Caro Educador Carlinhos Barros, Santa Bárbara do Oeste, SP
Sei que a elite dominante é cruel, impessoal e anônima como categoria classista.
Seus membros não têm cara nem nome. Não aparecem como pessoas físicas. Os males que fazem são sempre encarnados em suas instituições, empresas e praticados por explorados que se vendem a eles.
Quando detentores dos poderes políticos usam os aparelhos do Estado sem mostrar suas [irre]responsabilidades.
A entidade “classe” não tem alma nem corpo. É um sistema modelo máquina, principalmente em se tratando da dominante, com sua história cruel de destruição humana da estruturação social, econômica, política e cultural da classe dominada.
Em se tratando de informações é doloroso conhecermos fatos de violências, mentiras, descaradas e manipulações contra o povo, praticadas por jornalistas, muitos deles e delas procedentes de setores sofridos da sociedade.
Não me refiro aqui a jornalistas canalhas e puxa sacos sem caráter em busca de dinheiro e de lugar de destaque nas empresas dos poderosos donos dos meios de comunicações. Esses não têm salvação. Em Países evoluídos foram julgados, presos e até eliminados fisicamente como danosos à humanidade. Penso em homens e mulheres que estudaram com os sacrifícios de seus pais, que se entregam aos fantásticos prostitutos da verdade para enganar a opinião pública. Quantos os há nas edições dos chamados jornalões, nas revistas, nas rádios, nas tvs e até nas poderosas empresas na fabricação de “notícias”, de factoides, de preconceitos e de queimação de imagens.
Quantas os há “[de]formando a opinião pública”?
É de arrepiar a influência destrutiva da mídia nefasta na sociedade!
Deveria se pensar mais na definição da palavra opinião, que se torna monstruoso equipamento de controle de uma civilização inteira, cabresteando-a ao desastre, inclusive.
Da palavra “doxa” no grego e “opino” no latim, opinião é ideia confusa sobre a realidade e que se opõe ao conhecimento metódico, científico e fundamentado filosoficamente. É conjectura, o que as pessoas pensam que pensam, normalmente com base em crenças e dogmas. A partir daí supõem e julgam, já que o juízo é indesviável à mente, que sempre julga.
Como um equipamento necessário ao pensamento e ao comportamento a opinião não é vazia. De alguma forma é preenchida seja pelo esforço intelectual dos estudos e pesquisas rigorosas de quem aprende que opinião não é determinante, mas que deve se submeter à disciplina do conhecimento da realidade complicada ou torna-se como cabresto nas mãos de exploradores e manipuladores, que podem levar a população inteira ao holocausto, como já aconteceu na história.
A afirmação de Paulo Freire ajuda entender esse fenômeno quando nosso educador define que “quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser opressor”.
Noutras palavras, quando as pessoas não se educam para por elas mesmas saírem da condição de dominadas, de manipuladas e conduzidas como gado, a opinião que imaginam ser delas é a dos sem cara, sem nome e sem endereço, mas cruéis da classe dominante.
No campo jornalístico, que é o que interessa aqui e agora, essa classe dominante descarada e despersonalizada toma na marra os nomes e caras de jornalistas para fazerem o trabalho sujo da manipulação e da mentira.
Uma vez deformadas, as opiniões são capazes de arrastar às cegas e sem rumo multidões, que somente perceberão os estragos depois de a classe dominante usufruir de tudo o que roubou dos enganados, inclusive sua ingenuidade e inocência.
Nesse sentido é chocante a confissão do jornalista Elcio Cabral Melo.
Elcio, arrependido e doente com a culpa pelo trabalho sujo encomendado por seus patrões safados, contou o que fez para ajudar a criar na população as condições para o golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff e a democracia, com gigantescos prejuízos para o Brasil e para o nosso povo.
Ele conta como fez a sujeira: “foi entre julho de 2014 e junho de 2015 que trabalhei como jornalista, assessor de imprensa, repórter e ghostwriter do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de SP) e Fehoesp (Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de SP) e lá ajudei a “aquecer o caldeirão” que colocaram [CIC] a democraticamente eleita presidenta Dilma Rousseff.”
O jornalista vendido continua sua narrativa de arrependido: “um golpe começa assim: você reúne os interessados e vai “queimando o filme” da presidenta em várias frentes, culpando-a de tudo que for possível, usando as televisões, os jornais, as rádios e os portais da internet. Um dos interessados na queda de Dilma era o meu chefe, Yussif Ali Mere Jr., bem como seus colegas diretores do sindicato e da federação.
Assim, tive de escrever coisas que abomino, e quem assinava era o presidente, ou vice, ou algum manda-chuva de lá. Consegui publicar as opiniões em jornais como “Folha”, “Estadão”, “Valor Econômico” e “O Globo”, entre outros.
Lembrando: eu era só um jornalista de uma pequena associação patronal. Muitos outros estavam fazendo o mesmo por aí, no Brasil todo. Exemplos: Fiesp, Fecomercio, Febraban etc…”.
Elcio Cabral Melo narra a tática completa dos grupos empresariais, patronais e estruturais da classe dominante brasileira na prática do golpe. Todos os passos são idênticos aos aplicados pelo imperialismo e seus forças tarefas na derrubada de governos tanto nas chamadas “primaveras árabes” como nos golpes de Estado que fazem escola na América Latina, sem uso das forças armadas (leia mais aqui). Mas com guerras ou judicial e parlamentarmente como no Brasil os golpes são danosos para os povos, que chegam a levar séculos para se recuperar.
Melo se sentia mal, entrou em depressão e agradece por ser demitido, depois dos males feitos e do País prejudicado.
Daí as perguntas: quantos ajudam a manipular multidões em nome do falso “trabalho honesto”? Padres, bispos, pastores, jornalistas, policiais, médicos, professores, parlamentares, empresários, trabalhadores, pais, mães etc?
É hora de elevarmos o nível dos questionamentos pelo sentido de nossas opiniões e pelas possibilidades de erros graves do que achamos que pensamos.
É hora de atendermos o chamamento para a formação crítica e libertadora, que nos redime dessa classe traidora e capacho dos interesses contra nosso País, nossa democracia e nossos direitos!
Fora Temer. Abaixo o golpe dado com a ajuda dos alienados e bois de piranhas dos golpistas!
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário, trabalhando duro sem explorar ninguém.
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