domingo, 7 de junho de 2015

Moxihatetea, o grupo de isolados que desapareceu

TALITA BEDINELLI


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Maloca dos Moxihatetea, isolados que eram monitorados desde a década de 70 pela Funai e sumiram. / ALEX ALMEIDA
Na Amazônia brasileira não é apenas a saída do isolamento -e as possíveis epidemias avassaladoras geradas pelo contato- que assusta os órgãos de proteção aos índios. Há casos de grupos, que por toda uma existência viveram embrenhados na mata e desapareceram recentemente sem deixar vestígios, ameaçados pelos brancos que praticam atividades ilegais na selva.
Em dezembro do ano passado, o EL PAÍS sobrevoou com uma equipe da Funai a área Yanomami, a maior terra indígena brasileira localizada na fronteira entre os Estados de Roraima e Amazônia, e avistou a maloca dos Moxihatetea, um grupo de etnia Yanomami monitorado pelo órgão desde a década de 1970. Não havia um único índio presente. Era a segunda vez, em um mês, que a cena era flagrada. “Há a possibilidade de os índios terem fugido. Mas nossa maior preocupação é que eles tenham sido dizimados”, afirmou, na época, João Catalano, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’kuana da Funai. A maloca circular onde viviam ao menos 80 pessoas segue vazia –ao seu lado, uma enorme clareira de garimpo de ouro era vista.
A Amazônia brasileira é a região do mundo onde há a maior quantidade de índios vivendo de forma isolada, segundo a organização não-governamentalSurvival International, que tem uma vasta pesquisa com foco nesses grupos. Segundo a Funai, existem ao menos 104 registros da presença de isolados no país – 26 grupos já foram localizados, confirmados e são monitorados de longe pela entidade, que pratica a política de não-contato, apenas quebrada quando os índios correm perigo.
Os riscos, entretanto, estão cada vez maiores. A fiscalização escassa nas áreas isoladas da Amazônia, especialmente em regiões de fronteira, tem possibilitado a invasão de garimpeiros, madeireiros, desmatadores e traficantes de drogas, que abrem, sem muita repressão, pistas de pouso clandestina na mata fechada.
A própria Funai tem denunciado seu sucateamento financeiro e profissional por parte do Governo federal diante do aumento de relatos trágicos. “A dinâmica desses povos isolados está sendo mudada em função dessa pressão territorial. Estamos lidando com relatos de massacres”, afirmou Leonardo Lênin Santos, coordenador de Proteção e Localização de Índios Isolados da Funai, em uma audiência em agosto passado na Comissão de Meio Ambiente do Senado. O órgão legislativo convocou o Governo federal para explicar o contato dos isolados do Xinane, no Acre, o mais recente e maior deles desde ao menos 1988, que resultou em uma epidemia de gripe. Os relatos davam conta que os índios fugiam de ataques de madeireiros do lado peruano da selva. Traumatizados, não voltaram mais para sua aldeia.

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