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Muitos argumentam que é preciso ter uma personalidade muito distinta para fazer uma reflexão rigorosa de temas como: O que é real? Qual é a natureza do homem? O que é bom? É por isso que os filósofos são muitas vezes vistos como um grupo eclético.
Mas há uma outra razão para essa avaliação: um bom número de filósofos realmente tem um comportamento estranho. Confira algumas das mais bizarras obsessões de pensadores famosos, que provavelmente emprestaram credibilidade ao estereótipo:
10. René Descartes e sua paixão por mulheres vesgas
Pai da Filosofia Moderna, René Descartes (1596-1650) manteve uma estreita amizade com mulheres poderosas e ricas, como a rainha Cristina da Suécia e a exilada princesa Elizabeth da Inglaterra. As mulheres de sua vida pessoal eram uma história diferente. Descartes nunca se casou e só teve uma filha ilegítima, com uma das suas serventes.
Até a idade adulta, a maior paixão de Descartes foi reservada para mulheres vesgas. Em uma carta à rainha Cristina, Descartes explica que refletiu sobre sua atração única por vesgas, percebendo que resultou de uma queda que ele teve por uma menina vesga em sua juventude. Na carta, ele conta que amou uma menina da sua idade que era ligeiramente estrábica, e acreditava que a impressão causada no seu cérebro quando olhou para seus olhos vagantes foi tão forte que o fez ser mais inclinado a amar mulheres vesgas simplesmente porque elas tinham esse defeito, muito tempo depois de sua paixão mudar. O filósofo concluiu que essa paixão inicial havia deixado uma marca em seu cérebro e, portanto, não era uma atração fundamentada. Pelo contrário, era seu subconsciente criando esses sentimentos. Fiel à forma filosófica, Descartes usou seu livre arbítrio para se livrar da atração irracional.
9. Albert Camus e o medo irracional da morte jovem
O filósofo Albert Camus (1913-1960) cresceu em uma família pobre, sem água corrente ou eletricidade. Sua avó usava um chicote para manter todos em linha. Mesmo com este começo difícil, Camus conseguiu ganhar uma bolsa de estudos que lhe permitiu frequentar o ensino médio. Na idade de 17, ele sobreviveu por pouco a um ataque de tuberculose e foi obrigado a tirar um ano da escola para se recuperar. Mais uma vez, Camus perseverou, voltou a estudar e tornou-se um autor publicado mesmo antes de entrar na Universidade de Algiers (Argélia). Apesar de sua capacidade de sobreviver e seus primeiros sucessos na vida, Camus era obcecado com a ideia de que morreria cedo.
Ele disse uma vez a uma namorada que “sentia o mal flutuando no ar”. Para Camus, este medo criou uma obsessão com a morte em geral. O filósofo, que carregava uma carta de suicídio escrita por um amigo de Leon Trotsky no bolso, era cheio de pessimismo e alimentado por temor. Por isso, estava determinado a completar seus escritos antes de morrer. Até ganhar o Prêmio Nobel foi considerado um mau presságio por ele, que acreditava que o prêmio era um selo sobre o fim da carreira de uma pessoa. A pressão que sentia para completar a sua obra-prima se intensificou e continuou a persegui-lo até a sua morte, quando seus medos se tornaram realidade. Em 4 de janeiro de 1960, Camus morreu em um acidente de carro na idade relativamente jovem de 46.
8. Immanuel Kant e sua rotina rígida
Immanuel Kant (1724-1804) é frequentemente lembrado por sua hipocondria, mas ele tinha uma obsessão ainda mais intensa – com a sua rotina diária. Em 1783, logo após a compra de uma casa, Kant decidiu que era necessário estruturar sua programação diária. Assim começou a rígida rotina que Kant seguiu até a sua morte, em 1804.
Cronometrado precisamente, ele despertava um pouco antes das 5:00, bebia uma xícara de chá e fumava exatamente um cachimbo. Então, trabalhava em suas palestras e escritos até aquelas começarem, às 7:00. Depois que suas palestras terminavam, às 11:00, Kant trabalhava em seus escritos novamente até 13:00, hora do almoço. Após o almoço, chovesse ou fizesse sol, Kant fazia sua lendária caminhada de uma hora no centro de Konigsberg. A caminhada era tão consistente que é dito que seus vizinhos podiam arrumar os seus relógios através dela. O caminho que Kant percorria mais tarde foi nomeado de “Philosophengang” (em português, algo como “a caminhada do filósofo”). Depois disso, Kant às vezes socializava com um amigo ou dois, e então ia para casa para trabalhar e ler até as 22:00, momento em que ia para a cama.
7. Søren Kierkegaard e uma maldição familiar
Antes de Kierkegaard (1813-1855) atingir a idade de 25 anos, cinco de seus irmãos e ambos os pais tinham morrido. Apenas alguns anos antes, o seu avô tinha confessado a seu pai que ele estava destinado a assistir a todos os seus filhos, incluindo Kierkegaard, a morrer antes dele, porque tinha trazido a ira de Deus sobre a família quando amaldiçoou o mesmo ainda menino.
Kierkegaard aceitou totalmente a conclusão de seu pai sobre sua má sorte e aceitou a ideia de que enfrentaria uma morte precoce. Embora seu pai tenha morrido primeiro, em 1838, Kierkegaard ainda acreditava que estava amaldiçoado e que Deus iria tirar sua vida em uma idade precoce. Este conhecimento fez dele um escritor prolífico, em uma tentativa de dizer tudo antes de seu inevitável fim. Como Camus, os medos de Kierkegaard tornaram-se realidade quando ele morreu em 1855, com apenas 42 anos de idade.
6. Karl Marx e uma vida de caos
Karl Marx (1818-1883) foi o coautor da obra seminal O Manifesto Comunista. Embora seja considerado um dos teóricos mais influentes do século 20, sua vida pessoal era cheia de caos e desordem. Parcialmente por causa de sua terrível situação financeira, que resultou em grande parte da expulsão de sua família da França por causa de seus escritos políticos, e parcialmente por causa de sua personalidade, Marx trabalhava intensamente, mas apenas em rajadas de produtividade que eram muitas vezes seguidas por crises de exaustão, doenças e prazos não cumpridos.
Marx muitas vezes iniciava um trabalho apenas para largá-lo na metade quando queria começar outra coisa. O caos interior do filósofo, no entanto, é melhor exemplificado pela maneira compulsiva com que ele gerava ideias para suas obras filosóficas. Marx colocava uma ideia no papel e, em seguida, se levantava e começava a caminhar ao redor de sua mesa freneticamente. Quando outra ideia eventualmente o atingia, ele se sentava rapidamente, a escrevia, e então começava o processo novamente. Não é de se admirar que Marx costumava entrar em colapso por exaustão.
5. Friedrich Nietzsche e sua obsessão por frutas
Na tenra idade de 24, Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi nomeado chefe de Filologia Clássica na Universidade de Basel. O filósofo respeitado e produtivo, apesar de todos os seus sucessos, era atormentado por uma grande lista de problemas médicos. A fim de aliviar o sofrimento de dores de cabeça crônicas, vômitos persistentes e um distúrbio digestivo doloroso, Nietzsche tentou diversos medicamentos, bem como uma variedade de dietas.
Ironicamente, é muito provável que a obsessão de Nietzsche por frutas tenha sido responsável por piorar o seu desconforto digestivo. De acordo com a gerente do hotel Alpine Rose, onde Nietzsche ficou por um tempo prolongado em 1884, a ingestão diária de alimentos do pensador consistentemente incluía um bife no café da manhã e frutas pelo resto do dia. Não só Nietzsche comprava frutas da pousada e de fornecedores italianos locais, como recebia cestas enviadas por seus amigos também. Em mais de uma ocasião, Nietzsche comeu quase três quilos de frutas em um único dia.
4. Voltaire e sua mania de café
Como um dos mais famosos filósofos do Iluminismo, Voltaire (1694-1778) é exaltado por sua sagacidade e sátira. É possível, porém, que ele não teria sido tão espirituoso ou satírico sem a enorme quantidade de café que ingeria diariamente. Fosse em casa ou com os amigos no Café de Procope em Paris, Voltaire bebia 20 a 40 xícaras de café todos os dias. Ele gostava tanto da bebida que voluntariamente ignorou o conselho de seu médico, Theodore Tronchin, para abandonar o vício. Até regularmente pagava taxas exorbitantes para tomar cafés de luxo importados.
Deve-se notar que uma citação muitas vezes atribuída a Voltaire não é dele. Provavelmente, foi Bernard Le Bovier de Fontenelle quem disse que “Eu acho que [o café] deve ser [um veneno lento], porque eu tenho o tomado por 85 anos e não estou morto ainda”. Esta é a citação correta, que às vezes aparece com a idade mudada (65 anos), referindo-se erroneamente a Voltaire, que morreu com 84 anos, enquanto Fontenelle viveu até quase os 100.
3. Friedrich Hegel e a camisola por cima da roupa
Exceto pela morte de sua mãe, quando tinha 13 anos, Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que se tornaria um dos proponentes do idealismo alemão, teve uma infância tranquila e cheia de literatura. Antes dos 45, Hegel tinha um casamento bem-sucedido, uma família e um bom trabalho como editor de uma revista literária muito renomada. Mas até mesmo os filósofos mais aparentemente normais tinham peculiaridades interessantes. Para Hegel, era sua camisola e boina preta.
Enquanto trabalhava em casa, Hegel consistentemente usava sua camisola sobre suas roupas de dia, e vestia uma boina preta enorme na cabeça. Em um incidente, quando o amigo de Hegel Eduard Gans apareceu sem avisar, encontrou o filósofo vestido dessa maneira junto a uma montanha de papéis desorganizados. Esse fato lhe deu alguma notoriedade quando um litógrafo, Julius L. Sebbers, retratou Hegel em sua mesa de trabalho vestindo a camisola e a boina preta. O alemão não gostava da imagem, e sua esposa dizia que era porque se assemelhava a ele um pouco demais.
2. Jean-Paul Sartre e um medo de criaturas do mar
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um escritor prolífico e ativista político que, durante o curso de sua vida, defendeu figuras notáveis como Karl Marx, Fidel Castro e Che Guevara. Como Camus, Sartre ganhou o Prêmio Nobel e não ficou nada satisfeito com isso. O francês recusou o prêmio juntamente com seu dinheiro, em um ato profundamente filosófico: segundo ele, instituições feitas pelo homem como o Nobel só pioram as condições dos homens, os quais são “condenados a ser livres”.
Apesar de toda a sua confiança intelectual, porém, Sartre tinha uma fraqueza: crustáceos. Quando criança, ele ficou marcado por uma pintura de uma garra que saía do mar e tentava agarrar uma pessoa. Depois disso, o filósofo ficou com um medo obsessivo de crustáceos e outras criaturas do mar. Seu medo era tão intenso que ele teve um ataque de pânico depois de entrar no mar com o seu amor de longa data, Simone de Beauvoir. Ele acreditava que um polvo gigante subiria da profundidade escura da água e o arrastaria para sua morte. Em outra ocasião, depois de consumir uma droga que alterou sua mente, Sartre teve visões de lagostas o seguindo para onde quer que fosse.
1. Arthur Schopenhauer e seus poodles
Mesmo que a família de Arthur Schopenhauer (1788-1860) tivesse boa condição financeira, falta de moradia tornou-se o tema de sua vida. Um vagabundo intelectual, Schopenhauer tinha a perspectiva de que não pertencia a nenhum lugar e nenhuma pessoa. Mesmo sua terra natal, Danzig, na Alemanha, não significava nada para ele, uma vez que sua família teve de abandonar rapidamente a sua casa quando a Prússia anexou o município. Schopenhauer tinha apenas cinco anos de idade na época.
Nenhuma cidade depois conseguiu capturar a lealdade do filósofo. Da mesma forma, após a perda de seu pai conforme ele entrava na idade adulta, Schopenhauer não conseguir ter muita afeição por outras pessoas, incluindo sua própria mãe. Expressões desta desconexão da humanidade podem ser vistas em sua filosofia pessimista, mas isso também o levou a preencher sua necessidade de companheirismo com poodles de estimação. De seus tempos de escola até a sua morte, Schopenhauer manteve um fluxo de poodles que tinham o mesmo nome, Atma, e o mesmo apelido, Butz. A singularidade de chamar todos os seus poodles com o mesmo nome foi concebida como um elogio, porque a palavra em sânscrito “Atma” é um conceito hindu desenvolvido no Bhagavad Gita que significa “eu interior” ou “alma transcendente”. Para Schopenhauer, cada um de seus animais de estimação, ao invés de ser um bicho com sua própria personalidade, expressava a realidade mais alta e mais fundamental de um “poodle”. [Listverse]
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