domingo, 25 de janeiro de 2015

ANTONIO RAMOS ROSA - O POETA LÍRICO E SINGULAR


Templo Cultural Delfos


Posted: 18 Jan 2015 03:26 PM PST
António Ramos Rosa
O Desenlace (aqui) petrificado
isto de istmo, era de hera
a qualidade em resultado absoluto.

aqui reverdecendo - o jorro e a perna
na só imagem que unifica a frase
no extremo sopro da velocidade.

- Verbo de pedra em profecia, sem
a pedra - substância, no não do sopro
que ilumina a terra no interior da terra.
- António Ramos Rosa, em " O incêndio dos aspectos", 1980.



António Victor Ramos Rosa nasceu em Faro a 17 de Outubro de 1924. Frequentou em Faro os estudos secundários, que não concluiu por motivos de saúde. Trabalhou como empregado de escritório, desenvolvendo simultaneamente o gosto pela leitura dos principais escritores portugueses e estrangeiros, com especial preferência pelos poetas. Em 1945 vai para Lisboa e dois anos depois volta a Faro, tendo integrado as fileiras do M.U.D. Juvenil, onde militou activamente. Regressado a Lisboa, foi professor de Português, Francês e Inglês, ao mesmo tempo que estava empregado numa firma comercial, e começou a fazer traduções para a Europa-América, trabalho que nunca mais abandonaria e no qual veio a atingir notável qualidade.
O continuado interesse pela actividade literária levou-o a relacionar-se com um grupo de escritores que o incentivaram na publicação dos seus poemas e artigos de crítica, tendo colaborado em numerosos jornais e revistas. Com alguns desses escritores, fundou em 1951 a revista Árvore, que veio a ser uma das mais marcantes da década, procurando divulgar os textos dos poetas e prosadores portugueses mais significativos no tempo, bem como os grandes nomes da literatura estrangeira. Co-dirigiu também as revistas Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia.
António Ramos Rosa - foto: Gisela Ramos Rosa
A crescente importância que a actividade literária foi tomando na sua vida levou-o a certa altura a abandonar o emprego no escritório em que trabalhava, para a ela se dedicar exclusivamente, com todas as consequências que tal decisão acarretava.
A atitude crítica que permanentemente exercitou sobre a sua própria palavra como sobre a palavra alheia faz de A.R.R. um dos mais esclarecidos críticos portugueses contemporâneos, o que se manifesta em inúmeros artigos e recensões sobre poetas portugueses e estrangeiros, bem como na publicação de vários ensaios centrados na temática da poesia. A.R.R. tem, no entanto, o cuidado de separar de uma forma muito nítida a sua actividade de crítico, em que não pode deixar de utilizar critérios e referências racionais, da sua actividade criadora: enquanto poeta faz da ignorância e da radical suspensão de todos os saberes e hábitos adquiridos o único método para a eclosão da sua palavra poética. Na verdade, a procura da palavra justa para dizer as «coisas nuas» e a reflexão sobre a realidade e a possibilidade dessa palavra é, talvez, o único tema desta poesia, na qual é, no entanto, possível assinalar diferentes fases: recortando-se duma problemática neo-realista de solidariedade para com o destino dos homens e do mundo, O Grito Claro (1958) e Viagem Através de Uma Nebulosa (1960) utilizam uma linguagem e uma vivência ainda devedoras dessa estética, combinadas com uma imagética herdada do surrealismo. Mas encontramos já de uma forma incipiente nessas primeiras recolhas algumas das constantes da obra do poeta: um enraizamento pelo corpo na Terra, não numa Terra utópica e futura, mas na materialidade mais originariamente primitiva da natureza; uma libertação, pela palavra mais solitária, de todas as prisões e constrangimentos que a poderiam cercear; uma permanente atenção à materialidade da própria linguagem poética, que a desliga tanto da sua função representativa como da sua função expressiva (pois não se trata já de exprimir um real subjectivo, tão caro aos poetas líricos). Esta particular concepção da Poesia irá ser retomada mais tarde quer pelo grupo «Poesia 61», quer pelos poetas experimentalistas.
António Ramos Rosa
Após um decisivo encontro com a poesia de Éluard, A.R.R. abandona definitivamente a retórica e a imagística neo-realista e surrealista, para se concentrar numa palavra solar, pura e rigorosa, podemos dizer mesmo elementar, à medida que a exigência de um retorno à origem se tornará numa das suas obsessões. Exigência que lhe pedirá até para substituir à sua própria voz uma verdadeira voz inicial (título de uma recolha de 1960), memória da criação mais remota, que se ergue de um território onde se indistinguem sujeito e objecto. Como nota Eduardo Lourenço, a poesia de A.R.R. nunca mais abandonará esse porto «anterior a todos os portos». Esta poética do puro início expande-se a todo o espaço e a toda a matéria, através dum erotismo mediado pelo corpo próprio, pelo corpo da mulher, pelo corpo da terra, pelo corpo da palavra. Da apropriação destes espaços através da palavra poética, nunca dada a priori mas conquistada através de um desejo, de um esforço, de uma viagem, nasce uma felicidade exultante e viva que frequentemente nos é transmitida por metáforas de claridade.
O contraponto desta plenitude meridional é a dificuldade com que o poeta se debate ao tomar consciência da sombra que nasce da raíz de toda a realidade e da realidade de toda a palavra. A luta entre a luz e as trevas, que é central em Sobre o Rosto da Terra, vai invadindo gradualmente de negatividade a poesia subsequente, até lhe ameaçar toda a arquitectura em A Pedra Nua (1972), onde a plenitude solar dos primeiros livros é substituída pela inquietante suspeição sobre o poder dessa mesma palavra, num território cada vez mais calcinado, até ao limite dum dizer que perde o fio e se transforma num quase ininteligível balbuciar (Declives, 1980).
A partir de Volante Verde (1986) assistimos no entanto a uma espécie de «reconciliação com as palavras» através duma certa forma de integração da ausência, já não combatida mas incluída como forma estruturante da própria poesia. O poeta encontra então um novo fôlego, através da «enigmática profusão da terra», numa exaltação da natureza que adquire uma feição animista. O universo poético de A.R.R., jogando com um número relativamente restrito de vocábulos e de temas, dá predominância às palavras substantivas e elementares tais como: pedra, água, árvore, cal, mão, muro, e mesmo às formas mais ínfimas e humildes: unha, insecto, pó, cabelo, sopro, espuma, baba do caracol. Estes elementos são retomados e combinados caleidoscopicamente, em ciclos que continuamente se reiniciam. A exploração ontológica e poética vai-se processando em movimentos cada vez mais lentos e subtis, num itinerário em que a densidade do espaço e a substância dos objectos se vai tornando progressivamente mais permeável e transparente. A desmaterialização das coisas e da língua que as diz liga-se intimamente ao modo como o poeta apreende o ser do universo – misto de presença e de ausência, de verdade e não-verdade, de sim e de não (O Não e o Sim é aliás título de uma recolha de 1990). Criando um campo semântico sobre a finíssima linha de demarcação entre a afirmação e a negação, o poeta foge da dicotomia, da disjunção, da determinação, num espaço cada vez mais aberto e ilimitado, que se adequa cada vez melhor à manifestação «do que não tem nome». 
António Ramos Rosa
O poeta, que procura entrar em consonância com esse horizonte do real, torna-se também ele corpo místico e mítico do universo, onde se conciliam por fim todos os contrários.
Poesia de coordenadas eminentemente espaciais, ela tem evoluído ultimamente no sentido de uma mais acentuada articulação discursiva, a par de uma aguda consciência da passagem do Tempo, com as questões que essa consciencialização coloca: «será ainda possível construir sobre a cinza do tempo / a casa da maturidade com as suas constelações brancas?»
A. R. R. recebeu vários prémios de poesia, o primeiro dos quais pela obra Viagem Através de Uma Nebulosa, partilhado ex-aequo com Henrique Segurado. Em 1980, o Prémio do Centro Português da Associação de Críticos Literários, pelo livro O Incêndio dos Aspectos; em 1988, o Prémio Pessoa; em 1989, o Prémio APE/CTT, pela recolha Acordes, e, em 1990, o Grande Prémio Internacional de Poesia, no âmbito dos Encontros Internacionais de Poesia de Liège.
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FonteDicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998. Disponível no link. (Acessado em 06.01. 2015). 

Observação(*) Manteremos ao longo da página a grafia original ou seja o português de Portugal.




"A construção da obra é também uma construção do corpo. O construtor sai de si para entrar em si. A relação das forças com o mundo altera-se a partir do ponto cego em que a visão se gera até aos campos em que a luz se ordena na sua lisa e pura tranquilidade.
Construir é assim criar o espaço da união originária em que o tempo e o ser se reúnem como a vibração única de um arco entre o visível e o invisível. Mas se o construtor é o homem que trabalha sob o signo do uno, a sua matéria prima é a dispersão e o caos, o vazio e o obscuro, o informe e o opaco. Ele não recusa nem nega essa matéria, porque ela é a substância mais densa da sua construção e porque é nela que o ser aguarda a possibilidade de inaugurar uma forma nupcial que pertença tanto ao espaço da realidade exterior como à densidade obscura da sua essência íntima. O ser é assim a construção de si mesmo a partir de um ser que ainda não é e que tende permanentemente a ser. Como o construtor não se separa dessa matéria, toda a sua obra é uma incessante imersão na nebulosa interior, e ao mesmo tempo a transformação radical desse fundo obscuro que nunca perde completamente a sua obscuridade ao transformar-se no volume final das formas exteriores."

- António Ramos Rosa, em "O aprendiz secreto". Quási, 2001.



António Ramos Rosa, poeta, na residência Faria Mantero, em Lisboa em 2005.


"O amor cerra os olhos, não para ver mas para absorver: a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se sobre a terra coroada: animal das águas, animal do fogo,animal do ar: a matéria é só uma, terrestre e divina."

- António Ramos Rosa, em "Três Lições Materiais" (1989).


OBRA
Poesia
:: O grito claro (Poesia). Faro, 1958. 
:: Viagem através duma nebulosa (Poesia). Ática Editora, 1960.
:: Voz inicial (Poesia). Lisboa: Moraes Editores, 1960. 
:: Sobre o rosto da terra (Poesia). Covilhã: Liv. Nacional, 1961. 
:: Ocupação do espaço (Poesia). Lisboa: Portugália Ed., 1963. 
:: Terrear (Poesia). Lisboa: Ed. Minotauro, 1964. 
:: Estou vivo e escrevo sol (Poesia). Lisboa: Ed. Ulisseia, 1966. 
:: A construção do corpo (Poesia). Lisboa: Portugália Ed.1969. 
:: Nos seus olhos de silêncio (Poesia). Lisboa: Pub. D. Quixote, 1970. 
:: A pedra nua (Poesia). Lisboa: Moraes Ed., 1972. 
:: Ciclo do cavalo (Poesia). Porto: Limiar, 1975. 
:: Boca incompleta (Poesia). Lisboa: Arcádia, 1977. 
:: A imagem (Poesia). Porto: O Oiro do Dia, 1977. 
:: As marcas no deserto (Poesia). Editorial Vega, Lda, 1978; 1980. 
:: A nuvem sobre a página (Poesia). Lisboa: Publ. D. Quixote, 1978. 
:: Círculo aberto (Poesia). Lisboa: Ed. Caminho, 1979. 
:: Figurações (Poesia). Porto: O Oiro do Dia, 1979. 
:: Declives (Poesia). Ed. Contexto, 1980.
:: Le domaine enchanté (Poesia). Porto: O Oiro do Dia1980.
:: À la table du vent; As marcas do Deserto. [edição bilingue, tradução Patrick Quillier, prefácio Robert Brechon].. (Poesia). Ed. Vega, 1995. 
:: O incêndio dos aspectos (Poesia). Lisboa: A Regra do Jogo, 1980. 
:: Figuras: fragmentos (Poesia).  Porto: O Oiro do Dia, 1980. 
:: O centro na distância (Poesia). Lisboa: Arcádia, 1981. 
:: O incerto exacto (Poesia). Lisboa & Etc, 1982. 
António Ramos Rosa, por Pedro Vieira
:: Gravitações (Poesia). Lisboa: Litexa, Portugal, 1983. 
:: Quando o inexorável (Poesia). Porto: Limiar, 1983. 
:: Dinâmica subtil (Poesia). Lisboa: Ulmeiro, 1984. 
:: Ficção (Poesia). Porto: Nova Renascença, 1985. 
:: Mediadoras (Poesia). Lisboa: Ulmeiro, 1985. 
:: Clareiras (Poesia). Lisboa: Ulmeiro1986. 
:: Vinte poemas para Albano Martins (Poesia). Porto: Ed. "Exercícios de Dizer", 1986. 
:: Volante verde (Poesia). Lisboa: Moraes editores, 1986. 
:: No calcanhar do vento (Poesia). Coimbra: Centelha, 1987. 
:: O deus nu(lo) (Poesia). Viana do Castelo, Centro Cultural do Alto Minho, 1988. 
:: O livro da ignorância (Poesia). Ponta Delgada, Ed. Signo e Autor, 1988. 
:: Acordes (Poesia). Lisboa: Quetzal Ed., 1989. 
:: Três lições materiais (Poesia). Kairos, 1989. 
:: Estrias (Poesia).. [colecção "O Lugar da Pirâmide"], Átrio, 1990. 
:: O não e o sim (Poesia). Lisboa: Quetzal Editores, 1990
:: Facilidade do ar (Poesia). Lisboa: Edições Caminho, 1990. 
:: Oásis branco (Poesia). Átrio, 1991. 
:: A intacta ferida (Poesia), 1991.
:: A rosa esquerda (Poesia). Lisboa: Edições Caminho, 1991. 
:: As armas imprecisas (Poesia). Edições Afrontamento, 1992. 
:: Clamores (Poesia). Lisboa: Edições Caminho, 1992. 
:: Dezassete poemas (Poesia). Editorial Escritor, 1992. 
:: Pólen-silêncio (Poesia). Limiar, 1992. 
:: Lâmpadas com alguns insectos (Poesia). Pedra Formosa, 1993. 
:: O navio da matéria (Poesia). Espiral Maior- Galiza, 1994. 
:: O teu rosto (Poesia). Pedra Formosa, 1994; 2002. 
:: Três (Poesia). Lisboa: Ed. & Etc, 1995. 
:: Delta seguido de Pela primeira vez (Poesia). Quetzal Editores, 1996. 
:: Figuras solares (Poesia). Ara- galeria de arte/ publicações D.Quixote, 1996. 
:: Nomes de ninguém (Poesia), 1997. 
:: À mesa do vento seguido de As espirais de Dioniso (Poesia), 1997. 
:: Versões/Inversões (Poesia), 1997. 
:: A imagem e o desejo (Poesia), 1998. 
:: A imobilidade fulminante (Poesia), 1998 
:: Pátria soberana seguido de Nova ficção (Poesia), 1999; 2001. 
:: O princípio da água (Poesia), 2000. 
:: As palavras (Poesia). Porto: Campos das Letras - Editores S.A., 2001. 
:: Deambulações oblíquas (Poesia), 2001. 
:: O deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências (Poesia), 2001.
:: O aprendiz secreto (Poesia), 2001. 
:: Os volúveis diademas (Poesia), 2002. 
:: Cada árvore é um ser para ser em nós (Poesia).. [fotografias de  Paulo Gaspar Ferreira]., 2002. 
:: O sol é todo o espaço (Poesia), 2002. 
:: Os animais do sol e da sombra seguido de O corpo inicial (Poesia), 2003. 
:: O que não pode ser dito (Poesia), 2003. 
:: Relâmpago do nada (Poesia), 2004. 
:: Génese seguido de Constelações (Poesia), 2005. 
:: Horizonte a Ocidente (Poesia), 2007.
:: Rosa Intacta (Poesia), 2007.
:: Em torno do imponderável(Poemas), 2012.



António Ramos Rosa, por (...)
Prosa
:: Prosas seguidas de diálogos (Prosa), 2011.


Ensaio
:: Poesia, liberdade livre, 1962; 1986.
:: A poesia moderna e a interrogação do real. 2 vols., 1979; 1980. 
:: Incisões Oblíquas – Estudos sobre poesia portuguesa contemporânea. Lisboa: Caminho,  1987. 
:: A parede azul. Estudos sobre poesia e artes plásticas, 1991. 


"Todo o acto de criação pressupõe a constituição ou autoconstrução do eu, como, aliás, a sua relação com os outros. Esta relação com os outros pressupõe, por sua vez, a participação numa certa ordem de valores morais, um plano de controlo e de resolução cultural da vida instintiva. É, sem dúvida, a afectividade que está na origem da realização humana como na da criação artística ou literária." 
- António Ramos Rosa, em "A parede azul".


Antologia
:: Horizonte imediato (Antologia), 1974. 
:: Não posso adiar o coração. Obra poética, 1º vol (Antologia). Lisboa: Plátano Editora, 1974. 
:: Animal olhar. Obra poética, 2º vol. (Antologia). Lisboa: Plátano Ed., 1975. 
António Ramos Rosa, desenho de Peres Feio
:: Respirar a sombra viva. Obra poética, 3º vol. (Antologia). Lisboa: Plátano Ed., 1975. 
:: A palavra e o lugar (Antologia), 1977. 
:: Matéria de amor (Antologia), 1983. 
:: A mão de água e a mão de fogo (Antologia), 1987. 
:: Obra poética, 1º vol. (Antologia), 1989. 
:: Poemas escolhidos. [organização Maria Filipe Ramos Rosa].. (Antologia), 1997. 
:: Antologia poética. [prefácio, seleção e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.
:: O poeta na ruaAntologia portátil. [seleção e prefácio de Ana Paula Coutinho Neves]. 2004. 
:: António Ramos Rosa - Poesia Presente. (Antologia).. [organização e selecção de Maria Filipe Ramos Rosa e prefácio de José Tolentino Mendonça]. Edição de Assírio & Alvim, uma chancela da Porto Editora, Lda, Outubro de 2014.


Coleções/antologias (participação)
:: Duas águas: um rio. (Poesia), em coleção. [em colaboração com Casimiro de Brito]. Lisboa: Publ. D. Quixote, 1989; 2002. 
:: Rotações(Poesia), em coleção. [em colaboração com Agripina Costa Marques, Carlos Poças Falcão], 1991. 
:: O centro inteiro. (Poesia), em coleção. [em colaboração com Agripina Costa Marques, António Magalhães], 1993. 
:: O alvor do mundo. Diálogo poético. (Poesia) em coleção, 2002. 
:: Meditações metapoéticas(Poesia), em coleção. [em colaboração com Robert Bréchon]. 2003. 



Organização
:: Líricas Portuguesas: 4.ª série.(Antologia Poética).. [seleção, prefácio e notas de Ramos Rosa], 1969. 



Artigos e entrevistas
ROSA, António Ramos.  O ser e a função da arte.  in: O Tempo e o Modo, Lisboa, Junho de 1963, nº6, pp.13-16.
ROSA, António Ramos.  Animal Olhar (fragmento). in:  O Tempo e o Modo, Lisboa, Setembro de 1963, nº8, pp.65-66.
ROSA, António Ramos.  O encontro de poesia de Berlim. in: O Tempo e o Modo, Lisboa, s.d.,nº 22.
ROSA, António Ramos.  Três poemas. in:  O Tempo e o Modo, Lisboa, Maio de 1967, nº49, pp.131-132.
ROSA, António Ramos.  Os negócios do senhor Júlio César. in:  Vértice, Coimbra, 1963, volume XXIII, pp.71-72 (Traduçao de um original de Bertolt Brecht).
ROSA, António Ramos.  A experiência poética. in:  Colóquio, revista de Artes & Letras, Fundação Calouste Gulbenkian, Junho de 1960, nº9, pp. 47-49.

ENTREVISTA.  "Ramos Rosa: café e poesia", entrevista a Jorge Listopad e a Carlos Câmara Leme. in: O Jornal Ilustrado, Lisboa, 3 de Abril de 1987, nº632, pp. 18-19.


COLABORAÇÕESRevistas em que colaborou
Antonio Ramos Rosa - desenho de Constança Lucas
:: Árvore, 1952 -1954.
:: Cassiopeia, 1956.
:: Cadernos do Meio-dia, 1958 -1960.
:: Esprit
:: Europa Letteraria.
:: Colóquio-Letras
:: Ler
:: O Tempo e o Modo
:: Raiz & Utopia
:: Seara Nova
:: Silex.
:: Revista Vértice.

Jornais em que colaborou
:: A Capital
:: Artes & Letras
:: Comércio do Porto
:: Diário de Lisboa. 
:: Diário de Notícias
:: Diário Popular. 
:: O Tempo.


Prémios, escritor
:: Prémio da Bienal de Poesia de Liége, 1991. 
:: Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia traduzido em França, 1992.

Prémios Obra
António Ramos Rosa, por Carmo Pólvora
in Fotobiografia do poeta organizada
por Ana Paula Coutinho
:: Prémio Fernando Pessoa, da Editora Ática (Segundo Lugar ex-aequo), 1958 (Viagem através duma nebulosa); 
:: Prémio Nacional de Poesia, da Secretaria de Estado de Informação e Turismo (recusado pelo autor), 1971 (Nos seus olhos de silêncio); 
:: Prémio Literário da Casa da Imprensa (Prémio Literário), 1972 (A pedra nua); 
:: Prémio da Fundação de Hautevilliers para o Diálogo de Culturas (Prémio de Tradução), 1976 (Algumas das Palavras: antologia de poesia de Paul Éluard);
:: Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia, 1980 (O incêndio dos aspectos); 
:: Prémio Nicola de Poesia, 1986 (Volante verde); 
:: Prémio Jacinto do Prado Coelho, do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1987 (Incisões oblíquas); 
:: Grande Prémio de Poesia APE/CTT, 1989 (Acordes); 
:: Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), 1992 (As armas imprecisas); 
:: Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (Prémio de Poesia), São João da Madeira, 2005 (O poeta na rua. Antologia portátil). 


"Ao fim de cada construção diária, ao crepúsculo, o construtor sobe a uma torre de pedra para meditar um pouco. A plenitude da tranquilidade é perfeita nos campos fulvos e ondulados em redor, cobertos de ervas altas, de flores e arbustos e marginados por um riacho sob a penumbra verde de um arqueado tecto de folhagem. Dir-se-ia que o olhar do construtor encontrou o ser em extensão, o ser que se oferece, no seu mutismo eloquente, e ao mesmo tempo se guarda no mesmo espaço do seu tranquilo esplendor. A meditação não é mais do que a contemplação de uma matéria que contém em si o excesso da sua energia calma e a densidade materna que envolve todas as interrogações e torna supérfluo e intruso o pensamento. Por isso o construtor se integra na paisagem e, reflectindo-a, não a elabora nem a altera. Toda a sua vida está intacta e plenamente segura na indistinção entre o seu íntimo e a túmida e fresca serenidade da paisagem que o envolve. A realidade exterior passou a ser a matéria mais íntima e mais pura da relação total e, inversamente, o contemplador converteu-se num elemento da paisagem que a partir dela própria a vê e nela se vê. Esta circularidade é a mais harmoniosa manifestação do uno e o alvo da construção será criar o espaço mais propício à sua tranquila fulguração. Não há segredo mais supremo nem mais simples do que esta relação vital entre o corpo e o espaço, entre o alento e a paisagem, entre o olhar e o ser."
- António Ramos Rosa, em "O aprendiz secreto". Quási, 2001.



António Ramos Rosa na sua casa em 2004, David Clifford - Arquivo



POEMAS ESCOLHIDOS

A construção do corpo
Sempre a tentativa nunca vã...
O equilíbrio musical dos instrumentos,
a paciência do teu pulso suave e certo,
o teu rosto mais largo e a calma força
que sobe e que modelas palmo a palmo,
rio que ascende como um tronco em plena sala.
A tua casa habita entre o silêncio e o dia,
Entre a calma e a luz o movimento é livre.

Acordar a leve chama veia a veia,
erguê-la do fundo e solta propagá-la
aos membros e ao ventre, até ao peito e às mãos
e que a cabeça ascenda, cordial corola plena.
Todo o corpo é uma onda, uma coluna flexível.
Respiras lentamente. A terra inteira é viva.
E sentes o teu sangue harmonioso e livre
correr ligado à água, ao ar, ao fogo lúcido.

No interior centro cálido abre-se a flor de luz,
rigor suave e óleo, música de músculos, roda
lenta girando das ancas ao busto ondeado
e cada vez mais ampla a onda livre ondula
a todo o corpo uno, num respirar de vela.
Sobre a toalha de água, à luz de um sol real,
dança e respira, respira e dança a vida,
o seu corpo é um barco que o próprio mar modela.
- António Ramos Rosa, em “A construção do corpo”, 1969.


A delicada majestade
Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas
porque não és um tu
ou porque chegas sempre em não chegares.
Subi um dia por uma escada silenciosa
e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha
e eu senti, eu vi, adivinhei
a divindade amada, a soberana e delicada
majestade. Que suavidade de oriente,
que suave esplendor! Era o fulgor de um sono
límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes.
E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto
Antiquíssimo e inicial. Contemplava
a quietude de um imenso nenúfar
e a fragância era quase visível como um mar entreaberto.
Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido
que descansa entre ribeiros primaveris
ou era antes a serena felicidade
e era uma boca da terra que não cantava que não dizia
o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava.
- António Ramos Rosa, em "Acordes". Quetzal Editores, 2ª ed., 1990.



A festa do silêncio
António Ramos Rosa - foto: Miguel Costa
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se de ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
- António Ramos Rosa, em “Volante Verde”, 1986.



A (in)coerência do fogo
O desenho a fogo: os dedos e o sopro.
As pedras soltas suscitam algo,
uma textura sem segredo, aberta.
Como se não procurasse olho: sempre o deserto?

O corpo e essa onda, essa pedra — é uma linha
e o tumulto dos músculos no mar
eis o desejo da perda e do encontro
contra a parede, contra esta página
este deserto — o mar.

O sopro do incêndio da folhagem
esta rasura
no raso da inércia
ó apagada força amor do mar deserto força

reúno ou disperso pedras sobre o mar
ou pedras

Onde o corpo onde o desejo
perante o vento
a frágil força do corpo (aranha inerme?)?

Se eu soprar as vértebras do fogo aqui
se subverter a folha e nu gritar

Eu continuo com estas pedras no deserto — no mar?
Nem são pedras estas pedras mas a garganta
enfrenta o vento — e o deserto,
que corpo que corpo se perde ao rés da página
ou terra?

Mas se não fosse o deserto — se fosse a praia
a música do corpo
e o vento no mar
e o teu corpo no meu corpo?

Mas tu esperas três palavras
três pedras
— e sem o fogo sem a folhagem sem o mar

Se um signo fosse a coluna do sangue
perante a maré perante o fogo
e não a morte cega ao vento
este silêncio contra o peito?

Escrever assim mesmo com os ossos
com a proa no externo
com a proa no externo
com as sílabas deserto

Mas se o silêncio da praia — onde o mar? —
o silêncio da página
suscitassem essa música do corpo
aqueles membros brancos
vermelhos
em torno ao centro — e a respiração do mar?

Um braço, uma torção do braço pela violência do vento
um cântico na praia
o corpo contra o corpo amante amado?

Uma sílaba apenas verde ou branca
e não o torso musical
e não a pedra do mar o esplendor da praia?

Ninguém ouve o grito sobre o vento
sobre o ventre de ninguém
nada se ouve entre estas pedras
nada é aqui neste deserto

Mas isto é, isto é, com se
um signo
fosse o sangue da lâmpada?

Desenho as formas vivas na areua
desenho este sulco no meu corpo
soçobro sobre o sulco — em frente ao mar?

Que corpo se levanta? É um corpo, um outro corpo?
Um corpo que se ergue sobre a espuma
ou um sinal apenas sem o sangue?

A boca morde os dentes
a página está deserta
a praia está deserta.

A minha mão ergue-se num sinal vão
como se não desistisse.

As pedras nem são pedras
mas palavras
mas o desejo de um contacto incandescente
mas o ardor de um persistente insecto.

Praia, mar, sulcos na areia, vento
ou só deserto
eu vos invoco e vos insuflo a chama
da garganta,
eu apelo para o cântico. Caminho?

Mais do que a sílaba do mar
mais do que a flor imprevista
mais do que a sombra sobre o ombro
mais do que a sombra sobre o ombro
mais do que o ouro da areia
eu subscrevo o branco um novo corpo.
Ainda que nada veja senão as pedras
que delimitam o vazio
eu estou à beira de eu sou o intervalo
entre a folhagem e o fogo
e o silêncio é um sinal
do corpo.

Que diz a forma da pedra — o corpo?
Que diz este silêncio de erva?
Este punhal de feno no meu peito,
esta sílaba trêmula, esta sombra fria,
que diz a cor do muro?

A terra tem aos ombros a folhagem
o mar ainda na distância
mas o clamor destes sinais proclama o animal
do fogo
os passos caminham entre as chamas e o apelo das ondas.

A terra é alta como o corpo e baixa
As casas cintilam mas num contacto sólido
Em todas as estradas o sol caminha com os meus passos.

A folha é escrita como um paisagem
Ainda é o deserto e a noite é próxima!
Mas os sinais despertaram o lugar
onde o silêncio é a congregação da terra.

Escolho a clareira do corpo silencioso.

É um corpo que envolve o corpo.
Posso assinar o rosto deste corpo?
Os sinais sangram enfim e dizem terra.
Escrever é finalmente subscrever o ar
das ervas
e desenhar o sopro com os dedos: amar o corpo.
Amar. Dizer amar: amar o mar
na proximidade do próximo, no ombro
do teu corpo ou no parapeito da terra.
- António Ramos Rosa, em "As marcas no deserto", 1978.



[Apreender com as palavras a substância mais nocturna]
Apreender com as palavras a substância mais nocturna
é o mesmo que povoar o deserto
com a própria substância do deserto
Há que voltar atrás e viver a sombra
enquanto a palavra não existe
ou enquanto ela é um poço ou um coágulo do tempo
ou um cântaro voltado para a sua própria sede
Talvez então no opaco encontremos a vértebra inicial
para que possamos coincidir com um gesto do universo
e ser a culminação da densidade
Só assim as palavras serão o fruto da sombra
e já não do espelho ou de torres de fumo
e como antenas de fogo nas gretas do olvido
serão inicialmente matéria fiel à matéria
- António Ramos Rosa, em “O Livro da Ignorância", 1988.



As palavras e o desejo
Por vezes perdem a sombra
e rodam pálidas sem a seiva do vento.
Raramente vêm carregadas de frutos, de pedras e flores
ou apenas do seu silêncio de fogo.
Quando as línguas indolentes nos envolvem
na espuma das suas sílabas
é que os olhos do mundo nos olham através das imagens
e o enigma se aproxima silencioso e cúmplice
do nosso abandono deslumbrado
no volume côncavo do tempo.
Mas por vezes as palavras já não reflectem qualquer luz
e descem por escadas negras
até às primeiras águas e às redondas sombras
em que o silêncio é o puro silêncio sem imagens.
- António Ramos Rosa, em "A imagem e o desejo", 1998.



Árvores
O que tentam dizer as árvores
No seu silêncio lento e nos seus vagos rumores, 
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverência, a ressonância, a transparência, 
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve
integridade. 
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes. 
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus 
ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
- António Ramos Rosa. em "Cada árvore é um ser para ser em nós", (2002).



Bloco Intacto
Abrindo a álea
vertical sobre o vértice do instante
sem frenesim mas denso de
todo o sangue que me enche no silêncio desta álea
caminho para ti
lenta lentamente a densa bola sobre o jacto de água dança
e eu sou jorro de água eu sou a bola em equilíbrio
a permanente coroa branca efervescente branca
na tranquila anónima macia dourada suburbana álea
a sede deste instante não se rasga
é um grande bloco intacto que se desloca
para a minha eternidade
a iminência de ti é a boca já feliz a árvore que estala em
                                                                     [cada poro a seiva
a parede de água que contenho a porta doce e clandestina
a porta que desliza
e é então que
no espaço da vertigem
em ti me uno à sede e das raízes subo
e pelas raízes sou.
- António Ramos Rosa, em "Nos seus olhos de silêncio", 1970.



António Ramos Rosa - foto: Gisela Ramos Rosa
[Da grande página aberta do teu corpo]
Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara

Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol

Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor
- António Ramos Rosa, em "Antologia Poética". [Selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.



Deambulações Oblíquas
É porque nos decepcionamos
que procuramos a perfeição
O símbolo é o arco que abarca a totalidade
e por ele nós podemos alcançar
o que está do outro lado dela
A transcendência do que não vemos
a outra face do todo
é uma perspectiva simbólica
inerente à imediata presença
da face que estamos vendo
Assim o que vemos e o que não vemos
no objecto que estamos olhando
é a coisa em si que o animal não apreende
Não somos nunca o que está diante e separado
o que representa e o representado
em separada oposição
de ideia e objecto
de consciência e corpo
O que em nós está separado
em espírito e em corpo
está ao mesmo tempo unido
numa tensão oblíqua
que nos insere no mundo
E como seres simbólicos
e como seres-no-mundo
somos o que já somos
somos o que ainda não somos
- António Ramos Rosa, em " Deambulações Oblíquas". Lisboa: Quetzal Editores, 2001.



[Escrevo-te com o fogo e a água]
Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado,
um arabesco talvez de mágica leveza.

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera.
- António Ramos Rosa, em "Volante Verde" (1986)/em "Antologia Poética". [Selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.



Estou vivo mas quero viver
Estou vivo
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Por que é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso que nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento.
- António Ramos Rosa, em "Deambulações oblíquas".



[Mas agora estou no intervalo em que]
Mas agora estou no intervalo em que
toda a sombra é fria e todo o sangue é pobre.
Escrevo para não viver sem espaço,
para que o corpo não morra na sombra fria.

Sou a pobreza ilimitada de uma página.
Sou um campo abandonado. A margem
sem respiração.

Mas o corpo jamais cessa, o corpo sabe
a ciência certa da navegação no espaço,
o corpo abre-se ao dia, circula no próprio dia,
o corpo pode vencer a fria sombra do dia.

Todas as palavras se iluminam
ao lume certo do corpo que se despe,
todas as palavras ficam nuas
na tua sombra ardente.
- António Ramos Rosa, em “A Construção do Corpo”, 1969.



Desenho de António Ramos Rosa
Mediadora do Vento
Ligeira sobre o dia 
ao som dos jogos, 
desliza com o vento 
num encantado gozo.
Pelas praias do ar 
difunde-se em prodígios. 
Tudo é acaso leve, 
tudo é prodígio simples.
Pequena e magnífica 
no seu amor volante 
propaga sem destino 
surpresas e carícias.
Pátria, só a do vento 
de tão subtil e viva. 
Azul, sempre azul 
em completa alegria.
- António Ramos Rosa, em "Mediadoras".



Na igualdade da torrente
Na igualdade da torrente, uma só árvore,
palavras e pedras acolhendo
uma cabeça ao ritmo das vagas,
e uma sombra oval sobre as espáduas,
respirando lentamente o ar redondo,
os reflexos nos ramos, semelhanças
de um sopro, os anéis do dia,
sem fim nem centro a inacabada arca
que sobre o mar, errante, é a permanência.
- António Ramos Rosa, em "Acordes".



[Não desisti de habitar a arca azul]
Não desisti de habitar a arca azul
do antiquíssimo sossego do universo.
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas mil nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!
A minha vida é uma lenta pulsação
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de longínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmões
ou como se tocasse os teus joelhos planetários
ou adormecesse languidamente no teu sexo.
- António Ramos Rosa, em "Três" (1975)/em "Antologia Poética". [Selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.



[Não posso adiar o amor para outro século]
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração
- António Ramos Rosa, em “O Grito Claro”, 1958.



[Ninguém me disse: Vai por este caminho de água]
Ninguém me disse: Vai por este caminho de água
ou Segue esta vereda silenciosa
Eu vivia na obscuridade com uma lâmpada negra
e a tortura do infinito na minha cabeça esguia
Mas eu amava os muros com insectos e urtigas
e os campos de verdura leve e os límpidos regatos
Era um homem da terra que queria pertencer à terra
e consagrá-la numa relação viva e fértil
Eu queria construir com a matéria espessa
um edificio solar com amplas vidraças
e um terraço aberto à dinâmica languidez do mar
Não sei se o que fiz tem a solidez flexível
de um corpo vegetal mas com extensas pedras
Os que o habitarem talvez se deslumbrem com as claras planícies
e amem a tranquilidade misteriosa dos vales obscuros
Mas para mim não é mais que um amontoado de folhas 
algumas verdes outras secas e todas o vento varrerá
- António Ramos Rosa, em "O Deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências" (2001).



Nuvens
Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmas
locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo
eram frontes do universo deslumbrantes.
Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro
e luminoso, tão suave na visão que se dilata.

Que clamor, que clamores mas em silêncio
na brancura unânime! Um sopro do desejo
que repousa no seio do movimento, que modela
as formas amorosas, os cavalos, os barcos
com as cabeças e as proas na luz que é toda sonho.

Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo.
Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva
ao espaço inteiro, à luz ilimitada.
No gozo de ver num sono transparente
navego em centro aberto, o olhar e o sonho.
- António Ramos Rosa, em "Volante Verde" (1986)/em "Antologia Poética". [Selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.



O horizonte das palavras
Sem direcção, sem caminho
escrevo esta página que não tem alma dentro.
Se conseguir chegar à substância de um muro
acenderei a lâmpada de pedra na montanha.
E sem apoio penetro nos interstícios fugidios
ou enuncio as simples reiterações da terra,
as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.
Tentarei construir a consistência num adágio
de sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.
E na substância entra a mão, o balbucio branco
de uma língua espessa, a madeira, as abelhas,
um organismo verde aberto sobre o mar,
as teclas do verão, as indústrias da água.
Eu sou agora o que a linguagem mostra
nas suas verdes estratégias, nas suas pontes
de música visual: o equilíbrio preenche os buracos
com arcos, colinas e com árvores.
Um alvor nasceu nas palavras e nos montes.
O impronunciável é o horizonte do que é dito.
- António Ramos Rosa, em "Acordes". Quetzal Editores, 2ª ed., 1990, p. 81.



O sol negro e o sol branco
Pedras sombras árvores. palavras
consciência negra do sol. Consciência da contínua explosão.
Consciência do infinitamente frágil e mortal.
Consciência da consciência efémera.
Sabor fúnebre da iminência.
Vácuo na cabeça e a mão que escreve
lenta, consciente? Estas palavras
que não são do desejo
nem de combate
nem são ainda do completo abandono
do desencontro mortal.
Podem dizer-me que estas pedras não são pedras
que acumulo sombras
e que não respiro as árvores
que ignoro tudo e escrevo nada.
Vivo ainda destas palavras
as mais pobres que encontro
nenhuma delas tão pobre como eu
nenhuma delas tão nua que te atinja a ti
a nós.
António Ramos Rosa, foto: Gisela Gracias Ramos Rosa
Disse sol outrora como se dissesse o sol
e era a morte viva que designava
era o negro esplendor do nada
era o vazio entre os espaços
de cada ser e cada coisa.
Mas era a vontade de um combate.
Era o desejo de alcançar a força viva
de lhe criar um espaço para mim e para ti
para viver ao sol desperto e nu
para viver no ser aberto
como um animal
como uma força fraterna
um corpo livre.
Cada palavra como uma pedra sobre a pedra
exacta e verdadeira.
E entre sombras e ramos entrar na clareira
do ser
onde a luz é a do encontro e do repouso
a perfeição tranquila e vegetal
a unidade íntima
o amor de estar
- António Ramos Rosa, em "Círculo Aberto".



O teu rosto
Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre  largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol.
- António Ramos Rosa, em "Antologia Poética". [Selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes]. Lisboa: D. Quixote, 2001.



Os simples
Acabaram-se talvez os excessos e os impulsos
Dissipámo-nos na luz como uma sombra.
Mas as palavras continuam feridas e comovem-se
em presenças verticais no vento, em obscuras chamas.
Que alianças, que pedidos sem fim, que consentimentos
perduram ainda nas palavras feridas!
É já a música nos flancos e nos ombros
e a argila leve do desejo e um frêmito de folhas
e o vento e a ausência que quase diz um nome.
Nós aceitámos o ardor e o luto, o deserto das mesas.
Porque quisemos recomeçar na génese das pedras
ao nível do repouso simples das folhas e da cinza.
- António Ramos Rosa, em "No Calcanhar do vento”, 1987.



Para além das palavras com as palavras
Palavras com o seu peso, apaixonadas
pelo seu peso.
Palavras que demoram nas fronteiras do solo,
palavras trabalhadas pelo vento, 
palavras com sede como a água.
Até onde as palavras já não possam progredir. 
No cimo do cimo, numa árvore de estrelas.
Um deus murmura, se é um deus o ar, o deus do aberto e do intacto.
Tão perto de ser nada, renasço no vazio, renasço anónimo.
Nada me protege nesta abóbada aberta e tudo me soergue.
Tudo é vago, tudo é irmão do vento, tudo é informulável.
Se escrevesses as palavras poderiam ser lâmpadas de pólen.
Mais longe, mais alto desata-se a serpente dos sinais.
Todo o prodígio é de ar, todo o sentido é ar.
- António Ramos Rosa. em "Cada árvore é um ser para ser em nós", (2002).



Sem segredo algum
Rodeio-te de nomes, água, fogo, sombra,
vagueio dentro das tuas formas nebulosas.
Como um ladrão aproximo-me entre palavras e nuvens.
Não te encontrei ainda. Falo dentro do teu ouvido?
Entre pedras lentas, oiço o silêncio da água.

A obscuridade nasce. Tens tu um corpo de água
ou és o fogo azul das casas silenciosas?
Não te habito, não sou o teu lugar, talvez não sejas nada
ou és a evidência rápida, inacessível,
que sem rastro se perde no silêncio do silêncio.

O que és não és, não há segredo algum.
Selvagem e suave, entre miséria e música,
o coração por vezes nasce. As luzes acendem-se na margem.
Estou no interior da árvore, entre negros insectos.
Sinto o pulsar da terra no seu obscuro esplendor.
- António Ramos Rosa, em “Volante Verde”, 1986.



[Talvez a escrita seja uma expansão do universo]
Talvez a escrita seja uma expansão do universo
e o que parece fantasia ou arbitrários lances
seja a lucidez da energia cósmica
As palavras concentram-se e propagam-se como uma concha ou uma onda
e a arte está no equilibrio do seu movimento
para dentro e do seu movimento para fora
Das suas narinas jorram duas correntes contrárias
uma branca outra vermelha que se enlaçam
formando um rio azul do dia habitável
A sua respiração é a indolência verde
da sua fantasia da matéria viva
e essa fantasia é a transparência mesma
da palavra nua aberta à melodia
do universo em elementar efusão
Entre os flancos do mundo o poema é um cavalo ébrio
com um único olho de cristal por onde o sol se engolfa
e cuja luz se repercute em delicadas linhas
da energia unânime do seu peito inacabado
- António Ramos Rosa. em "Deambulações Oblíquas", (2001).



António Ramos Rosa
Um corpo que se ama
Para quem o deseja e quem o ama
um corpo é sempre belo no seu esplendor
e tudo nele é belo porque é sagrado
e, mesmo na mais plena posse, inviolável.

Um corpo que se ama é uma nascente viva
que de cada poro irrompe irreprimível
e toda a sua violência é a energia ardente
que gerou o universo e a fantasia dos deuses.

Tudo num corpo que se ama é adorável
na integridade viva de um mistério
na evidência assombrosa da beleza
que se nos oferece inteiramente nua.

Não há visão mais lucida do que a do desejo
e só para ela a nudez é sagrada
como uma torrente vertiginosa ou uma oferenda solar.
Esse olhar vê-o inteiro na perfeição terrestre.
- António Ramos Rosa, em "Rosa intacta", 2007.



Um mundo
É um sonho ou talvez só uma pausa
na penumbra. Esta massa obscura
que ela revolve nas águas são estrelas.
Entre aromas e cores, um barco de calcário
prossegue uma viagem imóvel num jardim.
Vejo a brancura entre os astros e os ramos.
Dir-se-ia que o ser respira e se deslumbra
e que tudo ascende sob um sopro silencioso.
Nenhum sentido mas os signos amam-se
e o brilho e o rumor formam um mundo.
- António Ramos Rosa, em "Acordes". Quetzal Editores, 2ª ed., 1990, p. 67.



Um no outro
Não aceito o que ainda não tem nome. Escuto
a noite de uma árvore, um ventre sem umbigo.
Nada desejo e desejo o imóvel fundo.
Quero conhecer a pele nua e o sol da vulva, 
que a palavra respire e seja planície.
Viver é o teu ventre na frescura do começo.
Cada parcela do teu corpo expande o sangue solar.
Do fundo de mim tu caminhas para mim.
Que delícia estender-me até ao teu nome cego!
No triangulo perfeito somos um no outro.
Inundo-te como uma lava como um vento de vertigem.
Em ti penetro até ao fundo, até á perda, 
ó corpo incandescente!
- António Ramos Rosa. em "Cada árvore é um ser para ser em nós", (2002).



[Um poema é sempre escrito numa língua estrangeira]
Um poema é sempre escrito numa língua estrangeira
com os contornos duros das consoantes
com a clara música das vogais
Por isso devemos lê-lo ao nível dos seus sons
e apreendê-lo para além do seu sentido
como se ele fosse um fluente felino verde ou com a cor do fogo
O que de vislumbre em vislumbre iremos compreendendo
será a ágil indolência de sucessivas aberturas
em que veremos as labaredas de um outro sentido
tão selvagem e tão preciosamente puro que anulará o sentido das palavras
É assim que lemos não as palavras já formadas 
mas o seu nascimento vibrante que nas sílabas circula
ao nível físico do seu fluir oceânico
- António Ramos Rosa. em "Deambulações Oblíquas", (2001).



António Ramos Rosa na sua casa em 2004, David Clifford - Arquivo
 "Não é a altura de afirmar nada. Tudo deve permanecer oculto na sua pura inanidade (e unanimidade) inabordável. Este respeito absoluto é a condição de uma possível germinação futura e a única mediação de um enigma que se confunde com a própria respiração do construtor."
- António Ramos Rosa, em "O aprendiz secreto". Quási, 2001.


António Ramos Rosa (1987)

FORTUNA CRÍTICA
BELARD, Francisco. Ramos Rosa. in: Revista Expresso, Lisboa, 19 de Novembro de 1988, pp.46-R a 49.
FURTADO, Mª Teresa Dias. A procura e a perda no processo poético de Hölderlin e Ramos Rosa - entre o rumor e o silêncio. in: Colóquio/ Letras, Editorial Notícias, Lisboa, Julho de 1981, nº 62, pp. 65-69.
TEIXEIRA, Paulo Octávio Nunes Dias. 'Recensão crítica a 'A Rosa Esquerda', de António Ramos Rosa. Colóquio. Letras, v. 123/124, p. 376-377, 1992.


António Ramos Rosa
Desenhos
O que nos diz a imagem? Diz-nos o que é e não o diz.
Porque não é uma palavra. Antes um silêncio,
Uma ausência, um vazio.
O seu sentido é uma promessa de sentido
Ou o silêncio do sentido que respira e transparece.
Ausência na presença plena.
Cintilação silenciosa e fixa de um olhar sem fim.
Um olhar vazio de tudo – que vê e não vê
E só vê porque é cego.
Tudo nele é visão, mas a visão vê tudo.
- António Ramos Rosa, «Le Domaine Enchanté».

Desenho, de António Ramos Rosa


Para receberem a alegria de um raio puro
os homens seguiam a direcção do vento
e nas mãos obscuras erguiam as silenciosas colunas
que edificavam a terra
Era o azul no centro e povoado de astros
e na arca da noite os cavalos e as serpentes
atravessavam os espelhos e bebiam o esplendor
como um fruto inteiro de argila e fogo
Repousavam no horizonte entre um ribeiro e um bosque
e nas suas sombras aguardavam os tesouros das constelações
O seu ritmo natural era o ritmo do universo
e eram seres recém-nascidos navegando nas veias
de um corpo paradisíaco
- António Ramos Rosa, em "Lâmpadas com alguns insectos". Edição: Pedra Formosa Edições, 1992.


António Ramos Rosa - foto: João Silva

"Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá."
- António Ramos Rosa, em "O aprendiz secreto". Quási, 2001.


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). António Ramos Rosa. Templo Cultural Delfos, Janeiro/2015. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Em construção 18.01.2015.



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