1- Carnaval do Apartheid
Pesquisa divulgada recentemente no A Tarde constatou que 76% da população de Salvador não pula carnaval, e mesmo os 24% que pulam ficam espremidos entre tapumes e cordas de blocos. De um lado, viram-se aqueles que têm recursos curtindo a folia dentro dos camarotes; nos grandes blocos de trios fechados ao público, e do outro, o “povão” nas ruas disputando qualquer espaço, atrás dos trios elétricos, na base dos empurrões, da porrada e levando cacetadas da polícia a torto e a direito.
Por Hernani Francisco da Silva
2 - Ilha de brancos cercada por uma corda de negros
Por todo o período de Carnaval, negro é o tom da corda, dos ambulantes que circulam aos milhares. É a cor do povo “Fora dos Blocos”, olhando das calçadas, pulsando ao som de altíssimos equipamentos que amplificam à exaustão as vozes dos “mitos” da passarela e aplaudindo os desfilantes dos Blocos, talvez, na sua expressiva maioria, descendências dos colonizadores de terras no passado, e agora, dos espaços antes livres para brincar e da alegria que vibra a cada passagem dos “latifundiários da folia”.
3 - Lutas de gladiadores” promovidas pelos foliões "descamisados"
Alguns camarotes, por sua vez, são uma excrescência à parte. Com suas luxúrias eletrizantes, promovem festa VIP para uma clientela elitizada, em que a participação individual nesses eventos pode custar até R$ 1.000,00 a diária; além de servir como vitrine para promoção pessoal e verdadeiras "masturbações sociológicas". Também servem como palcos privilegiados para assistir às cenas de "lutas de gladiadores” promovidas pelos foliões "descamisados" que, ao som dos trios elétricos, disputam aos tapas e empurrões o mínimo de direito para participar da festa.
4 - A cor do povo “Fora dos Blocos”
Carnaval de Salvador: “apartheid” e seletividade em uma ilha de brancos cercada por uma corda de negros e negras. No Carnaval, único tempo em que a minoria branca e rica predomina sobre uma cidade histórica e matematicamente negra. Os camarotes se tornaram onipresentes no Carnaval de Salvador e representam hoje o que o próprio Brown chamou o ano passado de apartheid da festa, juntamente com as cordas que separam o povo e os blocos dos grandes artistas da festa.
5 - Por todo o período de Carnaval, negro é o tom da corda
"Nesse contexto, chama atenção a quem se dispõe a fazer uma leitura crítica do Carnaval de Salvador, o fato de que em nenhum outro momento a luta de classes se revela com tamanho vigor em nossa cidade". Marília Lomanto Veloso - Promotora de Justiça da Bahia.
6 - Fica o Recado: Abaixe a corda NEGÃO liberte-se da escravidão
O Presidente de uma das mais tradicionais bandas da Bahia, João Jorge Rodrigues faz uma série de críticas sobre o carnaval. “É um Carnaval discriminatório, segregado, com mecanismos que reproduzem o capitalismo brasileiro: a grande exclusão da maioria em beneficio de uma minoria”, disse o líder do Olodum.
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