sexta-feira, 27 de março de 2015

DILMA ESCOLHE EDINHO SILVA E COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA RETOMA PERFIL POLÍTICO


Resta saber se Edinho Silva vai enxergar a crise como Thomas Traumann e pregar que Dilma cave mais espaço na mídia tradicional, "não importa quantos panelaços" tenha de enfrentar
Jornal GGN - O Palácio do Planalto anunciou nesta sexta-feira (27) que Edinho Silva (PT-SP), tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma Rousseff , será o substituto do jornalista Thomas Traumann na Secretaria de Comunicação Social da Presidência, a Secom. A posse acontece na próxima segunda-feira (31), às 11h, em Brasília. Enquanto isso, o secretário-executivo Roberto Messias segue interinamente no cargo.
A notícia correu com a interpretação de que a escolha de Edinho agrada à CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente do PT que se sente fora da “cozinha do governo” desde a saída de Gilberto Carvalho. Além disso, Edinho - ex-deputado estadual, ex-prefeito de Araraquara, formado em ciências sociais - devolve à comunicação estatal um perfil mais político que técnico - o último que passou por ali sem diploma de jornalista foi Luiz Gushiken, durante o primeiro mandato de Lula. Jornalistas de grandes grupos de comunicação reprovaram publicamente o viés político da decisão (veja a repercussão abaixo).
Segundo destacou o Estadão, Edinho, que não tentou a reeleição para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2014, estava cotado para assumir a Autoridade Pública Olímpica. Mas o Planalto avaliou que ele seria rejeitado pelo Senado. Em carta publicada há algumas semanas, o petista explicou que não disputou novo mandato por escolha própria. Preferiu se dedicar à campanha de Dilma. “Esse convite foi um dos maiores reconhecimentos públicos que já obtive em toda a minha trajetória militante”, escreveu.
A grande mídia, nos últimos dias, têm publicado que a Secom não deveria ser ocupada por um petista, pois isso significa que os recursos publicitários administratos pela Pasta deixarão de irrigar os tradicionais veículos de imprensa para custear o trabalho dos “blogues alinhados com o governo”.
A herança de Traumann e o futuro da Secom
Dias antes de pedir demissão da Secom, Traumann ganhou destaque na mídia com um relatório (em anexo ao final do texto) sobre a crise que o governo Dilma atravessa nesse início de segundo mandato.
Para o jornalista, a presidente repete em 2015 os erros de 2011: rompeu com bases que lhe deram a vitória, desmontou a estrutura de comunicação da campanha e deu pouca importância ao jornalismo feito sobre sua administração. Enquanto isso, o PSDB não deixou esfriar a relação com os eleitores anti-PT.
Escreveu Trauman: “Em estimativas iniciais, a manutenção dos robôs do PSDB [mesmo após o fim da eleição], a geração de conteúdo nos sites pró-impeachment e o pagamento pelo envio de [mensagens pelo aplicativo] Whatsapp significaram um gasto de quase R$ 10 milhões entre novembro [de 2014] e março [de 2015]. Deu resultado. Em fevereiro, conseguiram atingir 80 milhões de brasileiros. As páginas do Planalto mais as do PT, 22 milhões. Ou seja, estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2.”
Para Traumann, “a comunicação é o mordomo das crises”. E em face do atual cenário de insatisfação generalizada (o ex-ministro não acredita na visão petista de que apenas a elite faz críticas à Dilma), “não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática.”
A saída, segundo o diagnóstico do jornalista, é Dilma travar mais uma batalha digital e cavar espaço na mídia tradicional, na tentativa de explicar três questões: a corrupção na Petrobras, a crise econômica e o chamado “estelionato eleitoral”. Ele também sugeriu aumentar os investimentos em publicidade na capital paulista.
Já Edinho, na carta de despedida da Alesp, demonstrou acreditar na "ofensiva articulada pelos setores conservadores da sociedade brasileira para desestabilizar" o projeto do PT. "Temos que assumir a ofensiva política", propôs. Resta saber como isso será feito.
Repercussão
Imediatamente após o anúncio da escolha de Dilma, o jornalista Josias de Souza (UOL) escreveu que "Edinho é sociólogo, não jornalista. Mas nada impede que ele recrute um profissional do ramo para lidar com os repórteres. As dúvidas que o novo ministro terá de responder são de outra ordem: pretende aplicar o orçamento de publicidade do governo segundo critérios partidários? Planeja propor alguma alteração nas leis que regem a comunicação no país?"
O representante do UOL ainda demonstrou preocupação em Edinho se propôr a "democratizar" a comunicação. "Se fizer desse tipo de pregação uma prioridade de sua gestão, o novo ministro da Comunicação tende a virar uma crise."
Já Miriam Leitão, de O Globo, sustentou que "Dilma precisava ter um bom profissional de comunicação ao seu lado, com uma visão mais técnica, menos ideológica e marqueteira, do trabalho a desempenhar. Mas conseguiu piorar a situação ao nomear seu tesoureiro de campanha com uma avaliação ainda mais equivocada do que seja a melhor comunicação presidencial."

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