terça-feira, 20 de janeiro de 2015

LIDERANÇA FEMININA NA ÁFRICA



TEXTO: Redação | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Nadine Gordiner, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura | FOTO: Divulgação
Elas são cerca de 500 milhões, espalhadas pelos 54 países que formam o continente africano. Em diversas áreas, enfrentam, com coragem e sensibilidade, problemas cotidianos que atingem a todos que vivem por lá, homens inclusive. São o esteio de culturas ancestrais, que desejam seguir em frente e se modernizar, com paz, justiça social, desenvolvimento econômico e educação. A política, a vida em comunidade, o comércio, a paz (e a falta dela em muitos casos recentes) têm como principal base de sustentação as mulheres, que se orgulham em lutar para defender seus países e comunidades. Elas, de forma silenciosa, porém verdadeira, estão escrevendo um novo capítulo na trajetória africana.

A história de vida destas mulheres é o fio que conduz o documentário Mulheres Africanas – a Rede Invisível. O filme centra os depoimentos em cinco mulheres de grande representatividade em seus países: a moçambicana e ativista política Graça Machel; a liberiana Leymah Gbowee, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2011; a tanzaniana Sara Masari, empresária; Luisa Diogo, ex-primeira-ministra de Moçambique; e a sul-africana Nadine Gordiner, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura (1991). Porém, mais do que traçar um perfil destas importantes figuras, o documentário usa a visível trajetória delas para traçar um panorama da atuação de milhões de mulheres que, mesmo anonimamente, fazem a diferença. É como se todas elas pudessem falar por meio da voz de Graça, Leymah, Sara, Luisa e Nadine. A ideia de contar esta história partiu da produtora pernambucana Monica Monteiro, uma apaixonada pela riqueza da cultura e do povo africano que, desde 2007, desenvolve trabalhos com emissoras de TV em Moçambique e outros países da região. Ela conta que ao conhecer mais o continente e suas características ficou impressionada com a importância da mulher naquela sociedade. “A gente escolheu cinco mulheres e queríamos mostrar como elas chegaram ao patamar em que estão. São poucas vozes femininas no mundo, não apenas na África.” E para esta missão,Mônica convidou o cineasta Carlos Nascimbeni, responsável pela edição e pelo roteiro do documentário. “Quando cheguei, levei um choque porque a África que eu imaginava era outra. Passada a crise inicial, comecei a compreender a vida em comunidade, as semelhanças com o Brasil. Entrei em um processo de entender esse universo que é muito diferente daquele que estamos condicionados a perceber. Foi um grande aprendizado”, contou ele.

Mônica afirma que também aprende a todo momento: “A África me deu muito mais do que eu poderei dar a ela. Ela me ensinou a ser solidária, a ser generosa. Eu aprendo a cada dia com o povo africano. Quero que o documentário possa contribuir na multiplicação dessas vozes e que inspire as mulheres a transformarem o meio onde vivem”, deseja Mônica.

Com uma narrativa contada pela atriz Zezé Motta, o documentário, de forma sensível, mostra as distintas nuances que formam a África hoje, algo que transcende o estereótipo da África selvagem, pobre e violenta. Por meio da história destas cinco mulheres, o filme fala de um continente diverso, com características, culturas, religiões, comidas e hábitos que diferem de país para país, mas que em comum têm a força e a determinação da mulher, que, nas palavras da moçambicana Luisa Diogo “sustenta metade do céu”. Impossível não se deliciar com a história, contada por ela, de seus avós. O avô, grande líder comunitário em sua aldeia em Moçambique, aconselhava a todos que o procuravam. Porém, os problemas mais graves ficavam para serem opinados no dia seguinte. Isso porque quem os resolvia, de fato, era a avó de Luisa. Ela sim, a grande conselheira da aldeia.

Difícil também não se emocionar com o relato da guerra na Libéria feito por Leymah Gbowee, que liderou um movimento pacífico que culminou com o fim do conflito armado no país. “O que Martin Luther King, Gandhi e Nelson Mandela fizeram, as mulheres africanas fazem todos os dias em suas comunidades. E isso deve ser celebrado. Somos poderosas”, diz ela no filme. A importância da educação neste processo de visibilidade das mulheres fica bem nítida nos depoimentos, principalmente no de Graça Marchel. As africanas estão estudando mais, mas é preciso confrontar as tradições e os ritos, não para que elas se acabem, mas que se transformem para que não sejam elementos que impeçam as mulheres, em sua fase adolescente, de seguirem estudando.

Mulheres Africanas – A rede invisível é uma produção estritamente pertinente. Um filme que, além de visto, deve ser sentido porque comprova que o berço da humanidade pode ser também o futuro dela. Coragem e determinação para que isso aconteça, os milhões de guerreiras africanas têm de sobra. 

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