Evandro Venicio
A Terceira Onda: Um Experimento
Em Psicologia, Em Sociologia
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Durante a primeira
semana de 1967, o professor de história Ron Jones iniciou um experimento
prático para demonstrar à classe de História Contemporânea de Cubberley
High School, na California, como se dá a organização de um movimento
como o nazismo. A motivação surgiu numa discussão entre seus alunos a
respeito de como os nazistas puderam chegar no poder, assim como
sustentar para toda a nação alemã que ali se realizava algo bom. Em
contrapartida, como o povo alemão pôde ignorar as atrocidades cometidas
contra os judeus?
A primeira vista, a insanidade que envolve o nazismo parece não
conseguir se justificar em si mesmo. O movimento parece tão obscuro e
delirante que as pessoas simplesmente não conseguem entender tal
organização. O simples fato do nazismo ter sido apoiado por uma
quantidade imensa de colaboradores parece surreal.
Uma
vez, Hannah Arendt, filósofa alemã e judia, estava presente no
julgamento de um dos grandes malfeitores do nazismo, que ao ser
questionado sobre o porquê que ele participou daquelas barbáries acabou
por responder que ele só estava cumprindo ordens. A filósofa, sem
entender, afirmou: o nazismo é o maior caso de histeria coletiva da
história. Afinal, a tortura, a crueldade e o assassinato podem explicar
sua existência simplesmente através de uma obediência cega? Será que
ninguém se recusaria a cumprir ordens que atentassem contra a vida
humana?
Aparentemente, parece simples enxergar o mal por
trás do nazismo e tomar partido contra o movimento. Porém a coisa não
funciona bem assim, e foi isto que Ron Jones quis demonstrar aos seus
alunos, na impossibilidade de explicar, ao iniciar o experimento chamado
The Third Wave (Em português, a terceira onda).
Ron Jones, segundo ele diz, trouxe elementos de um grupo autocrático
para a sala de aula de modo que a partir daquele momento os alunos o
obedeceriam seguindo regras rígidas de disciplina. Seguindo um discurso
autoritário e inflamado, cujo propósito seria a obtenção de poder, os
alunos começaram a ficar empolgados com o projeto e começaram a
vivenciar em suas rotinas as regras impostas pelo professor.
Entre
as regras, eles deveriam se sentar com postura correta na sala de aula,
deveriam se levantarem para responder ou formular questionamentos,
deveriam ser sempre objetivos e direcionarem-se diante professor sempre
por Senhor Jones. Logo eles compraram o slogan “poder através da
disciplina”. Durante a semana, o professor Ron Jones fez um discurso da
importância de um grupo alinhado e de como ele seria indestrutível,
visto que é mais fácil lutar por um ideal em grupo do que sozinhos.
Sendo assim eles adicionaram um novo objetivo: poder através da união.
Então adotaram um símbolo, um cumprimento padrão, que identificava os
seus membros, e um nome: The Third Wave.
Logo a escola foi
contaminada pelo The Third Wave e alunos de outras turmas começaram a
fazer parte do grupo, que contagiava à todos por um modismo onde ninguém
queria ficar de fora. O próprio professor começou a gostar de tudo
aquilo, visto o controle e o respeito que ele tinha mediante os seus
alunos. The Third Wave começou a perder o tom de uma experiência
corriqueira e ganhar a realidade.
Precisou que um aluno o questionasse para que ele acordasse de seu
próprio feitiço: aonde estava o valor da liberdade individual de cada
um? Onde residia a identidade de cada aluno que fazia parte do grupo,
visto que todos pensavam e faziam as mesmas coisas? Onde estava a glória
em fazer parte de algo assim?
Enfim, Ron Jones planejou
como finalizar o experimento de como que eles pudessem enxergar o que
havia acontecido.
Ron Jones marcou uma reunião com todo o grupo, que havia ficado gigante
em relação ao início, e disse que o que estava acontecendo ali não era
diferente de como aconteceu no nazismo: um bando de pessoas que,
cegamente, seguia rigidamente as ordens de um ditador, excitados pelo
contágio repentino, sem questionar cada passo que era dado. Em uma menor
escala, ali estava uma representação infíma do que foi o nazismo na
Alemanha de Hitler. Era o fim da experiência.
O episódio
deu origem à um livro que romantiza a experiência, escrito pelo próprio
Ron Jones, um curtametragem de 1981 para a televisão, chamado The Wave,
do canal ABC, e um longametragem alemão chamado Die Welle. De fato, o
que temos é um episódio claro de condicionamento e lavagem cerebral,
algo que sabemos que existe mas que parece estar tão distante de nós.
O que não é verdade.
O tempo inteiro somos vítimas de um
pensamento padrozinado, principalmente pela força da mídia, que molda,
inclusive, o nosso olhar. Um dia as mulheres bonitas eram as obesas,
hoje o padrão de beleza está nas mulheres magras, ou seja, a nossa visão
é condicionada a enxergar o belo através de um discurso global. Assim
também funciona os movimentos de massa, cujos crimes são justificados
por algo maior e as pessoas acabam por se isentar das responsabilidades
da vida. Aí está a vida como ela é.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
TSF RADIO NOTICIAS A 27 de janeiro, assinalam-se 70 anos da libertação do campo de concentração de Oswiecim pelas tropas da União Soviét...
-
Recentemente, me perguntaram por que escrevo essas “coisas de preto”. Não foi só uma vez. Poderia dizer que escrevo “coisa...
-
BRASIL DE FATO Sei que protestar não muda essencialmente um quadro adverso que se vive no mundo atualmente. Mas o protesto é ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário