Ela tinha um sonho: ler e escrever. Filha mais velha de uma família de imigrantes italianos, quando criança foi tirada da escola para trabalhar na roça. Já aposentada, tentou por 15 anos aprender nos programas de Educação para Jovens e Adultos. Não conseguiu. Chorou muito.
Repare na beleza desse trabalho tão delicado de arte
Mas o mundo das letras se abriu para Tetê Brandolim no ano passado, quando, com a ajuda do método do educador Paulo Freire, sua vida cruzou com a da educadora Jany DiLourdes Nascimento. Da receita do pão às histórias da fazenda, foram necessários só poucos meses para ela estar alfabetizada.
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Para escrever o primeiro cartão de Páscoa para os cinco filhos, a educadora trouxe cartolinas e chita para enfeitá-los. Sobraram alguns retalhos. Foi a partir deles que Tetê criou uma técnica de colagem. “Comecei brincando e deu certo”, conta.
Flor a flor, das minúsculas às grandes, ela recorta e monta as telas, que anunciam uma primavera constante. Já são mais de 80 quadros, 20 deles comercializados. “Eu não paro, todo dia tenho que fazer um pouquinho”, diz a artista. “Gosto porque distrai a cabeça. Não dá espaço para nenhum pensamento ruim.”
Numa caixinha, ela guarda a matéria-prima: flores e animais coloridos, delicadamente recortados do tecido de algodão que ela ganha da filha Maria Zulmira de Souza, a Zuzu, sua maior incentivadora. Depois, os recortes são colocados sobre a tela e começa a montagem, que pode durar até três dias. “Eu monto e desmonto tudinho até ficar do jeito que eu quero”, explica.
Nos quadros, Tetê, que mora em Ribeirão Preto (SP) e tem suas obras expostas no Espaço Planetária, na Lapa (rua Tonelero, 1.254, em São Paulo), diz que coloca a gratidão que tem pela vida, pelas letras, pela flores, por tudo. “Chegou a hora de as flores se abrirem e de os passarinhos voarem”, diz. Fazendo poesia com retalhos.
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