James Baldwin marcou a história da literatura americana
Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação |Adaptação Web Sara Loup
James Baldwin | Foto: Divulgação
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Se pararmos para olhar a elegante imagem do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao lado do sorriso seguro da primeira-dama, Michelle Obama, e também se observarmos as paradas LGBTs, corremos o risco de imaginar que o mundo sempre foi assim: negros no poder e homossexuais celebrando livres pelas ruas das grandes metrópoles.Foi pensando nisso que me vieram à lembrança dois livretos muito interessantes de James Baldwin, que li nos anos 1970: Numa terra estranha (Another Country, 1962),publicado no Brasil em 1965, e Da próxima vez o fogo (The Fire Next Time, 1963),que chegou aqui em 1967.
Para nós, jovens militantes do movimento negro, obras como essas foram, ao lado de Alma do Exílio (Soul on Ice, 1968), de Eldridge Cleaver,fundamentais para o entendimento tanto das lutas de nossos irmãos na terra de Tio Samou no Continente Africano quanto a nossa própria luta. Enteado de um pastor pentecostal, ainda adolescente, James Baldwin tornou-se pregador,mas posteriormente rejeitou ocristianismo ao entender o quanto essa fé deu cobertura aos crimes da escravidão em seu país e fora dele.
Seus conhecimentos bíblicos, porém,foram fartamente utilizados em seus ensaios objetivando a compreensão dos americanos, bastante religiosos. O espaço aqui é curto, mas quero ainda relembrar a importância desse autor que viveu na boêmia e rebelde Greenwich Village de NovaYork, e também na agitadíssima e revolucionária Paris, onde se autoexilou. Impossível não marejar os olhos ao lembrar de seu texto teatral Blues para Mr.
Charlie, aqui encenado pelo saudoso Benê Silva. A peça se baseia no caso de Emmett Till, um jovem negro assassinado no Mississipi, em 1955, por supostamente ter assobiado para uma mulher branca. Seu assassino foi absolvido pela Justiça. Baldwin, porém, era ainda mais ousado e muitos de nós não estávamos preparados para esse entendimento.
Homossexual assumido, já havia lançado, em 1956, o romance Giovanni (Giovanni’s Roon), cujo protagonista é um gay italiano que vive em Paris, e que se relaciona com um jovem americano prestes a se casar com uma garota. O amante homossexual comete um crime e é condenado à morte. Como essa obra chegou às nossas mãos, após os dois outros (escritos posteriormente), tínhamos a impressão que o nosso herói havia abandonado nossa causa para levantar uma bandeira que, apesar de justa por contemplar um grupo tão discriminado quanto nós, desviava o holofote de nossas reivindicações.
Baldwin morreu na França, em1987. E só agora, 25 anos depois, me sinto confortável o suficiente para trombetear o meu orgulho de ter lido suas obras e de tê-lo na lista de meus autores preferidos.
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