quinta-feira, 30 de abril de 2015

O massacre da educação brasileira







Infelizmente, o título deste artigo deve ser abordado na sua literalidade. Chamar de confronto o que aconteceu nos últimos dias no Paraná, como faz a mídia tradicional, é negligenciar a seriedade do problema. A educação foi espancada em praça pública.

Falar em greve e protesto no Brasil já não é novidade - vivemos em um sistema corrupto e doente. Também não é novidade a truculência policial, a violação de direitos humanos e a falta de respeito e consideração pelo cidadão brasileiro. Virou rotina.
O sentimento que fica é o de revolta: parece absurdo um governo que pretende silenciar professores. O Brasil dos absurdos, dos abusos, do predomínio do mercado. Onde está o Estado Democrático de Direito? Na Constituição tudo é bonito. A realidade é um soco na boca do estômago.
O que queremos para o nosso futuro? Que histórias pretendemos contar para os nossos filhos? Continuar lutando demonstra que ainda temos esperança. Aos professores do Paraná e a todos que compartilham dessas inquietações, o meu sincero agradecimento.

PROFESSORES GREVE














Quanto vale um professor?




Por Nara Rúbia Ribeiro
Na era do culto às celebridades, do elogio à desinteligência, da ânsia pelo fútil, do aplauso ao vazio, quanto vale um professor? Nada. Talvez menos que nada. Talvez seja um número negativo, uma subtração ao padrão de mundo que a maioria almeja.
Eu me considero uma eterna aluna da vida, uma estagiária da existência; e tive muitos mestres. Ainda os tenho. Daquilo que tenho aprendido, muito devo àqueles que, em sala de aula, transmitiram-me seus conhecimentos. Contudo, devo confessar que a postura dos meus verdadeiros mestres diante da vida foi o que sempre mais me ensinou.
Muitos dos meus professores ilustravam em seu currículo, de diversas formas, o ideário de suas vidas. Eles se viravam com seus baixos salários, lutando por melhor remuneração e melhores condições de trabalho. Eles tinham a audácia de se rebelar contra os ditames de nossos dias: contra a coisificação do homem e a tentativa capitalização das almas, negando-se a pactuar com a transformação dos outros em meros números, em objetos estatísticos que podem ou não nos auferir alguma vantagem patrimonial.
Sempre estudei em escola pública. Já tive aula em que o professor ditasse toda a matéria, pois o giz havia acabado. Já vi professor fazer vaquinha entre os colegas para comprar remédio de preço módico para o filho. Tive a oportunidade de ver a merenda negada ao professor, posto que o Ministério da Educação a distribuía, foi o que alegaram, apenas “para os alunos”.
Hoje, o professor, por mais que se desdobre, por mais que se dedique, por mais que tenha a sua carreira como prioritária, ganhará sempre pouco. Caso se valha apenas da docência, não terá patrimônio, não terá status, não será celebrado, não terá holofote dos veículos de comunicação. E, neste país, ainda prevalece a crença de que quem é celebridade é tudo. De que o bom profissional não é o honesto e probo: o bom é o rico.
Isso é, implicitamente, ensinado aos nossos filhos. Ser bem sucedido é ter espaço na MTv, é ser badalado por revistas de fofocas, é ser visto de “Camaro amarelo”. Bonito é ser fotografado entre as celebridades. Ser grande é ser famoso, conhecido, não importa se para isso a pessoa tenha que “ordenhar” alguém em reality transmitido nacionalmente. Que importa se o cantor só fala uma frase na música inteira e a frase é de baixo calão? Ele é rico e famoso, e é isso o que importa.
Muitos andam preocupados com a crise econômica, mas quem anda se ocupando da crise dos valores? Quem anda se dedicando ao conhecimento, à busca por novas leituras do mundo, à quebra, à ruptura do modelo desumano de sociedade que criamos? Quem se dedica a questionar padrões e a não cotejar o conformismo? Quem, além dos profissionais da Educação?
Por isso, quando vejo um professor sangrando ao legitimamente lutar por um direito seu, a minha alma sangra junto. Mas a ignorância que nos sangra não é capaz de drenar os nossos sonhos. Sabemos que o culto à celebridade, bem como o elogio à ignorância, não se sustenta se iluminado pela razão, uma vez acordada a sensibilidade de cada um.
Ser nada a uma geração onde o vazio é aplaudido de pé, remar contra o mar da mediocridade do mundo é uma glória sem preço. Em tempos como o nosso, ser menos é mais.
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Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.

ONU celebra libertação de 200 meninas nigerianas raptadas pelo Boko Haram

Que grande notícia!

Uma mulher e suas crianças em um campo para deslocados internos em Yola, Nigéria, após o ataque de membros do Boko Haram a sua casa. Foto: UNICEF/Abdrew Esiebo
Uma mulher e suas crianças em um campo para deslocados internos em Yola, Nigéria, após o ataque de membros do Boko Haram a sua casa. Foto: UNICEF/Abdrew Esiebo
O enviado especial das Nações Unidas para a Educação Global, Gordon Brown, celebrou a libertação de 200 meninas raptadas pelo Boko Haram e pediu a libertação imediata de todas as meninas que continuam em mãos do grupo armado. Ele afirmou que é hora de acabar com o esse pesadelo e conversará nesta quinta-feira (30) com o presidente eleito da Nigéria, Muhammadu Buhari, sobre as desaparecidas.
Cerca de 270 meninas foram raptadas pelo Boko Haram de sua escola em Chibok, localizado no estado de Borno, nordeste da Nigéria, em abril de 2014, com a intensificação dos ataques brutaisdo do grupo militante às crianças no país africano.
Brown disse que seu encontro com o presidente servirá para explicar como a comunidade internacional pode fornecer ajuda militar para libertar as meninas.
“Também vou oferecer ajuda para escolas seguras que permitam que meninas participem da educação livre de medo”, ressaltou Brown. “Por anos famílias ficaram sem saber se suas filhas estavam vivas ou mortas, casadas, vendidas ou violadas como resultado de seu cativeiro. Agora que algumas meninas foram liberados queremos todas as meninas libertadas. E nós as queremos em casa com suas famílias em dias – e não meses ou anos.”
De acordo com o enviado especial, 10 milhões de crianças não vão à escola na Nigéria atualmente. Informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) registram mais de 300 escolas danificadas ou destruídas e pelo menos 196 professores e 314 alunos mortos ao final de 2014, como resultado do conflito no nordeste da Nigéria entre o Boko Haram e as forças militares.

Regulação da mídia é necessária para garantir liberdade de expressão


deputada, conhecemos seu trabalho e dedicação com o assunto, mas a Presidenta não vai colocar em pauta a regulamentação da mídia (maristela farias)

Por: Christiane Peres 

A deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) cobra do ministro da Comunicação, Ricardo Berzoini, democratização da mídia em debate na Câmara dos Deputados.
Richard Silva/PCdoB na Câmara
Ricardo Berzoini diz que debate sobre regulação da mídia não será superficial


“O marco regulatório para as comunicações deve assegurar liberdade de expressão e liberdade da atividade jornalística”. Esta foi máxima utilizada pelo ministro da Pasta, Ricardo Berzoini, durante audiência pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (29). A discussão do marco foi anunciada no início do atual governo, mas enfrenta resistência para avançar.
Berzoini salientou que o Brasil já possui uma regulamentação para o setor, porém ela é antiga, de 1962 (Código Brasileiro de Telecomunicações - Lei 4.117/62). “É preciso refletir se essa regulamentação, da maneira como está constituída hoje, é adequada ou não. O debate, no entanto, não pode ser superficial ou maniqueísta. O governo, o PT e outros partidos da coalizão têm compromisso com a liberdade de expressão e com a liberdade da atividade jornalística.”
A democratização da comunicação é bandeira amplamente defendida pela Bancada do PCdoB. Para a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) é urgente a regulamentação dos artigos da Constituição referentes às comunicações, que preveem, por exemplo, a regionalização do conteúdo e a complementaridade dos sistemas público, estatal e privado de comunicação.
De acordo com a deputada, hoje prevalece a comunicação privada e o monopólio nos serviços. “Liberdade de expressão se confunde com direito à comunicação e um marco regulatório para o setor é necessário para garantir tal direito. Todos os países democráticos do mundo regulamentam o setor”, afirma.
O PCdoB apoia a proposta apresentada em 2013 por entidades da sociedade civil, conhecida como Lei da Mídia Democrática – em fase de arrecadação de assinaturas para ser apresentada no Congresso. O texto indica a regulação dos artigos da Constituição que garantem a pluralidade e diversidade e impedem o monopólio dos meios de comunicação de massa; reforça ainda a necessidade de se promover a pluralidade de ideias e opiniões, de se fomentar a cultura, a regionalização, a produção independente, a transparência nas concessões, o fim do monopólio da mídia e a participação social na regulação.

Descaso com a educação e violência estatal, o que isso mostra?

EU APOIO A LUTA DOS PROFESSORES!


Por Ativismo de Sofá

abril 29, 2015 21:33

Descaso com a educação e violência estatal, o que isso mostra?
Texto de Thaís Campolina
Malala, ativista pela educação de meninas.
Malala, ativista pela educação de meninas.
Eu, enquanto defensora dos direitos humanos e feminista, muitas vezes me peguei falando sobre a importância de uma educação de qualidade não só como um direito das pessoas, mas também como uma possível forma de transformar a sociedade. Teoricamente, acreditar na educação e achar que ela tem que melhorar é uma pauta que une todas as tribos, incluindo até políticos no poder e é o tipo de coisa que podemos falar num almoço de domingo em família sem causar discussões acaloradas. Na prática, a pauta não tem essa popularidade toda e isso se torna óbvio com a reação violenta que o Estado tem ao se deparar com greves de professores e o apoio de parcela da população às agressões.
Há greves e manifestações de professores em vários estados e municípios brasileiros acontecendo atualmente, o que por si só já é um indício e tanto do descaso do Estado com a educação. Em São Paulo, 40 mil professores em greve estiveram nas ruas e Alckmin, governador do estado, nega a existência da greve e fora da internet pouco se vê notícias sobre. A negligência está óbvia. Os atos e greves são por vários motivos: alguns pedem aumento de salário, outros se manifestam contra os cortes de gastos feitos na área, que ocasionam até em fechamento de centros educacionais, outros pedem melhorias nas estruturas físicas das escolas e nas condições de trabalho e outros dizem não ao corte de seus próprios direitos previdenciários. Os motivos são variados e isso só mostra a crise em que se encontra a educação.
Professores em luta!
Professores em luta!
Professores do Paraná foram agredidos por policiais militares a mando do governador Beto Richa e seu secretário, enquanto se manifestavam contra o projeto de lei que tem a intenção de reformar a previdência do estado, projeto que apresenta claras desvantagens para os direitos dos servidores. Até então, são cerca de 150 feridos, 8 em estado grave. Há alguns dias atrás, professores de Goiânia foram agredidos após se manifestarem em prol de melhores condições de trabalho e por melhorias na estrutura física das escolas. As reações completamente desproporcionais e violentas do Estado às greves e manifestações dos professores são frequentes e são mais uma amostra de como a popularidade da pauta é uma ilusão. Apesar do Estado num todo se dizer a favor de uma educação de qualidade e dizer que essa pauta é prioridade, na prática ele age negligenciando educadores ou mesmo agredindo professores e isso é violência estatal. Enquanto isso, parte da sociedade apoia essas reações de tanto ouvirem “manifestante e grevista é tudo vagabundo!”, mas ao mesmo tempo clamam por mais educação.
A redução da maioridade penal tem sido tratada como a solução de todos nossos problemas, enquanto isso, professores lutam por seus direitos e por isso são agredidos. As pessoas dizem que querem um país melhor, com mais educação, mas não apoiam os professores que buscam condições mínimas de exercer um trabalho de qualidade e não percebem que ao bradarem “esses vagabundos merecem apanhar” para os professores vítimas de violência estatal, enquanto defendem veementemente a redução da maioridade penal, estão dizendo em linhas tortas que é melhor aprisionar adolescentes do que fornecer uma educação de qualidade.
"Je suis professor!" - arte de Ribs
“Je suis professor!” – arte de Ribs
Eu acredito na educação e justamente por isso, eu não consigo me calar diante disso tudo. Mesmo que a minha visão de educação ideal seja bem diferente das práticas atuais, o sucateamento está na cara: professores são mal pagos, as condições de trabalho deles estão tão péssimas que vários profissionais estão desenvolvendo problemas de saúde, não há estrutura física adequada em várias escolas e o excesso de alunos na sala de aula é um problema frequente. Não dá para simplesmente se calar diante do fato de que professores foram agredidos ao buscarem o que todo mundo diz querer, que é um país que preza pela educação. E esse é um momento crucial para lutarmos contra a violência estatal e por uma educação que seja mais inclusiva e humanitária. E  por tudo isso, eu termino dizendo: “eu apoio a greve dos professores.”

Moringa, a árvore da vida… de Fidel Castro

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(Fidel à sombra da moringa em 2012. Foto: Granma)
Talvez nenhum personagem no mundo tenha “morrido” tantas vezes quanto o líder cubano Fidel Castro. Volta e meia surge na rede o boato de que Fidel partiu desta para melhor, ao ponto de ele mesmo já ter escrito um artigo ironizando as notícias sobre sua morte (leia aqui). Aos 88 anos, Fidel reapareceu este mês diante das câmeras, com o cabelo e a barba branquinhos. Mas vivinho da silva. Qual é, afinal, o segredo da longevidade do irmão mais velho de Raúl Castro?
Segundo um de seus oito filhos, Alex, confidenciou em janeiro, é a moringa ou acácia branca, uma árvore de origem indiana. “Ele está investigando o assunto da famosa moringa e bebe regularmente infusões da planta”, disse Alex. Três anos atrás, o próprio Fidel respondeu ao questionamento de um leitor, em seu artigo “post-mortem”, sobre a árvore que aparecia a seu lado na foto que ilustrava o texto.
“A moringa o único vegetal que possui todos os tipos de aminoácidos. Sua produção de folhas verdes, com a semeadura e o manejo adequados, pode ultrapassar as 300 toneladas por hectare em um ano. Se conhecem dezenas de propriedades medicinais da moringa. Seus efeitos no aparelho digestivo são muito bons, como todos os vegetais, além das elevadas qualidades protéicas, mas não deve ser consumida em excesso, não mais que 30 gramas diários, a depender do funcionamento do intestino. Algumas pessoas admitem um consumo maior. Conheço gente que a consome em quantidades maiores como chá, em forma de pó, com resultados excelentes por suas qualidades calmantes e favoráveis ao descanso. Não testamos ainda com chá de folhas secas, mas suponho que darão resultados positivos”, escreveu Fidel.
“A literatura internacional publicou bastante sobre esta planta. Em nosso país demos mostras de sementes de diferentes variedades aos institutos de pesquisa agrícola. Logo conheceremos mais sobre suas potencialidades. Sob meu ponto de vista, seu maior benefício para a população radica nas qualidades como alimento animal, para a produção de carne, leite, ovos e na piscicultura.”
(Fidel Castro no início de abril)
(Fidel Castro com venezuelanos em Cuba, no início de abril)
Na recente reaparição pública, Fidel inclusive distribuiu chá de moringa a um grupo de venezuelanos que encontrou pelo caminho. Claro que as pesquisas e o entusiasmo do líder cubano sobre medicina natural e especialmente a moringa viraram alvo de chacota dos opositores ao regime e dos exilados em Miami, sobretudo diante da falta de produtos na ilha. Charges, vídeos e montagens na internet ironizaram a paixão de Fidel pela planta, como se ele quisesse substituir a carne e o leite por folhas de moringa na mesa do cubano.
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Nos países da América Central, porém, a moringa virou uma febre. Nas ruas de Santo Domingo, capital da República Dominicana, vendedores ambulantes vendiam as folhas da planta no trânsito, e a principal universidade do país anunciou que iniciaria pesquisas sobre a árvore. Na Venezuela, no ano passado, o governo de Nicolás Maduro lançou um plano nacional de produção de moringa, com a entrega de sementes e financiamento a pequenos agricultores.
Sabe-se que Hugo Chávez utilizou a planta como remédio, e, quando se recuperou da primeira fase de seu câncer, a moringa chegou a ser chamada de “milagrosa”. Não o suficiente, porém, para deter o avanço da doença.
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(Vendedor de moringa em Santo Domingo, República Dominicana)
O que é que a moringa tem? Segundo especialistas, mais de 92 nutrientes, 46 tipos de antioxidantes, 36 substâncias anti-inflamatórias e 18 aminoácidos. Em Cuba, de acordo com o Centro Internacional de Saúde La Pradera, a planta tem sido ministrada com sucesso a pacientes com diabetes e hipertensos.
Suas sementes podem ser utilizadas para clarear a água barrenta e eliminar bactérias, eliminando a necessidade do uso de sulfato de alumínio, que é tóxico à natureza. No Brasil, essa técnica já é utilizada de forma pioneira pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Os pesquisadores agora desenvolvem sachês com o pó das sementes da moringa para distribuir às populações ribeirinhas.
Da moringa, tudo se aproveita. As folhas (ricas em vitamina A e carotenoides) e também as flores podem ser utilizadas em saladas ou refogadas, em omeletes, sopas, pães e bolinhos. Os frutos tenros, ricos em cálcio (17 vezes mais que o leite) e vitamina C (sete vezes mais que a laranja), podem ser raspados e cozidos como vagem de feijão. As raízes, raladas e utilizadas como raiz-forte. E das sementes, além do uso purificador, também se faz óleo.
Entrevistei um especialista em cultivo da moringa, o produtor de hortaliças raras Jesus Rodriguez Eres, de Extrema, Minas Gerais, para saber mais sobre a árvore.
Socialista Morena  As propriedades da moringa já eram conhecidas dos brasileiros ou têm sido melhor exploradas nos últimos anos?
Jesus Rodriguez Eres – A moringa oleífera é pouco conhecida pelos brasileiros e foi difundida principalmente para limpar a água em açudes na região Nordeste, embora muitos produtores estejam plantando como quebra-vento e para sombra nas lavouras, alem de usar para alimentação humana e animal. Existe uma iniciativa do Lions Clube em torno da moringa que é a mais importante do Brasil hoje (leia aqui).
SM – Quais as propriedades da moringa? Que partes dela podem ser utilizadas?
JRE – A moringa possui todos os nutrientes, principalmente aminoácidos, e até em grande quantidade, e todas as partes da moringa podem ser utilizadas. O site www.moringanews.org reúne os grandes estudos e experimentos com a planta no mundo.
SM – O líder cubano Fidel Castro diz que a moringa poderia “acabar com a fome no mundo”. É exagero?
JRE – Sim, é exagero, porque a fome está mais vinculada ao poder aquisitivo da população, mas a moringa é uma possibilidade imbatível para combater a desnutrição.
SM – Como está o cultivo da moringa no Brasil hoje? Algum governo estadual está interessado em promover a árvore?
JRE – O cultivo da moringa no Brasil ainda é muito pequeno, dada a impossibilidade de comercializá-la, porque não há registros de consumo habitual no país. Em termos medicinais, seria necessário um protocolo científico de dois anos (experiências em ratinhos etc.), além de contrariar os interesses da industria farmacêutica, já que a moringa é indicada na Índia para a cura de até 300 doenças.
SM – Se uma pessoa quiser ter uma moringa em casa, como deve proceder? Ela cresce rápido?
JRE – Ela pode adquirir sementes pela internet (aquiaqui e aqui), poderá plantar em vasos profundos (a raiz é pivotante) fazendo sempre as podas, sem esquecer que é uma arvore que atinge de 8 a 12 metros de altura, e em dado momento terá que transplantá-la muito delicadamente ao campo. A moringa cresce de 3 a 4 metros em um ano, sendo importante cortar periodicamente os ponteiros da planta.
Não sei vocês, mas eu fiquei com vontade de plantar uma.

O sonho dos ratos, por Rubem Alves

Conti outra

RATO CAPA

Na verdade, o queijo estava imensamente longe porque entre ele e os ratos estava um gato… O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho…Os ratos odiavam o gato.

Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha. Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade.
Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes. Comer o queijo seria a suprema felicidade…Bem pertinho é modo de dizer.
Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro…
Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. “Quando se estabelecer a ditadura dos ratos”, diziam os camundongos, “então todos serão felizes”…
– O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.
– Socializaremos o queijo, dizia outro.
Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções.
Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o gato morresse! Sonhavam. Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem: crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: “o queijo, já!”…
Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido. O queijo continuava lá, mais belo do que nunca. Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco. Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era.
O gato havia desaparecido mesmo. Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria. Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum. E foi então que a transformação aconteceu.
Bastou a primeira mordida. Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.
Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um. Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram.
Arreganharam os dentes. Esqueceram-se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, ato contínuo, começaram a brigar entre si.
Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem. O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos:
“Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono”.
Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando. Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido.
O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do gato o olhar malvado, os dentes à mostra.
Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato. Não é por acidente que os nomes são tão parecidos.
“Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência!”
Rubem Alves – escrito em dezembro de 2004
Dica da Conti outra: Conheça o Instituto Rubem Alves e acompanhe seus projetos.

A imagem é meramente ilustrativa e é uma cena do filme “O corajoso ratinho Desperaux”

Estudantes da UFPR derrubam busto do primeiro ministro da Educação pós-golpe de 64

No Paraná, professores são massacrados a mando do governador Richa, em compensação alunos derrubam busto de ministro da educação da ditadura  militar. Muito bom saber disso! (mf)

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Estudantes derrubam busto de ministro da educação da ditadura militar (Reprodução)

Estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do grupo Levante Popular da Juventude derrubaram, na última terça-feira, o busto do ex-reitor e ministro da educação pós-golpe militar de 1964, Flávio Suplicy de Lacerda, do pátio da Reitoria. De acordo com os estudantes, o ato serviu para lembrar os 50 anos do golpe, já que como ministro de governo do General Castelo Branco, teria sido o principal responsável por um acordo que visava transformar o ensino brasileiro em projeto de caráter técnico em todos os cursos, tirando o aspecto humano.
“Lembramos o que aconteceu em maio de 1968, quando estudantes arrancaram o busto de Suplicy de Lacerda e o arrastaram pelas ruas de Curitiba. E o faremos quantas vezes forem necessárias! Até que essa herança maldita da ditadura militar possa ser retirada de nossas costas!”, disse o grupo através da rede social Facebook.
Em nota, a Reitoria da UFPR lamentou o episódio da retirada do busto de seu pedestal com as subsequentes agressões e pichações realizadas por um grupo de manifestantes. Segundo a universidade, “seria possível compreender tal ato no contexto do aniversário de 50 anos do golpe, porém vivemos um contexto completamente diferente, com o pleno funcionamento de todas as nossas instituições, tendo cada cidadão exercício completo de suas liberdades democráticas.”
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Felipe Ribeiro, BandaB

Jornalista de Curitiba revela detalhes do massacre de 29 de abril

"Richa encarna o antiesquerdismo visceral de boa parte do eleitorado paranaense atual. Com o tempo, como todo político, pode ser beneficiado pela diluição natural do episódio dantesco, assim como aconteceu com Álvaro Dias." 



paraná chamas curitiba professores massacre
(Imagem: Leandro Taques)
por Dimitri do Valle, Jornalistas Livres
A série de explosões começou a ser ouvida pouco antes das três da tarde. Quem estava a distâncias que chegavam a seis quilômetros, por exemplo, conseguia ter uma ideia clara de que as coisas no Centro Cívico, a praça dos três poderes do Paraná (mais a Prefeitura de Curitiba), não estavam para brincadeira. Os estrondos eram resultado da ação violenta de policiais militares contra servidores públicos, a maioria professores da rede estadual.
Há dois dias, eles protestavam contra uma série de medidas de arrocho que a Assembleia Legislativa começava a colocar em segunda e última votação naquele momento. No final da tarde, sabia-se que houve pelo menos 107 feridos — dois policiais e 105 servidores. O placar medonho retrata um verdadeiro massacre.
Já à noite, sabia-se que os feridos aumentaram para 150, segundo informações oficiais do SAMU. Oito deles seguiam em estado grave por causa de mordidas de cães policiais e tiros com balas de borracha.
Na segunda-feira, com o registro de escaramuças entre PMs e servidores, mas em escala menor do que a de hoje, o fatídico e já histórico 29 de abril, os deputados já haviam aprovado em primeira votação, por 31 votos favoráveis contra 21 o tal pacotaço, encaminhado pelo governador Beto Richa (PSDB) para melhorar as finanças do Estado, cujos balanços festejados por ele mesmo durante sua campanha à reeleição, no ano passado, apontavam para uma contabilidade em céu de brigadeiro.
Por mais de uma hora e meia, as bombas de gás e de efeito moral mostraram do lado de fora do parlamento estadual que eram a verdadeira garantia para a votação definitiva de hoje no interior do prédio, fazendo valer a vontade de Richa e de sua equipe de governo, comandada pelo baiano Mauro Ricardo Costa, importado pelo tucano para seu segundo mandato e já conhecido pelos serviços prestados na área fazendária da Prefeitura de de Salvador (BA), gestão de ACM Neto (DEM), e no governo de São Paulo, na gestão de José Serra (PSDB). A sessão prosseguia, sem final previsto, até a conclusão desta reportagem.
No entanto, à medida em que as bombas, os cães, as balas de borracha e os cassetetes caíam sobre os manifestantes armados apenas com gritos e palavras de ordem, deputados preocupados com a onda de violência que se desenrolava na praça principal, em frente a Assembleia, batizada de Nossa Senhora da Salete (trágica ironia), chegaram a sair do prédio para pedir calma aos policiais. A exemplo de servidores públicos feridos, com quem ficou lado a lado durante a confusão e barbárie generalizada na praça, o deputado Rasca Rodrigues, do PV, saiu no prejuízo e foi mordido por um dos cães da tropa de choque da PM, além de ter aspirado gás de pimenta e lacrimogênio. Voltou ao prédio com sangue escorrendo pelo braço.
Proibidos de se aproximar da Assembleia Legislativa por grades e um cordão humano de 1.500 policiais, a maioria deslocados de batalhões do interior e sem garantia de pagamento de suas diárias, restou aos manifestantes fazer o caminho de volta, diante da intensa repressão policial que se iniciou. Eles voltavam correndo em direção à avenida Cândido de Abreu, a principal via de ligação com o Centro Cívico. Não estavam sozinhos.
Muitos vinham carregando, como feridos da guerra campal, pelos braços e pernas, manifestantes desacordados e feridos.
O prédio mais próximo em que eles poderiam ficar à espera de socorro, foi a Prefeitura, comandada atualmente por Gustavo Fruet (PDT), atual desafeto de Richa, que lhe negou candidatura a prefeito, em 2012 pelo PSDB, vindo a se candidatar e ganhar o poder da capital, como azarão.
O hall de entrada e salas próximas, onde o IPTU e tributos municipais são cobrados, foram transformados em hospital de campanha. Vídeos de smartphones com os feridos deitados, sangrando e sem camisa passaram a ser veiculados na internet. Mesas de trabalho viraram maca, e as poucas que chegavam, apareciam por meio das escassas equipes do SAMU, que estavam em dificuldades para se aproximar do Centro Cívico, por conta do bloqueio policial de ruas próximas, e à multidão em fuga por calçadas e a avenida principal.
O expediente em toda a Prefeitura foi interrompido para que se desse cabo do atendimento aos feridos. Só ali foram acolhidos 35, muitos deles machucados no corpo, da cabeça aos pés, pelas balas de borracha das carabinas da tropa de choque e outros com dificuldade de respiração por inalação dos gases de dispersão, além dos atingidos de praxe pela força dos cassetetes. Testemunhas entre os manifestantes relataram ter visto um helicóptero com policiais atirando bombas em voos rasantes, no que seria o primeiro ataque aéreo feito contra seus próprios civis em território nacional.
Uma creche municipal que fica no Centro Cívico, a poucas quadras da praça onde a guerra prosseguia, testemunhou de dentro de suas paredes todo o terror protagonizado pelos policiais. Se a seis quilômetros, o barulho das bombas se fazia surpreender, como exposto no início deste relato, pode-se ter uma ideia da intensidade dos estrondos e do eco provocado dentro da creche infantil, exposta ao barulho das explosões e dos gritos dos manifestantes, apoiados por potentes carros de som, além do incômodo nauseante da fumaça dos gases de dispersão. O choro tomou conta das crianças, funcionários e professores, que não tinham a quem recorrer, restando torcer para que tudo terminasse o mais breve possível, o que não aconteceu.
Do ponto de vista militar, a polícia cumpriu, mesmo com o uso de força excessiva, a missão de deixar afastados da Assembleia os manifestantes, o que não havia conseguido em fevereiro, quando Richa tentou colocar o pacotaço em votação pela primeira vez, ocasião em que foi rechaçado pela presença de 20 mil manifestantes e um mês de greve dos professores, a maior categoria de servidores do Estado, com 50 mil profissionais. Naquela ocasião, os deputados da bancada governista tiveram que entrar na Assembleia dentro de um vetusto e gigante camburão policial de cor preta. Tentaram encaminhar a votação do restaurante da assembleia, pois o plenário havia sido ocupado, mas tiveram medo da reação dos manifestantes e adiaram o intento.
Como se percebe, era questão de tempo para Richa assimilar o recuo, reorganizar a tropa, tanto a da fiel Assembleia, como a das balas, bombas e porretes, para fazer valer seu projeto que tira vários direitos do funcionalismo, como o corte de licenças de parte dos professores, o livre uso de recursos dos fundos estaduais, inclusive o do poder Judiciário, aumento da alíquota do ICMS de mais de 90 mil produtos, e mudanças no setor de previdência dos servidores, que os obrigarão a pagar um índice extra caso queiram manter seus salários integrais acima de R$ 4,6 mil.
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(Imagem: Leandro Taques)
O preço político a ser pago para os principais atores do episódio, como Richa e seus colaboradores no governo e na Assembleia, ainda é tão nebuloso e maleável quanto a fumaça de cor branca das bombas que tomou conta do Centro Cívico e fartamente captada pelos celulares dos prédios próximos.
Antes que o leitor estranhe esse direcionamento nessa parte do texto, um pouco de história recente da política local. Em 30 de agosto de 1988, a PM reprimiu no mesmo Centro Cívico, um protesto de professores da rede estadual, no então governo de Álvaro Dias, na época no PMDB, e hoje senador filiado ao PSDB. Muitos decretaram o fim de sua carreira política, marcado pelo pisoteio da cavalaria em professores desarmados, mas Álvaro segue firme na lida. Tirando duas derrotas circunstanciais ao governo paranaense, contra Jaime Lerner, em 1994, a novidade política daquele ano, e Roberto Requião, em 2002, apoiado por nada menos do que o presidente Lula, o bamba da vez, Dias é o senador com mais mandatos eleitos. Ganhou, por exemplo, com ampla folga mais oito anos em 2014. Já havia sido eleito em 2006 e em 1998, portanto, depois da pancadaria de 88.
Richa tem um destino mais incerto, mas nem por isso menos favorável. Richa encarna o antiesquerdismo visceral de boa parte do eleitorado paranaense atual. Com o tempo, como todo político, pode ser beneficiado pela diluição natural do episódio dantesco, assim como aconteceu com Álvaro Dias. A diferença é que, pelo tamanho do massacre e sua presença constante na internet (ferramente inexistente na época de Álvaro), Richa poderá passar o que resta do seu segundo mandato tentando explicar os “comos” e “por ques” de tanta violência contra profissionais da Educação. E mais: boa parte da população paranaense, assim como a brasileira, ainda marca sua rotina diária em frente à televisão pelo noticiário das emissoras de sinal aberto. Nesta noite, Richa pode ser beneficiado ou não pelos filtros editoriais e critérios supostamente jornalísticos (“não abusar das imagens, tem muita criança assistindo neste momento”, pode ser um deles, sim) lançados à mão por editores e cúpulas das emissoras.
A administração de Richa enfrenta também profunda investigação sobre supostos pagamentos de propina a servidores da Receita Estadual de Londrina, no Norte do Paraná, sua cidade natal, por empresas pressionadas a se verem livres de qualquer fiscalização e cobrança dos agentes do fisco. Um dos jornalistas mais premiados do Brasil, ao investigar o caso, teve que sair da cidade, pois recebeu a informação que seria morto em falso assalto a uma churrascaria que frequentava. O primo de Richa, Luiz Abi, é suspeito de estar por trás de fraudes de licitação para consertos de carros do governo, assunto que o jornalista ameaçado, James Alberti, da afiliada da Globo, no Paraná, também investigava em Londrina. Abi foi preso, a pedido do Ministério Público, mas atualmente responde ao processo de suspeita de corrupção em liberdade.
Beto Richa é filho de José Richa (morto em 2003). Richa pai teve papel de destaque na época da redemocratização, quando Tancredo Neves foi eleito presidente da República, no colégio eleitoral de janeiro de 1985. Se os militares da linha dura decidissem impedir a posse ou não reconhecessem o resultado da eleição indireta feita no Congresso Nacional, Richa pai havia se comprometido a participar de um plano para abrigar Tancredo no Paraná e resistir contra uma eventual tentativa de golpe, colocando a sua Polícia Militar, para proteger o novo presidente civil. Hoje, trinta anos depois, a mesma corporação, sob o desígnio de outro Richa, faz o caminho inverso, o da violência desenfreada, sem qualquer ligação com as garantias democráticas tão defendidas pelo próprio pai, como ficou explícito na tarde desse 29 de abril, marcada pelo frio e garoa que caiu no centro do poder da Capital do Paraná.

Os abutres que comemoraram o massacre da PM contra professores no Paraná





É difícil de acreditar, mas houve quem se divertisse com as agressões da PM do Paraná contra professores e servidores nesta quarta-feira. Da sacada do Palácio Iguaçu (sede do governo do estado), assessores e funcionários de Beto Richa celebraram o massacre
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Mais de 200 civis ficaram feridos na violenta tarde de 29 de abril em Curitiba (Divulgação)

O massacre promovido pela Polícia Militar do Paraná, estado governado por Beto Richa (PSDB), contra os professores estaduais em greve comoveu boa parte dos brasileiros nesta quarta-feira (29). O Centro Cívico da capital paranaense se transformou em um cenário de guerra. Ao todo, mais de 200 pessoas ficaram feridas, sendo 8 em estado grave, segundo informações da Prefeitura e do SAMU.
Os servidores protestavam contra a votação do projeto de lei 252/2015, de Beto Richa. O texto, aprovado em meio ao massacre, autoriza o governo estadual a mexer no fundo de previdência dos servidores públicos do estado,  a Paranáprevidência.
Por mais absurdo que pareça, muitas pessoas não se sensibilizaram com o sofrimento dos professores e servidores que foram vítimas de uma brutalidade desproporcional. “Esses vagabundos mereceram”, disse um comentarista na página do Facebook de Pragmatismo Político. “Essa greve é política, tem que descer o cacete mesmo!”, bradou outro.
No Palácio do Iguaçu, sede oficial do Governo do Estado do Paraná, houve também quem celebrasse o massacre. Em vídeo (assista abaixo) enviado ao Blog do Esmael por um integrante do governo Richa, assessores do governador e funcionários do Palácio comemoraram a violência policial com gritos de ““aêêê” e “isso aí”.
A Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná (OAB-PR), entidades políticas e figuras públicas já manifestaram repúdio diante de tamanha violência. A prefeitura de Curitiba também se manifestou contrariamente ao massacre.
Segundo o gabinete do governador Beto Richa, as cenas foram registradas do quarto andar do Palácio, onde funciona a Casa Civil. O governo paranaense disse que o tucano repudia os comentários do vídeo e que abriu uma sindicância para apurar os responsáveis pela gravação.
Vídeo:

O governo do Paraná deu um tiro no meu pai -

Carolina, que vergonha ver uma situação dessas em que o govêrno acusa professores de terem atacado aos policiais e foram revidades. Meu coração está cheio de raiva só de pensar que muitos daqueles que foram às ruas e pedem a volta da ditadura e que são seguidores do disitinto governdor, devem estar exultantes.

Sinto pelo ferimento em seu pai, mas receba um carinho e um apoio sem tamanho, que mesmo distante vai chegar até você, seu pai e a todos os professores. (maristela farias)



Nesta quarta-feira, enquanto acompanhava pela internet a votação do projeto que altera a ParanaPrevidência, liguei preocupada para o meu pai, que está em Curitiba, lutando, mais uma vez, pelos direitos que deveriam ser a ele assegurados por lei. Quando me atendeu, ele estava dentro de uma ambulância, porque foi ferido na perna por uma bala de borracha. Minutos depois, vi essa imagem no site da Gazeta do Povo. Esse professor deitado no asfalto, sendo atendido pelo Corpo de Bombeiros, é o meu pai.

Meu pai trabalhou a vida toda como professor de educação física, e assim criou a mim e aos meus irmãos. Meu pai nunca roubou, nunca matou, nunca agrediu ninguém. Meu pai vive tentando pegar aulas extras, para que seu salário não tenha um valor ridículo. Meu pai é uma pessoa que sempre detestou brigas. Meu pai não é baderneiro, é um homem honesto e trabalhador, como foi a vida toda. Meu pai teria, portanto, o direito constitucional de ir e vir, mesmo em frente à Alep, mesmo dentro dela, já que aquele é um local público, e não propriedade dos deputados que ali estão, de passagem, porque foram democraticamente eleitos pelo povo, do qual meu pai faz parte.

A Justiça, contudo, está ao lado do poder, e proibiu a entrada de cidadãos paranaenses em uma casa que pertence a eles, que pertence a todos nós. Por isso, porque o Sr. Carlos Alberto Richa quer aprovar a todo custo um projeto que atropela os direitos de seu funcionalismo público, meu pai tomou um tiro de bala de borracha.

No dia 30 de agosto de 1988, quando o então governador Álvaro Dias soltou a cavalaria em cima dos professores, meu pai só não estava em Curitiba porque faltavam três meses para eu nascer e minha mãe pediu, pelo amor de Deus, que ele ficasse em casa. Hoje, quase 27 anos depois, eu vi uma foto do meu pai deitado no asfalto, sendo atendido pelo Corpo de Bombeiros, porque estava defendendo o que é seu, por direito.
Enquanto ele era atendido do lado de fora, do lado de dentro o presidente da Alep, deputado Ademar Traiano (PSDB), dava prosseguimento à sessão para aprovar o uso do dinheiro do meu pai - e de todos os professores e servidores estaduais - para pagar a conta do governo do estado.
 — com Dilson Bortolanza.