quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

LUTAS EM SILÊNCIO: MULHERES NEGRAS E ESCRAVAS FORAM REDUZIDAS À CONDIÇÃO DE "MÁQUINAS VIVAS"

Simone Freire Araújo Rodrigues

As mulheres negras e escravas foram reduzidas à condição de “máquinas vivas”

Dentro do contexto histórico dos séculos XVI a XIX, as mulheres negras e escravas foram reduzidas à condição de “máquinas vivas” para o trabalho, privadas de todos os direitos civis, sujeitam ao poder, ao domínio e à propriedade de outrem. A escravidão se caracterizou pela sujeição de um homem ou mulher a outrem, de forma tão completa, que não apenas a mulher negra escrava era propriedade do senhor, como sua vontade sujeita à autoridade do dono e seu trabalho podia ser obtido pela força. Ela podia ter vontades, mas não podia realizá – las.
Foram trazidas para o Brasil para ser utilizadas na grande lavoura colonial, e esta não se preocupava em prover o sustento dos produtores, mas em produzir para o mercado. O transporte dessas mulheres, da África para o Brasil era feita de forma brutal, violenta, sem respeito, pois elas eram vistas apenas como mercadorias para serem comercializadas. O sofrimento já iniciava em sua própria terra. Arrancada de sua família, de sua comunidade onde vivia levada para os portos, lá ficava à espera da lotação do navio que a levaria através do oceano. Em seguida a viagem, em condições tão terríveis que boa parte delas morria durante a mesma: daí o apelido de tumbeiros aos navios que as transportavam.
Elas eram marcadas a fogo no ombro, na coxa ou no peito, com os sinais distintos de seu proprietário ou proprietária. Logo após o embarque desciam para os porões onde, postas a ferro, ficavam amontoadas como anônimas e indistintas. A fome, a sujeira, o desconforto e a morte eram companheiros de viagens das mulheres negras e escravas. E devido ao desconforto, a falta de higiene e a falta de alimentação adequada, muitas morriam de causas variadas, porém com destaque para o escorbuto, doença causada pela falta de vitamina c.
Varias dessas mulheres eram oriundas de diversas regiões do continente africano, vieram para o Brasil com o objetivo de desempenharem todas as atividades nos engenhos, cuidavam da agricultura, da pecuária, extraíam ouro e pedras preciosas, e ainda trabalhavam no serviço doméstico. As leis brasileiras davam direito ao senhor e senhora de castiga-las.
O fato de ser mulher não as privou de sofrerem toda sorte de castigo, sempre que suas atitudes fossem julgadas inconvenientes. Foi nesse contexto que as mulheres negras, a partir dos 13 de maio de 1888, passaram de escravas a mulheres livres. Passaram a viver uma nova situação: o desemprego, a prostituição e a marginalidade. Durante três séculos, as mulheres negras foram feitas escravas no Brasil. A trajetória delas da África até aqui foi marcada pôr diversas formas de violência.
Não vieram para cá porque quiseram. Não passaram pelo sofrimento e pela humilhação de serem tratadas como animais porque assim a preferiram. Não deixaram de ser livre porque era o melhor para elas. Não receberam chicotadas porque gostavam, mas porque resistiram. Foi, pôr fim, jogadas à liberdade. Mas que liberdade foi essa? O que mudou de lá para cá? Será que não mudou apenas a forma de opressão? Atualmente a realidade da mulher negra em comparação com a vida que levou no período colonial é outra.
No passado, elas viviam submetidas ao trabalho duro, castigos e grande violência. Com o fim da escravidão, elas tornaram-se livres dos jugos impostos pelo senhor, mas não conseguiu livrar das péssimas condições de trabalho e baixa remuneração pelas quais passaram. Este artigo procurou contribuir para o repensar da participação da mulher negra escrava na construção de nossa sociedade, valorizando a memória dessas mulheres que ao longo de nossa história lutaram pôr uma sociedade mais livre, fraterna e igualitária.
Onde as mulheres negras e os homens negros possam ser livres para exercer a igualdade com diferenças.
Simone Freire Araújo Rodrigues, é professora de história, pós-graduada em história leciona no CEJA Marechal Rondon, em Jaciara/MT.


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