| 23 AGOSTO 2013
ARTIGOS - CONSERVADORISMO
ARTIGOS - CONSERVADORISMO
A quantidade de ditos conservadores que se empenha na criação de grupelhos virtuais para despejarem ali toda a sua justa indignação é muitíssimo superior àquela de pessoas que tem verdadeira preocupação em estudar os problemas brasileiros.
Para qualquer pessoa que tenha mais de dois neurônios em bom funcionamento e os utilize com alguma freqüência, não é nenhuma novidade saber que qualquer um que ouse adotar uma opinião contrária aomainstream sofre na carne – às vezes, literalmente – as conseqüências de tal ousadia. O patrulhamento ideológico, que se generalizou naquilo que convém chamar de “politicamente correto”, é exercido diuturnamente em todas as esferas da vida humana, de sorte que, hoje em dia, é praticamente impossível não ser lembrado de que algumas opiniões e posturas devem ser convenientemente trancafiadas num cofre e lançadas no fundo do mar em nome do bom-mocismo.
No entanto, por mais que grupelhos alinhados ideologicamente com as gangues mais sangrentas do pedaço – não importa se nunca promoveram, realmente, um derramamentozinho de sangue: o fato de Hobsbawm ter apoiado os massacres stalinistas sem nunca ter tomado parte deles fazia do ilustríssimo historiador, na melhor das hipóteses, um genocida potencial – reinem em nossa vida cotidiana quase sem serem questionados, não são esses grupelhos, ou as respectivas gangues originárias, muito menos a massa informe de inocentes (ou idiotas) úteis por eles cooptada, que representam o real perigo para os conservadores. O maior perigo para os conservadores são... eles mesmos. Não que haja algum problema intrínseco ao fato de ser conservador, evidentemente. No entanto, há sim um problema em ser (ou em se dizer) conservador em um lugar como o nosso Brasil varonil. Na verdade, há três problemas principais, e todos eles estão relacionados aos próprios conservadores.
O primeiro problema é o ativismo estéril. Existe uma certa ânsia muito típica do brasileiro em suprir uma curiosa necessidade existencial: sentir que está fazendo alguma coisa útil quando, no fim das contas, trata-se apenas de muito barulho por nada. Um exemplo muito curioso disso é o último fetiche tupiniquim: os protestos-que-começam-pacíficos-mas-sempre-terminam-em-quebradeira. Levados por uma vontade incontrolável de preencherem suas existências vazias e sacudirem a letargia da rotina, uma verdadeira manada de gente bisonha acorreu (continua fazendo-o) para as ruas sob a ilusão pueril de estar mudando o Brasil. Isso já era esperado – volto aqui a me referir às pessoas que usam seus dois neurônios, que fique claro. O que é realmente de impressionar é que alguns ditos conservadores – para não me referir a outros setores da “direita”, essa coisa que, exceto a intelligentsia, ninguém sabe o que é – compraram a idéia de que os protestos fossem um indício de que o “gigante” tivesse “acordado” e apoiassem essas vergonhosas exibições públicas de vadiagem e indigência mental.
O primeiro problema é o ativismo estéril. Existe uma certa ânsia muito típica do brasileiro em suprir uma curiosa necessidade existencial: sentir que está fazendo alguma coisa útil quando, no fim das contas, trata-se apenas de muito barulho por nada. Um exemplo muito curioso disso é o último fetiche tupiniquim: os protestos-que-começam-pacíficos-mas-sempre-terminam-em-quebradeira. Levados por uma vontade incontrolável de preencherem suas existências vazias e sacudirem a letargia da rotina, uma verdadeira manada de gente bisonha acorreu (continua fazendo-o) para as ruas sob a ilusão pueril de estar mudando o Brasil. Isso já era esperado – volto aqui a me referir às pessoas que usam seus dois neurônios, que fique claro. O que é realmente de impressionar é que alguns ditos conservadores – para não me referir a outros setores da “direita”, essa coisa que, exceto a intelligentsia, ninguém sabe o que é – compraram a idéia de que os protestos fossem um indício de que o “gigante” tivesse “acordado” e apoiassem essas vergonhosas exibições públicas de vadiagem e indigência mental.
O segundo problema é a tentação de emular os revolucionários. E sejamos francos: alguns ditos conservadores de redes sociais (e que, pelo visto, não fazem mais nada da vida além de fuçar em redes sociais) chegam à beira do ridículo em seu esmero para macaquear trejeitos, jargões e conceitos praticamente imortalizados pela caterva marxista. Chega-se ao absurdo de se imitar até mesmo a generalizada burrice das mais novas gerações da esquerdalha, que, ao contrário dos velhos comunistas ortodoxos e dos primeiros gramscianos, não se preocupam em ler sequer as obras revolucionárias básicas. Não há, por parte dessas pessoas, nenhum tipo de esforço, por menor que seja, em tentar compreender as origens da situação periclitante em que vivemos, nem sinal de que entendam que, antes de mudar uma situação, é preciso conhecê-la bem.
O terceiro problema é, na minha humilde opinião, o pior de todos: a covardia. Enquanto o ativismo e a macaquice podem ser controlados a contento com um bom choque de realidade – meia dúzia de palavrões pedagógicos no melhor estilo Olavão, por exemplo – e doses periódicas de vida intelectual, a covardia é um mal mais ou menos profundo e arraigado que representa o sucesso prático da doutrinação e da patrulha. E por que ele é o pior dos três problemas? Porque ele significa que o dito conservador desiste de antemão de fazer o certo e reconhece a inevitabilidade de seu fracasso. A covardia do dito conservador brasileiro é a assunção, tácita ou não, de que não adianta nada tentar resistir ao tsunami vermelho que tem devastado o País há décadas, que lutar pelos valores basilares da civilização – luta que só encontra seu real começo na observação, análise e compreensão da nossa realidade – é inócuo, que a guerra cultural já está perdida e só nos resta uma “retirada honrosa”. Há quem chame isso de prudência. Eu chamo isso de pusilanimidade, fraqueza, poltroneria, frouxidão.
A quantidade de ditos conservadores que se empenha na criação de grupelhos virtuais para despejarem ali toda a sua justa indignação é muitíssimo superior àquela de pessoas que tem verdadeira preocupação em estudar os problemas brasileiros, compreendendo suas origens, seu desenvolvimento e, coeteris paribus, seus possíveis desdobramentos futuros. Menor ainda é o número de pessoas que, investidos dessa preocupação, resolvem romper a ensurdecedora espiral do silêncio e se arriscam de diversas formas para poder ajudar outros a compreenderem onde estamos, porque tudo chegou a esse ponto e como podemos mudar. Essas pessoas têm dedicado um bom pedaço de suas vidas – não raro, toda sua existência – a fazer com que se rompa a hegemonia ideológica e cultural perversa sob a qual vivemos, não em troca de qualquer prêmio ou recompensa, mas movidas por basicamente um sentimento: a defesa da verdade.
O pior que podemos fazer com essas pessoas é idolatrá-las como se fossem gurus iluminados, seres míticos que ousaram roubar o fogo dos deuses em benefício de nós, meros mortais. É exatamente isso o que a caterva revolucionária faz com seus falsos profetas, prestando a essas figuras sinistras um culto que em quase nada deve ao sacrifício de Moloch. Um legítimo conservador não se presta a nenhum culto de personalidade; ele sabe que a melhor maneira de honrar essas pessoas que admira é ler seus trabalhos, ouvir suas palestras, divulgar sua produção intelectual e, a exemplo deles, também alcançar um nível de compreensão da realidade que lhe permita, dentro de seu pequeno raio de atuação, resgatar outras pessoas da espiral do silêncio.
Enquanto não abandonar seu ativismo, sua macaquice e, sobretudo, sua covardia, o dito conservador brasileiro continuará a ser o que sempre foi: carne para o moedor revolucionário. Ao contrário dos outros, será um pedaço de carne consciente de que está a caminho do triturador e que, em grande medida, aceitou isso como seu destino inexorável.
Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UnB.
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