GENOCÍDIO SOB A ALCUNHA DE "DESENVOLVIMENTO"
Texto de Helena Palmquist.
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As palavras do cacique Babau Tupinambá hoje no Congresso Nacional ao se entregar para a Polícia Federal diante de um abusivo mandado de prisão emitido pela Justiça da Bahia:
“Tiraram nós do nosso território e agora continuamos no mesmo impasse. Estão querendo nos matar. Querendo, não, estão nos matando. Quero que este parlamento ou nos mate de uma vez ou faça alguma coisa. Daqui eu vou sair pra prisão, daqui a pouco”, disse Babau ao chegar à Câmara Federal. Babau disse ainda que não irá fugir: "Não devo nada. Tupinambá não foge. Vamos até o fim". (http://cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=7464&action=read)
O que os Tupinambá sofrem na Bahia, assim como o que os Guarani-Kaiowá sofrem no Mato Grosso do Sul é política de extermínio. E é o que está ocorrendo com os indígenas afetados por Belo Monte, que graças às maravilhas do desenvolvimento mudaram radicalmente de dieta alimentar, estão abandonando tradições culturais, desenvolveram doenças como diabetes, hipertensão, alcoolismo.
A propósito de genocídio, também hoje, o blog da Usina de Belo Monte, que quase diariamente nos premia com peças chocantes de cinismo, abusou do hábito.
Publicou um texto de Fabio Pannuzio que afirma que Belo Monte não vai provocar genocídio porque terras indígenas não serão alagadas, apenas secadas. O signatário do texto esqueceu de conferir o significado do conceito de genocídio, que em nenhuma definição se confunde com alagamento. Há farta literatura (http://www.professorregisprado.com/Material%20didatico/GENOC%CDDIO.pdf), há legislação nacional (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L2889.htm) e internacional (http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/convenca....crime_genocidio.pdf), há até a wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Genocídio), mas nenhuma referência existe no texto.
O signatário não lembrou de checar o significado dos conceitos que usou no texto, mas não esqueceu de chamar atenção para o fato de que "apenas" 240 indivíduos Arara e Juruna estão na Volta Grande do Xingu, que vai ser drenada para abastecer Belo Monte.
Racismo?
Imagina, ele só comparou o sofrimento desses poucos e obviamente dispensáveis índios com o sofrimento dos milhares de trabalhadores pobres de Altamira que serão alagados pela usina e, supostamente, não têm defensores. Claro que esqueceu de checar quantas e quais são as ações judiciais, tanto do MPF quanto das ONGs, que tratam dos direitos dos atingidos de Altamira. Esqueceu ainda que entre os alagados de Altamira existem também indígenas desaldeados. E esqueceu que são oito etnias indígenas, não duas, atingidas brutalmente por Belo Monte.
Pannuzio não esqueceu, obviamente, de usar todos os chavões já inventados pela Confederação Nacional da Agricultura e pela Sociedade Nacional das Empreiteiras (que não existe de direito, mas governa de fato) para se referir aos que atrapalham os negócios: MPF, ONGs e artistas que se posicionaram contra Belo Monte travam "combate ideológico", estão de "brincadeira", são "carpideiras".
Pannuzio acusa os artistas que fizeram o famoso vídeo do Gota D'Água de nunca terem ido à Amazônia. Quem não foi à Amazônia, cara pálida? Não vale visita guiada pela empresa interessada na obra. Se tivesse vindo mesmo à Amazônia e conversado com os índios, Pannuzio se acautelaria, porque o que está ocorrendo com os indígenas afetados por Belo Monte já se caracteriza como um etnocídio e pode sim chegar a ser um genocídio, especialmente se a Norte Energia e o Governo Federal continuarem tratando a questão nos termos que sempre trataram e que coincidem - que coincidência - totalmente com o discurso de Pannuzio.
Um discurso que considera os índios desimportantes, as desgraças da população como danos colaterais, o projeto como o melhor possível, que faz terrorismo o tempo todo com uma suposta necessidade da nação e que ataca todos os críticos como ideológicos ou mancomunados com alguma força maligna. São todos os ingredientes de um discurso justificador de genocídio. Basta pesquisar os genocídios da história, se não for pedir demais a quem usa a palavra.
Uma última observação: o Blog de Belo Monte tem um layout profissional, uma linguagem jornalística, exatamente no mesmo patamar dos outdoors anti-indígenas que mandaram espalhar no Espírito Santo, onde outras etnias indígenas atrapalham o "progresso".
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