Drauzio Varella
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O brasileiro está cuidando bem da saúde? Não. Cuidar bem da saúde quando você fica doente não é cuidar da sua saúde. Nós temos uma visão da saúde como obrigação dos outros. O cara engorda 30 quilos, bebe, fuma e, quando passa mal, acha que os médicos precisam resolver.
Quais são hoje os piores problemas dos brasileiros? A obesidade e o sedentarismo. Atualmente, 48% da população adulta está acima do peso. Qual o resultado? Metade dos brasileiros aos 50 anos é hipertensa. Aos 70 anos, são 70%. É gente dependendo da saúde pública para tratar de pressão arterial e dos problemas que ela gera: ataque cardíaco, insuficiência renal, derrame, diabete e cegueira. Não há sistema de saúde que aguente.
Como os executivos podem cuidar da saúde? Tem de achar um jeito de fazer exercício. Subir a escada, pelo menos. Qualquer escritório tem uma escada. Parar o carro longe, para andar um pouco mais. Lutar contra a preguiça. Você considera que o esforço físico é uma desvantagem, mas é o conforto que é o seu inimigo. Ao contrário de outras máquinas, o corpo humano não se desgasta com o exercício físico, ele se aprimora. A circulação fica mais eficiente, oxigena melhor os tecidos, o coração, o cérebro. Ajuda a ter uma função cognitiva mais completa. O segundo conselho é não comer tudo o que lhe oferecem.
Como aliviar o estresse? Fazer meditação e ioga pode ajudar alguns. Para quem não quer isso, a única alternativa é exercício. O estresse é um mecanismo sem o qual nós não estaríamos conversando agora. Se você dá de cara com um animal no meio da floresta, reage por causa do estresse. O problema do estresse moderno é que você não encontra um animal na floresta. O estresse é permanente. Ao fazer exercício, você libera diversas substâncias que dão a sensação de paz e tranquilidade que falta no mundo moderno.
O trabalho pode se tornar um vício? Ele pode se tornar uma compulsão. Acontece muito. Você vê gente para quem a vida só tem sentido no trabalho. Tem aqueles que têm compulsão por compras, por jogo, pela internet. As compulsões têm mecanismos muito semelhantes, que são mecanismos de recompensa, em que você aposta e tem a recompensa imediata. É isso que causa dependência.
Isso pode ser tratado com remédio? A medicina não sabe como tratar compulsões. Não sabe tratar usuário de droga, nem alcoólatra. Quem mais cura alcoólatra no Brasil? Os Alcoólicos Anônimos. Se um grupo de autoajuda cura mais do que a medicina, é porque a medicina está mal.
O senhor faz trabalho voluntário em prisões há 23 anos. Como isso começou? Foi no Carandiru, quando fui fazer um filme sobre aids, em 1989. Quando entrei lá fiquei muito interessado por aquele ambiente. Testamos os presos e verificamos que 17,3% estavam infectados pelo HIV, principalmente porque usavam cocaína injetável. Eu me interessei por fazer um trabalho educativo com eles, me envolvi, acabei atendendo doentes e fui ficando. Quando o Carandiru fechou, passei para outras penitenciárias.
O senhor já publicou o best-seller Estação Carandiru, acaba de lançar o livro Carcereiros e está escrevendo mais um. Ele vai se chamar As Prisioneiras. Quero mostrar como funciona uma cadeia de mulheres. Quando uma mulher é presa, o marido larga, o namorado esquece e a mãe desaparece. Se a mãe tem um filho e uma filha presos, ela vai visitar o filho, mas não a filha.
O senhor foi um dos fundadores do Objetivo... Eu cursava a faculdade de medicina da USP e dava aula num cursinho. Naquela época, os cursinhos terminavam em dezembro e só voltavam em fevereiro. Eu e o Di Genio [João Carlos, atual dono do Objetivo], que também estudava na USP e dava aulas, tivemos a ideia de fazer um cursinho de férias. Eu dei o nome de Objetivo, porque era para o curso ser objetivo. No dia em que abrimos as inscrições, cheguei às 8h e tinha uma fila de umas 400 pessoas. Nós tínhamos só duas salas para 50 alunos. Eu liguei para o Di Genio e perguntei: ‘somos só dois, como vamos dar aula para tantos?’. Ele me disse: ‘matricula todo mundo e depois damos um jeito’. Daí você vê a cabeça do empresário. Foi assim que começou o Objetivo. Continuei dando aula lá por 16 anos, mas fiz bem em sair. Não teria dado certo, eu teria me frustrado. Nunca pensei em fazer outra coisa além da medicina.
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