BOLSA DE MULHER

por Mariana Bueno
A menina paquistanesa Malala Yousafzai é um dos grandes nomes da luta pelos direitos das mulheres. Seu engajamento fez com que ela se tornasse, aos 17 anos, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014.
Malala queria apenas que ela e suas colegas tivessem o direito de estudar, o que, em seu país, é proibido para meninas. Mesmo perseguida, ela não se calou e nem desistiu de sua luta. Mas, em outubro de 2012, quando voltava da escola, foi atingida na cabeça com um tiro à queima-roupa. A justificativa do porta-voz do talibã é que ela seria um símbolo dos infiéis e obscenidade, uma ameaça contra o Islã.

Malala discursa ao receber o Prêmio Nobel da Paz

Livros sobre Malala

Depois de um longo período de recuperação, contou sua história no livro "Eu sou Malala" (Ed. Companhia das Letras). "Minha meta ao escrever o livro era erguer a voz em nome de milhões de meninas ao redor do mundo às quais é negado o direito de ir à escola e realizar seu potencial. Espero que minha história possa inspirar as garotas a erguer suas vozes e a abraçar o poder que têm dentro de si", diz.
O tema é discutido também em outras publicações, como o livro da jornalista brasileira Adriana Carranca, que já cobriu a guerra no Paquistão e no Afesganistão e está lançando "Malala, a menina que queria ir para a escola" (Ed. Companhia das Letras). 

Direito das mulheres à educação

Para entender a luta de Malala é preciso saber, primeiro, que no Paquistão, assim como em outros países de ideologias extremistas islâmicas no Oriente Médio, as mulheres não têm os mesmos direitos que os homens. Delas, espera-se apenas que cozinhem e sirvam aos pais e irmãos. Enquanto eles podem andar livremente pela cidade, elas não têm autorização para sair de casa sem que um parente do sexo masculino as acompanhe.
Sempre com o apoio do pai, Malala diz que decidiu muito cedo que, com ela, as coisas não seriam assim, o que era quase impossível perante as leis severas que tentavam controlar desde relacionamentos até atitudes banais do dia a dia, misturando cultura e heranças religiosas para agir contra os direitos das mulheres.

História de Malala

Filha mais velha de um professor, Malala desde cedo teve o incentivo do pai para estudar. Ainda antes do nascimento da filha ele já havia fundado uma escola que recebia meninos e meninas. Como quase nunca os estudantes tinham condições de pagar uma mensalidade, a luta do pai de Malala sempre foi grande para não fechar a escola, já que a família deles também sobrevivia em condições precárias.

Com o pai, Ziauddin, seu grande incentivador
As coisas ficaram ainda mais difíceis quando o Talibã, grupo político radical, tomou controle da região onde viviam (o vale do Swat, a 160 quilômetros de Islamabad, capital do Paquistão) impondo regras rigorosas. Por várias vezes tentaram fechar a escola ou até mesmo destruí-la. "Escondíamos nossas bolsas e nossos livros sob o xale. Meu pai sempre dizia que a coisa mais bonita nas aldeias era ver as crianças usando uniformes escolares. Mas agora tínhamos medo de usá-los", conta, no livro.
Apesar disso, Malala, embora ainda muito jovem, não se calou e seguiu firme em seu ativismo. Dava entrevistas, expunha suas ideias e chegou a ganhar alguns prêmios. “Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, diz.
Depois do atentado e de um longo período entre a vida e a morte, ela foi exilada em Londres com toda a sua família. Mas sonha ainda com o dia em que poderá voltar ao seu país e viver livremente. "Acredito firmemente que retornarei. Ser arrancada de uma nação que se ama é algo que não se deseja a ninguém".