segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

HAWKING SOBRE DUAS PERNAS/ COMO É A CADEIRA DO FÍSICO BRITANICO STEPHEN HAWKING


O cientista Stephen Hawking e a escritora Jane Hawking no dia de seu casamento, em 1965.
Pouca gente no planeta Terra não está familiarizada com a imagem de Stephen Hawking, cosmologista, físico teórico, escritor de sucesso,polemista afiado e personagem de Os Simpsons, preso pela esclerose lateral amiotrófica (ELA) a sua cadeira de rodas de alta tecnologia, comunicando-se com o mundo por meio de um sintetizador de voz que embora mude de software mantém — por vontade expressa de seu usuário — seu inconfundível e algo perturbador timbre robótico. A figura é tão familiar que é fácil esquecer que o físico foi até os vinte e poucos anos uma pessoa saudável, que se movia sobre duas pernas, sonhava com um futuro brilhante e se apaixonava como qualquer jovem, ou pelo menos como qualquer jovem educado em Oxford. Sua primeira mulher, Jane Hawking, nos apresenta agora um retrato intenso e vívido daqueles anos de formação intelectual e emocional. E também de tudo que viria depois.
Teoria de Tudo – A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking (Editora Única) não é exatamente uma biografia do físico nem uma autobiografia de sua autora. Consciente de que a celebridade de seu ex-marido não acabará em décadas nem em séculos, a escritora e conferencista Jane Hawking decidiu contar ela própria sua relação com ele antes que “dentro de 50 ou 100 anos alguém invente nossas vidas”. Esta é a narração da mulher que mais bem conheceu Stephen Hawking durante sua juventude e que decidiu se casar com ele, apesar de sua trágica enfermidade. É por isso também a história de um dilema moral: um dos mais graves que um ser humano pode enfrentar ao longo de sua vida.
Hawking pertencia a uma dessas famílias britânicas que parecem tiradas de um filme de Frank Capra, excêntricas, intelectuais e sem preocupação quanto a sua imagem entre os mais ou menos horrorizados vizinhos. O pai, o médico Frank Hawking, não apenas era o único apicultor de Saint Albans, cidade de 60.000 habitantes, 30 quilômetros ao norte de Londres, como também o único a ter um par de esquis. “No inverno”, narra Jane, “passava esquiando em frente a nossa casa, a caminho do campo de golfe”. Os Hawking eram conhecidos em Saint Albans por hábitos como sentar à mesa lendo um livro cada um, e a avó vivia no sótão, que tinha entrada independente pela rua, e só descia em alguma ocasião familiar ou para dar um concerto de piano, instrumento no qual era uma virtuose.
Jane Hawking foi pela primeira vez à casa dos Hawking em 1962, convidada para o aniversário de 21 anos de Stephen, e conheceu ali seus amigos de Oxford, que se consideravam os “aventureiros intelectuais de sua geração”, nas palavras da autora, “dedicados de corpo e alma ao repúdio crítico de todo lugar-comum, à zombaria em relação aos comentários banais, à afirmação de seu juízo independente e à exploração dos confins da mente”. Jane, garota de firmes convicções cristãs e opiniões convencionais, sentiu-se incomodada por toda essa exuberância, mas desde o começo viu em Stephen algo mais que isso, uma natureza empática e independente pela qual, quase sem perceber, ficou apaixonada em poucos meses.


Eddie Redmayne (Stephen Hawking) e Felicity Jones (Jane) em cena de 'A Teoria de Tudo'. / ©FOCUS FEATURES/COURTESY EVERETT COLLECTION (©FOCUS FEATURES/COURTESY EVERETT COLLECTION / CORDON PRESS)
A notícia chegou num sábado de fevereiro de 1963, pela boca de sua amiga Diana: “Olha, soube do Stephen?”. O jovem talento estava havia duas semanas no hospital Saint Bartholomew, porque vinha tropeçando continuamente e não conseguia nem amarrar os sapados. Os médicos tinham diagnosticado a esclerose e previsto dois anos de vida. Jane ficou perplexa. “Ainda jovens o bastante para sermos imortais”, escreveu. Diana lhe disse que Stephen estava muito deprimido e que tinha presenciado a morte do garoto da cama ao lado no hospital. Stephen havia se negado a aceitar um quarto individual, fiel a seus princípios socialistas. As pessoas não mudam.
Mas o livro de Jane Hawking não tem o tom de tragédia, como tampouco teve a já longa vida de Stephen. Os que conhecem de perto o físico ficam invariavelmente perplexos com um detalhe: o muito pouco que lhe importa sua deficiência. Hawking não somente deixou perplexos seus médicos, por suas décadas de sobrevida à ELA –um caso insólito para a medicina—, como demonstra a cada dia que pode levar uma vida tão normal quanto possa ter um físico teórico. Sua produtividade científica o coloca na elite da disciplina, desfruta como qualquer um de um bom jantar com os amigos e nunca renunciou a seu aguçado senso de humor.
A esclerose naqueles primeiros anos tinha alternância entre crises e episódios de relativa normalidade, e pouco depois de sua deprimente entrada no hospital Saint Bartholomew, Jane pôde provar do estrepitoso estilo de guiar de seu noivo. Stephen a levou a Cambridge no gigantesco Ford Zephyr de seu pai — carro que tinha vadeado rios na Cachemira durante a estada indiana da família — no que acabou sendo uma das experiências mais aterrorizantes já vividas pela jovem. “Parecia usar o volante para se erguer e enxergar sobre o painel”, conta Jane. “Eu me atrevia apenas a olhar para a estrada, mas Stephen parecia olhar para tudo, menos para a estrada.” Que tempos, aqueles!
Há muito mais neste livro, um olhar extraordinário sobre a vida de uma figura ainda mais extraordinária: o físico mais popular da nossa época encarando o amor e o destino, os dois buracos negros a que acabam sucumbindo todos os membros desta espécie paradoxal.

Um prognóstico errado

Deram a Stephen Hawking dois anos de vida depois de diagnosticar sua doença, há 53 anos. E contra todos os prognósticos, o cientista continua vivo e ativo. Em 29 de janeiro estreia no Brasil o filme Teoria de Tudo, baseado no livro de mesmo título escrito por sua primeira mulher, Jane Wilde Hawking, e dirigido por James Marsh. O ator Eddie Redmayne interpreta o teórico e divulgador científico que mudou para sempre a história da ciência e da tecnologia moderna. O filme se concentra na relação mantida pelo físico britânico com Jane Wilde (Felicity Jones), com quem se casou em 1965, depois de ter a enfermidade diagnosticada, e de quem se separou em 1990.

Como é a nova cadeira do físico britânico Stephen Hawking

Um sistema desenvolvido pela Intel permite ao cientista transmitir seus pensamentos mais rápido e realizar tarefas cotidianas em um décimo do tempo



Depois de três anos de trabalho, engenheiros da Intel criaram a nova cadeira de rodas conectada com a qual Hawking poderá comunicar seu gênio. / INTEL
Se não fosse a tecnologia, as ideias do cientista mais brilhante da atualidade teriam ficado encerradas em sua cabeça. Acometido de uma doença que o deixou praticamente paralisado, o físico Stephen Hawking poderá, a partir de hoje, comunicar seus pensamentos e realizar tarefas cotidianas muito mais rápido graças à nova cadeira que a Intel desenvolveu para ele. O protótipo servirá de base para uma plataforma aberta a todos os que pesquisam meios de melhorar a vida dos portadores de tetraplegias e patologias motoras de origem neurológica.
Hawking estreou sua nova cadeira em um ato celebrado na manhã de terça-feira em Londres. O físico britânico, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA) desde os tempos de faculdade, poderá agora transmitir seus pensamentos com maior rapidez e realizar algo tão simples e essencial para ele como navegar na Internet em um décimo do tempo que levava na cadeira anterior.
Tanto o equipamento velho, que Hawking usou nas últimas duas décadas para se movimentar e se comunicar, como o novo são obra de engenheiros da Intel. Mas em questões de tecnologia, o tempo, esse fenômeno que tanto interessou ao genial físico, passa depressa demais e sua cadeira de sempre ficou antiquada e incapaz de aproveitar todos os avanços alcançados nos últimos anos.

A medicina não foi capaz de me curar, por isso dependo da tecnologia para poder me comunicar e viver”, diz Stephen Hawking
Com a nova cadeira, por exemplo, o sensor que atualmente tem na bochecha é detectado por um computador infravermelho montado em seus óculos, o que permite a ele selecionar caracteres em seu computador. A integração da tecnologia de software linguístico da companhia britânica SwiftKey, um aplicativo de texto inteligente, melhorou a capacidade do sistema para aprender com o professor, predizendo seus próximos caracteres e palavras.
Durante dois anos, engenheiros do Swiftkey trabalharam em um modelo de linguagem personalizada para Hawking. Em essência o sistema é similar ao do aplicativo para celulares. Aprende com o que já foi escrito em e-mails, mensagens ou posts em redes sociais para completar as palavras. No caso do físico britânico, a aprendizagem foi feita incluindo textos que o físico não publicou.
Segundo uma nota da Intel, com esse sistema, Hawking precisa escrever menos de 20% do total de caracteres comunicados. Até agora, por exemplo, para realizar uma busca na internet, o professor Hawking precisava seguir processos árduos, como fechar sua janela de comunicação, mover o cursor para abrir o navegador, movê-lo de novo à barra de busca e, por último, escrever os termos da busca. O novo sistema automatiza todos esses passos.
“A medicina não foi capaz de me curar, por isso dependo da tecnologia para poder me comunicar e para viver”, dizia o professor Hawking em Londres já instalado em sua nova cadeira.


Hawking e a responsável pelo projeto da cadeira ACAT. Intel
A plataforma foi batizada pela Intel como ACAT (sigla em inglês de Ferramentas Auxiliares Conscientes do Contexto). O projeto foi desenvolvido em três anos por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Intel Labs, com a cooperação do próprio Hawking.
“Durante décadas, o professor Hawking se valeu da tecnologia para poder comunicar-se com o mundo. Entretanto, para estabelecer uma analogia, seu antigo sistema era como tentar utilizar aplicativos e sites modernos sem teclado nem mouse”, diz Wen-Hann Wang, vice-presidente da Intel e diretor executivo da Intel Labs. “Juntos, criamos uma experiência de comunicação superior em todos os níveis, que contribui para manter o professor independente em sua vida diária e que pode chegar a aumentar a independência de outros portadores”, acrescentou.
Plataforma aberta a todos
O físico britânico é o primeiro a contar com o ACAT, mas a intenção da Intel é que a plataforma seja aberta em janeiro a todos os pesquisadores e tecnólogos que trabalham no campo da deficiência.
Mais de 3 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem de lesões edoenças motoras de origem neurológica. Estas patologias afetam as atividades musculares voluntárias, como as capacidades de falar, andar, deglutir e realizar todo tipo de movimentos corporais.

Os engenheiros trabalharam três anos na nova cadeira de rodas
A partir do ano que vem, o software ACAT estará disponível para que os pesquisadores possam criar soluções personalizadas para interações e comunicação mediante o tato, piscadas, movimentos de sobrancelhas e outros gestos.
Embora a deficiência nem sempre tenha estado na lista de prioridades de muitas empresas de tecnologia, durante a apresentação do novo equipamento, a principal responsável pelo projeto do ACAT na Intel Labs, Lamba Nachman, recordou que “o âmbito das tecnologias para deficientes é, com frequência, um campo de testes para as tecnologias do futuro”.

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