quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

METAMORFOSES DE JAMES JOYCE

REVISTA CULT
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A cada releitura, sua obra suscita novas discussões e descobertas

Fabio Akcelrud Durão
James Joyce não é um clássico – se você entender o termo em seu sentido usual, significando algo dotado de notável constância, possuidor de uma verdade eterna, atemporal e universal. Os textos de James Joyce não são clássicos, quando se imagina com isso que pertenceriam a uma galeria de grandes obras intocáveis e dignas da maior reverência, possuidoras cada uma de um sentido que seria importante preservar e difundir. A verdade é o justo oposto: Joyce só vale a pena ser lido e interpretado enquanto for capaz de suscitar questões e se mostrar como instrumento de descoberta: enquanto sua obra não for igual a si mesma. Este dossiê traz quatro exemplos disso.
No primeiro texto, Caetano Galindo aceitou o desafio de tentar responder à pergunta que fiz a ele: “afinal de contas, o que é o Finnegans Wake?”. Ele salienta que o Wake é mais do que um livro, é um mito. Robert Brazeau confronta a crise na qual Ulysses nos coloca, e ainda que defenda um certo tipo de esquecimento – fazer “como se” não tivéssemos lido o romance – ele deixa entrever a postura oposta, o desconforto de quem insiste em usar Ulysses como medida para todas as narrativas. Omar Rodovalho, por sua vez, faz uma apreciação crítica da tradução de Galindo desse épico moderno, o acontecimento literário de 2012. Apontando para a genialidade do texto, não deixa de mencionar algumas insuficiências (inevitáveis!) nessa obra que enriquece a literatura brasileira. Finalmente, Jonathan Goldman sublinha o quanto a ficção de Joyce não apenas é permeada de elementos da cultura popular, mas também o quanto esta apropriou-se dela. O artigo levanta um problema que não soluciona (nem poderia): se as referências ao modernista irlandês são uma mera estratégia de obtenção de prestígio, ou se abolem a divisão entre alta e baixa cultura.
Em todos os textos deste dossiê, o objetivo é fazer pensar sobre uma obra que pede exatamente isto: que façamos algo com ela.
Fabio Akcelrud Durão é professor de Teoria Literária na Unicamp e autor de Teoria (Literária) Americana e Modernismo e Coerência: Quatro Capítulos de uma Estética Negativa, entre outros

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