sexta-feira, 23 de agosto de 2013

RACISMO NO BRASIL NÃO É VELADO


Quem acha que o racismo no Brasil é velado está muito enganado. Esta semana eu estava na aula de pintura e foi entregue pelo professos a uma das senhoras, uma obra para ser feita a releitura na tela. A senhora devolveu dizendo: "Não quero pintar essa negrinha não.". O professor que é muito educado olhou prá mim, riu e pegou o material que ela estava devolvendo com a crítica. Não respondi porque achei pequeno demais, mas de imediato pensei o quanto o racismo está presente desde as pequenas cidades como esta que estou morando agora aos grandes centros e às instituições de ensinosejam elas quais forem, na USP e por aí vai.

Acho que vou embora...




Postado em: 5 jun 2013 às 14:57

Professora negra, nascida em Salvador e que atualmente mora em Bremen, revela de modo impecável como são diferentes as maneiras de encarar, debater e lidar com o racismo aqui no Brasil e na Alemanha

Por Cris Oliveira*
“Como você lida com o racismo lá?” Essa era a pergunta que eu mais tive de responder ao voltar ao Brasil depois de meu primeiro ano de Alemanha. A minha resposta, que na época surpreendia à todos – inclusive a mim mesma, era sempre :”Nunca tive de lidar com racismo lá”. Deixa eu explicar direito o porque de minha surpresa e de minha resposta.
Há onze anos eu tinha acabado de terminar a faculdade e queria ter uma experiência no exterior antes de cair de cabeça no mercado de trabalho e de ter de me assumir adulta de uma vez por todas. Como professora de inglês, minha primeira escolha tinha sido a Inglaterra, mas como as coisas graças à Deus nem sempre saem do jeito que a gente planeja, eu acabei conhecendo uma pessoa maravilhosa, que é a tampa de meu balaio, com quem eu decidi dividir minha vida. E ele morava na Alemanha. Resolvi fazer uma pequena adaptação nos meus planos e mudei o destino de minha minha viagem. O amor enche a gente de coragem pra fazer meio mundo de maluquice, mas no fundo, na época eu estava morrendo de medo do que iria encontrar aqui. É que naquele tempo eu não sabia quase nada sobre a Alemanha e o que sabia vinha de livros de história, ou seja, um passado macabro e sangrento. Quando não era isso era uma notícia aqui outra ali, no geral bem limitadinhas e estereotipadas do tipo Oktoberfest e neonazistas. Claro que eu tive medo e claro que estava tensa a respeito do que me esperava.
Quando cheguei o que me impressionou foi perceber o quanto a imagem que se vende deste país é equivocada. Aqui tem sim Oktoberfest e neonazistas. Tem uma série de outros problemas e preconceitos também contra a mulher e contra estrangeiros além de ainda terem dificuldade em lidar com todas as questões que a multiculturalidade traz consigo. A diferença é que os limitados e racistas daqui se escondem muito bem, e quando se mostram, são muito bem punidos. A sociedade debate constantemente sobre a intolerância e a mídia não dá trégua sobre esse tema. As pessoas no geral são cuidadosas com essas questões, são cautelosas nas escolhas das palavras quando não tem certeza se certo termo pode ser ofensivo e pedem desculpas imediatamente quando, sem querer, ofendem. Eu já passei por várias situações em que a pessoa com quem eu estava falando dizia alguma coisa sobre o cabelo ou cor da pele de alguém e logo em seguida me falava “Desculpa que eu falei assim, não sei se isso ofende. Como é o certo?” Eu sempre me emociono em situações como essas porque nelas eu vejo seres humanos, que apesar de não sofrerem a mesma dor do outro, mostram empatia, humildade e vontade de mudar para o bem estar geral.
Teve uma vez que eu estava em um trem e um outro passageiro estava muito incomodado com minha presença. Não estava entendendo bem qual era o problema dele comigo até que ele fez um comentário racista se referindo a mim. Me levantei com a intenção de dizer umas poucas e boas a ele, mas antes de poder abrir minha boca, TODOS os passageiros do vagão (umas 15 pessoas ) se revoltaram e tomaram a frente, discutindo com ele de uma forma que me surpreendeu. A estória terminou com uma mulher que exigia que ele se desculpasse comigo e como ele se recusou os demais passageiros chamaram a polícia. Quem me conhece sabe que eu choro por tudo e claro que chorei no meio daquele fuzuê. Os passageiros me consolavam achando que minhas lágrimas eram por ter sido vítima de racismo. Mal sabiam eles que eram lágrimas de emoção por causa da reação deles. Foi um sentimento muito especial me ver sendo defendida e aparada por um grupo de pessoas desconhecidas. Fiquei pensando que todas elas eram muito diferentes, mas que uma coisa tinham em comum: o senso de justiça e a certeza de que um problema social é um problema de cada um deles. Cada um resolveu por si só levantar a voz e no final das contas eles formavam um grupo que se indignava com o comportamento racista do homem que me ofendeu. Vários passageiros me pediram desculpas depois da confusão. Um senhor me disse “Não deixe esse idiota interferir no que você veio fazer aqui, não. Aqui tem muita coisa boa.” Essa atitude com certeza é uma delas.
cris oliveira racismo
*Cris Oliveira é mestra em linguística e professora de inglês (Foto: Blogueiras Negras)
Não são somente as pessoas à caminho do trabalho nos transportes públicos, que se preocupam em mudar a percepção de alguns de que a Alemanha é um país injusto. O governo daqui também investe constantemente em medidas sócio-educativas e reparadoras. Aqui existe cota pra mulher, estrangeiros, portadores de deficiência. Tem benefício pra quem tem filho na escola, pra quem é estudante universitário, pra ajudar a pagar o aluguel, pra ajudar a pagar atividades culturais e educativas se a família tem filho, pra comprar livros, pra comprar remédios e por aí vai. Judeus tem direito de imigrar pra cá sem a burocracia que pessoas de outras confissões enfrentam. A sociedade entende que isso tudo é normal. É raro ver alguém questionando essas medidas. Mesmo os alemães medianos parecem entender que se houve um erro histórico, uma retratação é inevitável. Se existe discrepância social, todo mundo sai perdendo então é melhor ter menos pra ter mais, dividir pra que ninguém deixe de ter. Infelizmente eu percebo que as coisas andam piorando aqui também, mas o povo questiona tudo sem parar e isso atrasa as mudanças negativas, o que é bom
Aí eu fico pensando no Brasil e de como a gente se orgulha de dizer que somos o país mais tolerante do mundo. A gente se interessa em saber como é a questão do racismo em outras partes do mundo e adora ficar repetindo essa de que somos um povo que não sabe o que é racismo porque é todo mundo misturado. Pra muita gente no Brasil, ativista de movimento negro é paranóico e ações afirmativas é racismo às avessas. Tem um monte de gente que fala como se tivessem sido pessoalmente ofendidas com toda e qualquer iniciativa que busca melhorar a situação social de um grupo que não goza dos mesmo benefícios que o resto da sociedade.
Me choca o fato de que em Salvador, cidade onde eu nasci, apesar de mais de cinquenta por cento da população ser negra, ainda é possível ser a única negra no restaurante, na aula de ballet, na sala de espera de consultório chique, na sala dos professores da escola particular. Fico especialmente triste quando eu percebo que muita gente passa a vida inteira sem nem se dar conta dessas coisas, achando super normal que outros tenham a vida mais difícil que a sua baseado em um detalhe que não se pode escolher, como gênero, cor da pele, origem. Infelizmente, em nosso país tem gente que acha que quem sofre discriminação deve sofrer calado, sem questionar nada, sem exigir mudanças. Deixa quieto que assim tá bom. Pra alguns.
Hoje em dia quando volto ao Brasil e alguém me pergunta como lido com o racismo aqui, minha resposta passou a ser “muito melhor do que eu lido com ele no Brasil”. Aqui se entende que discutir e questionar os preconceitos é trocar idéias e evoluir, já em meu país quem é engajado em alguma causa tem sempre de primeiro explicar que não é nem paranóico nem radical. É triste, mas na verdade sabem como é que eu lido mesmo com o racismo aqui? Guardando minhas forças pra enfrentar ele quando chego em meu país.
Publicado originalmente em Blogueiras Negras Edição: Pragmatismo Politico

MANEQUIM DE CRIANÇA NEGRA ACORRENTADA

Estátua de um manequim negro com os pés acorrentados, instalada na unidade do supermercado Pão de Açúcar, no bairro da Vila Romana, em São Paulo, está causando revolta nas redes sociais desde o dia 19 de agosto.

A comunidade negra se sentiu ofendida e considerou de extremo mau gosto a imagem de uma criança negra sendo utilizada para “decorar” a área destinada a produtos de panificação do supermercado. A foto foi publicada no perfil Mundo Negro, gerando uma enxurrada de comentários indignados.

Entre as razões para a revolta, a imagem da criança negra carregando um pesado cesto de pães faz apologia ao trabalho infantil, “já que o cesto é de proporções incompatíveis à estatura da criança e seria um sacrifício seja pelo tamanho ou pelo peso para ser carregado”, afirma o perfil.

Além disso, revotou a inclusão de grilhões no pé da criança, remetendo à escravidão, além da infeliz escolha, por usar uma criança negra nestas condições como objeto de decoração em uma área de grande circulação do supermercado.

Fonte : http://www.folhasocial.com/2013/08/manequim-negro-acorrentado-no-pao-de.html

Curta Difusão Mental
Adm. Alan Martins



















Postado em: 22 ago 2013 às 10:30

Estudante teria sido espancado por time de basquete da Escola Politécnica. Testemunhas relatam que seguranças ficaram apenas olhando. Vítima diz que agressão foi motivada por racismo

politécnica usp racismo estudante espancado
Denúncia: estudante caboverdiano é agredido por grupo de alunos da Politécnica na USP
O estudante de música da USP, Wadmir Barros, conhecido como Wadi, de 24 anos, foi espancado por jogadores do time de basquete da Escola Politécnica no dia 12 de agosto, nas dependências do Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP). A vítima afirma que a agressão foi motivada por racismo por ele ser de Cabo Verde.
Segundo relato de Wadi, ele estava treinando sozinho na quadra 1 do Cepeusp quando a equipe de basquete da Politécnica chegou e exigiu a sua retirada. Alegando que tinha chegado primeiro, o estudante de música negou-se a retirar e propôs a divisão da quadra, proposta que não foi aceita pelos alunos da Poli.
No meio da discussão acalorada, um dos jogadores do time de basquete chutou a bola para fora da quadra. Nervoso, Wadi revidou chutando o rapaz e foi agredido por vários outros jogadores que partiram para cima dele com socos e pontapés.
Testemunhas disseram que os seguranças do Cepeusp apenas ficaram olhando e nada fizeram. Segundo Wadi que os questionou sobre este comportamento, eles disseram que não podiam fazer nada porque eram muitos.
O estudante de música passou por exames no Hospital Universitário e foi medicado.



Uma semana depois, no dia 19, cerca de 25 estudantes negros da universidade fizeram um protesto na quadra, impedindo o time de basquete da Politécnica de treinar e exigindo uma retratação formal da direção da Atlética da faculdade. Na nota de retratação redigida manualmente na quadra, a direção da Atlética diz que Wadi tentou agredir um dos jogadores mas reconheceu que seus jogadores o agrediram em grupo.
Durante o protesto, a Guarda Universitária e os vigilantes do Cepeusp foram chamados para exigir a saída dos manifestantes. Tiago Ferreira, estudante de Geografia que estava no local ficou revoltado com a postura da segurança da universidade que só agiu em benefício dos jogadores da Politécnica mas nada fez quando o estudante de Cabo Verde foi agredido.
Os seguranças do Cepeusp afirmaram que relataram o fato no Livro de Ocorrências mas que para conseguir o relato é preciso uma solicitação formal à chefia. Já a Guarda Universitária informou que registrou as duas versões do caso mas não compete a ela dar prosseguimento à ocorrência.
Nota de um estudante de Geografia da USP

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