A Menina do Nariz Arrebitado, Fábulas do Marquês de Rabicó, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática… Entre os privilegiados que tiveram uma infância entre livros, não há quem não conheça ao menos um desses títulos – todos do escritor Monteiro Lobato, um dos mais importantes no Brasil do século XX.
Se fosse possível tal longevidade e estivesse vivo, Lobato (1882-1948) faria aniversário nesta sexta-feira, 18 de abril. Em 2002, a data foi escolhida para marcar o Dia Nacional do Livro Infantil.
Para comemorar este dia, fiz duas perguntas para dez escritores e ilustradores. Qual foi a importância do Monteiro Lobato na sua trajetória? E qual foi o livro da sua infância?
Quando eu era criança, meus pais tinham uma coleção do Lobato com capa dura, da qual restou, ao menos comigo, apenas o Negrinha, livro que, no fim de 2012, foi alvo de grande polêmica (clique aqui para ler). Quando me perguntam sobre meu livro de infância, também tenho dificuldade em citar apenas um – vários me veem à mente. Mas, nesta manhã, quando fui finalizar este post, me lembrei com muita saudades de O Beco do Tiquinho, que ainda tenho (imagem abaixo), todo esfarrapado, tal qual o gato da história. O livro não tem mais capa e já tentei várias vezes descobrir o autor, mas nunca consegui. Se alguém souber, me avise!
A seguir, em ordem alfabética, as respostas dos escritores e ilustradores. Depois, me conte, qual é o livro da sua infância?
Aline Abreu, escritora e ilustradora
1.
Monteiro Lobato entrou na minha vida pela televisão. Entre 4 e 7 anos, eu era apaixonada pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo da televisão e fantasiava, como muitas meninas, que era a Emília. Tenho várias fotos com uma fantasia de Emília que minha mãe costurou pra mim. A literatura de Lobato foi entrar em minha vida sem a mediação da adaptação televisiva bem mais tarde. Eu já era adulta e me mudei para Pindamonhangaba, cidade que fica ao lado de Taubaté, terra de Lobato. Nessa época eu ensaiava meus primeiros passos como escritora e ilustradora e fiquei muito encantada com aquela figura mítica que tinha vivido ali no Vale do Paraíba.
2.
Foram dois: Caxumba!, de Vivian e Rose Ostrovsky, editado no Brasil pela Primor, e Lúcia Já-Vou-Indo, de Maria Heloísa Penteado, da Ática. Caxumba! foi meu primeiro livro, que tenho até hoje. Com certeza foi o livro que mais manipulei na infância porque amava – e ainda adoro – as ilustrações. Lúcia Já-Vou-Indo foi uma outra paixão. Já estava alfabetizada e peguei muitas vezes na biblioteca da escola. Amei a personagem e sua história, com a qual me identifiquei tanto que nunca pesou quando na minha família ganhei o apelido Lúcia Já-Vou-Indo. A ideia de que não era o fim do mundo fazer as coisas em outro ritmo se instalou em mim a ponto de hoje sentir que essa característica não me faz simplesmente alguém que está sempre atrasada mas traz também muitos benefícios.
Claudio Fragata, escritor
1.
Lobato foi fundamental em minha vida. Costumo dizer que foi um divisor de águas. Minha vida pode ser marcada como a.E. e d.E, ou seja, antes e depois de Emília. O personagem está tão introjetado em mim que não sei onde Emília acaba e eu começo. Com ela aprendi o valor da rebeldia e da inteligência. E, sobretudo, o do bom humor. Com Monteiro Lobato nasceu minha paixão pela literatura.
2.
Desde muito cedo vivi cercado de livros. A maioria deles era da Melhoramentos. Eu adorava aqueles livros! Entre eles, havia um chamado A Viagem de Dona Ratinha, que mexia muito com minha imaginação. Contava a história de uma ratinha que ia visitar a irmã doente. No meio do caminho, ela senta em um cogumelo para descansar, mas ele, subitamente, começa a crescer. Ela então abre o guarda-chuva e salta para o chão. Isso nos inspirou, a mim e a uma prima mais velha, a fazer o mesmo. Resolvemos saltar de guarda-chuva da janela do sobrado em que ela morava. Por pouco não nos estatelamos. Eu conto a história completa em um dos meus livros, Seis Tombos e um Pulinho.
Fabrício Carpinejar
1.
Monteiro Lobato foi o primeiro autor de coleção, de um livro atrás do outro, de série. Ele me ensinou a continuidade, a entender que livro não era órfão, tinha irmãos.
2.
Meu livro da infância foi Os Meninos da Rua Paulo, novela do escritor húngaro Ferenc Molná.
Ilan Brenman, escritor, nascido em Israel
1.
Fui um leitor tardio do Lobato, gostava demais da conta do Sítio na TV, tinha pavores com a Cuca e amava a rebelde Emília. A leitura veio mais tarde e se aprofundou na minha época de estudante, na qual estava começando a trilhar meu caminho na área de educação e literatura. O Lobato entrou definitivamente na minha vida com o nascimento das minhas filhas. Foram muitas noites entrando no sitio e não querendo sair mais.
2.
Zero Zero Alpiste, de Mirna Pinsky.
Ionit Zilberman, ilustradora, nascida em Israel
1.
Não sei muito como dizer isso, porque é como dizer para alguém que você não ama Fellini. Mas a verdade é que Monteiro Lobato não foi super marcante para mim. Assisti o Sítio na TV, adorava a Emília. Uma vez, fiz minha mãe comprar uma cestinha como a dela. Essas são minhas lembranças.
2.
Meu livro de infância foi A Árvore Generosa, do Shel Silverstein. Tinha uma edição em hebraico lá em Israel. Não tenho mais o exemplar, porque foram muitas mudanças…
Janaina Tokitaka, escritora e ilustradora
1.
Minha mãe tinha o costume de ler um livro do Monteiro Lobato a cada mês de férias, um capítulo por noite, quando eu era pequena. Assim, as férias de Pedrinho e Narizinho no Sítio do Pica-Pau Amarelo ficaram para sempre misturadas às minhas próprias férias na praia, em Ilhabela. Esses momentos criaram uma memória afetiva muito importante para minha formação como leitora e escritora: a leitura como lazer, momento de ócio, como férias.
2.
Escolher um livro só parece injusto com os outros, já que eu era uma criança que amava ler. Às vezes penso que nunca vou gostar de um livro com a intensidade com que gostava na infância. Talvez por isso, um livro especial tenha sido Matilda, de Roald Dahl, que fala justamente de uma menina e sua relação com a literatura. A paixão de Matilda pela leitura parece, a princípio, mais complicar a vida da menina do que qualquer outra coisa, mas no fundo é o que acaba salvando-a.
Marcelo Maluf
1.
O mais importante da obra do Lobato para mim foi perceber a possibilidade de criar um universo imaginário e mergulhar nele a ponto de, às vezes, acreditar seguramente que ele é real e outras, compreender que esse universo é fruto da imaginação criativa de um autor, pois o Lobato brinca com isso. Ter essa consciência me marcou muito. Quando escrevo para crianças tenho esse caminho em mente.
2.
O livro da minha infância foi uma antologia de contos do Andersen, que meu pai lia para mim.
Renato Moriconi
1.
Antes de começar a ler, já conhecia a obra do Monteiro Lobato pela série da TV escrita por Wilson Rocha e Benedito Ruy Barbosa. Guardo até hoje na memória um dos primeiros pesadelos que tive: a Cuca me perseguindo numa estrada sem ninguém pra me ajudar (risos). Acho que povoar sonhos e pesadelos é uma boa demonstração da importância da obra dele na minha formação.
2.
A Bíblia. Esse livro habita minha mente desde criança. Mesmo não sendo religiosa praticante, minha mãe selecionava algumas histórias desse livro e as lia pro meu irmão e pra mim quando pequenos. Tenho um bom relato que demonstra sua importância na minha formação. Eu tinha uns 5 anos e um certo medo de fazer algo que desagradasse o deus das histórias que ouvia, então desenvolvi uma técnica pra deixar claro para aquele deus que eu gostava dele: de tempo em tempo eu mandava beijos para o céu. Assim não haveria dúvida para ele do meu carinho. Ainda faço isso de vez em quando. É sempre bom garantir (risos).
Socorro Acioli
1.
Monteiro Lobato teve uma ação determinante na minha vida em dois momentos. Na infância, os livros de Lobato eram quase os únicos infantis que chegavam a Fortaleza, nos anos 70 e 80. Li quase tudo e foi marcante para mim, como para toda minha geração. Anos mais tarde, ele reapareceu na minha vida e acabou sendo o tema do meu mestrado em Literatura Infantil. Da dissertação surgiram dois livros:Aula de Leitura com Monteiro Lobato, teórico, da Editora Biruta, e a Biografia da Emília, que será lançado em junho pela Editora Casa da Palavra.
2.
O livro da minha infância chamava-se O Amanhã É uma Criança, que ganhei de presente dos meus vizinhos. Não tenho mais o livro e nunca consegui descobrir o autor ou a editora. Ainda lembro algumas poesias, a textura da capa. Eram poemas sobre animais e insetos.
Tino Freitas
1.
Não fui um leitor do Monteiro Lobato na infância. Em casa, tinha a coleção dele – daquelas em volumes coloridos – que ficava mais enfeitando a estante que mexendo com minha cuca. Do Lobato, eu sabia pelo programa do Sítio do Pica-Pau Amarelo que passava na TV. E disso lembro muito bem. Não perdi um capítulo de O Minotauro. Lembro bem. E foi assim, pela TV, que as histórias de Lobato chegaram para mim. Seus livros, comecei a ler já como mediador de leitura do projeto Roedores de Livros. E fiquei completamente envolvido com suas narrativas, mesmo sendo eu uma criança mais velha! Ainda não li tudo, mas estou devorando aos pouquinhos.
2.
Na infância, fui um leitor voraz de gibi. Onde eu morava – uma cidade no interior da Bahia – não tinha livraria. Mas tinha uma banca de revista onde eu podia levar o que quisesse, fiado. Foi lá que encontrei o primeiro livro que marcou minha infância: Marinho, o Marinheiro, escrito por Joel Rufino dos Santos e ilustrado por Michele. Era um livro da Coleção Taba, que vinha acompanhado de um disquinho com a leitura dramática do texto e a música Gaivota, cantada por Gilberto Gil. Coincidentemente, hoje, trabalho com histórias e canções. Naqueles dias, numa cidade sem livrarias, ter um livro vendido na banca de revistas foi fundamental para me iniciar nesse universo tão fantástico da literatura infantil.
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