quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O CINEMA AFRICANO

Conheça um pouco mais sobre o cinema africano na coluna escrita por Oswaldo Faustino


TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Saiba mais sobre o cinema africano | FOTO: Divulgação
A hegemonia internacional do cinema norte-americano não foi quebrada apenas pela indústria cinematográfica indiana, como se tem apregoado. Na África também são produzidos anualmente milhares de filmes, quer de ficção ou documentários, que tanto nos revelam a real história de povos e nações quanto problematizam questões contemporâneas.

Mergulhar nesse universo é possível através de várias iniciativas,como as sessões mensais promovidas pelo Cine Afro Sembène em parceria com a Cojira - Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Pouco se conhece da produção cinematográfica africana, mas o ano de 1992 foi marcado pelo lançamento de “Living in Bondage”, do cineasta nigeriano Chris Obi Rapu e que deu início à milionária indústria cinematográfica de seu país, que hoje chega a produzir 1.500 longas-metragens em um ano. Desde então, adotou-se o nome Nollywood, seguindo a pioneira Hollywood e a indiana Bollywood, ambas com um a produção anual bastante inferior em números, ainda que tecnicamente bastante superior.

Cerca de 90% dos filmes consumidos hoje na Nigéria são produzidos no próprio país, empregando milhares de profissionais, entre artistas, técnicos e diretores nigerianos. Com custo de produção geralmente baixo, a comercialização é fácil, barata e muito lucrativa, além de garantir um público consumidor fiel interessado nos novos lançamentos, não só naquele país, mas em grande parte do continente.

Mesmo sem o gigantismo do cinema de Nollywood, vários outros países da África têm significativa produção cinematográfica, diretores e artistas reconhecidos mundialmente, alguns deles migrados para os EUA e Europa. Repudiando a imagem estereotipada que cineastas ocidentais passavam em filmes sobre o continente africano, vários movimentos artísticos se desenvolveram. O curta “L’Afrique sur Seine”, produzido em Paris por estudantes africanos, em 1955, sob a direção de Paulin Soumanou Vieyra, do Daomé, é considerado um marco, apresentando um olhar de africanos sobre si próprios.
“Outros Carnavais” (2009), do cineasta, fotógrafo e jornalista Luiz Paulo Lima e “Drum – Gritos de Revolta (2004)”, de Zola Maseko | FOTOS: Divulgação
Durante as lutas anticoloniais dos anos 1960, vários documentários e filmes de ficção foram produzidos. Muitos deles ficaram proibidos nas metrópoles que os colonizavam. Foi nesse período que surgiu, no Senegal, o cineasta considerado “pai do cinema africano”, Ousmane Sembène. Depois de lançar dois curtas, obteve reconhecimento internacional com o longa “La Noire de...” (1966), sobre uma mulher africana trabalhando como doméstica em Paris. Nomes como Sembène, Med Hondo, Djibril Diop Mambéty, Souleymane Cissé, Sheik Oumar Sissokoor, Jean-Pierre Bekolo, Peter Red, Chico Maziakpono, Safi Faye, Anne-Laure Folly e Dom Pedro de Angola têm se destacado cada vez mais, e alguns já são reconhecidos diretores do Cinema da Diáspora. Dom Pedro, por exemplo, revelou em entrevista para a Revista Raça que seu grande sonho era ter filmado em parceria com o diretor brasileiro Zózimo Bulbul, falecido no ano passado.

A ausência total de filmes africanos, tanto nas salas de exibição quanto na televisão brasileira, estimulou os integrantes do Fórum África, Vanderli Salatiel, Saddo Ag Almouloud e Oubí Inaê Kibuko a criarem, em 2008, o Cine Afro Sembène, um cineclube voltado a esta cinematografia. Hoje, em parceria com a Cojira/SP, realizam sessões mensais, no terceiro sábado de cada mês, no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Além de um longa africano, todo mês é apresentado também um curta de diretor ou diretora afrodescendente. Após a sessão, acontece um debate com especialistas. No mês de março último, em homenagem ao Dia internacional da Mulher, foi exibido o filme “Domitilla” (1996), do nigeriano Zeb Ejiro, um dos mais bem-sucedidos diretores de Nollywood.

O filme é um drama sobre uma jovem que, além de trabalhar muito, é obrigada a se prostituir. O debate foi coordenado pela pesquisadora afro-americana Kamahra Ewing, doutoranda em Filosofia, Artes Visuais e Mídia, Estudos Afro-americanos e Africanos pela Michigan State University.

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