“Não seria considerado suficientemente produtivo”, afirma Peter Higgs,
que em 1964 previu a existência do bosão de Higgs, que só viria a ser
comprovada em 2012. Cientista britânico critica o clima atual das
universidades, em que os investigadores são transformados em máquinas de
produzir papers.
ARTIGO | 7 DEZEMBRO, 2013 - 11:52
Peter Higgs, prémio Nobel da Física de 2013 junto com François
Englert pela descoberta do
bosão de Higgs, disse ao The Guardian que hoje não conseguiria um
emprego na Academia. “Tão simples assim. Não creio que fosse considerado
suficientemente produtivo”.
Higgs recebeu diversos prémios, como a Medalha Dirac pelas contribuições
à física teórica do Instituto de Física em 1997, o Prémio High Energy and
Particle Physics pela Sociedade Europeia de Física em 1997, o Prémio Wolf de
Física em 2004 e o Nobel de Física de 2013. Mas duvida que a descoberta que
expôs num célebre artigo publicado em 1964 pudesse ter sido feita no clima que
impera nas universidades de hoje, onde os investigadores têm de produzir papers uns
atrás dos outros. “É difícil imaginar como é que no ambiente atual [da
universidade] eu teria paz e tranquilidade suficientes para fazer o que fiz em
1964”.
Higgs diz que publicou menos de dez artigos depois da sua importante
descoberta de 1964, e está convencido que teria sido despedido se não tivesse
sido nomeado para o Nobel, pela primeira vez, em 1980. O que aconteceu foi que
a direção da Universidade de Edinburgh percebeu que o investigador poderia vir
a ganhar o Prémio Nobel, e se não ganhasse sempre poderiam ver-se livres dele.
O cientista contou ao Guardian o embaraço que ele
significava para o departamento quando circulava o pedido de lista de
publicações dos cientistas do departamento naquele ano, e ele respondia:
“Nenhum”.
O nome de Higgs foi posto à partícula cuja existência ele previu em 1964
e que só foi comprovada pelo acelerador de partículas LHC do Centro Europeu de
Investigação Nuclear (CERN) em 2012. O físico só lamenta que o bosão tenha
ficado conhecido como “a partícula de Deus”, pois teme que essa alcunha
“reforce o pensamento confuso na cabeça das pessoas que já pensam de forma
confusa. Se acreditam na história da criação em sete dias, estão a ser
inteligentes?”, disse ao Guardian.
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