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DELANO, O DESENHISTA
É no desenho que manipulo minha liberdade. Desenho bastante, sempre, mesmo sem o papel, que revela a imagem, fixa seu movimento e procura traduzir a sua linguagem, o sonho e a realidade.
O sonho antes ou depois do traço, a realidade que se expande e que acompanho até círculos mais distantes, estimulando as linhas, as manchas ou sorrisos sarcásticos que encontro no caminho.
Penetro o mundo por salas empoeiradas, quartos sensuais e quintais de muros enlodados de sangue, de coisas escondidas e falsas. Tão claras aos meus olhos que não fecham à tortura dos modelos que me servem de tema.
(dELANO)
Eu gosto mesmo é de pintar[...] Pinto o que estou vendo na minha frente. Se eu morasse num lugar que só tivesse pedra, eu ia pintar pedra. Mas eu convivo com pessoas, vejo as maquiagens, as expressões padronizadas, o ar blasé ante um momento cultural. Por outro lado se eu assisto na televisão uma cena de guerra, eu pinto aquilo. A selvageria também tem sua expressividade. (Delano, Olinda, 2001).
[...] Não tinha dinheiro pra gastar com ônibus. Depois das aulas voltava e passava o resto do tempo desenhando, desenhando, o pessoal me chamava pra jogar pelada, mas eu preferia ficar rabiscando, rabiscando. Levei muito a sério isso. [...] comprava dez folhas de papeel ofício, lápis, borracha. Não! Borracha não se usava, porque Abelardo dizia que não se devia usar borracha, consertasse o desenho no próprio traço. [...]
[...] O primeiro material nobre que eu conheci e usei foi o nanquim, ainda no tempo do Abelardo. Era uma peninha com a qual você tinha que ser muito cuidadoso senão ela escarrapachava logo. E comecei a fazer bico de pena. Passei um longo tempo nisso, o que é bom, porque é importante você tomar contato com o traço.[...]. O desenho é fundamental [...]
[...] Eu tenho horror a exposição. Uma exposição requer tempo, prazo. Se alguém quiser fazer a exposição com o que eu tenho no ateliê, eu faço. Mas, trabalhar pra uma exposição, aí eu não sei quando vai ser esta exposição. E nenhuma galeria nem empresário vai querer isso. [...] Eu gosto mesmo é de pintar. Sem me preocupar com mais nada.[...]. Quando me perguntam porque exponho tão pouco, em tom de brincadeira, mas que pode ser verdade, digo que é porque não gosto de elaborar o indefectível curriculum vitae, coisa chata de ler.Cada ano que passa vou exlcuindo o que não acho importante. Um dia, de tão resumido, deverá restar apenas meu monograma. [...] (Delano)
Tive o privilégio, raro, de ficar junto com Macira, no ateliê de Delano vendo-o fazer rascunhos mil, sempre com um lápis e um papel (que ele nem escolhia o tipo), desenhando muito e neste acompanhar, tenho um pequeno acervo, que recebia de presente quando ele trabalhava e que talvez a Macira nem conheça. Vou colocá-lo aqui e depois devolvê-los a Macira, onde tenho certeza estará muito mais bem guardado do que comigo. Aliás, a partir de agora os desenhos estarao muito bem cuidados aqui neste site e poderao ser vistos por voce, voce, voce...
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