sábado, 9 de novembro de 2013

DARCY: "FRACASSEI EM TUDO O QUE TENTEI NA VIDA"

     

"Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei."


Maria Maia - documentarista
 
 
 
 
 
 
 
Arquivo FunDar
 
 
 
"Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil  desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu"

Filho de professora primária, tendo o pai morrido na infância, Darcy Ribeiro teve uma vida venturosa. Do menino pequeno fazendo travessuras na Montes Claros natal ao homem que enfrentou a morte  depois de mais de 20 anos de luta contra um câncer existe uma trajetória de irreverência e, principalmente, coerência.


Na infância,  roubou um saco de azul de metileno na farmácia do tio e colocou na caixa d’água  tingindo toda a cidade. Levou uma surra homérica da mãe. Na velhice ele fugiu da UTI de um hospital e foi para Maricá acabar o livro que é sua obra-prima, O Povo Brasileiro.


Foi adolescente para Belo Horizonte estudar medicina e depois de várias reprovações descobre não ter nenhuma  vocação para ser médico.  Vai então para São Paulo estudar antropologia e em seguida  vai trabalhar junto ao Marechal Rondon, como uma espécie de pupilo do homem que dizia a respeito dos índios “morrer, talvez, matar nunca”. Passa dez anos circulando entre povos indígenas  período em que, juntamente com os irmãos Villas Boas  cria o Parque Indígena do Xingu. Para tanto se entrevistou com Getúlio Vargas e o convenceu da necessidade da criação do Parque.


No final dos anos 50, encontra-se com outro luminar da cultura brasileira, o educador Anísio Teixeira. Sob a influência de Anísio passa a se dedicar à educação formal e chega a criar a Universidade de Brasília, da qual foi o primeiro reitor. Dali foi para o Ministério da Educação e em seguida e para Casa Civil de Jango. O Golpe Militar de 64 obrigou-o a se exilar no Uruguai.


Os anos de exílio de Darcy Ribeiro foram inacreditavelmente  produtivos. Fundou e reformou universidades por toda a América Latina e chegou a assessora o presidente Allende, no Chile e Alvarado,  no Peru. Inquieto, no exílio deu vazão ao lado de escritor. Publicou ensaios de antropologia das civilizações e até romances.


Darcy volta ao Brasil definitivamente, em 1976 e vai se ligar politicamente ao PDT de Brizola. É eleito vice-governador em 1982 e se dedica à criação de 500 CIEPS, onde finalmente põe em prática sua ideia de educação integral para todos. Em 1991 é eleito senador e dá continuidade a seu veio de educador e elabora a Lei de Diretrizes e Bases  da Educação Nacional – LDB.


Morre em fevereiro de 1997, aos 72 anos. Seu último ato no hospital foi dar uma aula de cultura brasileira para uma criança de 9 anos, filho da médica que cuidava dele. Nela dizia que se dedicou às duas faces da educação: a erudita e a popular, criou universidades e um sambódromo.



Créditos da foto: Arquivo FunDar

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