sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A fina ironia de Machado de Assis sobre a Abolição da Escravatura


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Em Crónica Publicada no dia 19 de maio de 1888 em - Mes em that foi abolida a escravatura no país -, Machado de Assis descreve hum Cenário Atual e Bem ironiza a "Liberdade" que negros e negras passaram a ter com O Fim da Escravidão
Por Geledés  
Crônica Publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888, o SEIS dias apos a Abolição da escravatura.
Bons dias! 
Eu pertenço a Uma Família de Profetas après coup, a posteriori, Depois do gato morto, or Como Melhor nomo tenha em holandês. Por ISSO digo, e juro se necessary para, that TODA A História Desta lei de 13 de maio estava Por Mim Prevista, tanto that na segunda-feira, as antes MESMO DOS debates, tratei de alforriar hum molecote Que tinha, pessoa de SEUS Dezoito ano , mais ou menos. Alforria-lo era nada; entendi Que, Perdido por mil, Perdido por mil e quinhentos, e dei hum Jantar.
Neste Jantar, uma Meus amigos that Deram o nomo de banquete, em falta de Outro Melhor, PESSOAS UMAs REUNI cinco, conquanto as notícias dissessem trinta e Três (ano de Cristo), sem intuito de Dar LHE UM Aspecto simbólico.
Sem golpe do Meio (coup du milieu, mas eu prefiro FALAR A Minha língua), levantei-me eu com uma taça de champanha e declarei that acompanhando como ideias pregadas por Cristo, Séculos há Dezoito, restituía a Liberdade Ao Meu escravo Pancracio; Que entendia Que uma Nação Inteira Devia acompanhar como mesmas Ideias e imitar o meu Exemplo; Finalmente, Que era um Liberdade hum dom de Deus, Que OS NÃO Homens podiam roubar sem pecado.
Pancracio, that estava à espreita, Entrou na sala, Como hum furacão, e Veio-me Abraçar OS PSA. Um dos Amigos MEUS (Creio Que É AINDA meu sobrinho) pegou de Outra taça, e pediu à ilustre Assembléia that that correspondesse Ao ato acabava de publicar a, brindando AO PRIMEIRO DOS cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz Outro discurso agradecendo, e entreguei uma carta Ao molecote. De Todos os lenços comovidos apanharam como lágrimas de Admiração. Cai na Cadeira e NÃO vi Mais nada. De Noite, muitos recebi CARTÕES. Creio Que estao pintando o meu Retrato, e suponho that um óleo.
Não Seguinte dia, chamei o Pancracio e Disse-LHE com rara franqueza:
- Tu és livre, Podes ir Pará Onde quiseres. Dezenas here Casa Amiga, JA conhecida e dezenas Mais Um ordenado, um ordenado que ...
- Oh! meu Senho! fico.
- ... Um ordenado Pequeno, Mas que há de Crescer. Tudo Cresce Mundo Neste; tu cresceste imensamente. QUANDO nasceste, eras hum Pirralho DESTE TAMANHO; Hoje estás Mais alto Que Eu. Deixa ver; Olha, és Mais alto Quatro DeDos ...
- Artura NÃO qué dize nada, não, Senho ...
- Pequeno ordenado, repito, uns SEIS mil-réis; mas ê de grão em grão a galinha Que Enche o Seu papo. Tu vales Muito Mais que Uma galinha.
- Justamente. Pois SEIS mil-réis. Sem Fim de hum ano, se Andares Bem, Conta com Oito. Oito UO sete.
Pancracio aceitou Tudo; Até aceitou hum peteleco Que LHE dei nenhuma Seguinte dia, POR NÃO me escovar Bem como botas; Efeitos da Liberdade. Mas eu expliquei-LHE Que o peteleco, Sendo hum Impulso Natural, NÃO PODIA anular o Direito adquirido civis Por Um título that LHE dei. ELE Livre continuava, eu de mau humor; ERAM Dois Estados Naturais, Quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancracio; Dai pra cá, tenho-LHE despedido Alguns Pontapés, um OU Outro puxão de orelhas, e chamo-LHE Besta QUANDO LHE NÃO chamo filho do diabo; cousas Todas that êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) Creio that Até alegre.
O meu plano ESTÁ Feito; quero Deputado ser, e, na circular that mandarei AOS Meus eleitores, direi Que, pingos, muito Antes da Abolição legal, JA eu, em Casa, na modéstia da Família, libertava hum escravo, ato that comoveu um Toda a Gente que DELE Teve Notícia; Que ESSE escravo Tendo aprendido a ler, escrever e Contar, (simples suposições) E ENTÃO professora de filosofia não rio das Cobras; Que OS HOMENS puros, Grandes e verdadeiramente Políticos, Não São OS that obedecem à lei, mas OS Que se antecipam uma ELA, dizendo Ao escravo: és livre, pingos Que o DIGAM OS Poderes Públicos, retardatários Semper, trôpegos e incapazes de restaurar a Justiça na terra, parágrafo Satisfação do Céu.
Noites Boas.
Texto Extraído do Livro Assis, Machado de. Obra Completa, Vol III. 3ª edição. José Aguilar, Rio de Janeiro. 1973. p. 489-491.

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