Marcelo Godoy, autor do livro "A Casa da Vovó", detalha como integrantes do DOI-Codi decidiam quem seria morto ou 'apenas' torturado Durante os anos mais duros da ditadura militar brasileira (1964-1985), os representantes do regime desenvolveram "critérios" para decidir quem seria morto ou torturado. No livro A Casa da Vovó: uma biografia do DOI-Codi (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar (Alameda, 612 págs, R$ 69), o jornalista Marcelo Godoy revela como, sob o comando do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, entre 1970 e 1974, o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) decidia o destino dos persiguidos políticos. Leia mais: Doutrina de guerra francesa inspirou tortura da ditadura
brasileira, diz jornalista
Assista trechos da entrevista de Marcelo Godoy, autor de 'A Casa da Vovó'
"Treinou guerrilha em Cuba? Mata! Ou seja, para quem tivesse feito curso em Cuba, ou retornasse ao Brasil após ter sido banido do país, o critério era a morte. Pessoas envolvidas em crimes de sangue, como troca de tiros ou ataques violentos, assim como dirigentes de movimentos de resistência,
também deveriam ser executados", segundo as regras do DOI-Codi, explica Godoy. A tortura, afirma Godoy, era “destinada àqueles que estavam certamente envolvidos em organizações de resistência à ditadura”. Para os integrantes do DOI, do qual participavam militares e civis, a tortura não deveria ser um ato indiscriminado, pois havia regras sobre "quem e em qual circunstâncias deveriam ser torturados ou mortos”, diz.
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No entanto, explica Godoy, muitas vezes o chamado “critério” era falho. Houve muitos casos de tortura e morte para inocentes. “Existem diversos relatos de pessoas que chegaram ao DOI-Codi na condição de testemunha, por exemplo, e acabaram sendo torturados. Outros também tiveram a placa do carro confundida pelos militares e foram levados para tortura no DOI-Codi”, relata.
Relatório da CNV: Operação Condor usou esquadrões da morte para assassinar opositores Maioria dos norte-americanos apoia tortura para impedir atentados, revela pesquisa ‘Estava na cadeira do dragão quando o torturador se masturbou e jogou esperma em mim’, relata ex-presa política da ditadura A estratégia do DOI-Codi De acordo com Marcelo Godoy, influenciados pela Doutrina Revolucionária de Guerra francesa, os oficiais do DOI-Codi acreditavam que estavam em uma verdadeira guerra contra os movimentos de resistência à ditadura.
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“Para os militares, a consequência óbvia da guerra era matar o inimigo. A estratégia dos militares era, primeiro, combater a ameaça, usando a tortura como instrumento para conseguir informações. Além disso, a guerra deveria ser combatida em sigilo e, por último, utilizar uma estratégia militar para neutralizar o inimigo por meio de ações policiais, como fichário, seguir pessoas, usar infiltrados, dedos-duros, etc”, explica Godoy.
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Monumento "Tortura nunca mais", em Recife, Pernambuco
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