Um forte debate se seguiu às eleições de 26 de outubro, com a vitória de Dilma Rousseff. Os eleitores de Aécio Neves, furiosos com a derrota, apontaram o Bolsa Família como o responsável pelo “curral eleitoral” da presidenta. Mas, para Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, essa ideia é um equívoco. Oliveira desenvolve uma tese sobre os mapas eleitorais da região nas últimas eleições.Segundo ele, o eleitor do Nordeste reconhece os benefícios da gestão em curso e isso se reflete no voto – seja para o PSDB, seja para o PT. E, ainda que o programa social “acusado” de angariar votos atinja 41% da população nordestina, foram outros investimentos e benefícios que reelegeram Dilma, com 71,69% dos votos válidos na região.
A ECONOMIA DO NORDESTE CRESCEU MAIS QUE OUTRAS ÁREAS DO PAÍS. O ÍNDICE DE ATIVIDADE ECONÔMICO DE 2009 A 2014, POR EXEMPLO, CRESCEU 23,48%, UM POUCO MAIS QUE O BRASIL, QUE TEVE UM RESULTADO DE 23,03%, SEGUNDO O BANCO CENTRAL.
A região Sudeste, responsável por 65% do PIB nacional, por outro lado, ficou bem abaixo: 16,77%. Esse crescimento está associado a investimentos públicos em obras como a linha férrea Transnordestina (do Ceará ao Piauí), a Transposição do Rio São Francisco (Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte), as barragens do Agreste e do Pajeú (Pernambuco e Ceará) e os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará.
Estas obras, segundo o especialista, “permitiram ao eleitor reconhecer os benefícios da era Lula e Dilma”. E se fosse um candidato do PSDB que tivesse feito? “O mapa ficaria azul, pois o eleitor nordestino vota em quem provê benefícios”, explica o professor, citando o reconhecimento do eleitor pelo Plano Real na eleição de 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se reelegeu com 7,3 milhões de votos do Nordeste, enquanto Lula (PT) obteve 4,7 milhões nos nove estados.
A ECONOMIA DO NORDESTE CRESCEU MAIS QUE OUTRAS ÁREAS DO PAÍS. O ÍNDICE DE ATIVIDADE ECONÔMICO DE 2009 A 2014 CRESCEU 23,48%, POUCO MAIS QUE O BRASIL
Com uma população de aproximadamente 54 milhões de habitantes, os nordestinos viveram um ganho importante na educação. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o Nordeste viu o analfabetismo cair, ainda que em pequena proporção, de 2009, quando 17% de sua população analfabeta, para 15,8% em 2012. O número de estudantes universitários, por outro lado, subiu.
O NORDESTE PASSOU POR UM BOOM NO NÚMERO DE MATRÍCULAS NO ENSINO SUPERIOR NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS. EM 2003, A REGIÃO TINHA 624.692 ALUNOS INSCRITOS NESTA ETAPA E, EM 2013, O NÚMERO SALTOU PARA 1,5 MILHÃO, UMA ALTA DE 143%. O CRESCIMENTO DO NORDESTE FOI MAIOR DO QUE O PRESENCIADO NA MÉDIA DO PAÍS, QUE SALTOU DE 3,9 MILHÕES PARA 7,3 MILHÕES, UMA ALTA DE 88%. A MARCA SUPEROU, POR EXEMPLO, O NÚMERO DE ALUNOS NA REGIÃO SUL, QUE EM 2003 TINHA 745.164 MATRICULADOS E, EM 2013, FOI PARA 1,1 MILHÃO.
Foram criadas em 2013 quatro universidades federais – a do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), do Cariri (UFCA, no Ceará), a do Sul da Bahia (Ufesba) e a do Oeste da Bahia (Ufob), favorecendo principalmente cidades do interior dos Estados. Os dados Atlas do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU, o Pnud, indicam que todos os estados do Nordeste mais que dobraram o número de pessoas com mais de 25 anos que têm o ensino superior completo.
Houve outras melhorias assistidas pelo Governo de Rousseff. O programa Água para Todos criou 1.323 sistemas de abastecimento, com cisternas coletivas que atendem 3,6 milhões de pessoas em Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Tocantins e Sergipe.
A luz elétrica chega a 99,1% das residências da região, uma conquista que veio com apoio do programa Luz para Todos. A rede de esgoto talvez seja ainda o que mais falta, mas não apenas no Nordeste. No Brasil, nem 65% das casas são atendidas por algum tipo de rede coletora, enquanto nos estados nordestinos esse dado é ainda menor: 37,2%. A rede celular, por outro lado, tem 65% da área coberta (antes de 2010, o sinal não abrangia nem 50% da zona). A aquisição de bens duráveis, como máquina de lavar roupa e geladeira, também são indicadores de que as famílias melhoraram de vida. Cerca de 26% das residências têm máquina de lavar e 93% têm geladeira, um aumento de 9% em relação a 2009.
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