sexta-feira, 18 de outubro de 2013

REYNALDO AZEVEDO NÃO É UM COLUNISTA FOFO NEM "CUTE-CUTE".

17/10/2013
 às 17:22

Um aviso a gregos e baianos: prometo jamais me tornar um “colunista cute-cute”. Se quem me detesta anda a concordar comigo, a culpa pode ser minha, relaxe!

É realmente do balacobaco!
Uma amiga me telefonou há pouco: “Fulano (e citou um nomão) disse que jamais esperava concordar com você”. Na área de comentários, as manifestações se multiplicam: “Será que existe algo de errado comigo? Desta vez, acho que você está certo”. Mandam-me o link de uma publicação: “Paula Lavigne conseguiu o impossível: o Brasil inteiro concorda com Reinaldo Azevedo”. Bem, dizer o quê?
– Prometo continuar a dividir opiniões.
– Prometo não me tornar um desses colunistas cute-cute.
– Prometo não ser um desses que falam em nome do bem, do belo e do justo — como se fosse possível fazer o contrário…
– Prometo, como disse, continuar a exercer o verdadeiro dissenso em vez do falso consenso.
Quanto às surpresas, dizer o quê? Há a hipótese de que eu não seja nem pense o que as correntes sujas da Internet, financiadas por estatais, dizem que sou e penso. Embora eu escreva como doido, o volume das coisas que não escrevi, mas que me atribuem, consegue ser ainda maior.
No embate do Prêmio Jabuti, boa parte dos que me demonizaram nem sequer havia lido os meus textos. Bastava a palavra de ordem: “Se esse Reinaldo reacionário critica o Chico Buarque, é claro que o Chico está certo!”. O que fez Caetano no caso dos black blocs? Sem ter como explicar aquela foto, ele encontrou a saída mais fácil: tascou em mim a pecha “direitista” e pretendeu que tudo, então, se resolveria. E ele é um dos nossos “iluministas”…
Aí me diz alguém: “Pô, você é culpado de algumas confusões que fazem com o seu pensamento. Deveria deixar certos temas de lado, como drogas, religião, aborto, Tea Party…”.
De jeito nenhum! Não é assim que se toca a música da democracia. Mais nefasta do que a censura, é ainda a autocensura ditada por falsos consensos. Um governante, como já disse aquele, pode escolher entre ser amado e ser temido — e essa escolha é ditada pelas circunstâncias. Quem escreve está proibido de tentar uma coisa ou outra. Pode, no máximo, ambicionar ser compreendido. Mas também essa tarefa não é fácil quando se pratica jornalismo de opinião.
Quem barateia o que pensa para não gerar reações desse ou daquele não quer que o compreendam, mas que o amem — há uma variante desse comportamento, que consiste em escrever impropérios para ser odiado. Também não é a minha praia. Quem arroga para si o privilégio da última palavra também não investe na compreensão; no fundo, pretende que o temam.
No que me diz respeito, basta que me atribuam o que realmente escrevi e o que realmente penso. Posso lhes garantir que isso, por si, já rende muito pano para manga.
Há gente que de hábito me detesta e que anda a concordar comigo nisso e naquilo? Relaxe, leitor autopatrulhado! A culpa —  lá vai a ironia, nem sempre prudente em Banânia — pode ser minha, não sua…
Assim, tranquilizem-se “gregos e baianos” (*). Não vou me tornar um colunista “fofo”, que escreve para que todos se sintam confortados.
(*) Tomo a expressão do título de um livro de ensaios do excelente José Paulo Paes, que morreu em 1998.
Por Reinaldo Azevedo

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