Carmem Miranda e Assis Valente - divergências.
Brasil Pandeiro
Assis Valente foi um dos grandes compositores brasileiros. Se achava, e tinha todo o direito de se achar, um dos compositores favoritos da cantora mais popular do Brasil, Carmem Miranda, pois ele já tinha feito diversas composições para a intérprete. Antes de ir para os EUA ela já tinha gravado vários sambas de Assis como Camisa Listrada, E o mundo não se acabou, Good Bye, Boy, Uva de Caminhão.
Por Andocides Bezerra
Quando Carmem retorna pela primeira vez ao Brasil, depois de sua ida ao país do Tio Sam, nosso compositor entregou para ela dois novos sambas, Recenseamento e Brasil Pandeiro. O primeiro, a cantora gravou de imediato, o outro, que depois se tornaria o mais famoso, recusou.
A partir daí surgiram duas versões para explicar esta recusa. Uma é que a cantora teria dito ao próprio compositor que ele não era mais o mesmo, estava ficando borocochô (gíria da época), mesmo tendo gostado de Recenseamento. Pela segunda versão, Carmem teria desgostado da letra, talvez, já pensando em sua volta aos States onde cumpriria contrato com Hollyowd e com a Broadway. Teria ela se indagado se seria bem recebida tendo cantado uma música que tomava intimidade com o Tio Sam e a Casa Branca. Por isto, teria posto de lado o samba Brasil Pandeiro.
O certo é que, ao recusar o samba durante aquelas férias, Carmem recebeu muitas críticas da imprensa e do público que questionavam sobre sua brasilidade. Afinal, nada mais brasileiro que o sambinha do Assis.
Para o compositor baiano, a recusa da cantora foi mais uma depressão numa vida já cheia de sofrimentos e desilusões. Nesta época chegaram até a fazer uma ligação deste fato com a tentativa de suicídio de Assis um ano depois. Bom, Carmem não gravou o samba. Quem gravou foram os Anjos do Inferno, grupo vocal ligado ao Assis Valente, em 26 de fevereiro de 1941 alcançando um sucesso que a cantora jamais voltaria a ter com uma música brasileira.
Assis Valente, que havia nascido em 19 de março de 1911, finda sua vida às seis horas da tarde do dia 6 de março de 1958, tomando formicida em um banco de praça do Rio de Janeiro. Em seu bolso a polícia encontra um bilhete com um pedido ao também compositor Ary Barroso, que lhe pagasse dois aluguéis atrasados, e um último "verso": "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."
É também de Assis: A Folia Chegou, Boneca de pano, Cai, Cai, Balão, Tem Francesa no Morro, Boas Festasentre tantos outros.
Abaixo, o grande samba:
Nenhum comentário:
Postar um comentário