A partir desta semana, João Paulo Cunha será articulista permanente do Brasil de Fato. Jornalista de longa estrada, autor de livros e editor por 18 anos do Estado de Minas saiu do jornal, em dezembro de 2014, por ter sido proibido de escrever sobre política.
Por João Paulo Cunha
O início de todo governo é um misto de ações substantivas e inclinações simbólicas. A vitória nas urnas precisa se traduzir ao mesmo tempo como um gesto universal – afinal de contas, governa-se para todos – e um projeto que explicite em atitudes transparentes a singularidade da gestão.
Neste sentido, é preciso localizar nos novos governos, do estado e do país, elementos que demonstrem de forma inequívoca seus propósitos políticos. Não basta apenas aprovar um plano nas urnas, é preciso torná-lo vivo na prática político-administrativa e na consagração das prioridades. O que fazer e como fazer.
No campo da gestão, no caso de governos chancelados pela inspiração popular, a maior expectativa é sempre a ampliação da participação social. Esta tem sido uma bandeira de difícil realização. Tudo na administração pública parece compor com a burocratização, com a centralização, com o discurso pretensamente técnico (que esconde interesses políticos) e com o autoritarismo.
Além da inclinação do Estado em direção às políticas participativas e ao fortalecimento da democracia direta em conselhos e orçamentos participativos, é preciso que haja um engajamento decidido dos movimentos sociais. O novo cenário de participação nunca será construído com concessões, mas com avanços reais do patrimônio de politização e articulação social. O chamado para o diálogo, como se sabe, sofrerá sempre a oposição das forças conservadoras capitaneadas pela grande imprensa e pelos partidos fisiológicos.
No que diz respeito às ações de governo, vive-se hoje a necessidade de um avanço além da mera inclusão, evoluindo para um cenário mais sustentável de distribuição de renda e poder por meio de serviços de qualidade. Nesse aspecto, a área da educação ganha um papel destacado. A melhoria da educação pública em todos os níveis é uma bandeira capaz de dar sentido de civilização a um tempo histórico. Ao lado, é claro, do investimento nas outras políticas sociais. A educação, no entanto, tem um papel precursor.
O cumprimento do piso salarial dos professores é mais que um compromisso de campanha em Minas. É índice político de um governo que precisa afirmar rapidamente e de forma inequívoca de onde veio. Mas – e isso talvez seja o mais importante – não se trata apenas de aumentar o salário do professor. A prioridade em educação precisa trazer com ela, além dos elementos quantitativos, o sentido mesmo da educação pública para a sociedade.
O momento agora é de mergulhar na missão educacional, na qualidade do ensino, na atualização dos conteúdos frente ao novo cenário tecnológico, na ampliação do tempo de escolaridade, na humanização que alimente todo o processo de uma dimensão que vá além do treinamento para o mercado. Minas Gerais tem história rica na educação libertária e comprometida com o humanismo, que precisa ser retomada.
Outros desafios sociais já fazem fila para cobrar sua extensa dívida. Mesmo que ronde, capitaneado pelos interesses rentistas do capital internacional e especulativo, a obsessão pelos ajustes e pela redução da distribuição de renda. A roda da história precisa ser puxada pela aposta no nosso maior patrimônio: as pessoas.
A indicação de um caminho que valorize e institucionalize participação popular e a ênfase na educação em toda sua potência é um aceno no sentido mais humano da política. Esse movimento, é sempre bom lembrar, tem história e não admite contramarchas. Educar é sempre educar para a política.
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