TEXTO: Etiene Martins | FOTOS: Kadão Costa/Estúdio Líquido | Produção: Emanuele Sanuto | Adaptação web: David Pereira
A atriz Ruth de Souza | FOTO: Kadão Costa/Estúdio Líquido
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Entre existir e ser notado há uma única diferença: a coragem. Coragem é aquilo que faz com que uma pessoa subverta a ordem, desobedeça as regras, rasgue os dogmas e aja. Assim fez Ruth de Souza, que ressignificou a presença da mulher negra no mundo das artes cênicas. Ela ousou ver mais do que estava à mostra e desbravou horizontes até então desconhecidos para a maioria das atrizes negras brasileiras. Historicamente, a mulher negra de sucesso faz da audácia e do novo sua bandeira. Nestaentrevista, nada mais justo que recordar algumas revoluções que uma profissional negra precisou enfrentar para obter êxitos que ainda hoje ecoam na arte - mais precisamente na televisão e no teatro. Foram mudanças que, de uma forma ou de outra, influenciaram a vida e a obra das gerações seguintes. Ela poderia ter sido mais uma que não se libertou dos serviços domésticos, no entanto encontrou neles a matéria-prima de seu talento. Foi a primeira negra a pisar no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, está na TV globo desde que a emissora foi inaugurada, e ainda hoje se destaca pelo longo currículo, feito que pouquíssimos profissionais tem a honra de alcançar. Ruth recebeu a equipe da Raça Brasil no apartamento onde vive, na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo um pouco debilitada fisicamente, mostrou que a cabeça continua atuante como sempre. Com bom humor e irreverência ela falou sobre sua trajetória profissional, racismo e os estereótipos que os negros enfrentam na carreira de ator.
Veja trechos da entrevista com Ruth de Souza
Sua trajetória profissional já é bastante conhecida. E pessoalmente, quem é Ruth de Souza?
Alguém simples que adora as pessoas, gosta de fazer amigos e de manter os amigos. Sou eu, Ruth.
A senhora é uma atriz que trafega aparentemente à margem das querelas estéticas que sempre marcaram a teledramaturgia. Fale um pouco sobre sua infância e suas heranças culturais.
O meu trabalho é uma espécie de terapia. Adoro trabalhar, bom seria se todos fossem assim. Meu pai era analfabeto, era lavrador no interior de Minas Gerais. Eu nasci aqui no Rio de Janeiro, mas fui para Minas ainda pequenininha. Quando meu pai morreu, voltamos para o Rio e minha mãe foi trabalhar como lavadeira para sustentar a casa.
Qual foi a primeira personagem que a senhora interpretou?
Eu fiz uma velhinha. Na época eu tinha 18 anos e interpretei uma velhinha caquética igual eu estou agora (risos). Era a história do imperador do Haiti. Atravessei o palco do Theatro Municipal com uma trouxinha nas costas.
A senhora é uma atriz que trafega aparentemente à margem das querelas estéticas que sempre marcaram a teledramaturgia. Fale um pouco sobre sua infância e suas heranças culturais.
O meu trabalho é uma espécie de terapia. Adoro trabalhar, bom seria se todos fossem assim. Meu pai era analfabeto, era lavrador no interior de Minas Gerais. Eu nasci aqui no Rio de Janeiro, mas fui para Minas ainda pequenininha. Quando meu pai morreu, voltamos para o Rio e minha mãe foi trabalhar como lavadeira para sustentar a casa.
Qual foi a primeira personagem que a senhora interpretou?
Eu fiz uma velhinha. Na época eu tinha 18 anos e interpretei uma velhinha caquética igual eu estou agora (risos). Era a história do imperador do Haiti. Atravessei o palco do Theatro Municipal com uma trouxinha nas costas.
"Fiz diversos papéis que gostei muito, fica difícil dizer apenas um" | FOTO: Kadão Costa/Estúdio Líquido
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É verdade que você foi a primeira atriz negra a pisar no palco do Municipal?
É verdade, eu fui a primeira atriz negra.
É verdade, eu fui a primeira atriz negra.
E como a senhora se sente quanto a esse pioneirismo?
Foi uma responsabilidade muito grande, e ao mesmo tempo me encheu de orgulho. Era uma fase muito difícil para o ator, muito difícil para o negro. Não havia negro na TV, só havia o Grande otelo fazendo comédia.
Qual foi a personagem que mais marcou sua vida e que fez seu coração bater mais forte?
Fiz diversos papéis que gostei muito, fica difícil dizer apenas um. Gostei muito de fazer na TV a “Cabana do Pai Tomás”, “ossos do Barão”, onde eu fazia a neta de um barão e “Sinhá Moça”, que foi um grande sucesso. Já no cinema foi muito bom fazer “Filhas do Vento”.
A senhora já viveu alguma situação de racismo em sua vida ou em sua carreira?
Senti que em alguns papéis eu tive que cobrar, aquela coisa que o papel tem que ser assim e que negro fala assado. Me lembro de uma vez que o diretor da Companhia Cinematográfica Vera Cruz me disse que eu era muito magra para interpretar uma escrava de fazenda, na época eu pesava 45 quilos. Ele tinha a concepção que a negra tinha que ser gorda risonha e ser boa de fogão. Logo após esse trabalho, fui interpretar outra personagem com o mesmo nome da anterior, aí perguntei ao diretor: “Por que toda vez eu tenho que fazer um personagem de nome Bastiana? Porque toda negra se chama Bastiana, ele respondeu. Eu disse: Não. Eu me chamo Ruth”. Eles estavam habituados ao negro na fazenda e à negra dentro da cozinha. Mas sofrer discriminação eu não sofri, sempre tive uma postura que me ajudou muito. Às vezes nossa gente tem certas posturas que não ajudam muito.
Como a senhora avalia o trabalho dos nossos autores de novelas, hoje, especialmente os que rejeitam os personagens negros? O negro brasileiro recebe os papéis que merece nas telinhas?
Não, de jeito nenhum. Agora, por acaso, o Lázaro está conseguindo, a Camila e a Taís também. Está aí o meu orgulho de ter começado a abrir caminho para essa família toda, tanto que eu recebi uma homenagem da Academia de Cinema. Na ocasião, chamaram todos os atores jovens para me homenagear, me deu um acesso de choro... Foi tão lindo saber que eu abri o caminho para todos aqueles que estavam ali presentes.
Qual foi a personagem que mais marcou sua vida e que fez seu coração bater mais forte?
Fiz diversos papéis que gostei muito, fica difícil dizer apenas um. Gostei muito de fazer na TV a “Cabana do Pai Tomás”, “ossos do Barão”, onde eu fazia a neta de um barão e “Sinhá Moça”, que foi um grande sucesso. Já no cinema foi muito bom fazer “Filhas do Vento”.
A senhora já viveu alguma situação de racismo em sua vida ou em sua carreira?
Senti que em alguns papéis eu tive que cobrar, aquela coisa que o papel tem que ser assim e que negro fala assado. Me lembro de uma vez que o diretor da Companhia Cinematográfica Vera Cruz me disse que eu era muito magra para interpretar uma escrava de fazenda, na época eu pesava 45 quilos. Ele tinha a concepção que a negra tinha que ser gorda risonha e ser boa de fogão. Logo após esse trabalho, fui interpretar outra personagem com o mesmo nome da anterior, aí perguntei ao diretor: “Por que toda vez eu tenho que fazer um personagem de nome Bastiana? Porque toda negra se chama Bastiana, ele respondeu. Eu disse: Não. Eu me chamo Ruth”. Eles estavam habituados ao negro na fazenda e à negra dentro da cozinha. Mas sofrer discriminação eu não sofri, sempre tive uma postura que me ajudou muito. Às vezes nossa gente tem certas posturas que não ajudam muito.
Como a senhora avalia o trabalho dos nossos autores de novelas, hoje, especialmente os que rejeitam os personagens negros? O negro brasileiro recebe os papéis que merece nas telinhas?
Não, de jeito nenhum. Agora, por acaso, o Lázaro está conseguindo, a Camila e a Taís também. Está aí o meu orgulho de ter começado a abrir caminho para essa família toda, tanto que eu recebi uma homenagem da Academia de Cinema. Na ocasião, chamaram todos os atores jovens para me homenagear, me deu um acesso de choro... Foi tão lindo saber que eu abri o caminho para todos aqueles que estavam ali presentes.
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