Crise leva populismo na América do Sul a limite, diz FT
Editorial do jornal britânico diz que bons ventos da alta das commodities beneficiou que governos de esquerda se mantivessem no poder
Para jornal, situação econômica favoreceu governos de esquerda (Paulo Whitaker/ Reuters)
O jornal britânico Financial Times acredita que o efeito político da desaceleração econômica que atinge os países sul-americanos pode ser mais duradouro que o impacto econômico. Em editorial publicado na edição desta segunda-feira, o veículo afirma que a desaceleração da economia "agora está atingindo outros emergentes, sobretudo na América do Sul. "Os efeitos políticos da desaceleração podem ser mais duradouros que os econômicos. A maré rosa pode começar a retroceder", diz o texto, afirmando que o "populismo encontrou seus limites" na região e "decisões difíceis já não podem ser disfarçadas".
O editorial lembra que a América do Sul desfrutou uma década de bonança com o boom das commodities, que começou em 2003. A região foi amplamente beneficiada pelo aumento de preços de commodities, como o petróleo, soja e cobre. "O balanço de pagamentos alcançou o superávit, permitindo maiores importações. A entrada de capital fomentou o auge do crédito. As receitas dos governos também dispararam, assim como o gasto social do estado", diz o texto.
Para o jornal, "é por isso que os partidos de esquerda continuaram a ganhar eleições em países tão diversos como a Argentina, Brasil, Equador e Venezuela", ao comentar que essa esquerda oferecia a proposta de um estado com um "capitalismo ao estilo chinês no lugar da variante anglo-saxã em crise". Esse modelo, porém, tinha um "toque local", "que prioriza o consumo sobre o investimento".
"Trata-se de um enfoque politicamente eficaz", diz o editorial, que critica, porém, que esse modelo não atentava para a eficiência. "Alguns países como Chile, Colômbia e Peru mantiveram o ritmo de reformas e, inclusive, de guardar as receitas extraordinárias", diz o texto, que comenta que o grupo fez o contraponto político no tema. O FT reconhece, sem citar nomes, que alguns países estão tentando retornar ao pragmatismo, "mas não à ortodoxia". "O populismo encontrou seus limites. Decisões difíceis já não podem ser disfarçadas", diz o texto.
Eleições 2014 — "No Brasil, o Partido dos Trabalhadores governou o país com grande êxito desde o ano de 2003. No entanto, após os recentes protestos e a desaceleração da economia, já não é tão certa a ideia de que Dilma Rousseff vai ganhar as eleições do próximo ano. Ela tem que recuperar a confiança na economia e no investimento privado. Ela cortou gastos, deu liberdade ao Banco Central para combater a inflação e aumentou o retorno ao investidor do programa de infraestrutura no Brasil", diz o editorial
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