sexta-feira, 18 de outubro de 2013
3320) Black Blocs (18.10.2013)
EU JÁ DISSE EM OUTRAS OPORTUNIDADES QUE NÃO SOU CONTRA OS BLACKS E COMO AFIRMOU O BRÁULIO NESTE ARTIGO, SOU CONTRA TUDO QUE ELES TAMBÉM SÃO CONTRA
Maristela Farias
Quando eu era jovem ficava perplexo vendo os mais velhos se queixarem da violência do mundo. Violência? Que violência? À minha volta eu via som e fúria, mas nunca pensei que no mundo existisse outra coisa. Hoje – válvulas piscando, bielas batendo, lataria sacolejando – qualquer som me incomoda e qualquer fúria me enfurece. Talvez porque os jovens sejam feitos de energia zunindo nos neurônios e fervendo nas artérias. Pra quem é jovem, furacão é brisa. Quando a idade vai impondo seu ritmo de jogo, o ex-jovem claudica, bambeia, percebe que o campo no 2º. tempo tem o dobro do tamanho que tinha no primeiro.
Isto, contudo, são os balõezinhos verbais que se formam na minha cabeça quando estou com a mente de pijama. Vestido para a luta literária (tênis, jeans e camiseta) tenho os mesmos 20 anos de qualquer roqueiro, e vejo que o barulho dos jovens não é por excesso de volume de sua parte. O problema é A Surdez do Mundo. É o mundo que ao ficar mais velho vai ficando mais surdo, se não dos tímpanos então do juízo (ou do interesse). O mundo não escuta e quando escuta não ouve, quando ouve não entende, quando entende não reage, quando reage é mandando todo mundo calar a boca senão leva porrada. Sendo assim, decibéis nele.
Isso talvez explique coisas como – pra dar só um exemplo, bem atual – o quebra-quebra dos “arésios” conhecidos como Black Blocs. Me perguntam se eu sou a favor da existência deles (é como me perguntar se sou a favor da existência das onças). Por mim, o mundo não teria violência. O mundo seria um lugar sem exploração econômica, sem injustiça social, sem miséria, sem corrupção e ladroagem, sem analfabetismo e desemprego. (Olhem como sou realista – não questiono o câncer, os tsunamis, as serpentes venenosas; só questiono os males que são consequência de decisões humanas.) Por mim o mundo seria uma espécie de Festival de Woodstock, e na hora de trabalhar ele se pareceria com aquelas propagandas socialistas cheias de operários felizes e camponesas sorridentes e saudáveis.
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