sábado, 27 de agosto de 2016

JOANA D'ARC E DILMA. DOIS PROCESSOS ESTÚPIDOS



O Jornal de todos Brasis








Joana D’Arc e Dilma. Dois processos estúpidos

por Armando Rodrigues Coelho Neto




Nem só de capitães do mato do golpe vive a Polícia Federal. Uma ínfima minoria não se curva e foi dela que veio uma valiosa contribuição. O eixo da conversa era uma frase atribuída a Karl Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Junto com a frase, veio também uma excelente comparação entre Joana D’Arc e a presidenta Dilma Rousseff. Os fatos são tão contundentes que não dá pra saber se o Brasil está diante da tragédia, da farsa ou das duas coisas ao mesmo tempo.

Aos 19 anos Joana passou a lutar por seus ideais e incomodou as classes dominantes de então. Indignada, aquela mesma classe usou a “grande mídia” de então para demonizá-la. Foi retratada como bruxa (Shakespeare), ridicularizada pela elite (Voltaire) com poemas satíricos (A Donzela de Orleans). Os formadores de opinião de seu tempo cumpriram a mesma função difamatória da imprensa e redes sociais de hoje.

Aos 18 anos Dilma entrou na luta por seus ideais. Ambas foram vítimas da misoginia e tiveram sua sexualidade e ou vida sexual investigada. A pobre Joana teve até a virgindade averiguada, sob as ordens (coincidentemente) de velhos sisudos, misóginos, ricos e hipócritas. Ambas foram criticadas por se portarem “como um homem”. D duas mulheres disciplinadas, honestas, com forte sentimento patriótico!

Joana D’Arc defendia a união do seu país e tinha como aliados um segmento de nacionalistas. Já seus adversários eram nacionais subservientes aos interesses do Império Britânico, então invasor. Qualquer semelhança entre Dilma Rousseff e os entreguista apressados em vender o patrimônio nacional é mera coincidência.

Joana desafiou as tropas inglesas, Dilma “desafiou as tropas americanas”, que ousaram bisbilhotar suas conversas - um mau exemplo mais tarde seguido por um tal de Sérgio Moro. A propósito, se estivesse nos Estados Unidos da América, a ação desse senhor seria tratada como Crime de Estado. Se dependesse do xerife de Maricopa (EUA) já estaria na cadeia usando algemas cor de rosa.

Joana D’Arc e Dilma Rousseff foram traídas por aqueles que até um determinado ponto eram vistos como aliados. Joana tinha como inimigo um certo John Fastolf - um bandido da pior espécie. Curiosamente, a presidenta Dilma também teve o seu “John”. Não se sabe se por tragédia ou farsa, no eixo da questão aparece um tal Eduardo Cunha. No auge das perseguições, jogaram contra Joana um rol de 70 enxovalhos, mais tarde resumidos a 12. Qualquer semelhança com o rol de acusações contra a presidenta Dilma é uma grande coincidência.

Tragédia ou farsa, Joana foi vítima de um tal Conde de Warwick, que tentou acelerar seu processo, porque, segundo a lenda ou intérpretes ousados da história, a demora podia reverter a opinião pública em seu favor. E não é que no Brasil não falta Warwick tentando abreviar o processo da presidenta Dilma com medo de que a situação se reverta? Qualquer semelhança com os papeis exercidos por um tal de Renan Calheiros e Anastasia também é mera coincidência.

Por falta de argumento para condenar Joana D’Arc, os velhos ricos, misóginos e sisudos de então decidiram usar como argumento principal (razão técnica) para sua condenação, algo despropositado: uma Lei Bíblica sobre roupas. A ousada Dama vestia roupas masculinas. Uma acusação tão insólita quanto as tais “pedaladas fiscais” - um termo estúpido inventado por um canalha para confundir o povo brasileiro. Uma ignomínia tamanha que até a Procuradoria da República já disse não ser crime e que, crime ou não tal fato não existiu.

Em que pese as evidência, Joana D’Arc foi queimada em Praça Pública no ano de 1431. Durante o estúpido ritual, foi xingada pelos traidores da Pátria, que a chamaram de mentirosa, bruxa e praticante de blasfêmia. Somente 20 anos depois o Papa Calisto III revisou o processo e a considerou inocente. Na sentença, uma explícita declaração de que o processo continha vícios de forma e conteúdo e foi anulado.

Para os místicos de plantão, um alerta: tanto a soma do número 1431 quanto a de 2016 têm como resultado o número nove. Com tantas coincidências entre essas duas damas, é temeroso supor que como farsa ou tragédia a história possa se repetir, e a sociedade brasileira tenha que se curvar diante de Karl Marx. Portanto, já passou da hora de organizar a resistência.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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