As "veias abertas" foi durante muito tempo meu livro de cabeceira durante anos, tentando entender porque tanto vilipendio, tanta exploração e porque aquele estado de miséria por mais de 500 anos ainda perdura até hoje. Tenho que reler! (mf)

Por Fábio Lau
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Derrubado pelo câncer de pulmão, ele sai de cena quase que no mesmo momento em que seu conterrâneo e companheiro de luta, Pepe Mujica, deixou o poder no seu pequeno Uruguai.
Nascido em Montevidéu no dia 3 de setembro de 1940, Eduardo Galeano começou menino no jornalismo e também na literatura. Poesia, prosa, versos, ensaios e pesquisas. Publicou mais de 30 livros, quase todos traduzidos no Brasil.
Foi Redator Chefe do jornal "Marcha", na década de 1960, e diretor do jornal "Época". Aos 14 anos, Galeano já vendia suas primeiras charges políticas para jornais uruguaios como El Sol, do Partido Socialista.
Durante o golpe militar no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Para fugir da cadeia, exilou-se na Argentina. No país vizinho, chegou a lançar o livro "Crisis". Em 1976, outro golpe militar, dessa vez liderado pelo general Jorge Videla, coloca novamente sua vida em risco.
Leia aqui: Galeano - quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?
Galeano: Uma análise da conjuntura política
Banido do continente, refugiado na Espanha, ele só voltaria ao Uruguai em 1985, quando ocorre a redemocratização. Após o retorno, viveu em Montividéu até morrer. Recentemente, em reportagem publicada em Conexão, falava da solidão e do fato de conviver de forma fraterna com seu cão.
Frases de Eduardo Galeano
O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.
Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre
Não consigo dormir.
Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras.
Se pudesse, diria a ela que fosse embora;
mas tenho uma mulher atravessada na garganta.
Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.
Há aqueles que crêem que o destino descansa nos joelhos dos deuses, mas a verdade é que trabalha, como um desafio candente, sobre as consciências dos homens.
Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.
"Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."
"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo."
De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse.
"As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata."
O mundo
Um homem da aldeia de Negu・ no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida
humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou - Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras
de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem
queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
"A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
...De Cuba em diante, outros países também iniciaram por distintas vias e distintos meios a experiência de mudança: a perpetuação da atual ordem de coisas é a perpetuação do crime.
Os fantasmas de todas as revoluções estranguladas ou traídas, ao longo da torturada história latino-americana, ressurgem nas novas experiências, assim como os tempos presentes tinham sido pressentidos e engendrados pelas contradições do passado. A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será...
Não importa de onde vim, mais sim aonde quero chegar
A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa.
Somos porque ganhamos. Se perdemos, deixamos de ser.
A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhece-la.
Eduardo Galeano
Veias abertas, Chaves e Obama
Em 2009, durante a Quinta Cúpula das Américas, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou Barack Obama com um exemplar de As Veias Abertas..., livro que havia sido proibido nos anos setenta pela censura das ditaduras militares do Uruguai, Argentina e Chile. Na época do presente de Chávez a Obama, o livro saltou em um só dia da 60.280ª. para a 10ª. posição na lista de mais vendidos da Amazon. E Obama garante que leu. Assim, teria se tornado o leitor 150.000.001.
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