Picasso e sua arte de repúdio à guerra
“A pintura não foi feita para decorar apartamentos. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo” – teria dito Pablo Picasso referindo-se ao papel da arte na sociedade atual. A frase é particularmente marcante em relação à Guernica (1937), obra-prima do pintor e considerada um símbolo da brutalidade da guerra.
Oito desenhos preparatórios de Guernica podem ser vistos na exposição Picasso e a modernidade espanhola,no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). Estão expostas telas de Picasso e de artistas contemporâneos entre eles Salvador Dalí, Juan Gris, Jorge Oteiza, Júlio González, Miró, Rafael Barradas, Antoni Tàpies e María Blanchard. A exposição é gratuita e está aberta de 4ª a 2ª, das 9h às 21h. Local: rua Álvares Penteado, 112, metrô Sé. Até 8/6.
Contexto histórico
Por volta das 16h30, do dia 26 de abril de 1937, aviões da Legião Condor alemã, comandada pelo coronel Wolfram von Richthofen, bombardearam Guernica durante cerca de duas horas. A cidade foi inteiramente destruída e morreram cerca de 1600 pessoas, a maioria civis, mulheres e crianças. Anos depois, Herman Göering, comandante-chefe da Luftwaffe (força aérea alemã) durante seu julgamento justificou-se: “A Guerra Civil Espanhola foi uma oportunidade para experimentar minha jovem força aérea e um meio para meus homens ganharem experiência”.
Guernica foi, assim, alvo para testar as novas armas e táticas nazi-fascistas e serviu de ensaio geral para a Segunda Guerra Mundial.
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Cinco dias depois, a notícia do massacre de Guernica chegou a Paris, onde residia Picasso. Milhares de pessoas expressaram sua indignação na maior manifestação de Primeiro de Maio já ocorrida na cidade. As manchetes dos jornais mostravam fotografias da tragédia e relatos dramáticos de sobreviventes.
As fotos em preto e branco causaram profunda impressão em Picasso que, rapidamente esboçou as primeiras imagens para o mural que se chamaria Guernica. Três meses depois, Guernica foi apresentada na exposição de Paris. Inicialmente, a obra atraiu pouca atenção e muita crítica. Mas aos poucos, a tragédia imortalizada por Picasso ganhou destaque e viajou pelo mundo servindo de bandeira contra a ditadura franquista e de repúdio à guerra.
A tela estava nos Estados Unidos quando a Guerra Civil Espanhola terminou (1939). Por desejo de Picasso,Guernica ficou sob a guarda do Museu de Arte Moderna (Moma), de Nova York só devendo voltar à Espanha quando a democracia fosse restaurada no país. Só retornou à Espanha em 9 de setembro de 1981, no centenário de nascimento do pintor, já falecido então. Atualmente, Guernica está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madri.
Guernica esteve no Brasil, em 1953, durante a II Bienal de São Paulo.
Símbolos de Guernica
Há muita especulação sobre o significado das figuras de Guernica. Quando pediram a Picasso para explica-las, ele respondeu: “Não cabe ao pintor definir os símbolos. O público que olhar para a imagem deve interpretá-la como a entendem.”
Em estilo cubista, a tela mostra imagens torturadas de pessoas e animais atingidos pelo bombardeio. São figuras distorcidas e fragmentadas representando a brutalidade do ataque e a dor das vítimas.
A predominância das cores preto, azul e branco e o efeito de colagem de jornal no centro da tela fazem alusão às fotografias e matérias publicadas pela impressa na época. A tela serve, neste sentido, como uma reportagem para manter viva a lembrança da tragédia e despertar nas pessoas o repúdio à guerra.
As cores sombrias remetem, também, à morte, ao horror, ao desumano e à destruição causada pelo bombardeio.
Figuras que transmitem forte emoção de sofrimento e pavor são:
- a mãe desesperada com a criança morta aos braços,
- a cabeça decepada,
- o braço ainda empunhando uma espada partida,
- a pessoa aflita que abre a janela à procura de sobreviventes,
- a mulher esgotada se arrastando,
- a pessoa em meio às chamas erguendo os braços para o vazio.
Todos olham para o alto, de onde veio a morte das bombas incendiárias, simbolizadas pela lâmpada flamejante. Note que a lâmpada elétrica acessa é um símbolo de grande força que contrasta com a delicadeza do lampião ou candelabro de luz suave. Este, talvez, simbolize a vida em contraste com a lâmpada-bomba que representa a morte.
O cavalo e o touro, símbolos importantes da cultura espanhola, receberam muitas interpretações. O touro, imagem associada à força e a única figura da tela sem expressão de dor, provavelmente simboliza a frieza e a brutalidade do ataque fascista. Contrasta com o cavalo retorcendo-se de dor e em pânico que simbolizaria o povo inocente que se viu massacrado.
Finalmente, a margarida, delicadamente desenhada no meio inferior da tela, é um pequeno símbolo de esperança. A mesma mão que a segura empunha uma espada quebrada, representando a resistência do povo espanhol.
Veja os detalhes na galeria de imagens.
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