Extraído do Templo Cultural Delfos
Câmara Cascudo, por William |
- Câmara Cascudo
"Creio na bondade sem a garantia prévia da gratidão. Sem que se assegure da memória devedora. Sem que se estabeleça, pelo ato generoso, uma servidão vitalícia no beneficiado. Bondade paga-se no puro e simples ato de sua realização. Como um fruto justifica a existência útil da árvore. Bondade antevendo a recompensa é apólice de sociedade mutualista rendendo do capital intocável do favor inicial. Os pássaros não são devedores dos frutos e da água da fonte. Eles testificam, perante a natureza, a continuidade da missão cultural."
- Câmara Cascudo, em "O Tempo e Eu", Natal: UFRN/Imprensa Universitária, 1968.
Câmara Cascudo |
"É evidente que somos bem pouco, muito pouco felizes com a espantosa aparelhagem possuída para fazer-nos conhecer a terra, céu e mar. A vida tornou-se febril e nas cidades grandes são anfiteatros onde o homem se debate, sofrendo como se fosse submetido a uma vivisseção. Os complexos tradicionais de “amigo”, “compadre”, “companheiro” sofrem restrições calamitosas e vão cedendo à maré montante dos interesses crescentes. Vivemos sob o signo da angústia. Angústia significa justamente o nosso estado de compressão, opressão mental, asfixia econômica, hostilidade ambiental."
- Câmara Cascudo , em "Canto de Muro". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959.
"Eu sou apenas uma célula, uma pequenina célula que procura ser útil na fidelidade da função."
- Câmara Cascudo
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, POR ELE MESMO
Câmara Cascudo |
Nunca pensei em deixar a minha terra.
Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade.
Nossa casa hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo. (...) Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para mim dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. (...) Dois homens quiseram fixar-me fora de Natal: Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e Agamenon Magalhães, no Recife. Jamais os esquecerei porque nada pedira. Alguém deveria ficar estudando o material economicamente inútil. Poder informar dos fatos distantes na hora sugestiva da necessidade.
Fiquei com essa missão.
Andei e li o possível no espaço e no tempo. Lembro conversas com os velhos que sabiam iluminar a saudade. Não há recanto sem evocar-me um episódio, um acontecimento, o perfume duma velhice. Tudo tem uma história digna de ressurreição e de uma simpatia. Velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória.
Em 1946 fiz parte de uma comissão enviada pelo Ministério das Relações Exteriores ao Uruguai. Éramos três: Aluísio de Castro, Angione Costa e eu, único sobrevivente. Voltando, contou-me Aluísio de Castro que Afrânio Peixoto (escritor baiano), sabendo da expedição cultural, dissera num leve riso: "E ele deixou o Rio Grande do Norte? Câmara Cascudo é um provinciano incurável!".
Encontrara meu título justo, real e legítimo.
Provinciano incurável! Nada mais.
- Em "A Província", edição comemorativa aos seus setenta anos de idade e cinqüenta de atividade literária.
Câmara Cascudo em sua biblioteca escrevendo |
"A biblioteca é a minha Babilônia. E nela todos os volumes me interessam. Cada livro que leio – ou releio – me fascina. Mas a leitura é um hábito. Só a repetição traz o costume, o prazer."
- Câmara Cascudo, citado em "O Colecionador de Crepúsculos". [Barreto, Anna Maria Cascudo].
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