Raymond Ibrahim
Recentemente surgiu a notícia de que a Rússia estava banindo escrituras-chave islâmicas -- inclusive a Sahih Bukhari -- sob a acusação de que elas promovem “a exclusividade [a supremacia] de uma das religiões do mundo”, a saber, o islamismo; ou, nas palavras de um assistente-sênior do promotor de justiça de Tatarstan, Ruslan Galliev, “um islamismo militante, que provoca a inimizade étnica e religiosa”.
Se a Sahih Bukhari, uma coleção de nove livros compilados no século IX e considerada pelos muçulmanos sunitas como segunda em importância, atrás apenas do Corão, está sendo banida por incitar a hostilidade, onde fica o Corão nessa história?
Afinal, se a Sahih Bukhari contém declarações pró-terrorismo[1] atribuídas ao profeta do islamismo e ordena a matança de muçulmanos que deixarem o islamismo, o Corão, o livro sagrado número um do islamismo, conclama à violência contra os não-crentes. Segue uma pequena porção das proclamações de Alá:
• “Lançarei terror nos corações dos incrédulos, portanto, golpeiem-lhes os pescoços [cortem-lhes a cabeça] e lhes golpeiem desde a ponta dos dedos” (8.12).
• “Lutem contra o Povo do Livro [cristãos e judeus], que não acredita em Alá nem no Último Dia, que não proíbe o que Alá e Seus mensageiros proibiram, e que não abraça a religião da verdade [o islamismo], até que eles paguem a jizya (imposto cobrado dos “infiéis”) com disposição e submissão e sintam-se totalmente subjugados” (9.29).
• “Então, quando os meses sagrados tiverem passado, passem ao fio da espada os idólatras onde quer que vocês os encontrarem -- amarrem-nos, cerquem-nos e se preparem para emboscá-los!” (9.5).
• “Lutar foi ordenado a vocês [muçulmanos], embora seja-lhes odioso” (2.216).
Os textos fundamentais do islamismo incitam à violência e à intolerância e ele possui muitas ramificações para aqueles que desejam seguir este caminho baseado na lógica desta religião. Por exemplo, como argumentei mais amplamente em outro artigo,[2] embora os muçulmanos ao redor do mundo, especialmente na forma da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), composta por 57 Estados-Membros, continuem a pressionar pelo reforço das leis de “difamação religiosa” na arena internacional, há uma grande ironia com relação aos islâmicos: se tais leis banissem os filmes e as charges que difamam o islã, elas teriam também, por extensão lógica, que banir a própria religião do islamismo -- a única religião cujos textos básicos difamam ativamente outras religiões.
Consideremos o que significa a palavra “difamação”: “ato de denegrir a reputação de outrem” e “dano falso ou injustificado à boa reputação de outrem, como por libelo ou calúnia”, são típicas definições de dicionários.
O que, então, fazemos com os textos fundamentais do islamismo -- não simplesmente a Sahih Bukhari, mas o próprio Corão, que difama, denigre e calunia a reputação de outras religiões?
Considere apenas o cristianismo: A sura 5, verso 73 do Corão declara que “os infiéis são aqueles que dizem Deus [isto é, Alá] é um dos três”, uma referência à Trindade Cristã; o verso 72 diz que “os infiéis são aqueles que dizem que Deus é o Cristo [Jesus], filho de Maria”; e a sura 9, verso 30 reclama que “os cristãos dizem que o Cristo é o filho de Deus. (...) Que a maldição de Alá venha sobre eles!”.
Certamente que tais versículos difamam a religião cristã e suas principais doutrinas -- para não mencionar que criam hostilidade em relação aos seus praticantes. Em resumo, o argumento de que alguns livros islâmicos deveriam ser banidos, com base em que eles incitam a segregação e a violência, é aplicável ao próprio Corão, que inequivocamente difama e cria hostilidade aos infiéis, isto é, aos não-muçulmanos.
O Corão é diferente?
Dito isto, no “mundo real” (como parece atualmente), a simples idéia de banir o Corão -- crido por mais de um bilhão de pessoas como sendo a inalterável palavra de Deus -- deve parecer inconcebível.
Para os principiantes, sempre que os muçulmanos são pressionados a respeito dos versos violentos do Corão, eles se refugiam no argumento de que outras escrituras, de outras religiões, também estão repletas de conclamações à violência e à intolerância -- então, por que destacar o Corão?
Para provar isto, os apologistas quase sempre apontam para as Escrituras Hebraicas, mais amplamente conhecidas como o “Antigo Testamento”. E, de fato, o Antigo Testamento está repleto de violência e intolerância -- todas induzidas pelo Deus judaico-cristão.
A diferença entre as passagens violentas no Corão e aquelas no Antigo Testamento (como mais extensivamente explicado em outro artigo)[3] é a seguinte: o Antigo Testamento está claramente descrevendo episódios históricos, enquanto o Corão, embora também desenvolvido dentro de um contexto histórico, usa linguagem genérica e sem tempo específico, que transcende ao tempo e ao espaço, incitando os seguidores a atacarem e a matarem os incrédulos hoje tanto quanto aconteceu ontem.
Assim, nos mandamentos do Antigo Testamento, Deus ordena aos hebreus que lutem e matem os “hititas, os amonitas, os cananeus, os fereseus, os heveus, e os jebuseus” -- todos estes eram povos enraizados em um lugar e tempo específicos; todos eram povos específicos que já não existem há milênios. Em nenhum momento Deus deu um comando aberto para que os hebreus e, por extensão, seus descendentes judeus, lutassem e matassem todos os “incrédulos”.
Na verdade, os muçulmanos argumentam que os versos do Corão também tratam de oponentes históricos temporais, inclusive os politeístas de Meca, e, em um grau menor, dos impérios Bizantino e Sassânida.
Todavia, o problema é que, raramente, se é que o faz alguma vez, o Corão especifica quem são seus antagonistas, como o Antigo Testamento especifica. Em vez disso, os muçulmanos recebiam (e ainda recebem) ordens para lutar contra “o Povo do Livro”, o qual a exegese islâmica interpreta como os povos com as Escrituras, a saber, cristãos e judeus -- “até que eles paguem a jizya com disposição e submissão e sintam-se totalmente subjugados” (9.29), e ordena que “matem os idólatras onde quer que os encontrem” (9.5).
As duas conjunções árabes “até que” (hata) e “onde quer que” (haythu) demonstram a natureza perpétua e onipresente desses mandamentos: ainda existem os “Povos do Livro” que têm que “se sentir totalmente subjugados” (especialmente nas Américas, Europa e Israel), e ainda há “idólatras” a serem mortos “onde quer que” se olhe (especialmente na Ásia e na África subsaariana).
De fato, as características marcantes de quase todos os mandamentos violentos nas escrituras islâmicas são as de não terem um tempo específico e serem de natureza genérica: “Lutem contra eles até que não haja mais caos e [todas] as religiões pertençam a Alá” (Corão 8.39).
Este fato assegurará que, enquanto o Corão proliferar e for lido como sendo a palavra literal de Deus, seus leitores continuarão a viver em um mundo dicotomizado, a saber, eles mesmos contra todos os demais. (Raymond Ibrahim -- www.meforum.org – www.beth-shalom.com.br)
Raymond Ibrahim possui o título de Associado Shillman do “David Horowitz Freedom Center”, é Redator Associado de Judith Friedman Rosen no “Fórum do Oriente Médio”, e também jornalista contribuinte da CBN News. Ele é o autor dos livros Crucified Again: Exposing Islam's New War on Christians [Crucificado Novamente: Expondo a Nova Guerra Islâmica Contra os Cristãos] (2013) e The Al Qaeda Reader [Textos Básicos da Al Qaeda] (2007).
Notas:
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