A notícia de que sua filha tinha desenvolvido um tumor (benigno) ainda no ventre assustou a jornalista de TV chinesa Chai Jing, mas também inspirou uma providênciua.
Usando seus próprios recursos, ela investiu mais de US$ 150 mil na produção de "Sob o Domo", um polêmico documentário sobre a poluição na China.
Lançado no último sábado na internet, o filme foi visto por 100 milhões de pessoas em apenas 48 horas.
Jing acredita que os altos índices de poluição atmosférica no país estão ligados à doença de sua filha.
Com 1h43m de duração, "Sob o Domo" levou um ano para ser feito e traz imagens ousadas para os padrões de controle da mídia na China.
Leia mais: Arquitetos sugerem 'bolhas de ar limpo' para isolar Pequim da poluição
Numa das cenas, por exemplo, Jing entrevista uma menina de seis anos vivendo na província de Shanxi, conhecida pela intensa extração de carvão. A região é uma das mais poluídas do mundo.
Leniência
"Você já viu alguma vez as estrelas?", pergunta a jornalista. "Não", respondeu a menina.
"Você alguma vez viu um céu azul?"
"Eu vi um céu que era um pouco azul uma vez", respondeu a menina.
"E nuvens brancas, você já viu"?
"Não", diz a menina, suspirando.
Em alguns outros pontos, o documentário critica espeficiamente o que vê como leniência na legislação ambiental chinesa.
Algumas regiões da China estão entre as mais poluídas do mundo por causa da política industrial do país
Numa sequência do filme, a jornalista segue um inspetor do governo encarregado de medir a poluição gerada por uma siderúrgica na província de Hebei.
O documentário mostra que, meses depois, a empresa não tinha pagado qualquer multa.
Leia mais: Exposição de grávidas à poluição 'duplica risco' de autismo em bebês
Quando questiona um funcionário do governo local sobre a razão de fábricas poluidoras não serem fechadas, a resposta é supreendentemente brutal.
"Não podemos sacrificar empregos pelo meio-ambiente", fiz o funcionário.
Fontes da TV estatatal chinesa, CCTV, onde Jing trabalhou entre 2002 e 2013, tornando-se uma celebridade, disseram à BBC que a jornalista produziu o documentário de forma independente. Mas que teria contado com algum apoio logístico de produtores da CCTV.
Também parece claro que Jing negociou com as autoridades chinesas a aprovação do documentário. Numa recente entrevista para o jornal estatalPeople's Daily, a jornalista disse que enviou o script e transcrições da entrevista para oficiais do Partido Comunista Chinês e para autoridades responsáveis pela nova legislação chinesa para óleo e gás.
Ambas as partes ofereceram sugestões e comentários, segundo Jing.
Um dos colaboradores de Jing, o também jornalista investigativo Yuan Ling, deu entrevistas na China dizendo que a primeira versão do documentário questionava o modelo de desenvolvimento econômico do país. Ling teria aconselhado Jing a retirar este trecho do documentário.
Agradecimento
Mas ainda assim o documentário deverá provocar um certo incômodo junto às autoridades chinesas. Nesta semana começam as sessões especiais do Parlamento Chinês, e um dos assuntos em pauta é uma nova legislação ambiental que puna com mais rigor empresas poluidoras.
Numa sequência do filme, a jornalista segue um inspetor do governo encarregado de medir a poluição gerada por uma siderúrgica na província de Hebei.
O documentário mostra que, meses depois, a empresa não tinha pagado qualquer multa.
Leia mais: Exposição de grávidas à poluição 'duplica risco' de autismo em bebês
Quando questiona um funcionário do governo local sobre a razão de fábricas poluidoras não serem fechadas, a resposta é supreendentemente brutal.
"Não podemos sacrificar empregos pelo meio-ambiente", fiz o funcionário.
Fontes da TV estatatal chinesa, CCTV, onde Jing trabalhou entre 2002 e 2013, tornando-se uma celebridade, disseram à BBC que a jornalista produziu o documentário de forma independente. Mas que teria contado com algum apoio logístico de produtores da CCTV.
Também parece claro que Jing negociou com as autoridades chinesas a aprovação do documentário. Numa recente entrevista para o jornal estatalPeople's Daily, a jornalista disse que enviou o script e transcrições da entrevista para oficiais do Partido Comunista Chinês e para autoridades responsáveis pela nova legislação chinesa para óleo e gás.
Ambas as partes ofereceram sugestões e comentários, segundo Jing.
Um dos colaboradores de Jing, o também jornalista investigativo Yuan Ling, deu entrevistas na China dizendo que a primeira versão do documentário questionava o modelo de desenvolvimento econômico do país. Ling teria aconselhado Jing a retirar este trecho do documentário.
Agradecimento
Mas ainda assim o documentário deverá provocar um certo incômodo junto às autoridades chinesas. Nesta semana começam as sessões especiais do Parlamento Chinês, e um dos assuntos em pauta é uma nova legislação ambiental que puna com mais rigor empresas poluidoras.
O documentário de Chain Jing lança luz sobre a dificuldade de aplicação das leis ambientais no país
Na China, porém, aprovar uma lei é uma coisa, aplicá-la é outra.
E a pressão pública certamente seria benvinda para o governo. As leis impostas pelo alto escalão são com certa frequência ignoradas por autoridades regionais, sobretudo legislação que afete o desenvolvimento econômico.
Leia mais: Emissão de gás carbônico no mundo tem maior salto desde 1984
Um dia antes do lançamento do documentário, o novo ministro do Meio-Ambiente, Chen Jining, assumiu o cargo. Em sua primeira entrevista-coletiva, realizada após o lançamento de "Sob o Domo", Jining disse ter assistido ao filme e que telefonou para Chain Jing para agradecê-la pelo trabalho.
Jing e sua equipe recusaram pedidos de entrevista da BBC. Segundo fontes, a jornalista estava preocupada com o interesse da mídia estrangeira. Ademais, o documentário já teria atingido o objetivo de despertar o debate entre o público chinês.
Uma visão endossada pelos milhões de comentários online feitos sobre o documentário. Num deles, um internauta chinês promete usar o carro apenas em ocasiões especiais e usar o transporte público para cumprir o percurso de 5km entre sua casa e o trabalho.
E Jing agora ocupa um raro e privilegiado espaço na China: ela é alguém com autoridade moral para falar publicamente sobre políticas públicas, mesmo que mediante algum tipo de aprovação oficial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário