PORQUE existem poucos edifícios históricos e monumentos na África subsaariana!
Até hoje, a maioria dos europeus ainda considera que os africanos são selvagens, inferiores, grotescos, e pouco inteligentes. E quanto mais um africano mostra as características que encaixam no estigma, maior a possibilidade de gostarem dele ou dela.
Africanos estúpidos são os melhores companheiros dos europeus. Um africano esperto e assertivo é algo que a maioria dos europeus não está habituado e faz qualquer coisa para rejeitar ou excluir.
Por exemplo, em Paris, o povo Soninke do Mali joga com esse estigma. Dirigem-se à administração pública francesa e fazem-se de idiotas, falando mal o francês e mostrando sinais de pouca inteligência e idiotice. De repente, o funcionário público logo acorda em si um sentimento de missão humanitária, dispondo-se a ajudar aquele africano não civilizado a tratar de seus documentos e a entender até as coisas mais simples.
Dessa forma, os Soninke conseguem frequentemente o que querem dos funcionários públicos. Eles representam mais de 50% dos africanos subsaarianos que vivem na França. Um africano que vá a um departamento de administração pública francês, com uma postura inteligente e afluente passará um mau bocado, porque a reação instintiva dos funcionários será “Quer mostrar a sua inteligência, você vai ver!”.
Por essa razão você vê muitos africanos na Europa se rebaixarem voluntariamente para ser aceites. Com os brancos, agem docilmente e são submissos, aceitando e obedecendo às ordens, mas estranhamente zangam-se e tornam-se agressivos e pedantes com os irmãos negros.
Infelizmente, nada resta de nossos ancestrais. Quando os europeus invadiram a África usaram os quatro princípios básicos de uma força invasora:
- Primeiro, Matar os fortes e pilhar o lugar;
- Segundo, Criar os fracos;
- Terceiro, Matar, Deportar ou Exilar os mais inteligentes e hábeis;
- Quarto, Impor a regra colonial de ouro “Do meu jeito ou nada”.
Os reis e seus descendentes foram todos mortos. Além disso, três séculos de escravidão transatlântica exportou 12 milhões de homens e mulheres da África para a América, além dos milhões mortos nesse processo.
Imagine o que aconteceria a qualquer país ou civilização onde quase todos os escritores, contadores de histórias, engenheiros, artesãos, artistas e líderes fossem mortos ou exilados? E se, qualquer sinal de glória e engenho passados fossem destruídos ou queimados? Seus livros e conhecimentos roubados ou destruídos?
Quem transmitiria esse conhecimento acumulado secular aos cidadãos comuns?
É essa quebra de conhecimento e liderança dos últimos três séculos que levou o continente africano inteiro à idade das trevas, e deixou o povo sem orientação.
Os nossos corajosos guerreiros e os nossos construtores de civilização desapareceram. Nossos comerciantes globais, nossos construtores de pirâmides, reinos e impérios foram extintos.
Assim, nenhuma destas gerações foi criada para fazer impérios e guerras, defender território e proteger mulheres e crianças.
Não existem mais versões modernas de corajosos guerreiros africanos e construtores de civilizações.
Quando algumas pessoas perguntam porque eles são tão pobres, a resposta é, eles não são pobres, eles foram empobrecidos.
Hoje, se quiser ver a glória da África, vá à Europa, onde milhares e milhares de objetos roubados, artefatos de civilizações, estão em museus públicos e coleções privadas (Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica, etc.). Se quiser ver a riqueza da África vá à Europa também onde ela está guardada em contas públicas e privadas. Cinco séculos de pilhagem e destruição deixaram um continente arrasado.
Como comenta PD Lawton “Do Egito ao Sudão, do Mali à Tanzânia, do Zimbábue a Moçambique, a África está cheia de testemunhos de seu passado. Em muitos casos a destruição completa das estruturas não aconteceu naturalmente, mas foi deliberada, principalmente pelo império britânico. Os museus ingleses e europeus estão cheios de objetos de pilhagem. Existem várias estruturas antigas que estão bem preservadas mas no caso de muitas cidades, palácios, templos e portos só restam registros escritos e desenhos de comerciantes e viajantes desde os tempos medievais aos últimos dias de destruição no final do século 19. Em termos de beleza, e até por vezes na arquitetura à escala das pirâmides do Egito, fraca em comparação a outras estruturas históricas da África. A diversidade arquitetônica do continente é impressionante. O uso tradicional daquilo que é chamado de escalada fragmentada em construção, demonstra uma tradição religiosa praticada em todo o continente. Escalada fragmentada é a ideia arquitetônica de Mandelbrot, onde as menores partes de uma dada estrutura se assemelham às maiores. Esta tradição cultural/religiosa foi/é praticada em todos os aspectos do cotidiano, desde a tecelagem, aos trituradores de cereais, à construção de casas e palácios, além de ser uma incorporação da própria história no dia a dia, que tenta explicar o universo e o nosso lugar nele.”[i]
Precisamos de investir tempo e recursos para reerguer nós mesmos as ruínas das nossas velhas cidades, para fortalecer a fé em uma nova geração, e na nossa capacidade de recuperação.
Já é tempo de reavivarmos na mente de uma nova geração de africanos, a verdadeira natureza dos seus ancestrais, a glória passada de seus impérios, o orgulho em seus guerreiros, conquistadores e construtores de civilizações, e fazê-la entender que cinco “Séculos de Vergonha” sob ocupação europeia termina com uma nova geração de líderes e de construtores!
Cinco séculos atrás, quando os europeus chegaram na África encontraram um povo avançado, rico, e ficaram impressionados pela abundância de natureza e a civilidade dos povos. Os europeus sentiram inveja e amargura e souberam conquistar o povo dócil, acolhedor, sem armas nem exércitos mecanizados como os seus.
Os africanos eram como o que Cristovão Colombo disse dos Ameríndios “Eles são simples e generosos com o que têm, a tal ponto que nem se acredita se não se conhecer. Tudo o que têm, se pedirmos, eles nunca dizem não, mas antes convidam a pessoa a aceitar, e mostram tanto afeto que é como darem seus corações.”
Assim, mais tarde, Colombo escreveu o que faria com aqueles índios generosos “entraremos poderosos nas suas terras, e faremos guerra de todo o jeito que podemos, e iremos submetê-los à obediência da Igreja e dos Senhores; os tomaremos e a suas esposas, suas crianças e faremos deles escravos, vendendo e dispondo deles como os senhores desejarem; e tomaremos seus bens, usando como bem entendermos, como se faz a vassalos desobedientes que se recusam a aceitar seu senhor, e resistem e o contradizem; e clamamos que as mortes e perdas que resultem disso são sua culpa, e não dos senhores, ou nossas, ou dos cavaleiros que nos acompanham…”
O destino da África a partir daí foi selado pelo maquiavélico diabo de olhos azuis. Pilharam, destruíram e queimaram tudo o que tinha valor e não podiam levar com eles.
Como vimos, “no ápice da Civilização Afrikana, havia mestria no desenvolvimento de uma alta cultura onde artes, ciências e dignidade humana tinham florescido por milhares de anos. Mas não foi desenvolvida uma solução para o problema de raiva violenta dos invasores europeus. Em nenhum lugar da África ou da América indígena. Nós e nossos descendentes teremos de resolver esse problema ou continuar sofrendo eternas reciclagens de escravidão, massacre, segundo-classismo.[ii]”
Conta certa história, que quando os europeus começaram a matar escritores, artesãos, filósofos, nobres e reis africanos, um grupo de jovens aprendizes e cortesãos decidiram encontrar um lugar para esconder os livros e os manuscritos.
Em muitas partes do continente onde os europeus já tinham matado muitos escritores e filósofos, os poucos que restaram tiveram de fugir. Enquanto os europeus queimavam livros, um sábio passou alguns dos manuscritos sagrados a dois irmãos para que escondessem dos invasores.
Antes dos dois irmãos serem presos e mortos pelos selvagens, conseguiram esconder os manuscritos, dividindo-os em doze partes e dando cada, a uma dúzia de mensageiros para que levassem aos sábios de outros reinos espalhados pelo continente.
A história conta que quem achar esses manuscritos desvendará o segredo chave para o renascimento africano. Eles contêm uma mensagem codificada, embutida nas linhas, que vai abrir e iluminar o povo do continente, unindo-o a um poder ancestral exclusivamente africano.
Dizem que estes manuscritos contém o segredo que dará poder a África novamente para dominar o mundo. Virão dignitários da Europa, Ásia, América para honrar os reis africanos. O povo negro, o povo original da raça negra será o primeiro entre nações. As pessoas viajarão pelo mundo atrás da sua proteção e conhecimento.
Até agora ninguém foi bem sucedido na busca de tais manuscritos, mas é tempo de procurar esses documentos e eu me comprometo a tal durante a minha vida. Passei os últimos quinze anos nessa pesquisa, perguntando em todos os lugares.
É certo que eles existem e a minha missão é encontrá-los. Quero descobrir o nome dos irmãos, seguir o seu caminho de fuga, viajar pelas estradas dos doze mensageiros que carregaram os doze capítulos, descobrir o esconderijo dos manuscritos e descodificar a mensagem, expondo-a a quantas crianças africanas for necessário para recuperar a nossa glória ancestral e construir o nosso caminho até à grandeza.
Quanto tempo esta busca levará não sei, mas a minha determinação é completa e inabalável.
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Notas:
[i] “Africa Before The 20Th Century” in “Invisible Empire”.
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