice. Essas equivalências são imperfeitas, pois, ao passo que uns são forças da natureza, outros são espíritos que retornam sob a representação de animais, enquanto outros ainda são espíritos ancestrais.
ORÓGBÓ - Fava de uma planta africana adaptada no Brasil (Garcinia Kola, Hae-ckel, GUTTIFERAE).
ORÚKO - Expressão yorubá, empregada na liturgia dos candomblés, que significa "qual é o teu nome?". Ocorre na mais expressiva cerimonia publica do candomblé, conhecida como saída-de-santo, dia-do-nome, saída-de-iaô e muzenza.ÒRUN - vd. Aiyé.
ÒRÚNMÍLÀ - vd. Ifá.
ÒSÓNYNÌN - Òrìsà das folhas litúrgicas e medicinais, imprescindíveis para a realização do culto. Na África é considerado companheiro de Ifá e também adivinho. Seu emblema são sete hastes de ferro pontiagudas, das quais a haste central é encimada por um pássaro. As sete hastes estão soldadas pela base, formando, no seu ápice, um círculo em torno da haste com o pássaro. As cores das contas de seus colares são o verde (ou azul) e o vermelho leitoso. Seu dia é, para alguns, a seguinda, e para outros, a quinta-feira. Sua saudação ? "Ewé ó!
"ÒSÓÒSÌ - Filho de Yemoja, irmão de Ògún (vd.), companheiro de Èsú e Òsónyìn, este òrìsà, considerado rei de Kétu, tem o título de ode (o Caçador). No Brasil é sincretizado, seja com São Jorge (na Bahia), seja com São Sebastião (no Rio de Janeiro e Porto Alegre). Seu símbolo é o ofà (vd.). 0 cotar votivo é de contas azul-de-viena (azul esverdeado). Saudação ? "Òkè àró"
ÒSÙMÀRÈ - Costuma ser identificado com o arco-íris e com a serpente. Representa a continuidade, o movimento e a eternidade. No Brasil é considerado irmão de Obalúwàiyé (vd.) e filho de Nàná (vd.), possivelmente em virtude de sua origem daomeana. Dele se diz que é o Rei de Jeje. Seu símbolo são as duas cobras que leva nas mãos quando dança, sendo uma masculina e outra feminina, alusão ao seu caráter duplo de macho e fêmea. Dia consagrado: terça-feira. Colares de contas verdes e amarelas listradas. Saudação ? "Aróbò bo yí!" Sincretizado com São Bartolomeu.
ÒSÚN - Divindade das águas, em particular no Rio Òsún, na Nigéria. E a segunda esposa de Sòngó, mas foi casada também com Ògún e Òsóòsì. Deste ultimo casamento nasceu Lògún-ede (vd.). Seus símbolos são o leque dourado e a espada. É pois uma iabá que se caracteriza pela coqueteria, gostando de enfeites e jóias de ouro (ou cobre amarelo). Tem o título de Ialodê ? chefe das mulheres do mercado, sendo sincretizada no Brasil com diversas Nossas Senhoras (da GIória, da Conceição, do Carmo, das Candeias, da Candelária) e com Santa Luzia. Além disso, é a Rainha de Òsogbo e Òyó. Seus colares são de contas amarelo-douradas translúcidas. Saudação ? "Rora yèyé o!" Seu dia é o sábado.OSÙU - Artefato cônico, confeccionado a partir de substâncias sagradas de origem animal, vegetal e mineral, imposto a cabeça do noviço após as incisões rituaisfeitas sobre o alto do crânio (vd. Adósùu).
PPÀDÉ - Rito que é desempenhado no início das cerimônias do candomblé em homenagem a Èsù, considerado necessário como rito propiciatório, pois as primícias sacrificiais devem caber aquele que é, além de primogênito da criação, o portador titular de qualquer oferenda. 0 seu não cumprimento é visto como implicando em perturbação de toda a ordem ritual.
PAI-DE-SANTO - vd. Babalorixá.
PAI-PEQUENO - vd. Mãe-pequena.
PALHA-DA-COSTA - Tipo de palha proveniente da Costa da África, com que se designa a região sudanesa da África Ocidental (Golfo da Guiné). Usa-se trançada em diferentes artefatos litúrgicos.
PATÉWÓ ou ÌPATÉWÓ - Palmas em cad0ncia sincopada empregadas como saudação aos òrìsà, bem como em circunstâncias que impõem o silencio, como no caso do recolhimento, para indicar uma necessidade a ser atendida. Diz-se paô.
PARÁS - vd. Candomblés.PEJÍ - Espécie de altar onde se encontram dispostos os diversos tipos de insígnias da divindade, como as pedras votivas (òta), armas e demais objetos simbólicos, e onde estão dispostos os recipientes contendo as comidas ofertadas aos òrìsà.
PEMBAS - Espécie de giz de diferentes cores que é usado para traçar desenhos mágico-religiosos e de caráter invocatório. E mais freqüentemente empregado nos ritos de umbanda.
POMBA-GIRA - vd. Èsù.
POVO-DE-SANTO - Designação coletiva que abrange o conjunto dos filhos-de-santo de todos os candomblés.
PRETOS-VELHOS - Termo que designa um tipo de entidade característica dos cultos de umbanda. Representam os espíritos de negros escravos que se notabilizaram por sua humildade, sabedoria e magia. São conhecidos como Vovô/Vovó, Tio/Tia e Pai/Mãe.
QQUEBRA-DE-QUIZILA - vd. Quizila.
QUILOMBO - Local onde viveram os escravos fugidos. Locais povoados por negros fugidos, os quais, no século XVII se estabeleceram no interior do país, formando uma república. Ex: O Quilombo dos Palmares, em Alagoas.
QUITANDA-DE-IAÔ - Rito do ciclo iniciático em que são rompidos alguns dos tabus que cercam o noviço. Consiste no desempenho dramático de funções e atividades evocativas de situaq5es do quotidiano. 0 termo alude, ainda, a venda que o iaô efetua de produtos variados (frutas, doces, etc.) expostos sobre tabuleiros,como nas feiras e mercados. A origem do termo quitanda é kimbundo e significa expor, e, por extensão, feira ou mercado.
QUIZILA - Interdito ritual; o mesmo que èèwò. Na liturgia dos candomblés há um ciclo cerimonial, onde se realiza o rompimento dos tabus que circundam o noviço durante a iniciação, conhecido como quebra-de-quizila. Dele fazem parte o panán e a quitanda-de-iaô
RRAP - Gênero musical surgido no início dos anos 1970 nos Estados Unidos da América, sendo seu nome a sigla para rhythm and poetry (Ritmo e Poesia). A música rap é um dos elementos do Hip hop; é uma espécie de texto com rimas falado em ritmo com instrumentos musicais.ROÇA - vd. Casa-de-santo.
RUM, RUMPI, RUNLÉ - vd. Atabaques.
RUNKO - Termo pelo qual se designa o aposento destinado a reclusão dos neófitos durante o processo de iniciação. f conhecido também como alíase, camarinha ou ainda àse.
SSAÍDA-DE-SANTO - vd. Orúko.
SAKPATÁ - vd. Obalúwàiyé.SANTO - vd. Òrìsà
.SAWORO - Artefato de palha trançada e que tem como fecho um guizo. 0 noviço deve tê-lo atado ao tornozelo, e port5-lo durante um largo período ap6s a sua reclusão. Um dos símbolos cerimoniais da sujeição do iaô numa casa-de-santo.
SIRI - Conjunto de danças cerimoniais onde ocorrem distintos ritmos, cânticos e estilos coreográficos característicos do desempenho de cada Òrìsà.
SÒNPÒNNÓN - vd. Obalúwàiyé.
SÒNGÓ - Divindade iorubana do raio e do trovão. Descendente do fundador mítico da cidade de Òyò e seu 4º. rei. Seu símbolo é o machado duplo, notabilizando-se ainda como o dono da pedra-do-raio, indispensável aos seus assentamentos. E viril, como atestam suas várias esposas (Òsun, Oba, Oya), violento e guerreiro, distinguindo-se, sobretudo, pelo seu senso de justiça, aspecto mais desenvolvido da sua representação no Brasil, e que o liga a São Jerônimo, com quem é sincretizado. Suas cores são o vermelho e o branco. Seu dia é quarta-feira. Saudação ? "Ká wòóo, ká biyè sí!"
TTAMBORES-DE-MINA - vd. Candomblés.
TATA-DE-INKICE - vd. Babalorixá.
TEMPO - É um índice. Corresponde ao ìrokò nagô. Muitas vezes seus assentamentos (vd.) se encontram ao ar livre, isto é, "no tempo". Dele se diz que é o dono da bandeira branca que distingue as casas-de-santo (vd.). Seu símbolo é uma grelha de ferro com três pontas-de-lança. É sincretizado com São Lourenço, santo católico que sofreu o martírio sobre uma grelha.
TERREIROS - vd. Candomblés.
TETEREGUN - Planta da família das ZINGlBERACEAE (Costus spicatus, SW.). É conhecida, ainda, como sangolovô e cana-de-macaco. Na classificação das folhas liturgias é considerada de agitaçåo.
VVODUN - vd. Òrìsà.
XXANGÔS - vd. Candomblés.
YYEWÀ - Òrìsà feminino do rio e da lagoa Yewè, na Nigèria. Uma das iabás, considerada ora irmã de iyásan, ora esposa de Òsùmáré. Seu nome significa beleza e graça. As cores de seus colares são o vermelho e o amarelo. Usa como insígnias o arpão, a âncora e a espada. Ha um vodun daomeano com o mesmo nome, cultuado em São Luís do Maranhão. Saudação ? "Riró!".
WWÁJÌ - Nome litúrgico do anil ou índigo, a cor azul-escura.
Fonte: Expressões retiradas do Livro: A Galinha-D'Angola, de Arno Vogel, Marco Antonio da Silva Mello, José Flávio Pessoa de Barros/Editora Pallas, no Site União Umbandista dos Cultos Afro-Brasileiros. http://www.uucab.com.br/
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