Subtítulo:
Aspectos da violência que até hoje machucam o corpo e a mente dos negros deste país.
Confesso que ainda não consegui esquecer o caso do Vinícius Romão. Eu sou negro e sei como é parecer suspeito e estar sempre sob o olhar sanguinário e racista de alguns policiais. Sei que o problema não é somente uma questão de "quem é a culpa pelo que aconteceu com ele", mas sim um problema de ordem estrutural da nossa sociedade brasileira. Não podemos negar que a nossa sociedade é racista. Essa é uma triste afirmação, mas é a nossa realidade.
Vários casos de racismo pipocam quase todos os dias nas redes sociais e temos que estar cientes que estamos passíveis de sermos os próximos. A cada dia que passa, pelo menos quem já sofreu algum tipo de discriminação, temos que permanecer com a guarda firme e sempre alerta para não sermos pegos de surpresa e sabermos agir imediatamente quando este mal (o racismo, a discriminação/preconceito racial) acontecer.
Este texto é fruto de uma reflexão maior que fiz no artigo anterior sobre o filme “12 anos de escravidão”. A ideia já estava pronta e a reflexão também, mas antes era necessário expor o meu entendimento do filme e os aportes que ele nos dá para pensar o hoje. Principalmente no que se refere ao caso do Vinícius Romão. O que aconteceu com ele é o que já vem acontecendo com muitos negros e negras que sofrem variados tipos de violência racial quase todos os dias.
Gosto muito de trabalhar com imagens. Montei estas aqui e queria que refletissem. Vejam os efeitos da violência racial e as suas marcas na feição do Solomon Northup, personagem real, muito bem interpretado por Chiwetel Ejiofor, antes de ser vendido como escravo e depois do contato com os efeitos deste sistema perverso que mantém suas raízes fincadas nas nossas relações até hoje:
Depois de observar as fotos do personagem Solomon, vejam o antes e o depois da prisão equivocada do Vinícius:
O que observamos de incomum entre o personagem vivido por Chiwetel Ejiofor e o Vinícius Romão? Eles são negros! Negros no pleno desfrutar da sua liberdade... Um buscava emprego e o outro saía do emprego... Igualdade de direito para negros na sociedade escravista poderia ser visto como um sonho quase utópico, todavia, a partir de muita luta, tornou-se realidade. Avançamos e tivemos alguns ganhos. Mas será que estes ganhos foram suficientes? No que tange ao Vinicius Romão, podemos dizer que houve avanços no tratamento com os negros hoje em dia? Anos se passaram e a cena se repetiu. Em formas e contextos diferenciados. Mas a violência teve seu ritual assegurado. Vimos mais um negro, dentre tantos outros, ter sua liberdade cerceada, encarcerado indevidamente e só depois de dias, entre muito apelo e campanha para a sua soltura, Vinicius foi liberado e está livre.
Ah! Livre entre aspas não é. Nunca dá para termos uma liberdade por completo. O sobressalto sempre fará parte do nosso cotidiano. Ambos tiveram a vida revirada. O corpo e a mente violados por agressões, injúrias e o peso de um trauma que não trará novamente a vida de antes.
Preocupo-me, pois sei que o que aconteceu com o Romão pode acontecer comigo a qualquer momento. Com você ou com um dos seus familiares. Então, essa é a minha forma de expressar a minha indignação e pedir que não deixemos este fato cair no esquecimento e ser mais uma estatística fria e inanimada. Temos que dar vida e força para buscarmos mudanças.
Fiquei pensando durante os acontecimentos: será que existe curso de formação de “Educação para Relações Étnico-Raciais” para policiais, delegados e/ou todos envolvidos com a justiça (direta e indiretamente) deste país? Não que queira dizer que seja só responsabilidade da educação nos livrar do racismo institucional ou institucionalizado, mas que já seria um caminho isso seria. Eu nunca ouvi falar e nem vi nenhum tipo de divulgação. Fica a pergunta.
Postado por Silvio Matheus às 15:01
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