Dentro do contexto literário de Moçambique a autora Noêmia de Souza possui uma participação ativa na produção de poemas engajados, que questionam estruturas sociais de repressão sobre a mulher e o processo de independência de Moçambique. Noêmia representa a coragem da mulher africana em reivindicar seus direitos à liberdade e ao ideal de nação africana.
por Bruna Menezes no Afreaka
Noêmia, autora contemporânea que se consagrou como escritora da poesia combate, retrata na poesia traços do processo de libertação política de Moçambique. Abaixo o poema que pertence a coletânea “Sangue negro”:
“Bates-me e ameaças-me
Agora que levantei minha cabeça esclarecida
E gritei: “Basta!” (…) Condenas-me à escuridão eterna
Agora que minha alma de África se iluminou
E descobriu o ludíbrio E gritei, mil vezes gritei: _Basta!”.
Armas-me grades e queres crucificar-me
Agora que rasguei a venda cor-de-rosa
E gritei: “Basta!”
E gritei: “Basta!” (…) Condenas-me à escuridão eterna
Agora que minha alma de África se iluminou
E descobriu o ludíbrio E gritei, mil vezes gritei: _Basta!”.
Armas-me grades e queres crucificar-me
Agora que rasguei a venda cor-de-rosa
E gritei: “Basta!”
Condenas-me à escuridão eterna Agora que minha
alma de África se iluminou E descobriu o ludíbrio..
E gritei, mil vezes gritei: _Basta!_
Ò carrasco de olhos tortos,
De dentes afiados de antropófago
E brutas mãos de orango:
Vem com o teu cassetete e tuas ameaças,
Fecha-me em tuas grades e crucifixa-me,
Traz teus instrumentos de tortura
E amputa-me os membros, um a um…
Esvazia-me os olhos e condena-me à escuridão eterna… –
que eu, mais do que nunca,
Dos limos da alma,
Me erguerei lúcida, bramindo contra tudo: Basta! Basta! Basta!”
No poema, os versos podem ser interpretados em visões diferentes como referência ao feminismo, a voz poética da autora, a condição política de Moçambique e representação de uma nação em direção a um despertar. Como característica, Noêmia traz em sua poesia a desenvoltura das vozes narrativas que sugerem o desejo de libertação ideológica, o discurso poético carregado de traços de oralidade e um eu-lírico que se difunde em um grito universal.
Sangue negro (1990), coletânea de poemas obteve uma reedição em 2011 pela editora Marimbique, com o objetivo de resgatar a obra poética e de luta da autora. Os poemas de Noemia permitem refletir sobre o desencanto cotidiano relacionado à amargura de cinco séculos de colonização. A poesia de Noêmia não tem como objetivo a representação de uma identidade e sim a representação de uma nação.
Para saber mais:
– Literatura africana de autoria feminina: estudo de antologias poéticas
(tese da PUC_MINAS)
(tese da PUC_MINAS)
http://www.ich.pucminas.br/cespuc/Revistas_Scripta/Scripta15/Conteudo/N15_Parte03_art06.pdf
– Reportagem em vídeo sobre o lançamento da segunda edição do livro Sangue Negro de Noémia de Sousa em 2011:
(site Estudos lusófonos)
(site Estudos lusófonos)
http://estudoslusofonos.blogspot.com.br/2011/12/noemia-de-sousa.html
Leia a matéria completa em: O sangue negro de Noêmia Souza - Geledés
Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário