segunda-feira, 29 de julho de 2013

QUE PAPA É ESSE?

Ivan Marsiglia - O Estado de S. Paulo
Quis a Providência Divina, diriam alguns, que a primeira visita do primeiro papa latino-americano da história fosse ao Brasil, maior país católico do mundo. E o papa Francisco fez jus à singularidade desse acontecimento. Em imagens que encheram os olhos de fiéis de todas as partes do mundo, o pontífice argentino Jorge Mario Bergoglio desfilou em umcarro simples de passeio, carregou a própria mala e se comunicou em linguagem afetuosa e coloquial, pontuada por expressões locais. "Deus é brasileiro e vocês ainda queriam um papa?", disse Francisco, brincando até com a proverbial rivalidade nacional com os hermanos.
Simplicidade. Bergoglio cativou fiéis andando em carro comum e carregando a própria mala - Marcos de Paula/Estadão
Marcos de Paula/Estadão
Simplicidade. Bergoglio cativou fiéis andando em carro comum e carregando a própria mala
À poderosa carga simbólica dessa aparição, o papa agregou um conteúdo a um só tempo renovador e austero. Reafirmou a opção preferencial pelos pobres, até outro dia considerada subversiva na região e passível de decretação de "silêncios obsequiosos" por parte da Igreja. Condenou a corrupção de autoridades, empresários e cidadãos. Criticou os "ídolos passageiros" do dinheiro, do consumo e do prazer. E exorcizou o discurso em voga sobre a liberalização do uso de drogas.
"Até o momento, o papa Bergoglio começa a construir uma linha simbólica de alteridade, reposicionando a Igreja na direção do Concílio Vaticano II e devolvendo a pobreza ao centro das preocupações do Vaticano", analisa o sociólogo Juan Marco Vaggione, conterrâneo do papa e estudioso das intersecções entre a religião e os direitos sociais e civis no mundo. Ainda não se sabe, porém, como e quanto o novo gestual do papa "vai impactar as políticas concretas da Igreja Católica".
Pesquisador da Universidade Nacional de Córdoba e do Instituto Conicet, na mesma cidade, Vaggione formou-se em direito na Argentina, obteve Ph.D. em sociologia na New School for Social Research de Nova York e atua há anos junto à ONG Católicas pelo Direito de Decidir. Na entrevista a seguir, o sociólogo mostra como a eleição – e as escolhas – de um papa podem ser entendidas no contexto mais amplo dos embates de uma instituição global e sua inserção no mundo moderno. E sugere que o atual pontífice adotará uma postura moderada, entre o conservadorismo da cúria romana e anseios progressistas manifestados pela própria comunidade católica.
Nos anos 1980, quando João Paulo II esteve no Brasil, 89% da população se dizia católica. Hoje, o número não chega a 57%. Que significados isso traz à visita?
A visita de um papa precisa ser lida em um duplo registro: ela é, ao mesmo tempo, a visita de um líder religioso e de um ator político. Do ponto de vista estritamente religioso, é a visita do líder de uma instituição que vê em crise a influência e a legitimidade que tinha na América Latina, e no Brasil em particular. A própria eleição de Bergoglio como papa expressou, entre outras coisas, essa necessidade da Igreja Católica em reconquistar fiéis nessa parte do mundo. Trata-se também da visita de um papa que é também chefe de Estado do Vaticano, que de alguma maneira revela as fissuras dos nossos sistemas políticos frente à influência do religioso como lugar de encantamento. Ou seja, o êxito de uma figura religiosa e a atração política que ela exerce deixam evidentes as dificuldades do sistema político em manter seu próprio encanto e legitimidade.
Teólogos não alinhados com Bento XVI, como o alemão Hans Küng, manifestaram entusiasmo com o novo papa, ressaltando a escolha do nome ‘Francisco’ e seu despojamento como sinais de ruptura. São mesmo?
Concordo, em um plano simbólico. Até o momento, o papa Bergoglio começa a construir essa linha simbólica de alteridade, reposicionando a Igreja na direção do Concílio Vaticano II e devolvendo a pobreza ao centro das preocupações do Vaticano. E é indiscutível o efeito poderoso que isso tem tido. Resta saber como esse plano simbólico, que é muito importante e eu não subestimo de forma alguma, vai impactar as políticas concretas da Igreja Católica como instituição religiosa.
Em um artigo no Le Monde Diplomatique o sr. sustenta que tanto João Paulo II quanto Bento XVI ocuparam-se em ‘criticar a modernidade para reinserir nela uma Igreja Católica poderosa, visível e ativa que amplie suas estratégias de intervenção política’. Como se deu isso e qual é o cenário hoje?
Quando se analisa as eleições dos papas sob uma perspectiva histórica, não como ações da vontade do Espírito Santo, a Igreja emerge como uma das instituições mais globalizadas que existem. Desse ponto de vista, a eleição de um papa implica na eleição de um líder político global que responde a momentos determinados. A chegada de João Paulo II ao topo da hierarquia católica pode ser lida como a eleição de um papa polonês que respondeu à tensão geopolítica forte entre capitalismo e comunismo. É o momento em que a Polônia se converte em pedra central para o desmantelamento da ex-União Soviética. De maneira semelhante, o papa alemão que o sucedeu é aquele que se volta para a Europa laica, como símbolo de um fenômeno também global da retirada do sentido religioso da política e da esfera privada dos cidadãos. Bento XVI é aquele que vem para recompor a esfera de influência da religião na Europa Ocidental, ressaltando as raízes cristãs da constituição europeia. Agora também, com a chegada de um papa latino-americano, não devemos ignorar a dimensão geopolítica dessa escolha – que se explica, por um lado, pela quantidade de fiéis existentes nessa parte do mundo e, de outro, pelo avanço de outras denominações religiosas na região. O fato de sua primeira visita ocorrer no Brasil coloca isso tudo ainda mais em evidência.
O sr. diz que três fenômenos da modernidade foram combatidas pela Igreja nos últimos anos: o ateísmo, o laicismo e o relativismo moral. Francisco vai travar as mesmas batalhas?
Creio que Francisco não poderá ficar de fora dessas batalhas. Sobretudo daquela contra o que a Igreja chama de relativismo moral e compreende questões reprodutivas e de gênero. A doutrina católica está muito entranhada pela ideia de uma moral única sobre essas questões. A sensação que tenho é de que vai haver uma continuidade entre Ratzinger e Bergoglio no que diz respeito a uma moral sexual conservadora. E ocorrerá a dupla articulação de que falamos em relação à América Latina, região tão caracterizada pela desigualdade social: a reaproximação da pobreza não só em nível doutrinário, mas em termos de estratégia para recuperar um rebanho que vem se perdendo especialmente nos setores mais pobres da população.
Há poucos dias, uma pesquisa encomendada pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir mostrou que católicos brasileiros têm visões às vezes opostas à da Igreja. 82% deles apoiam o uso da pílula do dia seguinte, 56% defendem a união entre pessoas do mesmo sexo, 72% aprovam o fim do celibato para padres e 62% são à favor da ordenação de mulheres. A Igreja leva isso em conta?
O hiato entre a doutrina oficial da Igreja Católica e as convicções dos fiéis detectado pela pesquisa é característico da forma de ser católico na América Latina. Há uma distância abissal entre o que a doutrina exige e a forma de se viver as crenças entre nós. Convivem na região uma identificação ainda forte com o catolicismo e um posicionamento mais aberto para a liberdade e a diversidade sexual. Uma mudança política e social que afeta, inclusive, a hierarquia religiosa. É um desafio importante com o qual o papa Francisco terá que se defrontar. Pessoalmente, não acredito na possibilidade de que ele faça grandes mudanças na postura doutrinária nessa direção. Há quem fale de uma maior flexibilidade da Igreja em relação aos recasamentos e divórcios heterossexuais, mas não tenho expectativas de que esse papa possa acomodar muito mais que isso.
Em seu discurso no Brasil o papa sinalizou mais diálogo com outras religiões, mas manifestou rigidez em temas como a liberalização do uso de drogas – defendida pelo ex-presidente Fernando Henrique. Francisco será mais ou menos conservador que Bento XVI?
Para responder à pergunta, temos de considerar o papel de Bergoglio no debate sobre o casamento gay em 2010 na Argentina. Na ocasião, ele demonstrou o que alguns chamaram de "posição moderada" – até flexível em relação a mudanças na legislação estatal, mas claramente conservador no que concerne à moral. Ele não encarnou naquele momento a figura de alguém capaz de promover mudanças na hierarquia religiosa. O que o desempenho de Bergoglio na Argentina deixa ver sobre seu perfil é uma reconexão com o carisma de João Paulo II, com a Igreja dos pobres do Concílio Vaticano II, aliadas à defesa de uma moral sexual conservadora.
Não é curioso que, no mesmo discurso, o papa tenha criticado o culto ao prazer, no exato momento em que o representante por ele indicado para o Banco do Vaticano, monsenhor d. Battista Salvatore Ricca, é acusado de ter um caso com um capitão da guarda suíça – no primeiro escândalo de seu pontificado?
Totalmente. E, nesse sentido, mesmo as hierarquias católicas da ala mais formal da Igreja vêm mostrando esse paradoxo. O ponto é: como a Igreja pode sair dessa contradição? Mantém o discurso de uma moral posta em dúvida por boa parte dos fiéis e até por representantes da instituição ou flexibiliza os dogmatismos sobre o comportamento e a sexualidade? E aqui não falamos só de temas delicados como o casamento gay ou a interrupção da gravidez, mas dos mais correntes, como o sexo antes do casamento e o uso de anticoncepcionais. Entretanto, a Igreja Católica tem sabido manejar o duplo discurso de proibir em público o que se faz em privado. Exemplos disso são os recentes escândalos que atingem a instituição.
Em sua opinião, a polêmica sobre a suposta colaboração do então bispo Bergoglio com a ditadura militar argentina foi esclarecida?
Esse é um tema complexo. O que a mim me surpreendeu foi a forma como, Bergoglio eleito papa, houve a necessidade imediata de esclarecer o episódio, de se afirmar sem demora que não houve tal colaboração. Ao orgulho nacional de termos um papa argentino sucedeu-se uma tentativa de "branqueamento" do passado por parte de setores os mais diversos. Então, "Bergoglio não foi tão conservador no debate sobre o casamento igualitário", "o que se diz dele durante a ditadura tampouco é real", etc. Parecia ser preciso tornar imaculado o papa argentino. O que mostra o quanto as classes políticas ainda sustentam seu prestígio em posicionamentos religiosos. Mais do que especular se Bergoglio colaborou ou não com a ditadura, o que me espanta é a dificuldade que a Igreja Católica Argentina ainda tem de realizar uma autocrítica sobre seu papel no apoio e legitimação do regime militar.
O teólogo brasileiro Leonardo Boff viu na ‘Igreja pobre, humilde, que dialoga com o povo’ de Francisco a reabilitação da Teologia da Libertação, que vicejou na América Latina nos anos 1950 e 60. O sr. acredita nisso? Creio, como disse, que o papa Francisco tenha a intenção real de voltar a situar a pobreza como sujeito da prédica e da intervenção da Igreja Católica no mundo. E que Leonardo Boff e outros teólogos progressistas têm razão ao identificar nisso um novo sentido para a instituição. Cabe perguntar, no entanto, qual será a construção simbólica feita em torno da pobreza. Ao redor de um conceito podem estar os mais distintos conteúdos ideológicos. Parece-me que a limitante de Bergoglio e da forma como vai armando o seu papado segue sendo um "corpo da pobreza" que não é reconhecido nas dimensões que se conectam com a sexualidade, a reprodução e a liberdade desse corpo. A Teologia da Libertação foi, sem dúvida, uma das tradições mais ricas e justas que a Igreja Católica já produziu. Mas se ela não for pensada em suas intersecções com as novas teologias feministas, terá caráter limitado. A velha Teologia da Libertação também pode ser patriarcal e homofóbica, uma vez que nos anos 1960 tais questões não estavam inseridas da mesma maneira na agenda política. Reinscrever a pobreza como sujeito histórico é um grande avanço, mas para que ele seja mais justo não se devem desconsiderar as desigualdades de um sistema patriarcal que priva de direitos as mulheres e nega autonomia e liberdade aos corpos.

sábado, 27 de julho de 2013

FACISMO EM NOME DE DEUS




Fascismo em nome de Deus





drauzio
por Drauzio Varella


Há manhãs em que fico revoltado ao ler os jornais.
Aconteceu segunda-feira passada quando vi a manchete de "O Globo": "Pressão religiosa", com o subtítulo: "À espera do papa, Dilma enfrenta lobby para vetar o projeto para vítimas de estupro que Igreja associa a aborto".
Esse projeto de lei, que tramita desde 1999, acaba de ser aprovado em plenário pela Câmara e pelo Senado e encaminhado à Presidência da República, que tem até 1º de agosto para sancioná-lo.
Se não houver veto, todos os hospitais públicos serão obrigados a atender em caráter emergencial e multidisciplinar as vítimas de violência sexual.

Na verdade, o direito à assistência em casos de estupro está previsto na Constituição. O SUS dispõe de protocolos aprovados pelo Ministério da Saúde especificamente para esse tipo de crime, que recomendam antibióticos para evitar doenças sexualmente transmissíveis, antivirais contra o HIV, cuidados ginecológicos e assistência psicológica e social.
O problema é que os hospitais públicos e muitos de meus colegas, médicos, simplesmente se omitem nesses casos, de forma que o atendimento acaba restrito às unidades especializadas, quase nunca acessíveis às mulheres pobres.
O Hospital Pérola Byington é uma das poucas unidades da Secretaria da Saúde de São Paulo encarregadas dessa função. Lá, desde a fundação do Ambulatório de Violência Sexual, em 1994, foram admitidas 27 mil crianças, adolescentes e mulheres adultas.
Em média, procuram o hospital diariamente 15 vítimas de estupro, número que provavelmente representa 10% do total de ocorrências, porque antes há que enfrentar as humilhações das delegacias para lavrar o boletim de ocorrência.
As que não desistem ainda precisam passar pelo Instituto Médico Legal, para só então chegar ao ambulatório do SUS, calvário que em quase todas as cidades exige percorrer dezenas de quilômetros, porque faltam serviços especializados mesmo em municípios grandes. No Pérola Byington, no Estado mais rico da federação, mais da metade das pacientes vem da Grande São Paulo e de municípios do interior.

Em entrevista à jornalista Juliana Conte, o médico Jefferson Drezzet, coordenador desse ambulatório, afirmou: "Mesmo estando claro que o atendimento imediato é medida legítima, na prática ele não acontece. Criar uma lei que garanta às mulheres um direito já adquirido é apenas reconhecer que, embora as normas do SUS já existam, o acesso a elas só será assegurado por meio de uma força maior. Precisar de lei que obrigue os serviços de saúde a cumprir suas funções é uma tristeza".
Agora, vamos ao ponto crucial: um dos artigos do projeto determina que a rede pública precisa garantir, além do tratamento de lesões físicas e o apoio psicológico, também a "profilaxia da gravidez". Segundo a deputada Iara Bernardi, autora do projeto de lei, essa expressão significa assegurar acesso a medicamentos como a pílula do dia seguinte. A palavra aborto sequer é mencionada.
Na semana passada, o secretário-geral da Presidência recebeu em audiência um grupo de padres e leigos de um movimento intitulado Pró-Vida, que se opõe ao projeto por considerá-lo favorável ao aborto.
Pró-Vida é o movimento que teve mais de 19 milhões de panfletos apreendidos pela Polícia Federal, na eleição de 2010, por associar à aprovação do aborto a então candidata Dilma Rousseff.
Na audiência, o documento entregue pelo vice-presidente do movimento foi enfático: "As consequências chegarão à militância pró-vida causando grande atrito e desgaste para Vossa Excelência, senhora presidente, que prometeu em sua campanha eleitoral nada fazer para instaurar o aborto em nosso país".
Quem são, e quantos são, esses arautos da moral e dos bons costumes? De onde lhes vem a autoridade para ameaçar em público a presidente da República?
Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos decididos a impor suas idiossincrasias e intolerâncias em nome de Deus? Em que documento está registrada a palavra do Criador que os nomeia detentores exclusivos da verdade? Quanto sofrimento humano será necessário para aplacar-lhes a insensibilidade social e a sanha punitiva?
Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje. É autor do livro "Estação Carandiru" (Companhia das Letras).
Fonte: Folha de São Paulo

SOCIEDADE É RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DAS NOVAS GERAÇÕES (PAPA FRANCISCO)

Douglas Corrêa e Paulo Virgílio
Repórteres da Agência Brasil


Rio de Janeiro - O papa Francisco disse hoje (27) em seu discurso no Theatro Municipal que a sociedade é responsável pela formação das novas gerações, nas áreas política e econômica, primando pelos valores éticos. Ele destacou ainda a importância de se combater a pobreza.
“O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro nos exige também uma visão humanista da economia e uma política que logre cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evite o elitismo e erradique a pobreza. Que a ninguém falte o necessário e se assegure a todos dignidade, fraternidade e solidariedade".
O encontro reuniu políticos, dirigentes empresariais, personalidades da vida cultural, líderes religiosos e de movimentos sociais e representantes diplomáticos.
Ao citar o pensador católico brasileiro Alceu de Amoroso Lima, o papa disse que "quem tem o papel de responsabilidade em uma nação está chamado a enfrentar o futuro, com o olhar tranquilo de quem sabe ver a verdade".
O papa disse que três aspectos são importantes para uma caminhada calma, serena e sábia: a originalidade de uma tradição cultural, a responsabilidade solidária para construir o futuro e o diálogo construtivo para confrontar o presente.
Com relação ao primeiro aspecto, o pontífice destacou a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira "com sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos". Para Francisco, essa capacidade pode "fecundar um processo cultural fiel à identidade brasileira e, por sua vez, um processo construtor de um futuro melhor para todos, um processo que faça crescer a humanização integral e a cultura do encontro. Essa é a maneira cristã de promover o bem comum, a alegria de viver".
Sobre a responsabilidade social, o papa disse que ela requer um certo tipo de paradigma cultural e político. "Somos responsáveis pela formação das novas gerações, ajudá-las a serem capazes na economia e na política e firmes nos valores éticos. O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade”.
Depois de recordar uma passagem biblíca do profeta Amós, Francisco disse que "os gritos que pedem justiça continuam ainda hoje. Quem desempenha o papel de guia, aqueles a quem a vida ungiu como guias, têm que ter objetivos concretos e buscar os meios específicos para alcançá-los, porque pode existir o perigo da desilusão, da amargura e da indiferença quando as expectativas não se cumprem".
O papa fez também um apelo à esperança que nos impulsiona a ir sempre mais longe e o emprego de toda a capacidade em favor das pessoas para as quais se trabalha. "A visão ética aparece hoje como um desafio histórico sem precedentes. Temos que buscá-la e inseri-la na sociedade."
Edição: Andréa Quintiere e Talita Cavalcante
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PAPA FRANCISCO REZOU COM CRISTÃOS EVANGÉLICOS

Papa Francisco rezou com cristãos evangélicos da Assembleia de Deus, durante visita em Manguinhos

Vinícius Lisboa - Agência Brasil25.07.2013 - 23h00 | Atualizado em 26.07.2013 - 09h48


O papa Francisco visita a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte da cidade. (Tânia Rêgo/ABr)
Rio de Janeiro- Em sua caminhada pela comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte da capitalfluminense, o papa Francisco parou em uma igreja evangélica da Assembleia de Deus e fez uma oração com o pastor e os cristãos protestantes, informou o padre Márcio Queiroz, que acompanhou o pontífice na visita à favela.
"Caminhando pela comunidade, chegamos até a igreja evangélica. Eu mostrei a ele que eles estavam no templo, e ele pediu para ir até lá para cumprimentá-los. O papa falou com o pastor e com as pessoas que estavam lá, e os convidou a rezarem um Pai Nosso", disse.



O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, também comentou a parada do pontífice na Assembleia de Deus. "O papa parou em frente à igreja e rezou com os fiéis da Assembleia de Deus que estavam na porta. Até eles pediram bênção. Foi um momento ecumênico, espontâneo e muito bonito", ressaltou.
Os padres também deram mais detalhes da visita de Francisco à moradia de uma família da comunidade. Segundo Federico, a casa era muito pequena, de 5 por 4 metros e estava lotada, com mais de 20 pessoas da família
.
"Estavam lá todas as gerações de uma família. Foi um momento de muita comoção. Uma das coisas mais bonitas foi que todas as crianças pequenas foram ao colo do papa e ele abençoou uma por uma. No fim, todos fizeram uma oração juntos. Foi um momento de muita espiritualidade”.

O padre Márcio explicou que a casa estava cheia porque a família da dona é da Paraíba, e todos tinham vindo ao Rio para a visita do papa. Segundo ele, havia uma criança de 15 dias de vida e uma idosa de 93 anos, e o pontífice perguntou o grau de parentesco de cada um. "Como tinha medo que alguém enfartasse, tive que ligar na noite anterior e avisar que aquela seria a casa escolhida. Quando contei, ouvi um silêncio e pensei que a dona da casa tinha desmaiado", brincou o padre.
Outro detalhe da passagem do papa pela favela destacado pelos sacerdotes foi a parte em que o papa entrou em uma capela local. "Ele ficou muito comovido, e tinha lágrimas nos olhos", disse o porta-voz do Vaticano.
O padre Queiroz informou que apresentou a mãe ao papa, e disse que ela rezava diariamente por todos os sacerdotes. Segundo ele, por causa disso, ela ganhou um terço de presente do pontífice. "Ele [o papa Francisco] estava saindo da capela e voltou para presenteá-la", declarou.

Edição: Aécio Amado

RACISMO? EXISTE SIM!

TEM GENTE FDP QUE DIZ RACISMO NÃO EXISTE QUERO TIVER VOCÊ NO CORPO DESTA SENHORA GUERREIRA A MINISTRA VOLTA A SER ATACADA DE NOVO: Primeira ministra negra da Itália quase atingida por bananas


Após ser comparada com um macaco pelo vice-presidente do Senado, Roberto Calderoli, a ministra de Integração da Itália, Cécile Kyenge, de origem congolesa, foi alvo de outro acto de intolerância e desprezo na noite de ontem, quando foi atingida por duas bananas lançadas por militantes do movimento Força Nova, da extrema direita.

Os factos ocorreram numa festa do progressista Partido Democrata (PD), o mesmo do primeiro-ministro Enrico Letta, na cidade de Cervia, no nordeste do país, informou neste sábado a imprensa italiana.

Um desses integrantes da Força Nova, que já tinha aquecido o ambiente com uma manifestação na última quinta-feira, lançou duas bananas em direcção ao palco em que a ministra discursava, embora sem atingi-la fisicamente.

Sem dar importância ao gesto, Cécile usou o Twitter para comentar o acto. "Com tantas pessoas a morrer de fome por causa da crise é triste desperdiçar comida assim", afirmou a ministra na mensagem divulgada por sua equipa assistente, a qual confirmou o ocorrido.

Dado o alto nível de crispação gerado na extrema direita em torno da primeira ministra negra da Itália, a polícia estava alerta em relação à possíveis ataques contra Cécile, mas, mesmo assim, não conseguiu evitar essa agressão.

"Havia um grupinho de opositores, mas ninguém viu. Saíram logo em seguida. A ministra não comentou o episódio de modo particular porque é uma pessoa educada", afirmou os jornalistas Paola de Micheli, do PD, que estava presente no momento do acto.

Um dia antes, na quinta-feira, no mesmo local da festa do PD, militantes da Força Nova também colocaram três bonecos sujos com tinta, que simulava ser sangue, ao lado de panfletos contra o plano do governo italiano de conceder nacionalidade aos filhos de imigrantes nascidos na Itália. Segundo os militantes da extrema direita, "a imigração mata".

O lançamento de bananas soma-se aos últimos episódios ofensivos dos quais a ministra italiana já foi vítima, a começar pelo comentário lançado pela ex-conselheira da separatista Liga Norte, Dolores Valandro, o qual valeu a sua expulsão do partido além de uma condenação de 13 meses de prisão e três anos de inabilitação por instigação a actos de violência sexual por motivos raciais.

Na noite do último dia 13, o vice-presidente do Senado, Roberto Calderoli, também da Liga Norte, gerou uma grande polêmica no país ao comparar a ministra negra com um orangotango.http://www.rm.co.mz/index.php?option=com_content&view=article&id=10857%3Ade-novo-primeira-ministra-negra-da-italia-quase-atingida-por-bananas&catid=81%3Ainternacional&Itemid=198
TEM GENTE FDP QUE DIZ RACISMO NÃO EXISTE QUERO VER VOCÊ NO CORPO DESTA SENHORA GUERREIRA A MINISTRA VOLTA A SER ATACADA DE NOVO: Primeira ministra negra da Itália quase atingida por bananas

PARA SUL-AFRICANOS É HORA DE DIZER ADEUS A MANDELA





Para os sul-africanos é hora de dizer adeus a Nelson Mandela"




Para os sul-africanos é hora de dizer adeus a Nelson Mandela"
O ex-presidente Sul-Africano, 94, passou a segunda noite no hospital, "estado grave, mas estável". Um amigo de "Madiba" fala ao jornal Sunday Time.
"Para os sul-africanos é hora de dizer adeus a Nelson Mandela"

Pretória - África do Sul com a respiração suspensa para o ex-presidente . Nelson Mandela hospitalizado sexta-feira para uma nova infecção pulmonar O último relatório médico descrevendo a condição de o Prêmio Nobel da Paz como "grave, mas estável", e ontem um porta-voz da presidência sul-Africano teve disse que "respira sozinho."

"É hora de deixá-lo ir." Abre com essa manchete de página inteira o Sul Africano jornal Sunday Times citou um amigo de Mandela. Amigo de longa data do Prêmio Nobel da Paz, Andrew Mlangeni argumenta que o tempo chegou para os sul-africanos para dizer adeus a Mandela. "Uma vez que a família de deixá-lo ir, até mesmo as pessoas da África do Sul vai fazer o mesmo: vamos agradecer a Deus por ter dado a presença de um homem como esse e vamos deixá-lo ir", diz o jornal Mlangeni.

Em todas as igrejas na África do Sul, rezamos hoje para a saúde de "Madiba." A Presidência da África do Sul não lançou nenhuma atualização de hoje sobre o estado de saúde do Prêmio Nobel da Paz. Mandela, 94, foi hospitalizado em Pretória, na noite de sexta-feira e sábado. É a sua terceira internação em menos de um ano. Na cabeceira do homem que pôs fim ao apartheid há sua esposa Graça Machel, que deu-se ontem em uma visita programada a Londres, relata a BBC. 










O ex-presidente Sul-Africano foi novamente internado no hospital ontem em Pretória para uma infecção pulmonar. Sua condição é considerada preocupante.
Nelson Mandela, 94, foi novamente hospitalizado ontem em Pretória para uma infecção pulmonar. Esta é a quarta vez desde Dezembro. A saúde de "Madiba" e chame seus conterrâneos, inspirou muita preocupação. Milhares de mensagens de apoio de todo o mundo têm circulado todo dia de ontem, através de redes sociais. A maioria deles era fatalista e pediu para ser deixado em paz ", um homem muito velho que chegou ao fim da sua vida."

Devo dizer que as últimas imagens que ele tinha que vazaram no final de abril mostrou muito fraco, durante uma visita que o fez o presidente Zuma. Este é o porta-voz da Presidência Sul-Africano anunciou a hospitalização de Nelson Mandela: "Sua condição se deteriorou e ele foi transferido para um hospital em Pretória. Sua condição ainda é preocupante, mas estável ".

O local da hospitalização de Nelson Mandela não foi revelado, mas os jornalistas se uniram fora da instituição onde ele foi tratado durante sua última internação. Na parte da tarde, uma ambulância escoltada vários carros farol saiu, ea polícia bloqueou a estrada por trás do comboio a parar a imprensa para dar caça.

Mandela, que se retirou completamente da vida pública há anos, ainda é reverenciado pelos sul-africanos.

MUTILAÇÃO VAGINAL FEMININA, UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE



Mutilação genital feminina um crime contra a humanidade.





No mundo acontecem coisas imagináveis, incríveis, surpreendentes, como por exemplo a mutilação de órgãos genitais femininos. Confira abaixo uma série de acontecimentos reais e chocantes!
A mutilação dos genitais femininos são antigas tradições rituais, costumes que procedem das noites do tempo. Estão difundidas na faixa saariana e oriental da África entre populações cristãs, animistas e muçulmanas, embora não tenham origem nem na Bíblia nem no Alcorão. Em algumas etnias do norte do Quênia e do Mali, essas mutilações fazem parte dos ritos de iniciação das meninas à idade adulta.
No mundo, existiriam 130 milhões de mulheres (100 milhões seriam africanas) que foram literalmente dilaceradas pela amputação dos seus órgãos sexuais e, conforme estimativas comprovadas, mais de 6 mil meninas, a cada dia, são submetidas a esse tipo de violência. Cortam-lhes o clitóris, com facas, lâminas de navalha, fragmentos de vidros, sem a mínima assepsia nem anestesia.
Para outras comunidades rurais, as mutilações genitais seriam a garantia da virgindade da mulher, da sua fidelidade e da sua fertilidade, e se traduzem como um eficaz método de controle sobre a sexualidade feminina por parte do homem (pai ou marido). A excisão do clitóris em algumas tribos da Somália e do Sudão, serviria para aumentar o desejo sexual e protegeria a mulher de tentações, a fim de preservar a sua castidade até o matrimônio.
No Egito, os genitais femininos externos são considerados “impuros” e a menina que não for circuncisa é chamada de nigsa, isto é, suja. Na Somália, uma mulher não infibulada é considerada uma mulher de costumes fáceis e, portanto, será expulsa da aldeia ou do bairro onde mora. De outras, são arrancados os genitais inteiros. Outras são submetidas à infibulação, chamada também de circuncisão faraônica, que é uma intervenção devastadora na psicologia da mulher, perigosa para a saúde e pode ser repetida outras vezes na vida. Essas práticas rituais são difundidas especialmente em 28 países do continente africano, mas também no Extremo Oriente e, ultimamente, na Europa e nas Américas, como conseqüência do fluxo migratório.
Comportam muitos riscos para a saúde e sobrevivência das jovens e das mulheres submetidas, seja porque realizadas por pessoas incompetentes, seja pela total ausência de normas higiênicas. São comuns, portanto, as hemorragias, infecções e, futuramente, as relações sexuais extremamente doloridas e os graves problemas no momento do parto, além da morte que ceifa muitas, após o ritual. Além dessas conseqüências físicas, existe o dano psicológico das mulheres que ficam excluídas de uma normal e equilibrada vida sexual.
A batalha contra essas mutilações ainda é difícil porque, além delas serem defendidas como tradições culturais e tribais arraigadas há séculos, defronta-se, também, com o silêncio, o medo e a reticência das mulheres africanas. A solução, portanto, está condicionada a uma tomada de consciência das mulheres-vítimas. Muitas delas preferem perder a sexualidade antes de perder a autonomia e o poder, privilégios concedidos somente àquelas que obedecem à cultura e à tradição da sociedade patriarcal que domina o ambiente em que estão inseridas. As moças africanas, que fogem dessas práticas, desonrariam a família e são colocadas num nível social mais baixo na sociedade étnica e têm escassas possibilidades de se casar.
Hoje, mulheres africanas e de outros países ousam se rebelar e lutar para mudar a situação. aderem à campanha internacional “Stop-FGM. Stop às mutilações genitais femininas”, lançada pela Associação italiana de mulheres para o desenvolvimento (Aidos), em colaboração com a Associação das mulheres da Tanzânia (Tamwa) e, ainda, com a “Organização não há paz sem justiça”

TERREIRO RESGATADO



ESPECIAL CANDOMBLÉ - Terreiro resgatado




Aos poucos, o candomblé angola ganha espaço e reconhecimento de estudiosos

Axé, afoxé e babalorixá são termos bastante comuns na fala dos brasileiros. Eles foram incorporados à nossa cultura pelo candomblé nagô, que tanto foi divulgado nos estudos de Nina Rodrigues, Roger Bastide e Pierre Verger. Mas outra forma de candomblé vem experimentando expansão e popularidade desde o final da década de 1980: o de nação angola ou, simplesmente, candomblé angola. Valorizada pelo ativismo dos movimentos negros e reforçada por iniciativas como a criação de um curso de língua quicongo na Universidade da Bahia, essa vertente passou a ganhar atenção e estudos. E isto dentro de um contexto de resgate do papel do povo banto na construção da afrobrasilidade.

Visto como um novo ideal de identidade religiosa, o candomblé angola parece não repercutir a realidade histórica do ambiente congo-angolano, como ocorre na mitologia dos orixás jeje-nagôs e no panteão de divindades daomeanas da “mina” maranhense. E por isso foi subestimado pelos etnólogos.

A sequência de eventos que vai do primeiro desembarque português no Rio Congo, em 1482, até o início da colonização do Brasil e de Luanda, no século XVI, determinou a precedência dos africanos bantos na formação da civilização brasileira. Assim, é fácil intuir que, bem antes de orixás, voduns e bonçus – divindades específicas da região do golfo da Guiné –, os baculos (antepassados) e inquices bantos (nome que designa espécies de forças sobrenaturais e também os objetos que as contêm) já seriam cultuados no Brasil.

O candomblé certamente surgiu da reorganização, no Brasil, de grupos atingidos por guerras devastadoras na África Ocidental, na passagem para o século XIX. Sob essa influência, praticantes de cultos bantos (de Angola e Congo), cujas expressões religiosas já estavam presentes no Brasil desde o início da colonização, foram moldando o que depois se chamou “candomblé angola”. Este, então, se estruturou a partir do candomblé jeje-nagô (da região Benim/Nigéria). Seus líderes fundadores associaram aos seus fundamentos bantos muitos dos elementos trazidos pelos jeje-nagôs daquela outra parte da África. Aparentemente, só conservaram o idioma ritual, dando nomes bantos (das línguas quimbundo e quicongo) até mesmo aos orixás jeje-nagôs. Zaze, por exemplo, corresponde a Xangô, e Matamba, a Iansã.

Os sistemas religiosos chegados aqui com a escravidão sofreram aclimatações e adaptações. Os ancestrais têm íntima ligação com a terra natal, o território comunitário, e, em terra estranha, isso só foi possível manter simbolicamente. Mesmo assim, quatro séculos depois, as diversas formas religiosas africanas, de várias origens, conservam fundamentos comuns, como a crença em um princípio criador de todas as coisas, o culto a espíritos e gênios da natureza e a reverência aos antepassados.

A mais antiga descrição pormenorizada de uma celebração de um calundu – denominação genérica dos cultos africanos, de qualquer origem, antes do surgimento do vocábulo "candomblé" – no Brasil foi feita em 1646, segundo o antropólogo Renato Silveira em O candomblé da Barroquinha (Editora Maianga, 2006). O ritual aconteceu na capitania de São Jorge dos Ilhéus, sob a direção do liberto Domingos Umbata, certamente um membro do subgrupo congo Mbata, localizado no território da atual Angola. O poeta Gregório de Matos (1636-1695) chegou a se referir a “calundu” em “O Burgo” – Preceito 1: “Que de quilombos eu tenho/ com mestres superlativos, / nos quais se ensinam de noite/ os calundus e feitiços”, e seu uso passou a ser generalizado. O termo certamente se origina do vocábulo kilundu, do idioma quimbundo, de Angola, cuja tradução é “ancestral, espírito de pessoa que viveu em época remota”, e também é “parte da feitiçaria”, como afirmou o jurista e escritor Antônio Joaquim de Macedo Soares (1838-1905). No Brasil, o significado mais conhecido da palavra é o de mau estado de ânimo. Estar “de calundu” ou “com os seus calundus” é estar uma pessoa irritada e de mau humor, por conta da suposta presença, em seu quadro espiritual, de ancestrais insatisfeitos, cobrando atenção e reverência.

Já os rituais da cabula – forma religiosa tipicamente banta (congo-angolana) e certamente mais próxima das “macumbas” do Sudeste brasileiro, e não do candomblé desenvolvido a partir do eixo Pernambuco-Bahia – foram objeto de descrição detalhada do bispo D. João Correa Nery, reproduzida por Nina Rodrigues no clássico Os africanos no Brasil, escrito antes de 1906. Neste relato, a expressão “cabula” configura efetivamente uma religião, com hierarquia sacerdotal, liturgia e um corpo de doutrina; e que ela foi, talvez, a célula a partir da qual se estruturaram as antigas macumbas do Sudeste e, mais tarde, a umbanda, a quimbanda (uma linha da umbanda voltada mais para a magia maléfica) e a reação reafricanizante do omolocô (forma religiosa nascida no universo da umbanda, mas que se denomina pretensamente mais africana), na década de 1940.

Entre os mais antigos tatas (pais) dos candomblés bantos no Brasil destacam-se os nomes de Gregório Maqüende e Roberto Barros Reis. Gregório, líder da nação Congo que viveu na Bahia de 1874 a 1934, nasceu em Angola e fundou sua comunidade religiosa. Já Roberto, mencionado como liberto e originário da região angolana de Cabinda, teria sido o fundador, por volta de 1850, do terreiro Inzo Tumbensi, provavelmente a primeira comunidade de culto banto com estrutura de templo no Brasil. Falecido por volta de 1909, Barros Reis foi o iniciador de outra grande personalidade dos primórdios dos candomblés bantos, a venerável sacerdotisa Maria Genoveva do Bonfim, “Maria Neném”, falecida na Bahia em 1945, com cerca de 80 anos. Dois de seus filhos de santo, Manuel Bernardino da Paixão, chefe do candomblé do Bate-Folha, fundado em 1916 – com sucursal no Rio desde 1938 –, e Manuel Ciríaco de Jesus, do Tumba Junçara, fundado em 1919, foram também tatas importantes, líderes fundadores de linhagens rituais, em comunidades que existem até hoje.

O estudo das vertentes religiosas congo-angolanas desenvolvidas no Brasil nos leva inapelavelmente à comparação com o ocorrido em Cuba. Na ilha caribenha, os congos – denominação aplicada a todos os bantos – também não ficaram imunes ao impacto da cristianização colonial. Suas divindades foram associadas às dos colonizadores, a exemplo do que fizeram africanos de outras procedências. Mas eles mantiveram e desenvolveram concepções e atitudes religiosas diferentes daquelas dos bantos brasileiros, como o conceito de “inquice”.

No candomblé angola, esse termo passou a ser sinônimo de divindade, enquanto em Cuba os seres espirituais cultuados são mais apropriadamente denominados mpúngu, termo do quicongo que conota altura, elevação. Portanto, “inquice” é o abrasileiramento do quicongo nkisi, força sobrenatural e, por extensão, o receptor ou objeto onde é fixada a energia de um espírito ou de um morto. Em Cuba, um nkisi é o artefato, também chamado nganga ou ganga, habitado ou influenciado por um espírito e dotado por ele de um poder sobre-humano.

Entretanto, nas religiões africanas, os ritos privados são de domínio e conhecimento exclusivos dos iniciados. Assim, embora os candomblés bantos apresentem, em seus ritos públicos, liturgia assimilada daquela do candomblé nagô, eles provavelmente conservam, na intimidade, procedimentos que os aproximam de seus similares cubanos e de outras comunidades da Diáspora.

No livro Religiões africanas no Brasil, Roger Bastide observava que os candomblés bantos teriam copiado as sequências rituais e a organização eclesiástica do candomblé nagô, mantendo diferenças apenas na linguagem ritual utilizada e na denominação das entidades espirituais, “como se existisse um dicionário permitindo passar de uma religião a outra”. Mas o que parece certo é que esse fenômeno, mais do que assimilar, configurou a negociação e o intercâmbio de práticas e procedimentos rituais. Afinal, como nem só de banto se faz o angola, nem tudo é iorubá no candomblé, como comprovam as etimologias de muitos termos de uso geral. E até mesmo o seu nome, candomblé, tem origem congo-angolana, e não iorubana.

Saiba Mais - Bibliografia

BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil, 2 vols. São Paulo: Pioneira/EdUSP, 1974).
PARÉS, Luís Nicolau. A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
SERRA, Ordep. Águas do rei. Petrópolis: Vozes/Rio: Koinonia, 1995.
SILVEIRA, Renato da. O candomblé da Barroquinha: processo de constituição do primeiro terreiro baiano de keto. Salvador: Edições Maianga, 2006.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

REPARAÇÕES PELA ESCRAVIDÃO NOS VÁRIOS PAÍSES DO CARIIBE







Vários países do Caribe passaram a exigir reparações pela escravidão

Foi séculos na tomada. Líderes de vários países do Caribe estão pedindo indenizações de seus antigos colonizadores, incluindo Grã-Bretanha, França e Holanda.

Não é nenhum segredo que, para grande parte dos séculos 19 e 20, a economia da Europa foi baseado no trabalho livre de escravos ea venda de recursos naturais dos países caribenhos como Jamaica, Trinand e Haiti.

Muitos acreditam que as condições económicas actuais estão directamente ligados à falta de vontade da Europa a reconhecer os bilhões de dólares que foram feitas fora das costas dos cidadãos do Caribe.

De acordo com a AP: "A noção de forçar os países que beneficiaram da escravidão para pagar reparações tem sido uma busca de décadas. Países individuais, incluindo Jamaica e Antígua e Barbuda já tinha comissões nacionais existentes. No início deste mês, os líderes dos 14 países da Caricom votou por unanimidade em uma reunião em Trinidad para empreender uma campanha conjunta que aqueles que dizem envolvido seria mais ambicioso do que qualquer esforço anterior.

Cada nação que não tem uma comissão nacional de reparações concordaram em criar um, o envio de um representante para a comissão regional, que seria supervisionado por primeiros-ministros. Eles concordaram em se concentrar sobre a Grã-Bretanha em nome do Caribe de fala Inglês, bem como a França para a escravidão no Haiti e na Holanda para o Suriname, ex-colónia holandesa na ponta nordeste da América do Sul, que é membro do Caricom.



Além disso, eles trouxeram na firma de advocacia britânica de Leigh Day, que travou uma luta bem sucedida de indemnização por centenas de quenianos que foram torturados pelo governo colonial britânico como eles lutaram pela libertação de seu país durante a chamada rebelião Mau Mau da década de 1950 e 1960.

Advogado Martyn Day disse que o primeiro passo seria provavelmente para buscar uma solução negociada com os governos da França, Grã-Bretanha e Holanda ao longo das linhas do acordo britânico em junho para emitir uma declaração de arrependimento e compensação de cerca de 21.500 mil dólares americanos prémio para os quenianos sobreviventes .

"Eu acho que, sem dúvida, quer tentar e ver se isso pode ser resolvido amigavelmente", disse Day dos países do Caribe. "Mas acho que a razão que nos contratou é que eles querem mostrar que significam o negócio."

Funcionários Caribe não tenha mencionado um valor monetário específico, mas Gonsalves e Verene pastor, presidente da comissão nacional de reparações na Jamaica, tanto mencionou o fato de que a Grã-Bretanha na época da emancipação, em 1834, pago 20 milhões de libras para colonos ingleses no Caribe, o equivalente de £ 200000000000 hoje.

"Nossos ancestrais não tem nada", disse Shepherd. "Eles têm a sua liberdade e foi-lhes dito 'Vai desenvolver-se."

Alto Comissário britânico para a Jamaica David Fitton foi questionado sobre o assunto quarta-feira durante uma entrevista de rádio e disse que o caso Mau Mau não estava destinado a ser um precedente e que o seu governo se opõe a reparações pela escravidão.

"Não acho que a questão das reparações é o caminho certo para resolver estas questões", disse Fitton. "Não é o caminho certo para resolver um problema histórico".

Se as reparações "não são o caminho certo para resolver um problema histórico", então o que é?

MANDELA NÃO TEM NADA A VER COM LULAS E DILMAS






O “Elogio de Mandela”, assinado por Mario Vargas Llosa, condensa a deslumbrante trajetória de um dos maiores estadistas da história em apenas 13 parágrafos. No sétimo, reproduzido a seguir, resume o que foi provavelmente a etapa mais fascinante da biografia de Nelson Mandela:
Seria preciso recorrer à Bíblia, àquelas histórias exemplares do catecismo que nos contavam quando éramos crianças, para tentar entender o poder de convicção, a paciência, a vontade inquebrantável e o heroísmo que Nelson Mandela deve ter demonstrado durante todos aqueles anos para persuadir, primeiramente seus próprios companheiros de Robben Island, depois seus correligionários do Congresso Nacional Africano e, por último, os próprios governantes e a minoria branca, de que não era impossível que a razão substituísse o medo e o preconceito, que uma transição sem violência era igualmente factível e ela assentaria as bases de uma convivência humana em lugar do sistema cruel e discriminatório imposto à África do Sul por séculos. Creio que Nelson Mandela é ainda mais digno de reconhecimento por esse trabalho extremamente lento, hercúleo, interminável, graças ao qual suas ideias e convicções foram contagiando os seus compatriotas como um todo, do que pelos extraordinários serviços que prestaria depois, já no governo, aos seus concidadãos e à cultura democrática.
Assim é Nelson Mandela aos olhos do extraordinário escritor e democrata. Visto por Lula, o gigante que impediu a sangrenta dissolução da África do Sul  tem semelhanças com Dilma Rousseff. Essa miopia obscena se manifestou pela primeira vez em maio de 2010, quando o PT transformou o horário do partido na TV num comício eletrônico. O duplo insulto à inteligência alheia inspirou o post abaixo transcrito:
O presidente Lula precisou de duas frases e uma comparação infamante para afrontar a Justiça Eleitoral, escancarar a própria indigência intelectual e assassinar a verdade: “Uma parte da história da Dilma me lembra muito a do Mandela”, disse no programa ilegal do PT. “Uma vez o Mandela me disse que só foi para o confronto quando não deram outra saída para ele”. O estupro da História foi chancelado pela candidata que mente como quem respira: “Eu lutei, sim. Pela liberdade, pela democracia”.
A comparação é mais que uma impostura atrevida, é mais que outro estelionato eleitoreiro. É um insulto ao homem que redesenhou o destino da África do Sul. Nelson Mandela lutou pelo fim do apartheid, pela restauração da liberdade e pelo nascimento do regime democrático. Dilma Rousseff serviu a grupos radicais que queriam trocar a ditadura militar pela ditadura comunista. Ele aceitou o confronto depois de propor todas as soluções pacíficas possíveis. Ela aderiu à luta armada em 1967, um ano antes da decretação do AI-5.
Mandela protagonizou combates reais. Dilma não passou de figurante em assaltos a bancos e cofres particulares. Ele ficou preso 27 anos por liderar a imensa maioria negra. Ela ficou três anos na cadeia por obedecer a extremistas ignorados pelo povo. Mandela venceu. Dilma perdeu. A ditadura militar foi derrotada pela resistência democrática de que jamais participou.
Mandela chegou ao poder pela vontade popular. Dilma, que nunca disputou nem eleição de síndico, é fruto da vontade de Lula. Ele negociou com os carcereiros brancos a extinção do apartheid. Ela despreza os democratas que negociaram a anistia de que foi beneficiária e declara guerra a todos os oposicionistas. Mandela é um grande orador, um líder vocacional e um político sedutor. Dilma não diz coisa com coisa, faz tudo o que manda o mestre e tem a simpatia de um poste.
Nelson Mandela é um estadista. Dilma Rousseff é uma farsa.
No penúltimo parágrafo do artigo, Vargas Llosa lembra que Nelson Mandela não foi afetado por “esse tipo de devoção popular mitológica que costuma atordoar quem a recebe e fazer dele – como no caso de Hitler, Stalin, Mao, Fidel Castro – um demagogo e um tirano”. O gênio que acaba de completar 95 anos não se deixou envaidecer: “Ele continuou sendo o homem simples, austero e honesto que sempre foi e, para surpresa do mundo todo, negou-se a permanecer no poder, como seus compatriotas pediam. Aposentou-se e foi passar os seus últimos anos na aldeia indígena de onde se originara sua família”.
Nada a ver com políticos menores. Nada a ver com lulas e dilmas.