quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A HISTÓRIA DA MILITANTE ANGOLANA DEOLINDA RODRIGUES

Revista Raça


Saiba mais sobre a história da militante de Angola Deolinda Rodrigues contada pelo colunista Oswaldo Faustino

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: www.platinaline.com | Adaptação web: David Pereira
Busto da militante brasileira Deolinda Rodrigues | FOTO: www.platinaline.com
Raramente, ao caminharmos por uma rua ou avenida, nos indagamos sobre quem seria a pessoa homenageada com a denominação daquele logradouro. Deolinda Rodrigues foi uma poetisa, mártir da luta pela liberdade, dirigente do movimento revolucionário e uma incansável militante pelos direitos humanos, em Angola. No final da década de 1950, quando essa jovem estudante de sociologia vivia no Brasil, trocou correspondências com ninguém menos que o reverendo Martin Luther King Jr., líder da luta pelos direitos civis dos afro-americanos. O nome completo dessa heroína, nascida em 1939, em Catete, na província de Bengo, norte de Angola, era Deolinda Rodrigues Francisco de Almeida. Naqueles tempos de guerra, ela usava o pseudônimo de Langidila. Era a terceira dos cinco filhos de um casal de professores primários, religiosos metodistas.

Ao mudar-se para Luanda, viveu na casa de seu primo, o também poeta Agostinho Neto, que se tornaria o primeiro presidente de Angola. A missão evangélica concedeu-lhe uma bolsa para estudar no Instituto Metodista de Ensino Superior, em São Bernardo do Campo, região do Grande ABC, em 1959, mas ela foi extraditada, um ano e meio depois, por conta de um acordo entre nosso país e Portugal. Foi nesse período que trocou cartas com Luther King. Seguiu para Illinois, nos Estados Unidos, onde prosseguiu os estudos. Mas, antes de completá-los, retornou à África para pegar em armas contra a opressão colonial.

Foi para Guiné e depois para o Congo Kinshasa, onde ajudou a fundar a Organização da Mulher  Angolana (OMA). Líder nata, apresentava na rádio do partido o programa A voz de Angola combatente e participava dos treinamentos de guerrilha em Kabinda, onde foi selecionada para integrar o Esquadrão Kamy. Em 2 de março de 1968, ao retornar de uma missão na selva, Deolinda e quatro outras integrantes do OMA (Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Teresa Afonso) foram capturadas pelo grupo guerrilheiro adversário, o UPA (posteriormente FNLA). As cinco foram torturadas e esquartejadas vivas. Sete anos antes da independência de seu país, o 2 de Março foi consagrado Dia da Mulher Angolana. Uma carta de Martin Luther King a Deolinda, de 1959, com uma análise da situação política em Angola e conselhos daquele herói afro-americano, é um dos documentos exibidos com orgulho pelas atuais lideranças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cujo vice-presidente, o deputado Roberto de Almeida é irmão dessa poetisa mártir. Num trecho da carta, King afirma: “Seria maravilhoso regressar ao seu país com esta ideia na mente: a liberdade nunca é alcançada sem sofrimento e sacrifício. Só se conquista com trabalho persistente e incansáveis esforços de pessoas dedicadas.” Talvez esse conselho tenha sido um grande estímulo para Deolinda oferecer sua vida pela liberdade de seu povo, assim como ocorreu com o próprio Luther King.

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