O “Elogio de
Mandela”, assinado por Mario Vargas Llosa, condensa a deslumbrante trajetória
de um dos maiores estadistas da história em apenas 13 parágrafos. No sétimo,
reproduzido a seguir, resume o que foi provavelmente a etapa mais fascinante da
biografia de Nelson Mandela:
Seria preciso recorrer à Bíblia, àquelas histórias
exemplares do catecismo que nos contavam quando éramos crianças, para tentar
entender o poder de convicção, a paciência, a vontade inquebrantável e o
heroísmo que Nelson Mandela deve ter demonstrado durante todos aqueles anos
para persuadir, primeiramente seus próprios companheiros de Robben Island,
depois seus correligionários do Congresso Nacional Africano e, por último, os
próprios governantes e a minoria branca, de que não era impossível que a razão
substituísse o medo e o preconceito, que uma transição sem violência era
igualmente factível e ela assentaria as bases de uma convivência humana em
lugar do sistema cruel e discriminatório imposto à África do Sul por séculos.
Creio que Nelson Mandela é ainda mais digno de reconhecimento por esse trabalho
extremamente lento, hercúleo, interminável, graças ao qual suas ideias e
convicções foram contagiando os seus compatriotas como um todo, do que pelos
extraordinários serviços que prestaria depois, já no governo, aos seus
concidadãos e à cultura democrática.
Assim é Nelson
Mandela aos olhos do extraordinário escritor e democrata. Visto por Lula, o
gigante que impediu a sangrenta dissolução da África do Sul tem
semelhanças com Dilma Rousseff. Essa miopia obscena se manifestou pela primeira
vez em maio de 2010, quando o PT transformou o horário do partido na TV num
comício eletrônico. O duplo insulto à inteligência alheia inspirou o post
abaixo transcrito:
O presidente Lula precisou de duas frases e uma
comparação infamante para afrontar a Justiça Eleitoral, escancarar a própria
indigência intelectual e assassinar a verdade: “Uma parte da história da Dilma
me lembra muito a do Mandela”, disse no programa ilegal do PT. “Uma vez o
Mandela me disse que só foi para o confronto quando não deram outra saída para
ele”. O estupro da História foi chancelado pela candidata que mente como quem
respira: “Eu lutei, sim. Pela liberdade, pela democracia”.
A comparação é mais que uma impostura atrevida, é
mais que outro estelionato eleitoreiro. É um insulto ao homem que redesenhou o
destino da África do Sul. Nelson Mandela lutou pelo fim do apartheid, pela
restauração da liberdade e pelo nascimento do regime democrático. Dilma
Rousseff serviu a grupos radicais que queriam trocar a ditadura militar pela
ditadura comunista. Ele aceitou o confronto depois de propor todas as soluções
pacíficas possíveis. Ela aderiu à luta armada em 1967, um ano antes da
decretação do AI-5.
Mandela protagonizou combates reais. Dilma não
passou de figurante em assaltos a bancos e cofres particulares. Ele ficou preso
27 anos por liderar a imensa maioria negra. Ela ficou três anos na cadeia por
obedecer a extremistas ignorados pelo povo. Mandela venceu. Dilma perdeu. A
ditadura militar foi derrotada pela resistência democrática de que jamais
participou.
Mandela chegou ao poder pela vontade popular.
Dilma, que nunca disputou nem eleição de síndico, é fruto da
vontade de Lula. Ele negociou com os carcereiros brancos a extinção do
apartheid. Ela despreza os democratas que negociaram a anistia de que foi
beneficiária e declara guerra a todos os oposicionistas. Mandela é um grande
orador, um líder vocacional e um político sedutor. Dilma não diz coisa com
coisa, faz tudo o que manda o mestre e tem a simpatia de um poste.
Nelson Mandela é um estadista. Dilma Rousseff é uma
farsa.
No penúltimo
parágrafo do artigo, Vargas Llosa lembra que Nelson Mandela não foi afetado por
“esse tipo de devoção popular mitológica que costuma atordoar quem a recebe e
fazer dele – como no caso de Hitler, Stalin, Mao, Fidel Castro – um demagogo e
um tirano”. O gênio que acaba de completar 95 anos não se deixou envaidecer:
“Ele continuou sendo o homem simples, austero e honesto que sempre foi e, para
surpresa do mundo todo, negou-se a permanecer no poder, como seus compatriotas
pediam. Aposentou-se e foi passar os seus últimos anos na aldeia indígena de
onde se originara sua família”.
Nada a ver com
políticos menores. Nada a ver com lulas e dilmas.
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